-- Enrico, eu tenho que lhe agradecer de novo por esta chance.

 

-- Camila, você é a pessoa perfeita para nos ajudar aqui na empresa.

 

-- Estou até me sentindo a melhor veterinária do mundo. – riu.

 

-- Do mundo não sei, mas a sua experiência naqueles ranchos metidos a besta lá no Texas, vai nos ajudar muito. – a jovem riu mais.

 

-- Tudo bem. – parou ainda sorrindo. – Farei de conta que você não quis ajudar a minha querida ex.

 

-- Solange me pediu essa chance, mas não teria sugerido seu nome ao chefe se você não tivesse capacidade.

 

-- Chefe ou chefa?  - perguntou com curiosidade.

 

-- José Alcântara é o dono de tudo, o chefe maior. Melissa Cristina é a neta.

 

-- Espera, ela não é sua sobrinha e ele seu pai?

 

-- Sim. – deu de ombros. – Só não me acostumei ainda com essa novidade. – voltaram a caminhar pelos corredores da empresa. - Bem, Cris estava afastada para resolver alguns problemas pessoais, enquanto eu assumi tudo e como sou novo nessa coisa, meu pai me ajudou.

 

-- Então você também é chefão. – declarou em tom de brincadeira.

 

-- Tem razão. – riu.

 

-- Aquela mulher é quem precisaria de pasto... – aproximou-se do casal e concluiu. – Não sei como você trabalha direto com aquela vaca.

 

-- O que é isso Silvio? De quem está falando?

 

-- Da vaca que chamam de doutora Cristina. Doutora em que? Aquela mulher é o diabo.

 

-- Olha aqui cara, eu não admito que fale assim de Melissa Cristina, e vou relevar agora porque está de cabeça quente e sei, também, que tem família para sustentar, mas na próxima eu mesmo lhe demito. – saiu irritado com Camila logo atrás.

 

-- Enrico, sua amiga e sobrinha parece ser popular entre os funcionários. – Enrico parou observando-a.

 

-- Não caia nessa, Cris é terrível, mas quando fazem bobagem. No geral ela é justa, trabalha muito e se preocupa com os funcionários. – passou a mão pelo rosto. - Agora vamos, quero que a conheça.

 

***********************************

 

-- Ada, Cristina está com alguém?

 

-- Ainda não, mas tem uma reunião em vinte minutos com o coordenador dos veterinários e mais uma equipe do frigorífico.

 

-- Ah, então eu vou entrar, preciso apresentar a doutora Camila Sanders. – olhou para médica e lhe fez um sinal com a cabeça, ela a seguiu. Antes de entrar, ele bateu a porta. – Oi Cris.

 

-- Se for problemas, por favor, não me fale agora. – Enrico parou, impedindo a passagem de Camila.

 

-- Eu só quero lhe apresentar a nova veterinária que contratamos para coordenar a equipe. – a morena parou o que fazia e olhou para o tio.

 

-- Não vai demorar, não é?

 

-- A próxima reunião será para você apresenta-la a todos. – ela revirou os olhos.

 

-- Estou exausta.

 

-- Quando pretende sair de licença? Olha para você, não pode continuar assim.

 

-- Isadora esteve aqui. – disse sem responder a pergunta de Enrico.

 

-- E?

 

-- Ela veio me avisar que tenho até amanhã para decidir se vou ou não para os EUA com ela. – mostrou a agenda com as orientações escritas com a letra da loirinha. Enrico respirou fundo e olhou com pesar para ela.

 

-- Vamos nos preparar para próxima reunião, depois conversamos. – chamou à morena e a fez entrar. – Camila Zagatta, a nova médica veterinária do Grupo Alcântara Peixoto, essa é a presidente, doutora Melissa Cristina. – Melissa se levantou e apertou a mão da morena.

 

-- Muito prazer, doutora. – Camila foi fisgada pelas safiras que pareciam hipnotiza-las.

 

-- Espero que goste do grupo e das funções que terá de desempenhar.

 

-- Atuarei como veterinária, então terei um enorme prazer no trabalho. – Camila concluiu com um sorriso confiante.

 

-- Sendo assim, deixarei vocês sozinhos na próxima reunião.

 

-- Nada disso Cristina, esse é um assunto que só você ou o senhor... – Melissa o olhou de forma avaliadora. – Meu pai poderá resolver. – a morena riu.

 

-- Está bem, vamos à reunião. – abraçou o tio e o conduziu até a sala de reuniões.

 

****************************************

 

-- Qual é o problema em entender que não quero mais fazer negócios com este criador?

 

-- Doutora Cristina, esta é a melhor raça, a carne é nobre, o preço... – o chefe de um dos setores do frigorífico tentou argumentar.

 

-- Tem alguma base para falar sobre isso? Não existem outras fazendas com criação desta raça na região. – Enrico interrompeu.

 

-- Acredito que o senhor não avaliou os custos com a criação, eles não se adaptam muito ao clima de Goiás. – Camila tentou auxiliar Enrico, após ler rapidamente o relatório.

 

-- Olha menina, você deve ser recém-formada, melhor aprender antes de opinar. – Melissa olhou para Enrico, para o gerente do setor e depois para Camila, avaliando sua reação.

 

-- Senhor... – tentou se lembrar do nome do homem.

 

-- Gilberto. – completou com um ar sarcástico.

 

-- Pois bem senhor Gilberto, eu mesma escrevi alguns artigos sobre o efeito da ação climática e doenças sazonais em algumas raças de gado.  Concordo completamente, mas eles são frágeis, e quando submetidos a temperaturas elevadas, ficam sujeitos a varias doenças. – Melissa se deleitava com a explicação da morena, finalmente alguém tinha feito à lição de casa, e não fazia parte da família. – E neste ponto que discordarei da sua teoria. Gastaremos com medicações, vacinas e uma ração mais consistente. Neste caso, se a família Alcântara Peixoto possuir propriedades no Sul, com estações mais definidas e clima com temperaturas amenas, ai sim concordo com sua tese, que, aliás, assemelha-se muito com os estudos realizados há mais de dez anos, quando estas primeiras cabeças entraram no Brasil.

 

-- Como? Mas como assim? – o veterinário não sabia o que falar, olhou para Melissa e tentou falar. – Eu posso mostrar que existem algumas fazendas que tiveram problemas no começo, mas depois de algum tempo...

 

-- Gilberto, esse assunto encerrou. Não quero discutir algo sem provas de que dará certo.

 

-- Cristina, eu posso mostrar...

 

-- Quer mesmo continuar esta discussão inútil? Melhor passar no Departamento Pessoal, eles adoram bater papo com quem me amola. – falou sem se importar e folheando alguns papéis. – Este assunto está resolvido. Qualquer assunto, a partir de hoje, será resolvido por Enrico, ele ficará na presidência até meu retorno. – olhou para veterinária. – A doutora Camila, como já foi apresentada, fará parte da nossa equipe, será a nova coordenadora dos veterinários.

 

-- Em qual fazenda ela atuará? – um dos gerentes questionou.

 

-- Em todas. A doutora Camila coordenará todas as equipes, e peço que vocês encaminhem um relatório da situação atual de cada fazenda, e aos poucos ela fará uma visita técnica. Camila, você tem total liberdade para estabelecer seu cronograma e atuar como a responsável pelas esquipes. – olhou para Enrico e concluiu. - Camila será a coordenadora geral, e todos os médicos deverão se reportar a ela.

 

-- Mesmo os coordenadores locais?

 

-- Meu Deus! Hoje estou falando outro idioma? – ironizou. Enrico interrompeu antes que ela explodisse.

 

-- Camila foi contratada pelo senhor José e terá autonomia para tudo.

 

-- Será que é alguma filha ou neta que não foi reconhecida, Enrico? – Gilberto brincou, sendo irônico.

 

-- Chega! – Melissa interrompeu falando baixinho e olhou para secretaria que fazia as anotações durante a reunião. - Ada, por favor, ligue para Cibele do departamento pessoal e peça para fazer a rescisão de contrato do doutor Gilberto Marvelo. – o homem pensou em protestar, mas sua voz não saiu. - Como falei antes, eles adoram cortar quem não contribui com serviço, e vivem de comedia. – todos ficaram em silêncio e olhando para os olhos azuis que pareciam se divertir. – Enrico, podemos encerrar a reunião ou tem mais alguma consideração?

 

-- Não. – segurava a irritação e vontade de quebrar o engraçadinho.

 

-- Então, boa tarde a todos. – levantou-se e foi para o outro lado da sala que tinha uma porta de vidro fosco com acesso para sua sala.

 

-- Doutora... – Gilberto tentou ir atrás, mas Enrico o interrompeu.

 

-- A sala de Cibele fica para o outro lado.

 

-- Enrico, você não...

 

-- Eu tenho autoridade para isso. Muitas chances para você e pouco retorno, seu tempo acabou. Ada, por favor, resolva a situação do senhor Gilberto, eu acredito que esteja com pressa. – a secretaria balançou a cabeça em afirmação e em seguida, Enrico seguiu Melissa. – Camila... – chamou à amiga.

 

-- Enrico, o que foi aquilo?

 

-- Melissa Cristina, sendo Melissa Cristina de Alcântara Peixoto. – respondeu sorrindo.

 

-- Ela foi um tsunami.

 

-- Pegou leve.

 

-- Não acha que teria sido melhor conversar?

 

-- Chegamos a este ponto depois de muita conversa, acredite. – foram interrompidos pela morena que retornava. – Vai sair agora?

 

-- Preciso encerrar umas planilhas e...

 

-- Querida, não adianta inventar coisa... – disse interrompendo-a e sem se importar com a presença de Camila que pareceu desconfortável. – Vá para casa, curta seus pais e descanse. – pegou em sua mão. – Amanhã eu levo você no haras, isto se não resolver outra coisa. – piscou.

 

-- Sem chances. – respondeu cansada. - Amanhã vou ao haras, estou muito tempo sem falar com meu bebezão.

 

-- Ótimo! - olhou para a veterinária. – Camila, você pode nos acompanhar? Precisamos de um auxilio no haras, o veterinário casou e se mudou para o interior do Espírito Santo.

 

-- Claro.

 

-- Não se preocupe, será remunerada, e se quiser indicar alguém para trabalhar. – Melissa explicou sem prestar muita atenção na médica, o que a irritou.

 

-- Não precisa. – chamou atenção de Melissa. - Eu vou com vocês e vejo como estão as coisas.

 

-- Combinado! – Enrico concluiu animado. Melissa observou melhor a médica que se sentiu analisada e se despediu dos dois.

 

-- Novinha e determinada à moça. – analisou com sarcasmo.

 

-- E competente. – sorriu. – Ela mandou bem com Gilberto e deu um nó de gravata no idiota. – olhou a morena. – Não gostou dela?

 

-- Gostei. – sorriu. – Ela mandou bem sim, apenas achei nova demais e que não daria conta, mas depois do que falou.

 

-- Ela não é tão nova. – permaneceu sorrindo. – Tem a sua idade.

 

-- Não parece. – ficou surpresa. – Ela aparenta ser novinha.

 

-- Ela estudou e trabalhou no Texas, tem vários trabalhos publicados, e foi um desses que fez seu avô pedir para entrar em contato.

 

-- Não fale em EUA para mim, não agora.

 

-- Esqueci. – coçou a barba rala. – O que decidiu? Vai mesmo para o haras?

 

-- Eu e Isadora se tivermos mais alguma coisa, será apenas amizade. – passou a mão pelo rosto e depois se apoiou na parede.

 

-- Está sentindo alguma coisa?

 

-- Apenas uma tontura.

 

-- Aposto que não comeu hoje. – a segurou – Vamos para casa, eu levo você.

 

-- Não precisa, prefiro que fique e me ajude com esses papéis da reunião.

 

-- Está bem, mas você vai com o motorista.

 

-- Tudo bem.

 

 

 

************************************************

 

-- Sol? O que está fazendo aqui?

 

-- Oi gata, eu quero saber como foi com o trampo que lhe arrumei. – Camila revirou os olhos com impaciência e abriu a porta do apartamento.

 

-- Entra.

 

-- Valeu! – tentou beija-la, mas ela virou o rosto. – Não sei o motivo de trocar as chaves dessa porta.

 

-- Porque nós terminamos e não tenho motivos para lhe deixar com as chaves da minha casa.

 

-- Detalhes... – sorriu com malícia – Agora vem que estou com saudades do seu corpo. – tentou agarra-la, mas Camila a empurrou. – A gata, você gosta de ser ch*pada e estou louca para isso.

 

-- Solange, nós não temos mais nada e prefiro que me respeite ou lhe coloco para fora.

 

-- Bate que gamo!

 

-- Voltou a fumar?

 

-- Ah, foi só uma tapinha.

 

-- Eu não sei como você tem a cara de pau de aparecer aqui, assim.

 

-- Uma tarde com Enrico e já lhe deixou careta? – tentou beijá-la, mas Camila a empurrou.

 

-- Sai Solange! – pegou a bolsa e levou para o quarto. – Vou tomar banho, quando sair não quero lhe ver mais aqui. – bateu a porta.

 

-- Ela pensa que vai se livrar de mim... – gargalhou.

 

 

 

****************************************

 

-- Cristina...

 

-- Oi pai. – beijou o homem que estava em cadeira de rodas.

 

-- Estou vendo a sua planilha do haras... – confessou como se cometesse algum delito. – Desculpe minha filha, mas não tinha nada para fazer.

 

-- Pai!

 

-- Minha filha, eu me preocupo, não adianta. – apontou a tela do computador. – As vacinas estão atrasadas e deve ter mais coisa para ver por lá.

 

-- Eu sei pai. – sentou-se com uma expressão cansada. – O veterinário se casou, e não tinha nada anotado ou organizado.

 

-- Seu avô contratou uma veterinária para o grupo...

 

-- Nem completa, como o senhor disse: grupo.

 

-- Aconteceu alguma coisa? - perguntou preocupado.

 

-- Não, apenas cansaço.

 

-- E Isadora voltará para Nova Iorque amanhã. – Ester revelou após ouvir o final da conversa.

 

-- Como à senhora sabe?

 

-- Junior me contou. – passou a mão pelo rosto da filha. – O que você decidiu?

 

-- Que vou tomar um banho e dar uns sopapos no sapo. – levantou-se e subiu para o quarto sem se importar com os protestos dos pais.

 

-- O que ela tem de decidir? – Estes contou toda a história para Daniel que não aceitou muito bem. – Mas o que essa menina tem na cabeça? Por favor, Ester o nome dessa destrambelhada está vetado nesta casa. É uma excelente pessoa, mas a quero longe da nossa filha. Sempre fez Cristina sofrer.

 

-- O pior que terei de concordar com você. – respondeu cansada. – Enrico me disse que ela vai ao haras amanhã.

 

-- Diga ao piloto que sairemos de helicóptero.

 

-- Daniel, você não vai ao haras nem em sonho.

 

-- Então faça sua filha ir nele, não quero em estrada com estes bandidos soltos.

 

-- Agora concordo com você.

 

 

 

***************************************

 

 

 

-- Dona Cristina, como é bom ter a senhora aqui.

 

-- Obrigada querida. – abraçou a senhora com carinho. – E meu tio?

 

-- Seu Enrico tá lá com a “dotora” lindona. – Melissa riu e logo em seguida Junior apareceu segurando duas bolsas.

 

-- Quem é a lindona?

 

-- A veterinária que contratamos. – explicou ao amigo. – E você tenha juízo e se mantenha longe. Não quero confusão.

 

-- Mel, a única que me investiga é você. - a morena revirou os olhos e disse que iria atrás do tio.

 

-- Sapo, por favor, coloca as minhas coisas no quarto? Vou atrás de Enrico. – no caminho, ela viu Imperador e chamou um dos peões. – Quem está montando o meu cavalo? – perguntou com uma expressão de poucos amigos.

 

-- Oh dona Cristina, é a “dotora”.

 

-- E você deixou? Ninguém monta meu cavalo. – foi como um furacão atrás de Enrico. – O que aquela idiota está fazendo no meu cavalo?

 

-- Espera Cristina. – pediu com calma.

 

-- Esperar? Meu cavalo não. Nem sei como ela conseguiu isso, Imperador não deixa ninguém montá-lo, e agora está me traindo.

 

-- Pelo amor de Deus! Ciúmes do cavalo?

 

-- Ele é meu. Ninguém monta. – respondeu irritada.

 

-- Cris, ela está avaliando seu cavalo. – Camila se aproximou, parecia uma amazona cavalgando em um cavalo que tinha o nome que fazia justiça ao seu porte: Imperador.

 

-- Bom dia Melissa! – cumprimentou sorrindo e antes de ter uma resposta, desceu do cavalo.

 

-- Quem mandou montar no meu garoto? – aproximou-se do cavalo e lhe fez um afago. – Você deixou uma desconhecida lhe montar?

 

-- Melissa... – Enrico fechou os olhos, com certeza sua sobrinha iria estourar após ouvir seu primeiro nome. A única que lhe chamava assim era Isadora. – Eu só estava avaliando. – a morena a olhou.

 

-- Cris, não é legal ficar no sol essa hora. – Enrico tentou interromper para quebrar o clima.

 

-- Melissa, eu acho que seu tio tem razão. – olhou para cima e depois para as inexpressivas safiras. – Está quente e pode lhe cansar mais. – forçou um sorriso. – Agora que estou percebendo, sua barriga está imensa. Quantos meses? – Melissa achou a médica tão espontânea e simpática, que a respondeu, mas não conseguiu ser gentil.

 

-- Farei nove meses. – olhou para Enrico e depois para médica. – Por que montou meu bebê? - perguntou irritada.

 

-- Desculpe, mas precisei avalia-lo melhor.

 

-- Não sabe examinar? Todos os outros fazem isso, você monta? Imagina se fosse uma ginecologista.

 

-- Seu bebê está doente, não gostei da ausculta cardíaca e fiz um teste de esforço. – respondeu perdendo a paciência. – Agora chame outro veterinário. – deu as costas e saiu. Enrico olhou para Melissa e lhe fez um sinal para que fosse atrás da médica.

 

-- Vai lá... Viu que ela é boa.

 

-- Eu não.

 

-- Vai perder o Imperador?

 

-- Doutora! – gritou e Camila parou e olhou para trás. – Desculpe, eu fui um pouco apressada. – a médica olhou para ela e depois para Enrico que sorriu e piscou. – Por favor, veja o que tem, ele é meu bebê.

 

-- Então precisa ser mais educada. – voltou para examinar o animal.

 

***************************************

 

-- Dona Cristina, o dia de Santo Antônio tá perto e “nós vamo” fazer uma baita fogueira.

 

-- Veja o que vai precisar e passe tudo para mim, eu quero ajudar.

 

-- Obrigada. – agradeceu sorrindo e saiu. Melissa olhou para médica e voltou a comer.

 

-- Como Santo Antônio é padroeiro da cidade, quase todos na região fazem festa. – Enrico explicou à veterinária.

 

-- Mas as daqui são para lá de boa, tá ligada? – Junior tentava ser galanteador com a médica, mas ela parecia não se importar, fato que chamou atenção de Melissa. – Se quiser vim, eu lhe trago.

 

-- Não precisa Junior. Tenho muito serviço ultimamente.

 

-- Mas fazemos questão que venha. A festa dos colonos é uma das melhores da região. – Enrico explicou. As duas mulheres se olharam, e novamente, Camila se sentiu atraída pelos lindos olhos azuis.

 

-- Eu não sei...

 

-- Quando é o dia de Santo Antônio? – Junior perguntou enquanto comia.

 

-- O dia é treze, véspera é doze de junho.

 

-- Dia dos namorados. – Enrico completou de cabeça baixa e sem se importar.

 

-- Você tem namorado? – a médica olhou para o homem loiro e sorriu. Enrico quase se engasgou.

 

-- Não. – sorriu após olhar para o amigo. Melissa a observou.

 

-- Ah, isso é bom, assim eu danço com você, também tô sem namorada, tá ligada? Minha mina é bandida e tentou me “exemplificar”. Agora tá atrás da Mel e da Isa.

 

-- Não entendi. – Melissa interrompeu a conversa antes que Júnior se explicasse.

 

-- Nem precisa, isso é uma bobagem.

 

-- Bobagem? A Isa já até se mandou para os Estados “Desunidos”. Ela chamou a Mel, mas...

 

-- Júnior, você pode dá um tempo? – perguntou irritada. – Camila não quer saber sobre esses assuntos chatos.

 

-- Chato para gente que perdemos a Isa. – olhou para médica. – Ela é do jornal, e fez reportagem da gente.

 

-- Júnior, vem comigo no carro pegar umas caixas?

 

-- No almoço?

 

-- É para fazer a sobremesa. – mentiu, mas era a única forma de fazer o loiro encerrar o assunto. Júnior se levantou e foram até o lado de fora, deixando-as sozinhas. – Cara, fica calado ou vai arrumar confusão com Melissa. Esqueceu que ela pediu para não falar no nome da Isadora?

 

-- Eita, esqueci! – olhou para um lado. – Quem é aquele lá? – apontou para um homem parado próximo a cerca, montado em um cavalo, observando-os.

 

-- Júnior, depressa, chame os seguranças e corra para perto de Cristina, mas não fale sobre nada, só a proteja. - ele subiu na varanda, protegendo-se atrás da parede. Junior correu para dentro e avisou aos três seguranças. Melissa desconfiou da correria.

 

-- O que está acontecendo?

 

-- Nada não. Senta ai que lhe protejo.

 

-- Protege de que?

 

-- Mel, fica aqui.  – Melissa se levantou e foi até a janela e viu a movimentação.

 

-- Júnior, o que está acontecendo? Não minta.

 

-- Tem um homem lá fora, estava olhando para cá e Enrico mandou chamar os seguranças. – Melissa foi em direção ao escritório.

 

-- Venham comigo.  - chamou os dois.

 

-- O que está acontecendo?

 

-- Enquanto não pegarem uns bandidos, minha paz estará condenada. – entrou no escritório e pegou uma arma. – Fecha a porta. – pediu a Júnior que a obedeceu. Permaneceram nesta tensão, presos no escritório e com Melissa armada.

 

 

Fim do capítulo