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She's Got Me Daydreaming por Carolbertoloto

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Palavras: 5087
Acessos: 2395   |  Postado em: 13/09/2017

Slow Dancing in a Burning Room

Pov-Cosima

Há coisas que não podem ser explicadas, os porquês e suas consequências, atos, palavras e oração em pensamento.

Arrependimento.

O quê você faria se pudesse voltar no tempo? O quê mudaria? O quê deixaria de fazer?

Quando se caminha distraído, o penhasco não é visto.

Ainda me lembro daquelas duas semanas, onde tudo era pleno e tudo era bom...

A doce ilusão...

...o começo do fim.

Delphine ainda existe, mas aos poucos, deixa de viver. Incapaz de reencontrar, ela se perde em seus escuros pensamentos.

Era uma quinta-feira de manhã, em casa, havia tanta alegria, no trabalho, imensa esperança. Eu a observava administrar os experimentos à distância, com olhos apertados e movimentos cautelosos, Delphine se certificava que nenhum erro fosse cometido. Após posicionar os tubos de ensaio sobre a bancada, Dra. Cormier suspirou fundo, passou ambas as mãos em sua testa suada, sorriu em minha direção, e, em curtos segundos, foi ao chão. Eu vi o seu corpo se contorcer, buscando uma forma de diminuir a sua dor, a sua face era clara em agonia. Em desespero, corri para seu amparo. Delphine uivava em gritos, não entendia o que estava acontecendo, aliás, ninguém ali entendia o que se passava. Enquanto Dr. Nealon exigia que déssemos espaço para que ela respirasse, Scott me puxava pelos braços.

Jamais temi morrer, a morte é praga incurável, não há escapatória. Entretanto, assistir à quem se ama padecer diante de seus olhos, é angustiante, é ter o urubu de penas negras devorando a podridão de sua carne.

Eu sabia que Delphine não me abandonaria assim, mas era impossível não odiá-la por estar indo embora. Como cética cientista e herege religiosa, compreendi que nosso bebê já não estava entre nós, entretanto, como ser humano, eu ainda confiava na otimista ilusão disfarçada de fé.

Dr. Leekie tomou meu lugar na ambulância enquanto eu apenas observava o veículo se tornar cada vez mais distante. Scott e Mud ficaram comigo, eles disparavam palavras de consolo, mas meus ouvidos, nada captavam. O único barulho que ecoava em mim, era o das ligeiras e pesadas batidas de meu coração, e a cada pulsar, era uma dor diferente.

Scott nos dirigiu até o hospital onde Dr. Schmidt atendia pela manhã. O dia estava frio, entretanto, a atmosfera daquele lugar estava congelante. Os corredores brancos em tons de azul, os pôsteres com enfermeiras levando os dedos à boca, as coloridas maquinas de vendas, até mesmo as margaridas espalhadas, tudo, exatamente tudo cheirava à morte.  

Sentada e desolada, em minha cabeça passavam-se cenas aterrorizantes: a palidez de Delphine, seus gemidos sufocantes e seu olhar mergulhado nas profundas águas da angustiante dor que sentia. Ela sangrava de dentro pra fora, e implorava por auxilio de fora pra dentro.

Ouvi uma voz distante de meus terríveis devaneios. Senti um leve peso em meu ombro esquerdo.

“Cosima?” Era Scott quem me tocava.

“Cos!” Despertei em um susto silencioso.

“Oi! Tô aqui.” Exclamei baixo.

“Eu liguei pra Alison e pro Paul, eles vão embarcar no próximo voo.” Anunciou em tom de piedade, “Você precisa de alguma coisa?”

Se eu preciso de alguma coisa? Bom, não sei por onde começar.

“Não, só preciso ficar sozinha.” Confessei.

“Essa é a última coisa que você precisa, Cosima. Liga pro Felix, ele está preocupado com você.” Clarificou.

Busquei por meu celular, notei as várias ligações que perdi em distração.

Os passos apressados de uma enfermeira entristecida aproximaram-se de nós.

“Vocês são da família de Delphine Cormier?” Indagou.

“Sim!” Saltei da cadeira em expectativa positiva.

“Qual é sua relação com paciente?” Perguntou duvidosamente.

“Sou noiva dela.” Eu poderia ter exagerado um pouco mais.

“Bom, sendo assim...” A moça de branco mal continuou e logo foi interrompida.

“Dra. Niehaus está mentindo.” Leekie, eu te odeio! “Delphine não é sua noiva. Enfermeira, deixe que eu explique o que está acontecendo, já falei com Dr. Schmidt.”

“Mas que merd* você está fazendo?” Senti meu sangue ferver.

“Cosima, controle-se, pois a raiva não irá mudar nada.” Advertiu.

“Leekie, fale logo.” Impaciente, exigi prestes a socar seu velho maxilar.

“Dr. Schmidt confirmou pelo ultrassom, a gravidez foi ectópica. O feto nunca passou das trompas.” Explicou pausadamente.

“Mas eu ouvi os batimentos, eu estava lá, o bebê estava lá.” Nada fazia sentido.

“Dra. Niehaus, o feto nunca passou, mas ele sempre existiu.” Aproximou-se de minhas bambas estruturas, “Houve ruptura da trompa, o que levou à uma hemorragia interna peritoneal. Delphine está em cirurgia.”

“O quê? Cirurgia?” Com um forte empurrão, afastei seu corpo para longe do meu.

“Cosima, para!” Scott envolveu seus braços ao meu redor.

“Não, não tem como parar, vocês não entendem.” Soltei-me em fúria e corri para longe daquele inferno.

Minhas pernas não estavam cansadas, meus instintos não conheciam a direção que seguiam, os carros pareciam se mover devagar, e, em uma fuga solitária, me encontrei na porta de um bar qualquer.

Algo me dizia para não estar lá, mas outro algo me implorava por álcool nas veias.

Solicitei uma bebida, e de repente, já havia três copos vazios em minha frente. Não me lembro do tempo que passei naquele bar, muito menos como fiquei embriagada, minha única preocupação era voltar para o hospital, mas eu não podia, não queria ouvir notícias, mesmo suplicando por elas, eu não queria ouvir sobre a morte de Delphine.

Meu celular vibrava e vibrava, o que me fez recordar de quando Paul me pediu para terminar com minha namorada, e o mais ridículo foi que eu aceitei.

Porr*, foram tantos os problemas que inventamos por medo de ficarmos juntas. E sentada no balcão, a única coisa que eu queria era estar com Delphine.

Paguei a conta e me dei conta de que não fazia a menor ideia de onde eu estava. Por instinto, ou trégua do destino, cheguei ao hospital. Alison estava sentada, uma mão ia ao peito enquanto a outra segurava um pequeno terço de ouro. Felix digitava algo em seu celular, logo o colocou sobre seu ouvido. Reconheci o toque da chamada, ele me ligava. Scott, Ali, Mud, e Felix olharam em minha direção.

“Cosima, caralh*! Onde você estava?” Era isso como saudade soava?

“Longe dessa merd*.” Confessei com hálito etílico.

“Eu não acredito que você está bêbada.” Alison exclamou desacreditada.

“Sim, estou bêbada! Algum problema?” Meus nervos estavam à flor da pele.

“Tem problema, sim! Eles precisam de sangue, e não tem O- no banco.” Felix explicou.

“Puta merd*!” O cara lá encima deve me odiar, pensei. “E agora, Felix? Eu bebi.”

“Para a sorte de Delphine, você não é a única presente com o mesmo tipo sanguíneo.” Reconheci o grosso de uma voz perturbada.

“Paul?” Seu rosto estava vermelho e inchado por tanto chorar.

“Sim, também sou O-!” Ele parou no meio do caminho, pousou as mãos no bolso e analisou a frustração em minha face envergonhada.

“Paul, você tem que assinar os termos de responsabilidade, pois vai ter que ficar internado.” Aldous, novamente, apareceu para escurecer minha alma.

“Por que vai ficar internado?” Alison questionou.

“Porque a quantidade de sangue que Delphine precisa teria que ser doada por, pelo menos, duas pessoas. Entretanto, sou o único capaz de ajudar agora.” Ele soava decepcionado, raivoso, e satisfeito por ser “o único capaz de ajudar.”

Paul e Aldous foram levados pela mesma moça de branco de antes.

Desabei sobre a poltrona, levei as mãos à testa e tentei não chorar.

“Como consigo fazer tanta merd* assim?” Indaguei.

“Cos, você não sabia que Delphine iria precisar de sangue.” Alison, de maneira falha, ousou me confortar.

“Claro que eu sabia! Ela teve hemorragia.” Soquei minha perna para não socar minha amiga.

“Chega, Cosima!” Felix declarou, “Paul já está lá, vai ficar tudo bem.”

“Faz mais de quatro horas que ela está em cirurgia, Del está lutando, amiga.” Alison se ajoelhou em minha frente, pegou em minhas mãos e as beijou.

Eu não sabia onde encontrar força ou conforto. Além de ter perdido o bebê, eu perderia Delphine também?

Pois bem, perdas são pontos de vista.

Ao final daquela conturbada tarde, me encontrei em extrema exaustão, tanto física quanto mental. Uma residente, a cada 40 minutos, nos informava, por dó, sobre o estado de Delphine. Quando todo aquele pesadelo sem fim, finalmente, acabou, fomos levados à uma sala pequena em outro andar.

Dr. Schmidt, nitidamente fadigado, detalhou as sete horas do procedimento. Eu ouvia suas palavras com um imenso peso em meus ombros, principalmente quando Victor contou sobre a parada cardíaca que quase tirou Delphine de mim, entretanto, ela passava bem, estava sedada em um quarto, na UTI, onde visitas não seriam permitidas até o dia seguinte. Não me importava onde, mas eu passaria a noite inteira naquele hospital se fosse preciso, porém, depois de tamanha manipulação, Alison, Felix e Scott me convenceram, forçadamente, a ir para casa.

O apartamento ainda cheirava ao perfume dela. As embalagens dos Eskimos Pie que havíamos comido pela manhã, ainda permaneciam sobre o balcão. Eu necessitava de um banho, mas temia adentrar nossa suíte. Estar em casa, sem Delphine, era a mesma coisa do que não estar em casa.

Enquanto me banhava no apartamento de Scott, Alison preparava o jantar, Felix separava algumas roupas para mim e meu vizinho arrumava os colchões na sala. Quando voltei, tudo estava pronto, e mesmo no frio, aquele ambiente me aquecia.

Durante o jantar, poucas palavras foram ditas, apenas quando todos estavam deitados em minha sala de estar, a conversa passou a fluir.

“Cadê o Donnie?” Scott questionou.

“Ele não pôde vir, alguém tinha que cuidar da Bubbles.” Ali explicou.

“Paul me mandou uma mensagem, ele disse que receberá alta pela manhã e que Delphine ainda não acordou, mas está estável.” Felix informou trazendo alivio à atmosfera.

“Paul deve estar me odiando.” Confessei.

“Por quê? Você não fez nada, Cos.” Minha amiga não sabia de metade da história, estava na hora de acabar com os segredos.

“Porque, Alison, eu não apenas roubei Delphine dele, como não cuidei bem dela o suficiente, ele perdeu a namorada, o filho e litros de sangue.” A face de Ali permaneceu em choque, sua boca abriu largamente enquanto seus neurônios captavam a recente informação.

“Pois é...” Traguei meu baseado com força, “Estamos juntas, morando na mesma casa, pensávamos em começar uma família, e agora não faço a menor ideia do que fazer.”

“Cos-Cosima, eu não acredito que vocês esconderam isso de nós.” Minha amiga clarificou.

“Bem-vinda ao clube. Essas duas esconderam de mim por muito tempo, só fui descobrir mês passado.” Scott, infelizmente, acrescentou.

“Ah! Vocês dois parem de drama. Delphine e Cosima são mulheres maduras, sabem o que fazem, e nada disso tem a ver com vocês. Então, por favor, parem com a merd* do drama.” Se antes eu amava Felix, agora eu o amo ainda mais.

“Eu apenas estou surpresa! Se é isso o que vocês duas querem, quem sou para ir contra?” Ali apontou em defesa.

“Bom, mas é isso aí. Agora você entendeu o porquê Paul deve estar me odiando?” Continuei.

“Faz sentido ele desgostar do relacionamento, mas tenho certeza que não te odeia porque você não pôde doar sangue, e muito menos, por te culpar pela perda do bebê.” Explicou, “Além do mais, Paul está namorando com a Sarah, sua ex-chefe, Cos.”

EITA!

“Jura?” Indaguei.

“Menina, quando fiquei sabendo disso, quase cai pra trás. Só de imaginar como deve ser o sex* entre eles, me dá vontade de entrar no meio.” Se antes eu achava Felix desnecessário, naquele momento, eu o achava mais ainda.

“Credo, Fe.” Alison exclamou.

“Sempre achei que a Sarah jogasse no mesmo time que você, Cos.” Scott confessou.

“Pois é, eu também. A última pessoa que imaginei jogando pra esse time era Delphine, mas parece que o negócio é bom mesmo.” Minha amiga tinha o dom de fazer rir.

“Você não faz ideia, Ali.” Provoquei.

“Ai credo, eu discordo totalmente.” Felix, novamente, desnecessário.

Aquela noite rendeu umas boas e necessárias risadas, foi feito vento gelado em dia escaldante. Todos já dormiam encolhidos nos colchões quando decidi ir para o quarto.

Fiquei observando minha cama, ela era tão grande, e estava tão vazia. Eu não me movia, eu mal respirava, e com os braços envoltos em mim mesma, implorei em silêncio para ser abraçada por minha amada. Delphine estava em todos os cantos: se trocando no closet, fumando na varanda, lendo sobre a cama com os óculos na ponta do nariz.  Ela estava na ausência de minha paz, e no frio que me dá.

“E ai, horrorosa?” Cara, como senti falta dessa voz, naturalmente, afeminada.

“Hey, Fe.” Senti sua mão apertando meu ombro.

“Sabe...a cama não vai te morder, se você quiser deitar nela.” Avisou em tom piadista.

“Eu sei, mas parece que se eu deitar sozinha uma vez, será sempre assim.” Mirei ao chão tentando não disparar uma só lagrima.

“E quem disse que você precisa deitar sozinha?” Fe buscou por minha mão e, junto a mim, deitou sobre a imensidão daquela cama.

O suave do tecido fino dos lençóis confortaram minha pele arrepiada, era ridículo como o aroma de Delphine estava intacto, aquele sabor de uva com um leve toque de cigarro Francês, e era um cheiro único, particular, completamente saudosista. E antes que eu pudesse segurar, uma sincera lágrima escorreu, esta não era de tristeza, era de contentamento, pois o amor que há entre nós é puro, cru e grandioso.

Delphine passava bem, e aos poucos, eu passava bem também.

“Obrigada.” Agradeci ainda com minha mão na dele.

“Estou aqui pra isso.” Respondeu sem olhar para mim.

Observávamos o teto, o lustre e a calmaria.

“Você faz falta.” Confessei.

“Eu sei, sou sua pessoa e você é a minha. É patético o quanto penso em você.” O som de sua risada preenchia o vazio de minha alma.

“E como anda Rhode Island sem mim?” Questionei.

“Cara, tanta coisa mudou. Teve um dia que fui pro Leda, sentei no balcão, pedi uma mimosa, olhei pro lado e vi a cena mais bizarra da vida.” Articulou.

“O quê cê viu?” A curiosidade me invadiu bruscamente.

“Shay e Hannah.” Encarei meu amigo espantada, “Elas estão de rolo, miga.”

“Mano do céu, cê jura?” Impossível descrever os pensamentos em minha cabeça.  

“Uhum! Foi estranho demais, ambas me olharam por uns segundos e depois me convidaram pra beber. Eu, como o bom bêbado que sou, aceitei o convite. E cara, foi a noite mais esquisita da minha existência. Estar no mesmo local com suas exs já não era tão de boa, mas beber com elas e presenciar os beijos, porr*, foi literalmente bizarro.”

“Bom, se elas estão felizes...” Declarei.

“Estão sim, porém era nítida a necessidade de mostrarem que não se importavam mais com você.” Explicou sorrindo.

“A vida dá voltas, migo. E, isso sim, é bizarro.” Suspirei profundamente.

“Não tem como discordar.” Acrescentou.

Houve alguns segundos de silêncio pensativo.

“Então Scott e Alison sabem sobre vocês duas, hein?” Indagou mirando ao teto novamente.

“Pois é, o Scott demorou pra entender, mas a Alison...” Nossos olhos se encontram, “Alison foi uma surpresa, jamais imaginei que ela fosse entender, assim, tão facilmente.”

“Que isso não saia daqui, mas ela está mudando muito. E se ela descobrir que estou te contanto ao invés dela, a Doida me mata...” Felix sempre foi bom para guardar segredos, mas nunca os escondeu de mim.

“A Alison tá grávida, por isso que o Donnie ficou lá, eles estão trabalhando muito por conta disso.” O QUÊ? PUTA MERDA!

SANTO CARALHO! ALISON GRÁVIDA?

“Nossa...” Pensei e repensei antes de falar qualquer coisa, “...que bacana!”

Sou um lixo humano.

“O quê foi, sapatão?” Fe, obviamente, notou minha falta de reação.

“Ah! Estou feliz por ela, muito feliz mesmo.” Afirmei gaguejando.

“Mas...?” Meu amigo me conhecia tão bem.

“Vamos deixar pra lá, pode ser?” Implorei em eufemismo.

“Pode sim, eu acho que já entendi.” Felix concordou sem hesitar.

Conversamos durante mais alguns minutos, mal pude perceber quanto o sono tomou conta de mim. Não sonhei com nada concreto, apenas com figuras abstratas em meio à fantasia. E ao acordar, agradeci por não me lembrar da falta que a criatividade faz.

Alison e Scott já estavam trocados, e o café da manhã pronto na mesa.

“Bom dia, Cos.” Meu vizinho saudou.

“Dia, Scotty.” Acenei com a cabeça.

“Oi, Oi, princesinha.” Por um segundo esqueci da gravidez de Alison.

“Hey, Ali! Obrigada por limpar e cozinhar.” Agradeci sinceramente.

“Magina, amiga.” Beijou minha bochecha, deixando a marca de seu batom.

Analisei os arredores, havia alguém faltando.

“Cadê o Felix? Quando acordei ele já não estava mais na cama.” Questionei.

“Ele saiu, foi atender o telefone lá fora.” Ali explicou.

Sentamos à mesa para comer. Fome era a menor de minhas vontades, o que realmente queria fazer, era ir logo ao hospital.

Minha amiga havia preparado torradas com alho, azeite e orégano. Salada de frutas, ovos mexidos com queijo, e suco de laranja, sem açúcar.

Enrolei em cada garfada, não estava com apetite, entretanto, Alison me estudava e, secretamente com seus olhos, me ordenava a comer.

“Voltei, para alegria de vocês!” Felix abriu a porta apressado.

“Onde você foi?” Perguntei curiosamente.

“Falar com o Paul no telefone.” Respondeu.

“E...?” Sempre odiei o mistério que Felix forçava.

“E que ele já recebeu alta, foi visitar Delphine, ela acordou e tá perguntando de você, sua ridícula.” É incrível como o ser humano consegue ser tão egoísta, mesmo com a alegria de saber que Delphine havia acordado, o que mais mexeu comigo, foi o fato de Paul estar com ela.

Cosima, menos.

“Então vamos logo pra lá!” Levantei em um pulo.

“Você vai de pijama?” Scott contestou.

Porr*!

“Me troco em cinco minutos.” Afirmei.

“Cosima, sua namorada morreu e voltou à vida, toma pelo menos um banho e escova esses dentes.” Muito cedo para piadas, Felix.

“Ah! Coloca aquele vestidinho vermelho que é lindo!” Alison complementou.

“E prende esse cabelo, tá parecendo o Chewbacca” Scott entregou no jogo.

É, eu odeio amar meus amigos, e por isso que os amo.

“Vão se foder.” Provoquei antes de seguir suas ordens.

Tomei banho, escovei os dentes, prendi meus dreads em um coque, e por fim, coloquei o “vestidinho vermelho que é lindinho”.

“Agora sim!” Alison declarou.

“Tá até parecendo gente.” Fe e sua sutileza, como sempre, sarcásticos.

Scott assumiu o volante, e apressadamente, chegamos ao hospital. Por instinto, eu sabia exatamente onde encontrar Delphine, nem precisei da ajuda desnecessária de uma enfermeira sorridente, que mesmo assim, guiou o caminho.

Avistei pela porta de vidro, Paul sentado na poltrona ao lado do leito de minha namorada, eles seguravam as mãos, e mesmo com expressões plenas, os olhos estavam vermelhos por tanto chorarem.

A cena dilacerou meu coração.

Eu não devia ter sentido ciúmes, mas o autocontrole era incontrolavelmente descontrolado.

“Um visitante por vez.” A moça de branco informou.

Paul notou minha presença ao lado de fora e me cedeu a visita.

Trocamos olhares esquisitos, nunca reparei no quão alto meu ex-amigo é, com um soco, ele seria facilmente capaz de me matar.

“Bom dia.” Lembro-me da noite antecedente àquele momento, ensaiei em minha cabeça todas as coisas que gostaria de falar para Delphine, entretanto, no momento em que a vi, bem ali, na minha frente, havia esquecido até mesmo o porquê estávamos lá.

“Bom dia.” Ela respondeu com fraqueza.

Encurtei a distância para melhor análise. Minha namorada estava menos pálida, porém sua aparência não era nada similar ao que normalmente é. Seus lábios pareciam mais finos, sua pele estava desidratada, as bochechas mais magras e as olheiras mais negras. Entretanto, o que mais me preocupou foi a expressão em seu rosto, era vazia, era superficial.

“Delphine, eu não sei o que falar.” Confessei colocando a cabeça pra baixo.

“Vem aqui...” Estendeu sua machucada mão, que não somente estava cheia de hematomas, como, também, estava sujeita à agulha que a ligava aos tubos que vinham do soro, “Senti sua falta.”

“Cara, eu também.” Desabei em choro, mesmo sabendo que deveria aparentar ser forte.

Permanecemos naquele momento vulnerável por certo tempo. As lágrimas, tanto minhas, quanto dela, não recebiam trégua. A vida consegue ser absurdamente cruel, às vezes.

“Cos, o quê exatamente aconteceu? Eu não lembro de muita coisa.” Afastou-se de mim, mas suas mãos ainda pousavam sobre as minhas.                                                            

“Dr. Schimdt já passou aqui?”

“Ainda não, ele vem no período da noite.” Clarificou.

“Amor, eu quero te contar tudo o que sei, mas prefiro que Victor explique certinho.” Eu não tinha o direito de destruí-la ainda mais.

“Cosima, o quê aconteceu? Eu preciso saber.” Implorou, “E nosso bebê?”

“Paul não te contou?” Questionei preocupada.

“Não.” Mirou em meus olhos precisando de algo mais, “Cosima, fale logo.”

“Del...”Suspirei, “O feto não passou das trompas. O bebê nunca existiu." Soltou de meu toque, virou a cabeça e segurou as lágrimas.

O silêncio ensurdecia a horripilante atmosfera.

Apenas os aparelhos, naquele momento, manifestavam barulho.

“Foi tabagismo? O álcool? A merd* do destino?” Perguntou culposamente.

“Delphine, não há como saber o que ocasionou a perda.” Expliquei pausadamente.

“Só se perde aquilo que se tem, e no caso...”Respirou, “Eu nunca tive um filho.”

“Amor?” Busquei por contato físico.

“Não! Não me toque.” Afastou-se agressivamente, “Saia daqui.”

“Delphine, para com isso, eu não vou te deixar sozinha.” Declarei.

“Saia!” Gritou com força, chamando a atenção da ala inteira.

“Saia, Cosima! Me deixe só.” Demandou impaciente.

“Delphine, por favor...”Ouvi as portas de vidro deslizarem.

“Cos, é melhor deixa-la sozinha.” Era Paul e sua maldita sensatez.

“Não vou sair.” Afirmei antes de ser puxada por braços músculos para fora do quarto.

Alison, Felix e Scott olhavam em minha direção com ar de mísera piedade.  

“Mas que droga, Paul. Tirei suas mãos de mim. Não precisava disso.”

“Precisava sim! Delphine precisa de tempo para entender o que aconteceu.” Explicou.

“Engraçado que você mencionou sobre doar sangue pra ela, mas deixou que eu lançasse a bomba, muito inteligente, porém...foi baixo, até mesmo pra você.” Eu não estava com raiva, estava furiosa.

“Baixo? Você quer mesmo entrar nesse assunto?” Questionou certo de sua intocável integridade.

“Você não é o mocinho dessa história, Paul. Nem adianta tentar.” Firmei meus pés ao chão enquanto seu forte maxilar enrijecia.

Porr*, eu não sabia o que estava fazendo, já até havia me preparado para levar um cruzado na cara.

“Chega! Eu não vim aqui pra isso.” Felix e Scott se aproximaram para apartar uma briga que não passava de pura ameaça.

“E veio aqui pra quê?” Indaguei confusa.

“Para me acertar com vocês duas.” Exalou o denso oxigênio de seus pulmões atléticos, “Posso conversar com você em outro lugar?”

Encarei meus amigos e defensores, e, com um olhar duvidoso, concordamos em permitir a tal da conversa “em outro lugar.”

Paul guiou o caminho até a entrada do hospital, sentamos em banquinhos cor de nada e, aos poucos, fomos nos acalmando.

“Cos...” Limpou a garganta, “Eu não quero brigar.”

“Cara, me explica, por favor, o porquê tenho o dom de foder com tudo.” Lancei meus olhos ao piso de concreto, cabisbaixa para disfarçar a frustração sufocante. 

“Você não fode com tudo, apenas se culpa por tudo o que acontece ou deixa de acontecer.” Buscou por minha mão direita, “Não tinha como prever toda essa merd*, e eu não vou mentir, não posso dizer que deixei de ama-la, Delphine foi o segundo evento mais concreto que tive em minha vida.”

“O segundo?” Não compreendi seu fluxo de consciência complexo.

“Sim, o segundo, porque o primeiro evento, a primeira coisa concreta que tive em minha vida...” Entrelaçou seus longos dedos nos meus, “Foi você!”

Socorro, Paul estava se declarando pra mim?

Fingi demência e aguardei pela, possivelmente, trágica explicação.

“Cosima, você não era apenas uma amiga, era a irmã que nunca tive. A dor que sua traição me causou, foi foda, e continua sendo foda. E eu não posso te culpar por se apaixonar pela mulher que amo, não posso te culpar por não ter sido capaz de doar seu sangue pra ela, não posso te culpar por me machucar em nome do amor. Estas coisas, infelizmente, acontecem. Entretanto, eu tenho o direito de te culpar por me apunhalar pelas costas, por contar tantas mentiras.”

Eu não sabia o que dizer, e nem como olhar para seus olhos cor de natureza viva. O robusto rapaz ao meu lado, levou minha mão até seu maciço peitoral, era possível sentir o pequeno vão que separava os músculos de cada peito definitivamente esculpido.

“Cos, eu não quero mais te culpar, estou cansado de viver com tanto rancor, me obrigando a te odiar. Não sou perfeito, fico meio louco às vezes, perco a linha, faço merd* pra caralh*, mas não fui capaz de te odiar, nem por um só instante, mesmo tentando muito, você sempre será uma irmã pra mim. Então, me desculpe por tudo que te fiz fazer, por tudo o que te disse só para menosprezar quem você é. Me perdoa?” Ele não teve pressa para falar, seu discurso até pareceu ensaiado, mas soou completamente honesto. Se existe alguém neste mundo que eu conheça como as palmas de minhas mãos, esse alguém é Paul Dierden.

“Te perdoar?” Até tentei, mas não controlei, fui consumida pelo choro novamente, “Você é último que precisa pedir perdão. Cara, você cometeu alguns erros, mas eu tenho uma lista dos meus, em ordem alfabética.”

“Não importa quem errou mais ou menos, todos nós fizemos merd*.” Clarificou.

”Cara, fizemos muita.” Confessei em entre ofegantes suspiros.

“Cosima, eu conversei com Delphine, não posso mais ficar aqui, não tenho mais assuntos para resolver.” Anunciou.

“O que você quer dizer com isso?” Questionei perdida em palavras mal ditas.

“Perder o bebê foi um banho de água fria, me fez acordar, perceber todas as coisas que nunca tive, então estou voltando pra casa, meu voo é hoje à noite. Cuidarei de Delphine até o horário de ir ao aeroporto.” Explicou avaliando minhas expressões faciais.

“Tem certeza?” Insisti.

“Absoluta!” Respondeu.

“Então, vem cá.” Levantei do banco cor de nada e me posicionei contra seu corpo pra lá de delgado.

Aquele foi nosso primeiro último abraço, porque mais tarde, o levei até o aeroporto.  

Durante todo o período que Delphine ficou no hospital, senti que lutávamos uma batalha por dia. Ela não falava comigo, me ignorava, minha presença era, nitidamente, indesejada. Entretanto, eu não a abandonei, mesmo sabendo que eu a incomodava apenas por estar lá, insisti nela, em nós. O quê mais me perturbava era não ter a menor ideia do porquê havia tanto rancor em uma só mulher, foi como se ela tivesse esquecido que um dia me amou.

Foi uma semana inteira acordando cedo, trabalhando no laboratório, tanto nos bernes quanto em minha secreta cura para Charlotte, quem eu visitava durante as tardes. A pobre criança chegou até pensar que Delphine não a amava mais, pois Dra. Cormier não respondia nenhuma de suas cartinhas. Charlotte era esperta demais, descobriu que as duas primeiras cartas de resposta haviam sido escritas por mim, e não pela mulher que deveria, ao menos, ter a sensibilidade de replicar os sinceros desejos de melhoras. 

Alison cuidava de sua amiga durante os períodos que eu não estava disponível. Por muitas vezes, desejei ter vários clones, para que assim, eu pudesse estar em diferentes lugares ao mesmo tempo. Após o expediente, partia para o apartamento, onde me banhava e jantava rapidamente, não enrolava um só segundo, pois não queria me atrasar para ser ignorada por Delphine. E era incrivelmente frio seu comportamento comigo. Eu chegava no quarto, ela sorria com Alison, ela notava minha presença e sua cara fechava. Não fui louca de questionar os motivos para tanta recusa e repulsa, talvez eu não quisesse ouvir, talvez ela não quisesse falar, aquela semana pode ser definida pelo adverbio talvez:

Talvez, seja só uma fase.

Talvez, tudo melhore logo.

Talvez, ela ainda me ame.

Talvez, sim.

Talvez, não.

Mas apenas, talvez.

Eu banhava Dr. Cormier, trocava suas roupas, penteava seus longos cabelos lisos e loiros, levava comida em sua boca, a colocava para dormir, checava suas respiração e lucidez, e mesmo assim, nenhum “obrigada”, nenhum “valeu.” Não me entendam mal, eu nem esperava por muito, apenas almejei por qualquer troca de palavras, qualquer coisa positiva. Quando minha “namorada” recebeu alta, escolhi seu traje preferido, fiz sua maquiagem, ajudei seu frágil corpo a sentar na cadeira de rodas. Estávamos prestes a sair do quarto quando sua mão tocou na minha.

“Onde está meu bebê?” Ela parecia convicta, mesmo soando confusa.

“Meu amor, você está bem?” Questionei temendo sua falta de clareza.

“Sim, só quero meu bebê.” Respondeu olhando em meus olhos.

Ajoelhei em sua frente, busquei por seu rosto, penetrei suas córneas.

“Delphine, não tem bebê. Você esqueceu?” Indaguei sem desviar meu olhar.

“Ah! Não tem bebê?” Perguntou repetindo minha recente fala.

“Não, mas tem a Alison, o Felix e o Scott, eles estão te esperando em casa.” Clarifiquei antes de leva-la ao carro.

No caminho até o apartamento, Dr. Cormier não desgrudava da janela. Ela observava tudo lá fora. Mesmo com a expressão vazia, ela não parava de observar a vista.

Alison já havia preparado tudo, colocou flores por todo lado, fez o jantar, arrumou a casa. Felix cuidou da playlist e das piadas. Entretanto, Delphine não respondia, ela permaneceu distante, fumava como se sua vida dependesse disso. Meus amigos viajantes decidiram ficar com Scott até o resto da viajem, mas mesmo assim, ainda estão presentes, só dormem no apartamento ao lado.

Ao cair da noite, arrumei a cozinha, avistei minha “namorada”, novamente, fumando na varanda. Tomei meu banho apressadamente, porém quando retornei ao quarto, seu corpo já estava esparramado pela cama. Tão desfalecido, tão fragilmente fragilizado. Busquei, com um abraço, confortar minha amada, mas ela fugiu de mim, removeu minhas mãos e braços de suas estruturas sem a menor hesitação.

“Ainda está cedo, Cosima. Muito cedo.” Sussurou.

Não sei exatamente o que ela esperava de mim, não fui procurar por sex*, apenas quis conforta-la, senti-la, sei lá.

“Quando estiver pronta, estarei aqui.” Retruquei ainda a observando.

Cobri seus despidos ombros com o lençol cor de nuvem morta.

Eu não fazia ideia naquele tempo, mas ao meu lado, dormia o fantasma da mulher que amei. Estávamos fadadas a dançar lentamente no quarto em chamas. E é bizarro, esquisito, se conjugar verbos quando não se sabe mais sobre o tempo gramatical, quando não se sabe, nem ao menos, o que foi real ou apenas uma estória mal contada. 

Fim do capítulo


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Comentários para 27 - Slow Dancing in a Burning Room:
Daya
Daya

Em: 14/09/2017

Que triste, entendo a Delphine e sua trsiteza, mas acho q ela esta sendo tremendamente injusta com a Cos, pq ela tambem está sofrendo pela perda do bebe e também por vê, a mulher que ama no estado que está e ainda por cima com medo de que o amor que ela sente não seja mais correspondido.

Aguandando pelo próximo ansiosamente.

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