Capítulo 15
Quinze
Desde quando Henry chegou, eu e a Nina, passamos a ficar mais tempo na casa da Yara, do que no meu apartamento. Certa sexta, resolvi ficar em casa, eu precisava de um tempo quietinha. Não deu muito certo, Nina ficou desanimadinha e até vomitou durante a madrugada. Até pensei que ao amanhecer seria necessário leva-la ao veterinário, mas nem foi preciso. Logo pela manhã, Yara me ligou:
- Alô!
- Amor, bom dia! Te acordei?
- Bom dia! Não. Acordei tem uns minutos.
- Eu já estou aqui embaixo. Henry dormiu pouco e acordou chorando querendo a mãe dele. Só parou de chorar quando falei que iriamos ver a Nina.
- Meu bem, subam!
Os dois se reencontraram e a alegria voltou a reinar. Felizmente eles ficaram bem e passamos um final de semana delicioso juntos. No domingo visitamos os meninos e almoçamos no Guarujá. Quando retornávamos, Henry, perguntou:
- Dinda, porque você e a Flô, não são iguais os tios?
- Henry, iguais como? Não entendi pequeno.
- Os tios moram numa mesma casa.
- Agora entendi. Então, eles são casados e nós duas ainda não casamos (ela explicou).
- Vão casar quando? (Ele perguntou com naturalidade).
Eu e ela nos olhamos, sorrimos e nem sabíamos o que responder.
- Um dia! (Ela falou ainda sorrindo e me olhando).
- Eu e a Nina, vamos gostar né auau (ele falou fazendo carinho nela).
O mais engraçado foi que ela concordou latindo animada e nós caímos na gargalhada. Diariamente passamos a revezar entre o meu apartamento e a casa da Yara.
Numa noite, antes de deitar, Henry me pediu todo sorridente:
- Flô, me conta historinha hoje?
- Conto sim!
- Dinda, hoje a Flô que vai contar história e ela nem conta coisa de criança.
- Como assim? Ele tem 7 anos. Quais histórias você anda contando para ele? (Ela perguntou preocupada).
- Eu só misturo alguns fatos reais, junto dos fictícios, algumas vezes comento sobre algo da minha profissão, como cuidados com a pele, por exemplo. Mas eu tenho cautela por conta da idade dele (me expliquei).
- Vou querer participar disso, se importa? (Perguntou toda solicita).
- Não me importo não (respondi).
- Vem Flô, vamos! Eu e a Nina estamos com sono.
Fomos até o quarto, acomodamos os dois, rezei com ele e comecei a contar uma história. Nina dormiu bem no começo e ele só aguentou ouvir até a metade da história. Quando deixamos o quarto, perguntei:
- E então dona pedagoga, fiz algo errado?
- Não. Você se saiu muito bem.
- Que bom!
- Amor, em momento algum desconfiei de ti viu, é só que me preocupo com ele, você entende?
- Sim, eu entendo e admiro seu cuidado com ele. Os dois já dormiram. Que tal você me colocar para dormir também (provoquei).
Ela entendeu muito bem e me puxou para o quarto. Tomamos banho juntas e namoramos antes de dormirmos. No dia seguinte, ela me pediu para ficar com ele e viajou com o Rui para SP, pois precisava visitar a prima. Henry é um amor de criança e se comportou muito bem; brincamos muito e com ele eu parecia uma criança feliz, até uma parede do meu apartamento pintamos juntos, deixando-a toda colorida e com desenhos infantis. Yara desacreditou quando viu e me agradeceu por todo o carinho que tenho com seu afilhado.
Quando completou uns quinze dias que Henry já estava conosco, a mãe dele voltou a piorar e ligaram do hospital. Era uma quinta-feira e precisamos viajar para São Paulo. Bia fez a gentileza de ficar com a Nina. Viajamos no carro do Digo, ele foi dirigindo, ao seu lado Rui e atrás Yara, eu e Henry no nosso meio. Fomos direto para o Hospital e os médicos permitiram que Henry entrasse para se despedir da mãe, Yara o acompanhou e eu fiquei na recepção aguardando junto com os meninos. Esperamos por quase uma hora e quando os dois retornaram, Henry estava desolado e chorando muito.
- Amor, vou passar a noite aqui no hospital com a Paola. Você pode ficar com o Henry? Não quero que ele fique por aqui durante a noite inteira (Yara pediu).
- Claro! Eu cuido dele (falei me controlando para não chorar com a criança).
- Prima, eu fico contigo e o Digo vai com eles, para algum hotel próximo daqui.
Nós nos despedimos dos dois e Henry foi numa boa comigo. Chegamos ao hotel e ajudei ele a tomar banho. Depois pedimos uma pizza, mas ele não queria comer.
- Henry, você gosta tanto de pizza, coma, está gostosa (tentei).
- Estou sem fome (falou desanimado).
- Mas você precisa comer, para ficar forte e aguentar brincar com a Nina quando voltarmos (apelei).
Com isso ele comeu ao menos um pedaço e depois deitou.
- Florência, ficarei no quarto ao lado, se você precisar de algo me chame.
- Digo, obrigada!
Nos despedimos, deitei ao lado de Henry e fiquei atônita com a pergunta que ele me fez.
- Flô, minha mãe vai morrer?
- Henry, eu não sei. Só papai do céu que sabe destas coisas (eu não podia mentir para ele, infelizmente Paola estava muito debilitada e os médicos já não podiam fazer mais nada por ela).
- Eu vou ficar sozinho?
- Não! Você tem sua madrinha, a Yara te ama muito. Também tem a mim e a Nina.
- Obrigado!
- Não precisa agradecer meu lindo (falei o abraçando e tentando passar todo o meu carinho).
Consegui achar um desenho na TV, ele assistiu e demorou para dormir. Mandei mensagem para Yara, visando tranquilizar a minha namorada, avisei que tinha dado banho nele, alimentado e colocado para dormir. Ela agradeceu e pediu para que eu rezasse muito. Mal dormi naquela noite e foi no meio da madrugada que Yara me ligou chorando, contando sobre o falecimento da prima. Quando a sexta amanheceu ela chegou ao hotel e contou para o Henry. Nós três choramos juntos e foi difícil acalmar o pequeno. Yara, Rui e Digo resolveram tudo que era necessário; enquanto Henry ficou comigo, tudo que eu mais queria era ver ele sorrindo novamente, optamos por não levar ele ao velório. Paola foi cremada e Rui ficou incumbido de lançar as cinzas dela ao mar, no mesmo local onde ela lançou as do marido anos atrás. Paola também deixou registrado com seu advogado a sua vontade, designando Yara para ficar com a guarda de seu filho. Retornamos para o litoral apenas no domingo e claro que Henry queria a Nina.
- Nina, minha mãe morreu e eu estou muito triste. Agora eu só tenho você, a Dinda e a Flô.
Henry contou chorando e abraçando a Nina. Eu aposto que ela estava entendendo, pois começou a choramingar junto dele. Eu, Yara e Bia que assistíamos a triste cena, choramos com os dois. Demoramos alguns minutos para nos acalmarmos e juntos tomamos um chá que a Bia preparou. Enquanto Digo, acompanhou Rui até o local que deixariam as cinzas de Paola.
- Bia, muito obrigada por ficar com a Nina.
- Imagine, ela não deu trabalho algum e se precisar me ligue. Seus pacientes de sexta já estão todos remarcados.
- Muito obrigada e até amanhã!
Naquela noite Henry não quis dormir conosco, como tínhamos feito nas noites anteriores, ele preferiu ficar com a Nina e foi naquele domingo que me deparei com uma Yara fragilizada; ela colocou para fora toda a sua tristeza e eu fiquei arrasada. Nunca imaginei que a veria naquele estado, precisei dar um calmante para ela adormecer.
Na segunda, Yara não foi trabalhar e logo já iniciaria as férias do meio de ano. Preparei o café da manhã e comemos os três juntos. Pedi para ela ficar no meu apartamento e avisei que voltaria com o almoço. Ficaram deitados na minha cama assistindo desenho, Henry, Yara e Nina. Trabalhei a manhã toda e quando retornei com o almoço, eles permaneciam na cama. A tarde voltei para o consultório e quando cheguei ao meu apartamento no final do dia, lá estavam eles largados na cama. Cuidei da Yara, auxiliei Henry com o banho e preparei o jantar. A semana inteira transcorreu desta forma, Yara se entregou ao desânimo, angústia e tristeza. Para Henry alguns dias eram mais complicados e várias vezes chorou nos meus braços com saudades da mãe, que eu nem tive tempo de conhecer, mas que ele retratava com muito carinho. Passei a contar histórias para ele, todas as noites, da mesma forma que minha mãe fazia quando eu era criança.
Quando a sexta chegou decidi que viajaríamos, eles precisavam sair do quarto e espairecer um pouco, os levei para a casa dos meus pais. Caetano e Flora, adoraram Henry e o mimaram muito durante o final de semana. Voltamos para Bertioga no domingo à noite e depois de colocar Henry para dormir, decide conversar com a minha namorada.
- Yara, sei que tem sido muito complicado, mas você não pode se entregar, na última semana você nem saiu do quarto.
- Estou sem coragem.
- Eu e o Henry precisamos de você (falei segurando o rosto dela).
- Tenho medo de não dar conta de tudo isso (falou cabisbaixa).
- Sabe aquela história sobre fardos, que cada um tem o seu e que Deus só coloca em nossas vidas o que nos compete carregar; você consegue e precisa lutar. Não pode continuar assim e cair numa depressão. Saiba que não irei permitir e estarei ao seu lado.
- Obrigada por cuidar de nós e por favor, não nos abandone.
- Não abandonarei. Juntas conseguiremos (falei a beijando antes de adormecemos).
Nosso diálogo deu certo, na segunda Yara voltou a reagir. Aproveitou para pedir ajuda para uma psicopedagoga, que além de trabalhar no colégio também é sua amiga e ela passou um tempinho conversando com Henry. Em julho, consegui tirar quinze dias de férias e enquanto Yara precisou viajar algumas vezes para São Paulo, visando resolver várias coisas, tais como: vender a casa de Paola, resolver documentações de rematrícula, dentre outros afazeres; eu fiquei com Henry e ficamos ainda mais próximos com o decorrer dos dias.
Fim do capítulo
Feliz semana! Já passamos da metade deste conto e na quarta retorno com o 16. Abraços!
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 11/09/2017
Olá querida May
Infelizmente a mãe do Henry não resistiu e esse pequeno será a peça para fazer essas duas casarem logo. Ele é tão fofo e ela demonstra um amor lindo pelo pequeno e claro o jeito que cuida das Yara também, sempre presente. Elas formam um lindo casal e o Henry e Nina ficaram bem felizes quando as duas juntar as escovas.
Bjao e até o próximo capítulo, uma excelente semana!
Resposta do autor:
Olá! Querida amiga Mille, obrigada por todos os comentários e principalmente por me acompanhar em todas as histórias; agradeço muito! Para ti também uma excelente semana, que seja doce, bela e feliz. Beijos e abraços.
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NovaAqui
Em: 11/09/2017
Triste o momento, mas infelizmente não há o que se fazer
Agora é hora delas casarem e adotarem Henry juntas
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Oie, grata por receber seus comentários e na quarta eu retorno com o próximo capítulo.
Outro abraço fraterno para ti e que tenhamos uma semana feliz!
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SaraSouza
Em: 10/09/2017
Que sofrimento !!!!
Que momento delicado.. Torcendo por elas !!!
Resposta do autor:
Olá! Sara, é sempre bom contar com uma nova comentarista. Muito obrigada!
Espero que você goste desta história e continue comentando. Foi muito sofrimento mesmo, mas vai melhorar. Eu também estou torcendo bastante por elas. Beijos e abraços, May.
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