A fortiori por Bastiat
Capítulo 34 - Natal
Laura
- Bom dia, família!
Entrei na cozinha mais feliz do que nunca.
Com todos reunidos na mesa para tomar café da manhã, dei um beijo no rosto de cada um e me sentei já tirando a semente de meio mamão.
- Bom dia, filha. Estou assustada. Cadê o resto do seu cabelo? - Minha mãe disse.
- Ah sim, cheguei tão tarde ontem, vocês nem viram. Ficou bom?
Baguncei o meu cabelo que agora tinha um corte pixie médio e sorri.
- Ficou linda, Laura. Queria ter a coragem de cortar assim. - Minha irmã elogiou.
- Ficou mais bonita que já é, filha. Eu já tive até mais curto do que isso, lembra?
- Claro. Combinava tanto com você - respondi a minha mãe.
Meu pai também resolveu dar pitaco no meu cabelo:
- Cabelo novo, vida nova. É bom mudar, está linda.
Vida nova, é exatamente isso que procuro.
- Um ano novo está próximo e quero deixar para trás muita coisa que aconteceu. Ontem eu estava conversando com a Patrícia pelo celular e mandei uma foto do meu novo visual para ela. Ela disse uma coisa tão bonita, algo como: eu não posso mudar o passado, mas tenho a chance de fazer um futuro diferente. Que a minha nova aparência seja realmente mudança de vida.
Levantei a xícara de café pedindo um brinde e todos me acompanharam.
...
- Vim o mais rápido que pude!
Sérgio tentou justificar o porquê não veio correndo quando eu o chamei pela manhã.
- Te esperei para tomar café, te chamei para almoçar e você só aparece agora?!
- Eu trabalho, minha querida! Além do mais, pedi para você me contar o que aconteceu pela mensagem que te enviei.
- Se eu quisesse conversar por mensagem tinha respondido.
Sérgio revirou os olhos e me diverti com aquela cena. Ele sempre se sentia culpado por qualquer cobrança que eu fizesse.
- Eu vim o mais rápido que pude. Anda, Laura, o que aconteceu? Estou curioso.
- Ah, nada demais. É só que a Camila vem para o jantar de hoje.
A cara do Sérgio ia de incredulidade à desconfiança. Por um momento ele acreditou, depois desconfiou, até que viu que eu realmente falo a sério.
- Nada demais? Nada demais? Nada demais é o seu novo visual! Reencontro com a Camila é algo histórico!
- Gostou do meu cabelo? - Virei de costa para ele e me olhei no espelho.
- Você já era a mulher mais linda que eu já vi na minha vida, mas tenho que admitir que você ficou ainda mais com este corte.
- É por isso que te mantive do meu lado esses anos todos, pelos seus elogios. Quem te escutasse falando assim, pensaria até que você é o meu marido.
Ele ficou sem graça, como sempre ficava quando eu insinuava algo amoroso. Só não sei o motivo. Talvez seja porque temos uma amizade tão grande que ele não consegue imaginar nada disso.
- Já fui seu marido por alguns meses quando chegamos na França. Pelo menos foi isso que dissemos na imigração para morarmos lá.
- Isso é verdade. Foi meio constrangedor, não? Ainda bem não pediram para a gente se beijar, imagina a cena... - Fui interrompida.
Ele me abraçou por trás carinhosamente e olhou nos meus olhos através do espelho.
- Então, Laura, chegou o grande dia. Como você espera que seja esse reencontro com a Camila?
Fiz ele continuar me abraçando, precisava daquele carinho.
- Eu tenho medo. Muito medo. Em São Paulo eu vi o quanto ela me odiava. Os olhos dela estavam em chamas de tanta raiva de mim. Tenho também medo dela me bater, ela tem a mão pesada - completei dando uma risada abafada.
- Laura, é sério. Anda, me diga: qual é a sua expectativa? Acha que ela está mais aberta para um diálogo? Sem brincadeiras, por favor.
- Eu realmente tenho medo. Medo de estragar tudo ou de que minha expectativa seja afogada no mesmo mar frio que ela me jogou em São Paulo. Se te disser que não espero nada, mentirei. Se ela pelo menos conversar comigo, serei a pessoa mais feliz do mundo. Quero muito que ela me perdoe.
- Você acha que pode rolar algo mais do que amizade? - Ele me abraçou ainda mais forte.
- Eu perdi o amor dela naquele sábado, dia 29 de outubro.
- E se não tiver perdido?
- Se você acha que eu não vou tentar reconquistá-la, está enganado. Eu vou tentar. Não sei como, mas eu vou. Não vou me matar ou estragar a minha relação com as minhas filhas por isso. Mas, com jeitinho e cuidado, vou tentar.
- Então você tem um plano? Como você vai reconquistar a Camila? Eu acho impossível.
- Você não ajuda em nada falando que é impossível. Eu vou pedir perdão e desculpas quantas vezes for preciso. Mostrar que eu mudei, amadurei e cresci.
- Patrícia?
- Eu não a amo, Sérgio.
- Eu acho muito injusto você não ficar com ela. A Pati veio para o Rio de Janeiro por sua causa. Você disse que ia se casar com ela.
Respirei fundo. Eu sei de tudo isso, mas eu não consigo mais evitar de pensar na Camila. Não consigo mais esconder a paixão que eu sinto pela outra mãe das minhas filhas. Se eu continuasse com a Patrícia, só vou fazê-la sofrer. Além disso, está claro que não aposta mais na nossa relação. Temos seguido uma amizade tão bonita à distância.
- Nosso relacionamento já estava fadado ao fracasso. A Patrícia sabe que eu amo a Camila e sempre amei. Ela decidiu me deixar quando teve a confirmação olhando nos meus olhos que eu ainda sinto algo. Eu nem precisei dizer uma palavra para que nos libertássemos da prisão que nos enfiamos.
- Você tem certeza? Você disse com todas as palavras que está tudo acabado?
- Depois da festa de comemoração do lançamento do meu livro, conversamos e deixamos tudo às claras. Terminamos sim. Engraçado que ela dormiu aqui, fizemos muito sex*, praticamente a madrugada toda. Na manhã seguinte, ela apenas começou a se arrumar e quando estávamos no táxi, deu-me um beijo de despedida.
Sérgio me soltou e andou até o guarda-roupa. Como se quisesse se certificar de uma coisa, abriu as portas e encontrou o que queria:
- As roupas dela ainda estão aqui, querida.
- Ela viajou para Salvador, ainda não teve tempo de buscar um apartamento. Eu disse que ela pode deixar as suas coisas aqui até a vida se ajeitar. Na verdade, ela pode até ficar aqui, sem problemas. Somos amigas, Sérgio.
Sérgio fechou as portas que abriu do guarda-roupa cruzou os braços.
- Eu nem preciso te lembrar da pessoa maravilhosa que a Pati é, não é? Muito menos lembrar-te que ela te ama e não é pouco. Não mantenha uma amizade com ela, afaste-se.
- Sérgio! As coisas saíram fora do planejamento, não tenho culpa. Eu estava disposta a nos dar uma chance, gosto muito dela. Sei que ela é uma perfeição de mulher e não digo apenas fisicamente, pois ela é tudo que qualquer pessoa procura em outra. Ela vai encontrar uma mulher legal, merece alguém muito melhor do que eu.
- Por isso mesmo que você deveria se afastar dela. É horrível não conseguir esquecer uma pessoa que a gente gosta e ela ficar dizendo que quer amizade.
Sérgio deu alguns passos até que chegou a mim. Pegou o meu rosto entre as suas grandes mãos e me analisou profundamente.
- Eu te conheço. Você tem medo de ficar sozinha e quer a Patrícia por perto para que se der alguma coisa errada ela seja a sua opção. É desse jeito que você amadureceu?
Arranquei as mãos dele do meu rosto com raiva.
- Você está errado. Já te disse que terminamos de verdade. Se ela achar melhor se afastar, tudo bem. Mas eu não vejo problema de ter amizade com uma ex.
- Isso é o que nós veremos.
- Sim, isso é o que nós veremos.
Sérgio deu risada.
- Estamos brigados? - Ele chegou mais perto de mim.
- Não. Eu ainda quero você aqui no jantar de Natal, não podemos brigar.
Ele me abraçou e eu correspondi. Não consigo e não posso brigar com ele só por dizer algumas verdades na minha cara.
- Você acha que a Camila me odeia muito?
- Eu não sei, minha querida.
Acho que as coisas serão mais complicadas para mim do que imagino.
Camila
Eu passei o dia todo tensa e tentei disfarçar para que nem as minhas filhas nem a minha irmã percebessem. As minhas meninas estão felizes demais e talvez eu tenha conseguido enganá-las. Mas Vero com certeza sentiu de longe a tensão que se apoderou de mim.
Agora, tomando banho, estou me permitindo pensar no que ocorrerá esta noite. Eu vou encontrar a Laura, a mulher que acabou com a minha vida ou eu vou encontrar a Laura, o amor da minha vida? Eu queria muito apenas encontrar a outra mãe das minhas filhas, como tentei dizer para mim mesma durante o dia. Isso não é possível porque simplesmente eu não sei o que sinto por ela. É isso, eu não sei. Digo que a amo, mas posso amar aquela Laura que me fez feliz. Digo que a odeio, mas pode ser em quem a Laura se transformou ao me deixar.
Em São Paulo, extravasei toda a minha raiva. Todo o ódio que senti por ela ter me deixado aqui e ter levado a Marina. Eu não disse tudo que queria, porém tudo o que precisava ser dito, eu disse.
No momento que entrei no avião, o meu corpo foi saindo daquela adrenalina do ódio e eu consegui, não me perdoar, mas me sentir melhor. Como quando as pessoas desabafam, e depois do peso sair das costas, tudo parece melhor.
Depois entrei em uma onda de vingança. Eu queria fazer com que a Laura sofresse o que eu sofri. Ou seja, estive me transformando em tudo que abominei durante esses anos e não enxergava isso. Achei que tivesse o direito de fazer a Laura penar e no final eu e as minhas filhas estávamos sofrendo também. Minha sorte é que consegui consertar a tempo tudo isso.
Por isso, assim que terminar de tomar meu banho, vou me trocar, arrumar meu cabelo e colocar a cabeça no lugar. Que se dane qual será a minha reação, na hora vou me permitir sentir o que vier.
Desliguei o chuveiro e saí do banho enrolada em uma toalha.
Olhei para a tela do meu celular, há uma chamada perdida do Gustavo. Não foi surpresa vê-lo ligando novamente.
- Oi, Gustavo.
- Oi, gata maravilhosa. Como você está?
- Muito bem e você? Trabalhou hoje?
- Bem também. Trabalhei e ainda trabalho amanhã. Mas no réveillon eu não trabalharei!
- Já eu preferi a folga no Natal, prioridades.
- Moça de família, eu sei. Mas eu estou te ligando para falar que estou muito bravo com você, Cah.
- Comigo? O que eu fiz?
- Acabei de falar com a Helô por vídeo e ela me disse que é quase certo que vocês vão oficializar um namoro. Ela falou toda apaixonadinha que se declarou e que quando voltar vocês vão conversar.
Eu fiquei ouvindo aquilo e pensando se eu teria coragem de namorar sério com a Heloísa. Fiquei de pensar, mas a última coisa que faço é pensar sobre o assunto.
- É, então... a Helô é legal, vamos ver como as coisas vão se desenrolar.
- Essa é a sua resposta? A Helô é legal e vamos ver como as coisas vão se desenrolar? Se você me deixar escapar uma moça como a Helô, juro que nunca mais olha na sua cara!
- Ei, ei, ei, pode parar! Sem pressão, por favor. Ok, me deixei levar por ela, mas isso não significa que vamos nos casar e você será o padrinho. Vai com calma. Muita calma, aliás.
- A menina está apaixonada, Camila!
- Guga, por favor.
- Está certo. Você ainda vai me agradecer por ter apresentando-te a ela.
- Já agradeço. Independente do futuro, ela já foi uma grata surpresa.
- Sempre se safando com as palavras.
- É um dom.
- Chata. Eu sei que você não me convidou, mas eu posso passar na sua casa para filar o jantar? Sei que terão muitas comidas gostosas.
- Ah, meu querido, é claro que te convidaria, mas não teremos nada aqui em casa hoje. Vou passar o Natal em outro lugar.
- Que lugar, Camila?
- Na casa da família Dopollus.
- NA CASA DA LAURA?
- Meu ouvido, Gustavo! Sim, na casa dos pais da Laura.
- Espera, eu estou perdido. Passo dois dias sem falar com você direito e de repente você vira amiga da sua ex? A que você diz que pode ainda amar, mas odeia ou odiava?
- Eu não virei amiga de ninguém. A Marina queria muito cear com eles, então eu acabei permitindo. Mas acabei concordando em ir junto porque ela e a Diana queriam a família toda reunida.
- A família toda, incluindo a Laura.
- Sim, incluindo a outra mãe delas. É Nata. Talvez o espírito natalino esteja no ar.
- Vai rolar uma conversa? Já está mais do que na hora de encerar essa história entre Laura e você. Está aí a oportunidade de enterrar de uma vez por todas qualquer sentimento e você seguir em frente. Seria até melhor se você estivesse com a Heloísa.
- Eu não sei o que vai rolar. Fui pega de surpresa ontem com a minha decisão de ir e ainda não pensei na minha reação.
- Acho uma grande oportunidade para conversarem.
- Vamos ver. Agora eu tenho que me arrumar para ir, amanhã te conto tudo.
- Aguardarei ansioso. Bom jantar e bom reencontro com a louca. Te amo, beijos.
- Também te amo, beijos.
Desliguei a ligação dando risada pelo Gustavo chamando a Laura de louca. Talvez ela seja mesmo uma louca e eu não esteja ficando atrás.
...
Um pouco mais de uma hora e meia depois, estou descendo as escadas para encontrar as três já prontas. As meninas já estão arrumadas há mais tempo. A ansiedade delas fez com que eu as arrumasse primeiro para só depois me ajeitar. Estão lindas. Marina com um vestido simples azul e um tênis all star da mesma cor. Diana veste com um vestido de renda branco e calça um all star branco.
- Eu sabia que você ficaria linda neste vestido. Quem fez realmente tem um talento raro, você não acha?
Sorri para a Vero, ela realmente se acha um máximo. Oh criatura para ter autoestima lá em cima.
- Devo admitir que a pessoa que fez é realmente muito talentosa, o vestido é espetacular. Mas isso não vai me impedir de te matar por escolher este vestido de decote tão... tão... digamos, ousado.
- Eu achei que te valorizou muito.
Realmente, me valorizou muito. Acho que a Vero entendeu que desejo arrasar no reencontro com a Laura. Mas não precisava exagerar. O vestido é vermelho, longo e valoriza muito as curvas do meu corpo. É bem-marcado na cintura e deixa a impressão de ter a bunda maior, não que minha bunda seja pequena. Mas esse decote é realmente de arrasar, destaque total.
Já a Verônica apostou no azul marinho. Um vestido um pouco acima do joelho, meio solto e com as costas totalmente nua. Acho que poderíamos trocar de vestido. Ela que é mil vezes mais ousada deveria estar com o meu e eu que sou mil vezes mais discreta, deveria estar com o dela. Mas agora é tarde, temos que ir. Ninguém segura a ansiedade das meninas. Com certeza já perceberam que estamos atrasadas.
Laura
Estou a ponto de ter uma sincope cardíaca de tanta ansiedade. De cinco em cinco minutos, olho do relógio para a janela, esperando algum movimento, algum carro, algum sinal de que elas chegaram. A entrada delas já estava autorizada na portaria, então não precisam nem interfonar.
- Mãe, - cheguei mais perto da minha mãe chamando-a - você não acha melhor ligar? E se a Camila pensou melhor e não virá?
- Calma, Laura. Você está nervosa e está deixando todo mundo no mesmo estado com essa sua inquietude. Já notamos que você fica andando de lá para cá, olhando na janela, olhando para o relógio. Elas estão chegando.
Observei que, realmente, todo mundo não tirava os olhos de mim preocupados. Mais alguns eternos minutos se passaram, até que a campainha soou pela casa. Fiz menção de ir recebê-las, até que senti o meu pai segurando o meu braço direito.
- Calma, eu vou. É melhor você esperar aqui.
Fiquei parada no meio da sala. Em pé.
Para piorar o meu nervosismo, demorou um pouco mais para que o meu pai abrisse a porta da sala. Ele manteve a mão na maçaneta e vi minhas duas filhas entrar em casa. Elas vieram correndo na minha direção.
- Mãeeeeee! - Elas gritaram juntas.
Eu me abaixei, como sempre fazia, para ficar na altura delas e receber aquele abraço duplo gostoso. Fechei os olhos sentindo todo o carinho que elas estão me dando e agradecendo aos céus por aquele Natal.
Quando abro os meus olhos, dou de cara com a Camila que estava parada na porta olhando na minha direção, ou apenas observando a interação entre mim e as nossas filhas.
Camila
Eu tento me movimentar, mas não consigo. Antes de entrar na casa eu tinha vestido uma espécie de armadura, mas assim que pisei os meus pés dentro, o que meus olhos viram quebrou a armadura em dois segundos. Laura, nitidamente emocionada, abraçada as nossas filhas e os bracinhos delas envolvendo-a com tanto carinho e amor. É uma cena que eu nunca tinha imaginado.
Só consigo pensar: tenho que descobrir o porquê de a Laura ter feito o que fez. Ela largou todos esses abraços por qual motivo? Ainda por cima me fez perder tudo isso. Toda essa cena bonita poderia se repetir por muitos anos na minha frente se ela não tivesse feito o que fez. Uma raiva me atingiu, mas eu tive que engolir seco. Nossos olhares se encontraram e o meu mundo parou.
Laura
Levantei-me ainda com os meus olhos vidrados nos de Camila. Parece que só existia nós duas no mundo. Os músculos do meu rosto relaxaram da tensão e trabalharam para abrir o sorriso mais sincero que eu tinha. Eu estou tão, mas tão feliz por vê-la em carne e osso na minha frente.
Ela não sorriu de volta e os nossos olhares se perderam.
Demorei um pouco mais de um minuto tentando entender o que tinha acontecido. Agora a Camila cumprimenta os meus pais. Em seguida cumprimentou o meu irmão. No instante seguinte, para minha surpresa, ela se dirigiu ao Sérgio dando boa noite e ainda conseguiu sorrir de alguma coisa que ele disse.
Pela lógica, a próxima a ser cumprimentada seria eu que estava mais próxima, mas a Camila simplesmente deu a volta e foi falar com a Lívia, que a abraçou com carinho. Eu fiquei muito sem graça. Ela me tratou como se eu não existisse.
- Oi, Laura. - Virei para a frente, na direção da Verônica que estava de braços abertos para mim.
- Oi, Verônica. Como vai? - A abracei de volta.
- Tudo bem. Dá alguns minutos para ela, é um choque te encontrar depois de anos.
Assenti para a Verônica e olhei para a Camila novamente.
- Mamãe, você cortou o cabelo - Marina olhou para mim e eu sorri para ela.
- Cortei ontem, meu amor. Ficou bom? Vocês gostaram? - Dei as mãos para as duas.
- Sim, você está parecendo aquelas atrizes estilosas. - Diana falou.
- Verdade. Posso cortar meu cabelo assim também? - Marina perguntou.
- Hum... você já é tão bonita assim de cabelo comprido. Daqui uns anos, tudo bem?
- Eu sabia que você não ia deixar. - Marina sacolejou os ombros e olhou para a irmã sorrindo.
Elas estão felizes e isso é bom.
Camila
Apenas depois de conversar um pouco com a Lívia que eu me acalmei. Pronto, estou segura de mim novamente e posso cumprimentar a Laura devidamente. Não poderia ignorá-la a festa toda. Se fosse para isso eu nem viria.
Coloquei firmeza nos meus passos. Meu salto bate firme no chão de madeira. Não demorei chegar perto dela que está de mãos dadas com as nossas filhas. Cada uma de um lado.
- Boa noite, Laura. - Eu comecei dizendo olhando para as minhas filhas, mas no final eu já olhava para o rosto dela.
Em São Paulo, Laura ainda tinha a mesma beleza, mas estava assustada e fragilizada pelo momento. Hoje a Laura impôs os seus 1,70 em cima do salto e seus olhos cor âmbar brilhavam na minha direção. Seu novo corte de cabelo a deixou jovial e o loiro ainda se destaca. Desci meus olhos pelo seu pescoço longo, até chegar no decote que colocam seus seios para cima. Vi seu peito levantar e descer conforme respirava e quando voltei meus olhos para seu rosto, ela mordeu seu lábio inferior.
Oh não, não abra esse sorriso! Por que ela tem que abrir esse sorriso lindo? Será que ela sabe do efeito que causa em mim?
- Boa noite, Camila.
- Tudo bem com você? - Ela aumentou ainda mais o sorriso.
- Melhor não poderia estar - Laura olhou para as duas filhas e depois para mim - e você?
- Estou bem, obrigada.
- Você está linda. - Falou capturando os meus olhos para ela.
Senti que deveria sair dali antes que eu desse um tapa na sua cara de pau. "Você está linda". Isso lá é coisa de se dizer depois de tantos anos?
- Com licença, vou conversar com a sua mãe, agradecer o convite do jantar.
Senti apenas o seu olhar me acompanhar.
Laura
Respirei fundo e sentei-me no sofá com cada uma das minhas filhas do meu lado.
Estratégia de elogio descartada. Pela cara que a Camila fez, elogiar não será um bom caminho para ter a confiança dela de volta.
Mas ela estava linda mesmo, não sei por que se irritou.
Os meus olhos não conseguem se desgrudar dela. Minhas filhas conversam comigo, mas minha mente foca em gravar cada parte dela dentro de mim.
...
Nós duas circulávamos entre os convidados, mas em nenhum momento conversamos mais. Ela me evita, já pude perceber. Se ela não quer contato comigo, por que veio? Apenas para satisfazer o capricho das meninas de ter uma família reunida? Certo, talvez não fosse um capricho, qualquer mãe acataria um pedido daqueles. É Natal!
- O jantar está servido! - Minha mãe anunciou.
Caminhamos todos juntos para a sala de jantar. Camila, que deveria sentar-se de frente para mim, disfarçou e trocou de lugar com a Verônica. Aquela comida toda, de repente, começou a revirar o meu estômago.
Cá estou, passado mal.
Me segurei por alguns instantes para colocar a comida no prato das minhas filhas se sentam perto de mim. Mas assim que terminei de fazer isso, sob o olhar da Camila, coloquei o guardanapo de tecido branco em cima da mesa e me levantei de imediato.
- Com licença.
Me odiei por deixar uma lágrima cair quando olhei para a Camila. Com certeza ela percebeu. Andei mais depressa para sair da sala de jantar e quando cheguei nas escadas corri mais ainda. Cheguei na suíte do meu quarto colocando todo o estresse para fora da mesma maneira de antes.
Assim que parei de vomitar, esmurrei a parede com raiva de mim mesma. Raiva por não conseguir me controlar. Raiva porque me deixei pensar que a Camila conversaria comigo ou pelo menos não me ignoraria. Ela me odeia e sempre vai me odiar.
Deixei duas lágrimas rolarem, cada uma de um olho. Andei na direção da gaveta buscar um cigarro.
Fui surpreendida por um bilhete da Patrícia grudado nele: "Quando você sentir vontade de fumar, me liga. Você não precisa aliviar sua ansiedade assim, pode desabafar comigo até de madrugada se quiser".
Não liguei, afinal, ela está com a família. Mas também não acendi um cigarro como planejei. Guardei o março de volta na gaveta junto ao bilhete.
Esperei mais alguns minutos, retoquei a maquiagem para tirar a cara de choro, me ajeitei e voltei a passos de tartaruga para a mesa. Sentei-me, sorri para as meninas e me servi de um pouco de salada. Sentia que estava todo mundo me observando, respondi apenas os meus pais com um "tudo bem" labial.
Depois, todo mundo começou a conversar normalmente. Meu pai começou a fazer as piadas e minha mãe sempre olhando torto para ele, pedindo para pegar leve com as brincadeiras. Ele sempre foi engraçado.
Verônica
- A sua amiga não me parece tão feliz mais. Quando eu cheguei, seu sorriso estava de orelha a orelha, agora ela se esconde pelas pilastras da sala.
Sentei-me perto do Sérgio depois de observar todo o cenário do pós-jantar. Se até a minha irmã o desculpou, não sou eu quem vou brigar com ele.
Minha irmã engatou uma conversa com a Lívia em um canto da sala e segurava a mão da Diana que parecia procurar alguém com o olhar. Provavelmente pela Laura que está encostada em uma pilastra pensativa. Bento saiu com os amigos logo após o jantar. Dona Andreia e o senhor Carlos conversam com a Marina que não para de sorrir. Pelo menos alguém está feliz de verdade nesse jantar.
- A sua irmã fez questão de tirar todos os sorrisos que a Laura poderia dar. A minha amiga mal consegue olhá-la depois do jantar - Sérgio deu um gole no vinho e passou a olhar para a amiga.
- Acho que não está sendo fácil para nenhuma das duas. A Camila foi pega de surpresa com o convite e está aqui pelas meninas.
- A Laura estava de braços abertos para recebê-la.
- Abertas estão as feridas da Camila.
- Touché! - Sérgio fez um brinde no meu copo quase vazio.
Laura
Eu não estava mais aguentando essa situação. A Camila aqui, tão perto, e eu desperdiçando a chance de falar com ela. Eu preciso tomar uma atitude.
Percebi que a Diana saiu para falar com os meus pais e a irmã. Agora sim eu tenho a oportunidade de tentar falar com a Camila. Não pensei muito, deixei meus pés me levarem para o lado dela e da minha irmã.
Ouvi o final da conversa, falam sobre os avanços da biomedicina. A voz da Camila continua doce como mel. Música para os meus ouvidos.
- Camila, eu preciso falar com você. Nós precisamos conversar - falei de supetão assustando as duas que não tinham notado a minha presença.
Fim do capítulo
E agora? Vai acontecer a conversa? Camila vai se recusar a conversar e seguir ignorando? Laura precipitou-se?
Até a véspera do feriado :).
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marcellelopes0
Em: 05/09/2017
Genteee curiosaaa pra saber dessa conversa...
Que tensooo.
Cada cap melhor.????
Resposta do autor:
haha, bota tenso nisso.
Abs.
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Suzi
Em: 04/09/2017
Bastiat,
Voçê se superou anjo!! Capítulo anterior não pude comentar, e fiquei doida de pena das meninas por terem que ir embora e não poderem aproveitar com as mães o Natal, e até imaginei que Camila pudesse, talvez, fazer um esforço pelas filhas e leva-las para passarem reunidas.
Mas então aparece esse capítulo maravilhoso. Gostei muito, Camila conseguiu ultrapassar suas dores, sua mágoa e ir ao encontro de Laura. As meninas não poderiam estar mais felizes, ótimo ver filhos assim.
O encontro foi um choque sem dúvida, parecia que estava ali naquela sala vendo e observando tudo. Nunca fiquei com tanto dó de Laura, senti cada sensação dela, doeu demais!!
Se antes em todas nossas conversas e elucubrações tinha dúvidas e questionava esse reencontro e possível reaproximação. Agora me parece que elas vão realmente colocar a limpo o passado, conversar como adultas, penso que Laura finalmente está pronta (e graças a minha Deusa Patrícia kk)para terem uma conversa madura e chegarem a um ponto de concílio, e talvez de aproximação e finalmente ficarem juntas.
E minha Deusa?? Quando se encontrará com Vero..tadinha abandonada até no aniversário por ela..ansiosaaaaaaa kkkkkk
Bjs querida e ótima semana
Resposta do autor:
O que uma mãe não faz pelos filhos, não é? Camila foi digerindo a ideia de reencontrar a Laura durante um bom tempo, ainda mais com a Verônica colocando na cabeça dela que o melhor era encarar a ex de vez. Acredito que ver as filhas felizes durante o Natal vai valer a pena para ela o "sacrifício".
Veremos se a Camila vai aceitar uma conversa e se neste primeiro contato a sós as coisas vão sair calmas, com conversa de verdade.
Patrícia ajudou muito a Laura, foi essencial no momento mais crítico da vida dela. Se não fosse pela Patrícia a Laura estaria encolhida na cama em São Paulo até hoje haha.
Sua Deusa voltará em alguns capítulos para o Rio. Encontrar com a Vero até vai... rs. Abandonar no aniversário foi demais, não é?! haha sorry.
Ah, senti falta de seu comentário.
Beijos, ótima semana para você também.
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SPINDOLA
Em: 04/09/2017
Confesso que fiquei com dó da Laura, mas tá colhendo o que plantou. Acho que a Camila vai tentar usar a Heloisa para fugir do amor que ainda sente pela Laura, mas não vai conseguir resistir, pois o amor das duas é muito forte.
Se a Laura desconfiar que a Camila ainda é louca por ela, a Cah tá perdida rsrsrsrrsr.
Estou com uma leve desconfiança que no Ano Novo vai rolar o beijo da meia noite, iria apimentar a história não?
A Camila não está querendo conversar com medo de não resisitir aos encantos da Laura, a conversa não deve rolar ainda, a Laura tem que sofrer mais pra dar valor e não aprontar de novo.
Ansiosa pelo próximo.
Bjs
Resposta do autor:
Boa teoria, a Laura está crente de que a Camila a odeia, se ela perceber algo...
Mas gente, nem acabou o Natal ainda e você já está planejando o ano novo? Hahaha
É um bom motivo para toda essa proteção, não é? Que ela ainda acha a Laura encantadora, isso acha. A Laura sofre e você fica com dó, mas feliz haha.
Beijos.
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sonhadora
Em: 03/09/2017
Bem, sou muito a favor do perdão, sempre fui, mas tudo tem seu tempo certo, acredito que Camila vai perdoar Laura (apesar de alguns acharem que ela não merece, eu acredito que sim), fiquei tão feliz quando Camila aceitou jantar no Natal, posso dizer que não me decepcionou, pois desde do início vejo uma alma linda na Camila!!! Gostaria de ter a coragem da Laura e a beleza da alma de Camila!!! Obrigada pelo capítulo, (apesar do final me deixar doida por mais uma dose!) KKK. Que venha mais e logo!!
Beijos de Luz!!!
Resposta do autor:
Eu acho o perdão uma das coisas mais fascinante da vida. Muita gente não consegue perdoar, é uma conquista difícil tanto na vida de quem perdoa tanto de quem é perdoado. Como diria Gandhi, "o fraco jamais perdoa: o perdão é característica do forte".
Camila não perdeu aquela alma linda do começo da história, só escondeu haha.
Obrigada, beijos.
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patty-321
Em: 03/09/2017
Ai ai ai.pelamor. tô mais ansiosa ainda. Verônica tem.razao. com é difícil para as duas. Será q a Camila vai conseguir ouvir a Laura? O medo da Camila e a de não resistir e perdoar a Laura. Laura precisa se segurar, demonstrar maturidade. Não é fácil, pq há muito sentimento. Bora esperar. Bjs boa semana.
Resposta do autor:
É, acho que eu deixei muita expectativa no ar hahaha.
Verdade, é difícil para a Camila ter que encarar uma pessoa que ela guarda uma mágoa muito grande e também é difícil para a Laura que sabe que é a causadora de todas as dores.
Hum... será?
Sim, não é fácil com tanto sentimento transbordando de ambas.
Beijos, boa semana para você também.
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psique
Em: 03/09/2017
Como poderia descrever meu sentimento nesse exato momento senhorita autora?! Pois bem, #indignada:/ Esse capítulo não poderia ter acabado aqui! ok... Não mesmo(vou dar uma de Marina)..rsrs Não tenho maturidade para lidar com um "até a véspera do feriado" Diz que você vai fazer suas leitoras mega felizes com um capítulo extra antes de quarta-feira :D
Mas falando em maturidade, acredito que a Camila irá conversar com a Laura, afinal ela já deu um grande passo indo passar o natal lá. Em algum momento elas terão que conversar.... Como boa Psico "acredito muito em um diálogo maduro" rsrs
Ah sem beijos hoje (pq a senhorita autora foi cruel) rsrs
Resposta do autor:
Nossa, achei que acabou tão emocionante haha.
Não, não teremos capítulo extra. Bom, segunda já foi e a véspera de feriado já é depois de amanhã :).
É, em algum momento sim. Veremos se já estão prontas para uma conversa.
Achei que fosse "psique" fosse relacionado ao termo grego... mas, whatever, psico hahahaha.
Tudo bem, sem beijos.
Abs.
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NovaAqui
Em: 03/09/2017
Laura está forçando uma barra
Camila não está tão disposta assim. Laura poderia esperar mais um pouquinho.
Pais separados têm que conversar, se entender e se suportar pelo bem dos filhos, mas Camila tem todos os motivos para não querer isso tudo. Camila vai baixar a guarda, porém Laura precisa ter paciência. O que Laura faz não tem perdão, contudo Camila está passando por cima de todas as suas convicções pelo bem das meninas.
Confesso que adorei Laura ter sofrido. Ela merece isso. Ainda acho pouco o que você, autora , faz com ela kkkkk
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Sim, realmente, Camila tem todos os motivos para não querer falar com a Laura e está lá pelas filhas. Mas é aquela história de tentar não custa nada. Laura não quer perder a chance de ao menos tentar convesar.
Gostou, não é?! hahahaha.
Abraços.
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