-- Ficaremos aqui até quando? – Camila perguntou apreensiva com a situação.

-- Tá com medo? Eu protejo você também. – mostrou os músculos para veterinária que olhou para Melissa.

-- Enrico vem nos avisar. – respondeu após perceber medo nos olhos de Camila. - Não se preocupe.

-- Não estou com medo só por mim, e sim por sua saúde. Não pode passar por isso assim, grávida.

-- Ei, a Mel é pau de dar em doido. Ela quebra esses bandidos todos no meio. – as duas voltaram a se olhar.

-- Espero que nada disso seja necessário. – disse encarando Melissa que retribuiu o olhar. Não demorou e ouviram Enrico chamando por eles.

-- Cris...

-- Tudo bem por ai?

-- Beleza. – era um código usado pelos dois, ela entendeu e abriu a porta.

-- O que foi?

-- Um homem a cavalo, fomos investigar, e acompanhamos até a fazenda vizinha, era um dos colonos de lá.

-- E o que fazia aqui?

-- Apenas bisbilhotando. – passou a mão pelo braço da sobrinha. – Esse daí não vem mais por essas bandas, explicamos que aqui é uma área particular. – Melissa fez sinal de positivo. Depois que todos saíram do escritório, ele puxou Melissa e explicou que o homem era alguém a mando da mãe de Joaquim, e havia prendido até Ulisses chegar.

-- Precisamos pensar em alguma coisa para essa múmia.

-- Claro. – foram interrompidos por Camila.

-- Preciso ir para casa.

-- Fique aqui esta noite. – Enrico sugeriu, estava preocupado com a amiga.

-- Rico, eu não tenho nem roupas... – olhou para Melissa que parecia impaciente. – Melhor pegar a estrada.

-- Nós temos quase o mesmo corpo, posso lhe emprestar alguma coisa. – Enrico olhou de uma para outra e insistiu.

-- Fique Camila, ficarei mais tranquilo, ainda tem o tempo, parece que vai mudar. – mostrou o céu nublado.

-- Bem, caso decida ficar, só passar no meu quarto para pegar as roupas. – olhou para Enrico e completou. – Eu vou descansar um pouco. – Camila olhou para mão da morena que ainda segurava a arma.

-- Depois peço para levarem um chá para você. – beijou o rosto da sobrinha que subiu para o quarto.

-- Ela vai continuar armada? Não acha melhor guardar aquilo onde estava?

-- Cristina sabe o que está fazendo, não se preocupe. – tranquilizou a veterinária que permanecia apreensiva. - Venha, vou mostrar o quarto para você se acomodar melhor. – Camila acompanhou o amigo.

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-- Isadora, você está esperando alguma coisa? – a loirinha olhou para o amigo e forçou o sorriso, disfarçando a tristeza.

-- Não.

-- Então vamos. – ela permaneceu parada, olhando para o nada. – Ei...

-- Vamos. – pegou a pequena mala.

-- O que está procurando?

-- Apenas decorando o espaço das coisas. – sorriu – Não voltaremos mais.

-- Lógico que voltaremos! – sorriu – Eu mesmo volto no final do ano.

-- Você meu amigo, eu não tenho motivos.

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-- Cristina, você vai ficar aqui por quanto tempo?

-- Não sei. – jogou o livro que lia sobre a cama – Acredito que depois irei para casa de praia. Quero descansar de tudo.

-- Faça o que quiser, mas me avisa antes para armar o esquema de segurança.

-- Enrico, você precisa viver também, sabia?

-- Sei... – sorriu - Mas fui obrigado a desmarcar meu encontro com um bofe escândalo.

-- Ah tio, não faz isso. – fez um bico e debochou. – Vai ao encontro com o bofe escândalo, ou ele não vai acreditar muito na sua desculpa de tomar conta da sua sobrinha.

-- Vai sim. – respondeu sorrindo.

-- Nossa, nós já estamos neste grau de confiança? – Enrico voltou a rir.

-- A melhor amiga dele está no quarto ao lado, pode confirmar tudo para mim. – Melissa o olhou surpresa.

-- Então você a conhece?

-- Claro, eu lhe falei isso.

-- Conhece muito, são amigos?

-- Somos amigos sim.

-- Ela morava nos Estados Unidos?

-- Sim. – sorriu – Isso eu também lhe falei. – Melissa ergueu umas das sobrancelhas e ele resolveu não provocar. – O pai dela é americano, ela nasceu lá, veio para cá depois que os pais se separaram, mas voltou, acompanhando a namorada que foi estudar artes cênicas. Elas brigaram e Camila resolveu voltar para o Texas, cidade onde os avós moram. Ela fez a especialização por lá e arrumou um bom emprego.

-- Ela é lésbica?

-- Ahã? Não tinha percebido?

-- Claro que não. – Enrico começou a rir. – O que? Era para ter percebido?

-- Não sei se você continuará lésbica sem Isadora... – deu de ombros – Uma novata sem experiência. – Melissa jogou uma almofada nele. – Vamos fazer um lanche? Estou com fome.

-- Ah Enrico, não quero sair do quarto hoje. Já resolvi tudo o que tinha de ser feito e agora quero a tranquilidade da minha maravilhosa cama. – estendeu o braço e mostrou a cama. – Quero sossego para ler meu livro.

-- Quando você vai tomar uma atitude?

-- Que atitude?

-- Cristina, você pode enganar quem quiser, mas eu sou seu amigo desde que você começou a andar... – olhou para o chão e voltou a encarrar os lindos olhos azuis - Quando você vai agir? Vai atrás de Isadora? Ou simplesmente se dar ao direito de amar novamente? Sair conhecer gente, apenas lhe dar uma nova oportunidade de viver, curtir a vida?

-- As coisas, agora, parecem sem graça. – lamentou – Estou grávida, gorda, mal humorada... – pensou um pouco – Nem eu mesma iria querer papo comigo. – sorriu.

-- Minha amiga e sobrinha, você é nova, linda, rica e disponível, o que está esperando? Não é Isadora? Tudo bem existem outras lindas loirinhas espalhadas por ai, ou seu caso só se resolve com ela? – provocou a morena. Enrico segurou as mãos da sobrinha, na tentativa de lhe transmitir mais apoio.

 -- Eu não quero mais Isadora. – seus olhos se encheram de água - Ela foi a maior decepção da minha vida... – soltou a mão e limpou o rosto. - Primeiro me abandonou sem me dar a chance de saber o motivo, depois veio aquele encontro com a “coisa quase transparente” no sítio, e novamente, abandonou nossa história e jogou a culpa em mim, porque não quis acompanha-la. – estava com uma voz triste, cheia de dor – Ela fez a opção dela e entendo as ambições de querer se tornar a melhor jornalista do país. – olhou o amigo. – Mas precisava ser lá? Não podia ser aqui? – Enrico não sabia o que falar. Eu conheço um monte de gente que fez sucesso aqui, sem precisar ir embora. Depois aparece na empresa e anota número de voo e hora para encontra-la. Em nenhum momento falou “nosso”, sempre “seu” filho. Como posso começar a vida com uma criança e alguém que amo, mas não aceita meu filho? – Enrico permaneceu em silêncio por alguns segundos, ponderando cada informação.

-- A opção que escolheu, eu também entendo... Ser jornalista investigativa sempre foi sua vontade, desde adolescência. E essa coisa de ir para os Estados Unidos, era para provar ao pai que ela conseguiria. Entenda...

-- Entender? Ela me deixou duas vezes.

-- Poderia ter insistido mais.

-- Insistido mais?

-- Ela ficou ferida Cris, você desconfiou do amor de vocês... – olhou dentro das safiras – desacreditou, além de...

-- Espera aí Enrico, eu não desconfiei de nada, ela simplesmente me abandonou depois de passarmos uma noite toda nos amando. – fitou por segundos em silencio os olhos do amigo – Ela me deixou por uma chantagem, e quando estamos voltando a nos entender, aparece do nada uma americana que nunca tinha ido ao sítio, mas sabia exatamente como chegar. Ela adivinhou? Não confio mais, ama-la não é fácil, ainda mais quando se perde a confiança de alguém. – concluiu com uma expressão séria.

-- Não a quer mais? Quer dizer, não existe mais chance entre vocês?

-- Duro voltar a adquirir confiança. – respondeu pensativa – Meio clichê, mas é verdade, confiança é como um cristal, depois que quebra não se consegue reagrupar os caquinhos. Eu ficaria na boa com Isadora, mas, sem imposições e ambição.

-- Então, isso me faz concluir que não tem volta, e se não tem como retornar, viva! – aproximou-se e segurou sua mão. - Volte a ser a... – pensou um pouco – Melissa de antes, e não a Cristina que foi programada para ser a grande empresária no ramo da agropecuária. Volte a ser a Melissa que saía em disparada com Imperador naquela fazenda... A mesma que oferecia um sorriso tão lindo que chegava a derreter até a mim. – olhou a sobrinha nos olhos - Aquela que não se deixava abater, dura na queda e pronta para o ataque.

 -- Aquela época era diferente. – concluiu com pesar deixando a cabeça baixa. Enrico ergueu seu queixo, e olhando dentro dos seus olhos disse aquilo que ela não tinha coragem de assumir para si mesma.

-- A Melissa de Isadora. – sorriu - Só por isso que esta época é diferente. Lute, vá atrás dela, não existe a Mel sem a sua Isa. A história de vocês não se resume a pedaços de cristal, isso não combina com a personalidade das duas. – limpou o rosto da morena - A história de vocês se traduz em um lindo conto de verdadeiras almas gêmeas, assim como as que Zeus separou com o raio, elas foram à procura uma da outra, atravessando todos osbstáculos impostos pelo Olimpo e venceram. – limpou as duas lágrimas que escorreram pelos lindos olhos azuis. – Isadora é tudo o que falta em você, seu oposto. Almas gêmeas são aquelas que se encaixam nos nossos vazios e não aquelas idênticas como muitos pregam. Você é a geleira, ela a fogueira, você a tempestade, ela o dia lindo de sol, você o enigma no escuro e ela a resposta na claridade. – Melissa ouvia a tudo deixando as lágrimas rolarem, não queria dar o braço a torcer, mas o amigo traduziu tudo àquilo que ela sentia em relação a sua loirinha.

-- Lembra quando eu estava dividida? Não sabia o que pensar de mim, sobre minha vida? Quis fugir da minha realidade... Eu não entendia que sentimento era aquele, mas precisava dela.

-- Vocês perderam um tempão para se declarar uma à outra, por medo disso ou daquilo... – falou com ironia. – Quando ficaram juntas, era um paraíso. O problema é que nenhuma das duas reconhece os erros com facilidade, além de uma teimosia crônica.

-- Ceder? Ela aprontou com o lance da chantagem, poderia ter me contado tudo, depois aquela coisa, quase transparente de tão branca aparece, chamando-a de “sweetheart” – falou com sarcasmo imitando a voz da americana. – E por último, quando resolvemos todos os impasses, ela resolve sozinha, de voltar para os Estados Unidos. – limpou o rosto. – Não perguntou a minha opinião, apenas comunicou sua decisão de crescer como profissional.

-- De novo não. – falou segurando a impaciência - Cris, você só voltará a ser feliz quando reagir. Vamos agitar! – disse sorrindo.

-- Não enche Rico.

-- Estou falando sério. Vamos sair desta toca?

-- Quem vai querer uma mulher grávida? – brincou novamente.

-- Logo você deixa de ser grávida e passa ser uma mulher fatal.

-- Não entendi – afirmou séria.

-- Logo vai entender, basta voltar a ser aquele ser que ninguém ver mel. – sorriu. – Agora vamos sair e ver o que Júnior anda aprontando.

-- Ele está jogando charme para Camila. – revelou sorrindo. – Imagina quando descobrir que ela não ch*pa essa fruta.

-- Eu vi. – pensou um pouco. – Ela é uma pessoa muito boa, pena ter se envolvido com Solange.

-- O que tem essa Solange?

-- Ela é atriz. – forçou o sorriso. – Ela é uma boa atriz, mas, também é dependente química.

-- Em?

-- Drogas, álcool, anfetaminas e tudo que estiver disponível no momento.

-- Que coisa! – disse pensativa. – Elas ainda estão juntas?

-- Não. – levantou-se e foi até a janela. – Mas ontem ela apareceu no apartamento de Camila.

-- Então não terminaram em definitivo.

-- Para Camila sim. Agora vamos lá? – procurou encerrar o assunto.

-- Vou tomar banho. – piscou e foi para o banho.

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-- Ai gata, eu mando essa verde para o buraco, quer apostar? – Camila olhou para Júnior e depois para mesa de sinuca.

-- Apostar o que?

-- “Uns beijo”, ta ligada? – Melissa e Enrico chegaram a tempo de ouvir a proposta de Junior e a gargalhada de Camila.

-- Júnior, você acha que consegue ganha-la? – Enrico perguntou segurando o sorriso.

-- Claro. – passou o taco por trás do corpo e apoio os braços em cada extremidade. – Eu sou “fodasticamente” bom nisso, tá ligado? Mel “mermo” já perdeu pra mim. – concluiu rindo da morena que se sentiu incomodada.

-- Aquilo foi sorte, tá ligado? – respondeu com sarcasmo.

-- Mas eu quero saber se Camila vai casar a aposta. – olhou para a veterinária e sorriu – Vai apostar ou não? – provocou.

-- Acha que não sou boa para ganha-lo?

-- Só quero vê-la beija-lo, se ele ganhar. – Camila e Melissa se olharam e Enrico riu. – Vamos lá doutora.

-- Casou Júnior. – bateram os tacos e começaram. Camila conseguiu enviar três bolas para o buraco. Na jogada, Junior enviou uma e a outra pulou da mesa. – Como você é bom, Júnior. – brincou. Melissa olhou para o amigo e pediu para substitui-lo.

-- Sapo me deixa resolver isso aqui. – pegou o taco do loiro e começou a jogar, enviando todas as bolas, uma por uma para os buracos e quando encerrou, olhou sorridente para os amigos e concluiu. – Game over.

-- Mel!!! – gritou sorridente. – Agora você pode beijar a doutora. – as duas se olharam, e Camila sentiu o rosto arder. Melissa também ficou envergonhada. – Mel, você beija Camila e eu fico olhando, as gatas se pegarem.

-- A aposta era com você, Melissa não tem que pagar nada. – Camila saiu em sua própria defesa.

-- Claro que tem, ela pegou meu lugar. Beija ela Mel, tá ligada? – Melissa olhou para o loiro e respondeu com uma expressão cínica.

-- Mas ela que perdeu a aposta, quem tem de me beijar é ela. – Enrico olhou surpreso para sobrinha. Camila ficou sem reação.

-- Então “beija ela”, Camila. – a médica olhou para o amigo que estava surpreso e depois para Melissa que parecia se divertir, isso a irritou. Camila se aproximou da morena e beijou seu rosto. – Tem que ser na boca. – Melissa ficou surpresa com o beijo no rosto, mas sentiu o coração disparar quando sentiu os lábios da veterinária esmagando os seus. Não foi um beijo de língua, apenas com os lábios, mas o efeito foi devastador para ambas. Melissa sentiu uma onda de calor inexplicável, o que lhe causou surpresa.

-- Aposta paga. – esboçou um sorriso, mas era nítido seu nervosismo.

-- Eu... – Melissa havia perdido a expressão cínica para uma envergonhada. – Vou subir, quer dizer, dormir.

-- Não vai jantar? – Enrico perguntou avaliando as duas mulheres.

-- Ah, o jantar. – olhou para Camila. – Eu vou comer depois alguma coisa.

-- Nada de lanches, vai ficar aqui e comer com a gente.

-- Gente, eu vou me desculpar, mas acho que vou para casa.

-- O que? Nem pensar Camila. Não deixei mais cedo, ainda mais agora. – passou a mão pelo rosto e concluiu. – O jantar já vai sair e todos nós iremos nos deliciar com as comidas da dona Dora. Depois podem dormir ou assistir televisão, ou até jogar pedra na lua, mas só saem daqui amanhã.

-- Enrico, cara, se jogar pedra na lua pode quebrar a bola ou acertar São Jorge, isso é pecado. – Enrico saiu bufando, enquanto as duas mulheres não sabiam o que falar e nem como agir.

-- Vou para o escritório, quando o jantar estiver servido você me chama. – pediu para Júnior e saiu, deixando Camila na companhia do loiro.

Fim do capítulo