A morena pareceu entender que aquilo era um chamado e passou a correr na direção indicada pelo cachorro, quando foi chegando perto do lago percebeu que havia uma pessoa gritando por socorro e se debatendo dentro do lago. Sem pensar duas vezes tirou seu tênis e correu até o lago, começou a nadar,mas quando estava chegando perto da pessoa ela simplesmente sumiu, parece que tinha sido engolida pelas águas.

Alex então mergulhou, nadou mais um pouco até ver a pessoa afundando lentamente, foi até ela e a pegou pela cintura fazendo com que as duas voltassem para cima, passou um braço por baixo da axila e do queixo da mulher, ajudando-a assim a manter a boca fora d´água. Seu braço mais hábil ficou livre para ela nadar, ela então  foi nadando até chegar na parte mais rasa do lago, começou a arrastar a mulher até uma área seca. Conferiu se ela estava respirando. Não ta respirando, ai meu deus é ela, é a Helena.

 A morena inclinou a cabeça da ruiva para trás e levantou o queixo. Em seguida, colocou uma mão à frente e apertou o nariz com o polegar e o indicador, com a outra mão, abriu a boca dela e inspirou normalmente, se inclinou sobre Helena cobrindo a boca dela com a sua. Lenta e regularmente soprou o ar para dentro da boca da Helena. Mas ela não estava reagindo, tentou mais uma vez e logo tentou massagem cardíaca.

- Vamos Helena, repira, por favor, vamos respira!!!- disse em desespero. Astro parecia entender o que estava acontecendo, se sentou perto da dona e ficou observando os movimentos da morena.

 Alex pediu a Deus para que ele não as abandonasse, não agora que havia encontrado a mulher que nos últimos três anos estava povoando sua mente e era a responsável pelos seus batimentos acelerados. Deus parecia ter lhe ouvido, Helena começou a tossir e a reagir. Alex ficou aliviada, agradecia a Deus e aos anjos por terem lhe dado a chance de poder falar mais uma vez com o anjo de olhos azuis a sua frente.

- Calma, respira, você vai ficar bem- fazia carinho no rosto da ruiva e a olhava com verdadeira admiração, ela não havia mudado em nada, estava linda como da ultima vez. Astro começou a lamber o rosto de Helena, sua dona estava bem.

- Coff, coff! - Helena tossia ainda, não sabia quem tinha lhe salvado, apenas sentiu em algum momento alguém lhe puxando pra cima e agora essa pessoa fazia carinho em seu rosto. Ela estava andando com o Astro quando sem ver acabou caindo em uma parte do lago que dava diretamente para uma parte mais funda, tentou nadar, mas como não conseguia enxergar acabou nadando para o lado errado e no desespero engoliu água.- quem é você?

- Eu...- Alex não sabia o que falar, algo estava estranho, tudo bem ela não poderia se lembrar dela, ainda mais depois do susto, estava se recuperando, não estava prestando muita atenção, mas Helena parecia olhar para o nada e não diretamente seu rosto. - Meu nome é Alex, sou filha do Eduardo e da Beatriz.

-  Eles disseram que você viria mesmo- aquela voz, já tinha ouvido antes, não era possível, bebeu muita água, estava delirando.

- Sim eu vim, acabei de chegar e estava andando por ai, até que o seu cachorro me achou e me pediu ajuda. - Nesse momento Helena sentia Astro perto de si, hora sentia ele lhe lamber, hora ele a cheirava, parece que ele queria dizer que estava ali com ela.

- Obrigada garotão, graças a você a Alex me achou. - Disse fazendo carinho no cachorro.

- Ele é um bom parceiro- Alex também fazia carinho no Astro

- Obrigada você também, se você não tivesse chegado a tempo eu teria m...- não terminou de falar, sentiu o dedo de Alex em seus lábios.

- Não diga isso- com seu dedo nos lábios de Helena a morena sentiu um arrepio percorrer seu corpo e um desejo quase louco de sentir com a sua boca aqueles lábios. Meu deus eu to ficando louca, no que eu to pensando. Tirou a mão da boca da ruiva e passou nos seus próprios cabelos, em desespero.

Helena queria poder ver quem era aquela mulher, estava em seus braços, se sentia bem e segura daquele jeito, o isolamento não estava lhe fazendo bem. Tentou se levantar, mas seu movimento foi rápido demais, isso fez ela se sentir um pouco tonta.

- Ei calma eu te ajudo- Alexandra segurou Helena pela cintura e a ajudou a levantar.

-  Você está voltando para o casarão? - perguntou uma Helena constrangida, não sabia o porquê, ou até sabia,estava insegura diante a reação da mulher, não tinha conseguido perceber se a moça que lhe ajudou já tinha entendido que ela não enxergava e isso pareceu lhe incomodar, tinha medo que a moça não reagisse bem. Mas e dai se ela não gostar disso, ela não tem nada haver com a minha vida, Helena para de bobagem.

- Sim, você não vai?- perguntou Alex achando estranho.

- Sim, eu não sei se o Astro ira conseguir me levar, ainda estamos em treinamento.

-  Como assim treinamento?- A morena indagou confusa.

- Eu acho que você não percebeu ainda, mas ele é meu cão guia, eu não enxergo. -disse com um aperto no peito.

-  Ahhh e... eu..- Alex não sabia o que dizer. Finalmente parecia ter se dado conta, olhou para o Astro e viu o equipamento nas costas do cão, agora entendia o porquê dela não lhe reconhecer e não olhar diretamente em seu rosto, estava tão encantada pela mulher e feliz pelo reencontro que não parecia ter observado os detalhes a sua volta. - Me desculpa não percebi, mas tudo bem, eu ajudo você a chegar até sua casa, isso não é problema.

- Desculpa o incomodo- Helena estava incomodada com a situação.

- Imagina, não é incomodo nenhum. - disse sem jeito. - você ta bem mesmo?

- Sim eu to melhor, obrigada- falou e sentiu a mão de Alex na sua mão direita. Por um momento sentiu um arrepio, aquelas mãos lhe passavam confiança, mesmo não sabendo quem era aquela mulher, algo nela a deixava estranhamente bem.

O caminho feito até a casa de Helena foi feito entre alertas e olhares curioso de Alexandra, ela segura com firmeza a mão da ruiva. O que teria acontecido com ela, de repente se lembrou de onde poderia estar aquele homem que estava esperando por ela na rodoviária, será que ele tinha lhe abandonado por causa da cegueira. Não é possível, eles pareciam se gostar, mas o que Helena ta fazendo aqui, morando com seus pais, nessa fazenda tão isolada e o que tinha acontecido com a sua visão. Quando estavam chegando na frente da casa, logo Eliza apareceu com um olhar curioso e preocupado.

- O que aconteceu minha filha, vocês estão molhadas?!

- Eu cai no lago mamãe e a Alex me salvou- disse já imaginando o rosto de sua mãe assustado.

- Ohh meu deus, como foi isso, você ta bem? - abraçou a filha chorando.

- Ela ta bem sim dona Eliza, foi só um susto- Alex tentou tranquiliza lá.

-  Como isso foi acontecer, que perigo você correu filha- falou passando a mão pelo rosto e pelos braços da filha, como se tivesse conferindo que ela estava inteira- Obrigada dona Alex, se não fosse pela a senhora não quero nem pensar, não sei nem como te agradecer- disse sem conter o choro, sendo abraçada pela morena.

- Tudo bem, não chora, ela ta bem e isso é meu trabalho, eu sou médica. - disse Alex- E eu sei como você pode me agradecer.

- Diga e eu farei- Eliza olhou curiosa, enquanto Helena só ouvia com interesse.

- Pare de me chamar de dona e sim só Alex- falou sorrindo.

As outras também sorriram, Alex perguntou se precisavam de mais alguma coisa, prometendo voltar mais tarde para ver se Helena estava bem. Quando chegou em sua casa, seus pais a olharam confusos pela roupa molhada, ela lhes contou toda a situação, eles ficaram preocupados mas foram acalmados pela filha.

- Meu deus que situação terrível - Beatriz tinha a mão sobre a boca, estava em choque.

- Se não fosse essa sua explorada pelo ambiente a Helena não teria como se salvar. - Disse Eduardo pensativo.

-  Pois é, graças ao Astro também que eu consegui, ele que me achou. - A morena queria rir da ´´ explorada pelo ambiente ´´, mas se conteve.

Depois os três foram almoçar, mais tarde iriam ver se Helena estava mesmo bem. Alexandra  estava no quarto, tentava entender tudo o que tinha acontecido há algumas horas atrás, tinha encontrado Helena, ela quase morreu afogada e estava cega.

Eu poderia esperar tudo, menos isso, não estava preparada pra essa situação, ela não consegue me ver, como vou conseguir me aproximar dela, será que ela vai querer uma aproximação comigo?

Olhou pela janela do quarto, dali dava pra ver a casa onde Helena morava com seus pais. Se levantou e decidiu ir até lá, precisava conversar com ela, não sabia o que dizer ou como dizer, mas precisava estar perto da ruiva. Caminhou até a casa onde Helena com certeza estaria, bateu na porta e foi atendida por Geraldo.

- Olá, você deve ser a Alexandra, prazer- estendeu a mão que foi apertada por Alex .

- Sim sou eu mesma e o prazer é meu, você deve ser o Geraldo- Podia ver que os olhos de Helena eram da mãe, mas ela havia mais traços do seu pai.

- Sou eu mesmo- disse sorrindo- Eu fiquei sabendo o que você fez pela minha filha, gostaria de te agradecer, você ter salvado a minha menina não tem preço - Falou emocionado.

- Tudo bem, foi um prazer - disse sem jeito- E ela como está?

- Esta no quarto dela, ela não sai muito. - disse chateado- eu e minha mulher até gostaríamos que ela andasse mais e quando ela resolveu fazer isso acontece esse acidente- abaixou o olhar, de alguma maneira se sentia culpado por não ter estado com a filha.

- Seu Geraldo vocês não tem culpa disso ter acontecido - percebeu a culpa que o homem carregava- foi um acidente, infelizmente eles acontecem, mas o que importa é que ela esta bem. - falou passando a mão pelo braço do senhor, como se quisesse passar força.

-  Pai ?!- Helena estava chamando pelo senhor. Alex sorriu sem perceber, Helena estava linda, usava um vestido verde claro, estava de cabelos soltos e rasteirinha.

- Oi filha, estou aqui de fora com a Alexandra. - Geraldo falou olhando para porta, direção por onde sua filha estava vindo.

- Aconteceu alguma coisa? - Perguntou ela preocupada.

- Não, eu só queria saber como você esta? - Alex estava com as mãos geladas, ansiosas.

- Eu estou ótima, obrigada- respondeu sem jeito com a atenção da moça. - Pai a mamãe esta te chamando.

-  Ta bom, Alex foi uma prazer e mais uma vez obrigado- pegou a mão da morena apertando com carinho. - Você não quer entrar?

-  Não obrigada, eu to bem aqui fora.

- ok, qualquer coisa nos chame. - Ele foi pra dentro na procura pela mulher, deixando Helena e Alexandra sozinhas lá fora, havia gostado da morena, principalmente pelo olhar carinhoso que a mesma direcionou a sua filha.

- Você não quer mesmo entrar? - perguntou Helena.

- na verdade eu queria te chamar pra gente dar uma volta pela fazenda, pela manha não andei quase nada, então agora a tarde queria aproveitar. - não pretendia fazer aquele convite quando chegou ali, iria só perguntar pela ruiva e iria embora, mas a vendo ali na sua frente gostaria de passar um pouco mais de tempo com ela.

- Eu não sei se seria uma boa ideia , não saberia te indicar pra que lado seguir- disse constrangida, precisava conversar com Júlia, era a Terceira vez na semana que se sentia inferior as pessoas de alguma maneira, isso nunca tinha acontecido antes. Acho que o isolamento realmente esteja me atrapalhando a conviver com outras pessoas.

- Só sua companhia me basta Helena, não conheço nada aqui, podemos explorar isso juntas- Alex nunca foi apegada a  ideia de ser carinhosa com outras pessoas, além de seus pais e irmãos, sempre foi mais séria e mais racional, mas se tratando daquela mulher na sua frente as coisas mudavam, tinha a necessidade de cuidar dela, de estar junto a ela, mostrando o quanto ela era especial.

- Eu não consigo ver, como irei explorar isso tudo aqui- abriu os braços, como se mostrasse tudo ao seu redor.

- Eu irei descrever tudo o que eu ver pra você, cada lugar, cada ser, cada detalhe será ouvido por você, não te deixarei por nenhum minuto sequer sozinha. - A morena não estava brincando, se tivesse quer ser os olhos da ruiva para ter ela por perto, seria.

- Porque você esta fazendo isso, não preciso que você sinta pena ou...- nesse momento sentiu os braços de Alex passando por sua cintura, foi pega de surpresa,mas não podia negar, gostou naquele abraço, envolveu o pescoço de Alex com seu braços, aquele perfume já era conhecido, a imagem da morena vinha na sua cabeça, será que seria aquela ´´tonta´´, mas por que ela não havia dito nada, será que ficou sem graça por vê lá cega e não queria ser indelicada, seus pensamentos foram interrompidos.

- Eu não tenho pena de você e nem deveria- falou agora olhando nos olhos de Helena, estava com as mãos uma em cada lado do rosto da mulher, queria que ela pudesse olhar em seus olhos e ver que ali não existia pena, pelo contrario, tinha admiração, carinho. - Eu seria uma tonta de te julgar antes de te reconhecer e sua cegueira pra mim não é problema.

- Você continua com a mesma aparência de 3 anos atrás?. Essa pergunta calou Alex por um minuto.

Só podia ser aquela morena de olhos verdes, a voz, o perfume, o adjetivo ‘'tonta'', o toque, não é possível que teria duas pessoas tão parecidas assim, na verdade Helena gostaria que fosse a mesma pessoa, só não entendia o porque.

- O que você disse? - Alexandra não estava acreditando no que estava ouvindo, será que tinha entendido certo, ela se lembrava dela. Meu deus como, ela não consegue ver. Ainda estava com as duas mãos no rosto da ruiva, não tinha força pra tirar, não sabia o que dizer ou o que fazer.

- Eu queria saber se você esta com a mesma aparência de 3 anos atrás, se eu estou te imaginando da maneira certa. - Helena estava ansiosa pra que ouvisse um sim, mas o porquê disso, porque queria que aquela mulher que segurava seu rosto com as mãos geladas e respiração ofegante, fosse a morena que um dia viu.

Fim do capítulo