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She's Got Me Daydreaming por Carolbertoloto

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Palavras: 3034
Acessos: 1969   |  Postado em: 18/09/2017

Over My Head

Pov- Delphine

Nada é colorido quando a esperança é daltônica.

Nada faz sentindo quando tudo parece estar tão perdido.

Há tantas coisas que preciso dizer, expelir, expulsar, reclamar, mas não sei por onde começar.

Sou cheia de teorias, sou falha em convicções. Sofro sem querer, e, às vezes, por querer. Conheço-me, porém, desconheço o que se passa em mim.

Complico o simples.

Simplifico o admissível.

Sou antítese,

Sou metáfora,

Eufemismo e Hipérbole.

Sou o exagero do nada,

E a frivolidade do tudo.

Tenho tantas coisas e tenho coisa nenhuma.

Quero sair, sumir.

Mas, também, quero ficar.

Peça-me para não ir.

Mas, não obrigue-me a permanecer aqui.

Dei-me atenção, ultimamente, venho dirigindo em contramão.

Sou escadaria vazia,

Corrimão sem fim,

Em uma casa fria, 

Sou o cadáver da mulher sozinha.

...

Inspiro por um momento, expiro devagar. Falar é mais complicado do que pensar.

Não é necessário um analista, uma cientista ou qualquer psicologista para diagnosticar minha vagarosa decadência, eu a vejo, eu a sinto, eu a compreendo.

Sinto-me inútil, sem proposito algum. Sou apenas um ser vivo, respiro, existo, caminho, falo, bebo e fumo, e, às vezes até sacio minha inexistente fome. Mas o quê consome, e até, faz esquecer-me de um certo nome, é a culpa por não lembrar de quem realmente sou, ou fui, ou de quem nunca cheguei a ser.

Viver é perigoso, mas relatar é ainda mais.

Minha estória tem história complexa. Não segue linha linear, são traços tortos, pensamentos póstumos, são memórias mergulhadas, meticulosamente, em misterioso mar morto. Minha narrativa é um misto de Poe, Guimarães e Aurore Duplin. A última, poeta Francesa, conhecida por seu pseudônimo: George Sand. Aurore escrevia sobre o amor, sobre a dor, esforços do trabalho e sacrifícios do castigo.

Soa um tanto clichê, certo?

Entretanto, Aurore Duplin, feito criança mimada, mostrou que sua bagunça era intencional. Certa vez, ela escreveu que era impossível rasgar as páginas da vida, todavia, poderíamos, ao menos, jogar o livro inteiro às chamas de um fogo impiedoso. E que a vida lembra romance mais do que romance lembra vida. Duplin, também, anotou, concretizou e por fim, deu um fim em tudo aquilo que outros escritores não eram capazes de sensibilizar: A grande depressão em amar.

Relatar lembranças pode ser dificultoso, então, desde já peço desculpas pela confusão, (in)voluntariamente, pregada em meu fluxo de (in)consciência.

O meu "era uma vez" não é tão distante no tempo, começarei pelo final, começarei a falar sobre o cheiro de fruta podre que estagnou em meu apartamento com Cosima.

Frutas podres, um dia tão doces, saborosas e suculentas, mas depois...

...indesejadas, fedidas, repulsivas.

Aquele apartamento inteiro cheirava à podridão frutífera, era impossível não enojar. As paredes pareciam escurecer com o não passar do tempo, o piso tornava-se gosmento, e o cheiro? Céus, aquele cheiro entupia minhas narinas e entorpecia minha insensatez. Tudo naquele lugar manipulava minha forma de pensar, nem Cosima foi capaz de escapar.

Durante as noites que minha namorada dormia ao meu lado, eu sabia que observava-me, então passei a fingir sono pesado, para que assim, eu pudesse fazer o mesmo com a sonolenta amante renegada. Certa vez, notei como a epiderme de Cosima é repleta de pequenos poros, pelos louros e longos. Pareciam pequenas crateras, e elas começaram a incomodar-me, até mesmo o aroma de minha parceira, passou a causar-me espirros.

O quê estava acontecendo comigo?

Por que meu coração não mais acelerava ao ver Dra. Niehaus?

Eu não era capaz de enxergar coisas boas, apenas compreendia o que era conivente para minha destruição final. Lembrava-me dos problemas que enfrentei na infância, os maus-tratos de meu pai para comigo, para com minha mãe. Recordava brevemente dos nomes de suas amantes, eram tantas, entretanto, nenhuma marcou-me mais do que Simone.

Eu tinha, apenas, seis anos quando assisti minha pobre mãe esvaziando os armários de meu luxurioso pai. Os dois brigavam, insultavam-se, e de repente, o telefone tocou alto, porém mais baixo do que aqueles raivosos gritos. Eu tinha, apenas, seis anos e atendi a ligação.

 Era Simone. Secretária de meu pai, dava-me balas quando eu o visitava no escritório.

"Posso falar com Jean?" Ela era descaradamente maléfica.

"Deixe minha família em paz." Supliquei aos prantos.

Simone desligou ao ouvir meu singelo apelo, mas eu ainda segurava o telefone em minhas mãos.

Foi rápido, porém marcante feito ferro ao fogo em pele macia.

Meus pais permanecem juntos até hoje, aparências vivem mais do que eles.

Ainda aos seis anos, fui matriculada em um semi-internato. Mamãe precisava cuidar do casamento, eu apenas atrapalhava sua rotina. Entretanto, não era tão ruim como parece, lá aprendi a tocar piano. Meus dedos eram tão pequenos, e para alcançar as longas teclas, eu esticava-os até a tendinite fazer-me parar. Tal fato explica a razão pela qual amo melodias calmas, tão parecidas com as ociosas batidas de meu coração. Durante as noites, minha madrinha levava-me ao Ballet. Ela vestia-me e prendia meus cabelos ondulados, na época. Mamãe sempre assistia minhas apresentações, eu a odiava por abandonar-me, porém, ao passar dos anos, percebi que ela não tinha a mínima noção do que estava fazendo.

Hoje, identifico-me.

E o Ballet fazia minhas pernas flutuarem, sentia-me leve feito pluma rosa, e eu voava sem asas, apenas balançava meus pequenos braços contra o ar. A melodia dos violinos, o som daquele velho piano de corda...

Mesmo com pesos amarrados em minha raiz, eu era leve, livre e laureada quando o ballet, eu dançava.

Cosima, Paul, e Aldous não sabem o quanto mudei, não fazem a menor ideia sobre a pessoa que um dia fui, bem antes das consequências do tempo transformarem-me no que, hoje, sou.

Em linha de tempo tempestuoso, revisitei eventos quase esquecidos. 

Inverno de 2002, Inglaterra. Dois estudantes Franceses, um menino, uma menina. Ele tinha 18, ela 17. Ele gostava de rap, ela idolatrava Jazz. Ele Pallo , Ela Delphine. Dois alunos de intercâmbio cultural em Londres aprendiam não somente a língua Inglesa, como também, aprendiam a cometer erros joviais.

A moça não conversava muito, era mais reservada, causava mistérios por onde passava. O rapaz, bom, ele era a aversão de tudo o que a jovem desejava. Mas, por terem a mesma nacionalidade e a mesma paixão por vinho, a aproximação foi inevitável, e assim, tornaram-se grandes amigos, até completavam as frases um do outro, eles eram inseparáveis. A estudante gostava não apenas de livros complexos demais para o jovem entender, mas ela também adorava distribuir sorrisos entre os outros intercambistas. Delphine aproveitava corpos quentes em noites frias, enquanto Pallo bebia com seus amigos do time de futebol.

Ela pensava nele.

Ele pensava nela.

A jovem completou doze meses de curso, então teve de ir embora, mas não sem antes dar início ao fim de sua sanidade.

Fazia frio aquela noite, o pub próximo aos dormitórios estava exageradamente habitado. Era aniversário de Pallo e despedida de Delphine. Todos, ali, sabiam dos sentimentos que envolviam os jovens amigos, não era segredo para ninguém, nem mesmo para eles. Enquanto a moça revezava seu tempo entre beber e observar o amigo, o rapaz fazia o mesmo. Ao final das comemorações, Pallo levou sua amada até o píer do lago, ele detalhou todas as coisas que a moça o fazia sentir, timidamente chorou ao dizer que nunca havia amado alguém daquela forma. Delphine sorria enquanto suas lágrimas perdiam o orgulho. Os jovens compartilharam inúmeros beijos, dividiram o colchão e viveram uma noite de intenso prazer.

Resumindo a estória apressadamente relatada...

...Os desconhecidos tornaram-se amigos, os amigos tornaram-se amantes, e os amantes, bom, os amantes tornaram-se completamente desconhecidos novamente, eram estranhos anônimos.

Delphine, a jovem estudante, não cumpriu a promessa de esperar pelo retorno de seu amado. Passou meses afundada em solidão enquanto Pallo desfrutava, em segredo, todas as coisas que Londres tinha a oferecer. A moça, então, decidiu partir para longe e sem olhar para trás.

Com Pallo, Delphine aprendeu a amar. E talvez, seja por isso que ela não compreenda o mutualismo do amor.

Perder algo que nunca foi seu, pode ser confuso, injusto e, de certa forma, aterrorizante.

Perdi Pallo por não saber esperar, perdi meus pais por não aceitar o abandono, perdi meu filho por não ser mulher suficiente, e agora estou perdendo Cosima por estar perdida.

Eu tentei não ser rude, não ser fria, mas era impossível. Dra. Niehaus procurava vida em mim quando eu apenas desejava estar morta. Sua alegria e seu amor injetavam-se em minhas veias feito veneno de cobra. Ela penteava meus cabelos com calma, e eu arquitetava maneiras para deixar de ama-la. Seu sorriso era tão forçado e lindo, e eu passei a odiá-lo.

No hospital, se me lembro bem, Alison contava sobre a vida de casada, como ela e Donnie estavam bem. Minha amiga, às vezes, não mensura o efeito de suas palavras, e ela até revelou quem era a nova namorada de Paul, anunciou que Shay e Hannah eram um casal. Apenas coisas fúteis e triviais. Chegava a ser insuportável ouvi-la por mais tempo, e eu agradecia, em silencio, quando Cosima voltava do trabalho para cuidar de mim. Ela mal abria a boca, sabia que acabaria sendo ignorada pela enferma namorada.

Reconheço o monstro no qual tornei-me. Nada foi pensado ou controlado. Eu apenas estava faminta por miséria. Não sentia-me humana, muito menos mulher, eu era nada e nada continuo sendo.

Felix e Alison, ao meu retorno, ficaram hospedados no apartamento de Scott. Era um alivio não ter de vê-los com tanta frequência.

Pelas manhãs, eu acordava mais cedo do que Cosima. Banhava-me, bebia um expresso com gotas de licor, fumava três cigarros até o laboratório. Trabalhava até tarde reavaliando os procedimentos feitos durante o expediente. Eu tentava aparentar bem, ou no mínimo, saudável. Descartei qualquer tipo de prosa vinda de meus funcionários, não há como explicar o incomodo que perguntas preocupadas causavam em mim. Mesmo cansada, eu não ia direto para casa, eu preferia ficar em minha sala, bebendo até sentir algo além de desprezo. Certas vezes, minha embriaguez não permitia clara consciência, então ao invés de retornar aos machucados braços de Cosima, meu destino era outro: meu antigo apartamento. Lá os moveis permaneciam embrulhados em plástico bolha, intocáveis. Meu corpo esparramava na cama enquanto meus fluidos sujavam o piso de madeira maciça.

Houve uma noite quando Dra. Niehaus, perturbada com meu paradeiro, encontrou-me despida enquanto fumava sobre o colchão. Não a ouvi chegar, mas mesmo assim, sabia que estava lá.

"Você não vai voltar pra casa?" Questionou sendo ignorada por meus olhos.

"Esta é minha casa." Retruquei.

"Não, Delphine. Sua casa é onde estou, e eu não vou te abandonar tão facilmente, então me ajuda a entender você." Senti o peso de seu corpo afundando o leito.

"Não há o que entender." Afirmei sem desviar minha atenção de meu cigarro.

"Faz uma semana que você dorme aqui e me deixa sozinha, sem notícias, sem nada." Ela soava tão raivosa quanto machucada.

"Nem tudo é sobre você, Cosima." Clarifiquei.

Seus braços musculosos buscaram por meu embriagado corpo.

"Delphine, pare com isso, eu quero te ajudar." Suplicou sacolejando minha estrutura.

"Tire suas mãos de mim." Demandei, mas ela, como sempre, desobedeceu.

Cosima lançou o peso de seu corpo contra o meu. Deitávamos na cama, ela sobre minha nudez. Sentir alguém tão perto de mim foi assustador. O cheiro de Dra. Niehaus não era tão repugnante como há duas semanas atrás.

Mordisquei meus lábios para não tocar nos dela.

"Me ajude, Delphine." Suas mãos prendiam meus pulsos com extrema força de vontade.

"Cosima..." Apelei ao adentrar o fundo de seu tristonho olhar. 

Distanciei minhas pernas para embrulhar seu quadril entre elas. A expressão naquele rosto aflito tornou-se, nitidamente, refém das prazerosas lembranças que guardávamos.

Eu a beijei esperando por qualquer coisa positiva, eu entendia que apenas Cosima seria capaz de fazer-me voltar à vida. Ela soltava meus pulsos vagarosamente, descia com seus dedos sobre minhas pernas, passeava por minha pele com toques delicados. Senti uma discreta lubrificação, e de repente, o cheiro de frutas pobres invadiu o ambiente novamente. 

O beijo não foi longo, tão pouco saboroso.

"Chega!" Afastei-a bruscamente.

Cosima saltou da cama e recompôs a postura.

"Delphine, se você não quer ficar comigo, me deixe ir." Demandou impaciente.

"Fico melhor sozinha, você não quer perder seu tempo comigo." Ascendi outro cigarro.

Dra. Niehaus não disse mais nada, apenas saiu pela porta, e quando o fez, senti uma leve pontada em meu coração.

Foi naquele momento em que percebi: As frutas podres não estavam em minha namorada ou em nosso apartamento, elas estavam em mim, e o cheiro ficava cada vez mais forte.  

No dia seguinte ao descrito ocorrido, Alison apareceu para uma visita, e com ela, trouxe algumas coisas que solicitei. Minha amiga sentava sobre o vaso sanitário enquanto banhava-me ao seu lado.

"Del, você precisa decidir o que vai fazer. Cosima não vai te esperar pra sempre." Aconselhou-me em tom insuportavelmente materno.

"Preciso de um tempo, Alison." Declarei tragando devagar.

"Bom, eu trouxe suas malas, mas você tem que ir buscar o resto, porque vou embora hoje à noite." Informou tentando esconder pequena alegria.

"Pode deixar." Exclamei.

O silêncio ecoou durante alguns longos segundos.

Eu esfregava a esponja em minha pele.

Minha amiga ordenava seus pensamentos.

"Você está feliz?" Que pergunta mais vazia.

Gargalhei ironicamente.

"O quê é felicidade?" Apoiei meu corpo contra o encosto da banheira, "Um sentimento ou uma distração?"

"Depende..." Aproximou-se sem pedir licença, "O que te faz feliz?"

Feito filme fictício, memorias cinematográficas invadiram-me. Os doces momentos que compartilhei com Cosima, a leveza que Charlotte trazia, e a esperança que meu filho despertava.

Todas essas coisas, sentimentos concretos ou distrações baratas?

"Whisky e cigarro me fazem feliz." Respondi após alguns segundos.

Alison não comprou meus argumentos, e também não prolongou a discussão, ela apenas ajeitou seus cabelos e franja, respirou fundo e começou a brincar com sua corrente de ouro.

Passei aquele sábado à noite bebendo sozinha enquanto meus pensamentos tomavam formas familiares ao meu passado distrativo. E às vezes, uma noite dura uma vida inteira.

Todos sabem que estou perdendo minha cabeça, que estou, lentamente, afundando em areia movediça. Eu também compreendo, só não sei como fazer parar.

Sou incapaz de viver um só dia sem culpar a mim mesma por destruir tudo aquilo que toco. Devastei a mulher que amava-me, os homens que idolatravam-me, e, até mesmo o feto malformado que habitava em minhas trompas.

Não sou humana, tampouco, mulher.

Bebi coragem a semana inteira, acompanhada de vinho e gin. Quinta-feira, decidi voltar ao apartamento de Dra. Niehaus, coletei o restante de meus pertences, e ao sair para não mais voltar, avistei o porta retrato com minha foto preferida: Cosima, Charlotte e eu no parque da cidade, nos três sorriamos, e nós quatro não fazíamos ideia da volta que o mundo estava prestes a dar.

Aproximei-me da fotografia, no meu próprio tempo, o passado apavora-me o espirito morto-vivo.

Uva, maça verde, frutas frescas.

Eu não a ouvi chegar, mas sabia que estava lá.

"Então é isso?" Dra. Niehaus apareceu sorrateiramente pela porta de entrada.

Calmamente posicionei o porta retrato de volta ao seu lugar de origem.

"Só vim buscar o resto de minhas coisas." Foi absurdamente difícil, mas virei-me para encara-la.

"Delphine, você não precisa lutar sozinha." Seus passos encurtavam, silabicamente, nossa distância.

Uva, maça verde, frutas frescas.

Era simples acabar com todos nossos problemas, entretanto, o maior deles era eu, aquela criatura sedenta por solidão crua. 

"Cosima..." Suspirei com toda força que restava em mim, "Às vezes, a coisa mais difícil e certa são as mesmas." Avizinhei-me de seu território conturbado de saudade.

"O quê você quer dizer com isso?" Questionou em leve tom aflito pelo desconhecido futuro.

Com ambas minhas mãos, busquei por aquele definido maxilar. Tateei a epiderme sensível daquela mulher sensata. Eu sabia que em algum lugar dentro de mim, todo meu amor por Cosima estava escondido. Meus sentimentos por ela fugiam de mim mesma, eles temiam ser friamente assassinados por quem permiti assumir minha alma.

Lentamente e de forma amistosa, pousei meus polegares sobre o seco daqueles lábios perfeitamente desenhados. A textura de tal tecido remetia o significado da palavra lar, entretanto, eu era, naquele momento, uma inquilina indesejada. Feito carta antes de ser extraviada, selei compromisso ilusório mascarado por um beijo ligeiro. Ao abrir de meus olhos, notei que os de Cosima permaneciam fechados, e mesmo sabendo que minha partida acabaria conosco, afastei-me, busquei pelo restante de minhas coisas, abri a porta, e brevemente, encarei a moça de coração partido, franzindo a testa em tristeza...

"Eu te amo." Lançou lenha ao fogo morto.

...Não respondi, mal respirei, andei três passos e fechei a porta atrás de mim.

Nunca sabemos o que há de errado sem experimentar a dor.

Apatia vazia.

Estômago embriagado.

A loucura mora ao lado da solidão.

Libertei Cosima da prisão em qual nosso relacionamento tornou-se.

Hoje, de repete, assim do nada, transformo-me em uma parte do passado de Dra. Niehaus. A parte que não dura, que quando lembrada, gera arrependimento.

Jamais pensei que tudo fosse desmoronar. Eu não enxergava os estragados de minhas ações vulcânicas, nem mesmo a imensa fila das vítimas desabrigadas que sofreram com meu caos.

*************************************************************

Todos sabem que mesmo perdendo a cabeça, Cosima continua em minha mente. Eu a perdi sem fazer o mínimo esforço, a perda foi quase tão natural quanto meu desastre mental.

Dra. Niehaus e eu, ultimamente, trocamos poucas palavras. Vejo que a alegria, aos poucos, volta à sua atmosfera. Faz quase um mês que a libertei, e vinte-oito dias que penso no nada que meu tudo virou.

Observar Cosima sorrindo sem mim é horrivelmente egoísta de minha parte.

Mas como controlar os demônios que habitam em nós?

O inferno não é capaz de conter tantos pensamentos bestiais.

Eu gostaria de desconhecer aquela moça de cabelos selvagens que trabalha bem ao lado de minha sala. Desejo esquece-la, porque agora que não a tenho mais, vejo que ela era tudo o que eu precisava.

Ascendo um cigarro, aprecio cada trago. Destino endiabrado, acasos mal-assombrados, gole ardente, depressão carente.

A capacidade para a paixão é simultaneamente cruel e divina.

O anjo e o demônio.

Suicídio, homicídio...

 

Aurore Duplin escrevia sobre a dor, sem a menor empatia, por isso suas estórias, quase ninguém lia. 

Fim do capítulo


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Comentários para 28 - Over My Head:
Daya
Daya

Em: 18/09/2017

Acreditando que elas vão se acertar. Esperando ansiosa pelo próximo...

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