Capítulo 9

Emily's POV:

A noite de Halloween estava a caminho de ser um sucesso. Todas as vezes que Bill veio ao meu encontro, sua animação e satisfação estavam estampadas em seu rosto. A casa estava cheia, os convidados se divertindo e era apenas o começo de uma longa noite. Entre Cuba Libres, Piña Coladas, Margaritas, Bloody Mary, Long Island Ice Tea, Stars & Stripes e os clássicos Gin & Tônica, eu escapava para a pista de dança para encontrar Ali.

A DJ era boa e incendiava a pista de dança e eu, que estava lá a trabalho, me via a um passo de largar tudo e correr para o encontro da multidão. Se tinha algo que a Califórnia me trouxera fora a vida noturna. Em Rosewood, as festas se resumiam à Cabana de Noel Kahn. Já Malibu, Los Angeles, Santa Monica e tantas outras cidades que eu visitara na Costa Oeste, me ensinaram o que de fato era uma boa noite de dança e curtição. Por volta das três da manhã, perdi Alison na pista de dança. Como o bar estava lotado, tentei não me preocupar, imaginando que ela só tivesse ido fumar um cigarro ou tomar um ar. Cerca de meia hora depois, os gritos que ecoaram fortemente pelo espaço, fizeram com que eu largasse meu posto.

Sequer pedi para uma das outras bartenders me cobrir, deixei de lado as garrafas de bebida e corri para a pista. Eu sabia a quem pertencia aqueles gritos. Quando cheguei, a multidão já havia se afastado, abrindo espaço para Alison, que estava desmaiada no braço de dois bombeiros.

- Ali! – Gritei, correndo até ela.

- Moça, a senhora não pode...- Um deles tentou me afastar, mas insisti.

- Não! Ela é minha namorada! – Exclamei desesperada, sem nem pensar. Eu nunca havia chamado Alison de "minha namorada", mas pareceu o mais sensato no momento.

- Temos que levá-la para um hospital! – Eles faziam as manobras para colocá-la em uma maca.

- O que aconteceu? – Eu perguntava não apenas para os bombeiros, mas para quem estava por perto, na esperança de que eles tivessem visto algo.

- Ela estava dançando e começou a gritar, acho que ela estava delirando...- Uma garota vestida de Bruxa Má do Oeste comentou.

- Eu acho que ela abusou um pouco dos alucinógenos...- O rapaz vestido de Batman comentou, entre risinhos.

Cerrei o punho, odiando a maneira como ele a julgara.

Quando os bombeiros correram com a maca em meio a multidão fui atrás. A noite lá fora estava fria e as ruas bem menos cheias, o máximo que se via era um ou outro bêbado tropeçando nos próprios pés.

- Você sabe se ela faz uso de alguma substância? – O bombeiro me perguntou, enquanto a colocavam dentro da ambulância.

- Ela não faz! – Respondi confiante, mas incerta por dentro. Alison era tão cheia de mistérios, sempre fora. Como eu podia afirmar algo com certeza a respeito dela?

Depois de muito insistir, permitiram que eu a acompanhasse na ambulância. Chegamos ao hospital em menos de cinco minutos, graças às ruas vazias e a sirene do veículo. Ela passou por uma série de exames, mas eu só pude vê-la posteriormente, na sala de recuperação.

Quando entrei no box onde ela se encontrava, Ali estava deitada e com o soro conectado à pele de sua mão. Suspirei pesadamente e seus olhos azuis, ainda distantes, me encararam.

- Em...- Ela disse baixinho e eu segurei sua mão que estava sem o soro.

- Ali, que susto! O que aconteceu? – Perguntei de imediato, por mais que eu tivesse ensaiado por horas e horas, enquanto a esperara, que eu não a encheria com perguntas.

Alison respirou profundamente e enquanto ela enchia o pulmão de ar, escutei um gemido dolorido baixo vindo dela. A loira levou a mão ao abdome, como se sentisse um incômodo.

- Eles disseram que foi minha pressão...

- Eles? – Perguntei, em tom baixo, já que todos os box da recuperação estavam lotados.

- Eu perguntei o que aconteceu para você, não para eles...

- Em...- Foi tudo o que ela disse, com cara de "não me encha agora com perguntas".

- Ali, eu estou preocupada!

- Eu prometo que vou te contar...- Foi a última coisa que disse antes de fechar aos olhos e tornar a cochilar.

Fiquei sentada na pequena poltrona ao lado de Alison até que ela recebesse alta, mais ou menos no meio da manhã. Ausentei-me apenas por duas vezes, uma para ir ao banheiro e a outra para telefonar para Bill. Quando fomos liberadas, pegamos um táxi e fomos direto para casa. Mais tarde eu passaria no bar para pegar meu carro.

Alison passou a tarde inteira deitada no sofá a base de torradas e chá. Quando a noite começou a cair, sentei-me ao seu lado, apoiando seus pés em meu colo. Massageie-os cuidadosa e carinhosamente, enquanto a olhava. Os olhos azuis se desviaram da televisão para o meu rosto. Eu sabia que ela estava com medo, só não sabia o motivo.

- Eu sei que você está esperando minha resposta...- Falou.

- Eu...só estou preocupada! – Respondi.

- Eu juro que queria evitar isso...- Alison lamentou e embora eu sentisse que ela desejasse chorar, seus olhos azuis continuaram vazios.

- Evitar o que, Ali? Pelo amor de Deus...- Pedi.

- Isso...- Apontou na minha direção. – Você preocupada...

- Tratando-se de você, eu sempre vou me preocupar.

- Eu sei...e é por isso que eu acho que você merece mais do que eu. Convenhamos, eu sou sinônimo de preocupação...- Ela lamentou, cansada.

- Ali, para com isso!

- Eu acho que o pesadelo não acabou, Em. – Alison falou de uma vez, sem rodear mais.

- Como assim? Que pesadelo você está se referindo? – Perguntei, receosa. Havíamos passado por tanta coisa que era difícil saber a respeito do que ela falava.

- Redcoat... – Ali falou baixinho, como se as paredes do apartamento pudessem nos ouvir.

- Ali! Nós sabemos que você...

- Existiam outras, você sabe. – Eu sabia muito bem as pessoas a quem Alison se referia, mas parecia uma teoria completamente impossível.

- Pegaram a "A", isso tudo acabou! – Segurei a mão de Ali e ela desviou os olhos, não me encarando. – No máximo, era alguém vestida de Chapéuzinho Vermelho ou ...

- Você não acredita em mim. – Ela disse com decepção, me cortando e afastando sua mão da minha.

- Ali, depois de tudo o que eu vivi com você e com as meninas, você acha mesmo que eu não acredito em você?

- Não parece que você acredita. – Respondeu, friamente.

Revirei os olhos, pensar que tudo havia acabado era tão mais fácil.

- Ali, por que você acha que se importariam em nos perseguir na Califórnia?

- Porque nós estamos aqui...

- Aqui não é Rosewood, aqui...

- Ok, Emily, se você não acredita em mim, não precisa ficar criando teorias.

- Só estou tentando ser racional. Charlotte está internada, recebendo tratamento e...

- É muito fácil para você falar assim dela quando a irmã não é sua. – Alison esquivou-se dos meus carinhos e levantou do sofá, caminhando até a janela e observando o por do sol.

Não me movi, apenas a observei de longe. Talvez eu tivesse pesado um pouco nas palavras, mas que outra opção eu tinha?

- Desculpe...

Alison revirou os olhos.

- Eu deveria ter ido embora ontem...- Ela caminhou, na direção das malas.

Eu estava cansada daquelas discussões, de nunca concordarmos em nada, dela sempre afirmando que queria estar longe. Eu havia feito tudo que era possível para mantê-la bem, feliz e a salvo e ainda sim, Alison insistia em me machucar com aquelas palavras.

- Ok, Ali, se você acha que o melhor é ir embora...- Respondi, vencida. Olhando-a de canto, vasculhar as mensagens no próprio celular.

Repentinamente, o rosto dela tornou-se pálido, como se ela tivesse visto um fantasma. Alison não me respondeu, continuou com as orbes petrificadas na tela do celular. Com a experiência que eu tinha, aquilo só poderia significar uma coisa.

- Ali? – Perguntei, caminhando na direção dela.

- Quer dizer, eu preciso ir embora...- A loira me esticou o celular quando cheguei perto e as palavras que estavam escritas no visor do aparelho, também me petrificaram:

"Ali,

Assim que ler esta mensagem, me ligue. É importante, é sobre a Charlotte.

E."

Fim do capítulo