Pessoal!!!Muito obrigada pelo suporte!Lembrando que vocês podem ouvir as músicas que escolho para o nome dos capítulos...Para entrar no clima, vou postar o link da playlist e dos videos também!Boa leitura <3Accidentally in Love: https://www.youtube.com/watch?v=2FWkKqb-EYQ&list=PLaLpKpmcP01enNTMiEKxhxxauxBqMDxFR&index=60She's got me daydreaming: https://www.youtube.com/playlist?list=PLaLpKpmcP01enNTMiEKxhxxauxBqMDxFR
Accidentally In Love
Pov- Cosima
Estar apaixonada pode ser bizarro e completamente letal. Tal sentimento te consome por inteiro, te devora, te transborda e, às vezes, te apavora. Tome como exemplo minha relação com Delphine...
Ah! Há horas que quero fazer carinho e cuidar, porém, em raros momentos obscuros, quero matar, sufocar, afogar aquela loucura de mulher na tormenta de meus oceanos.
Entretanto, todavia...
A sanidade em nossos momentos é tão regular quanto nosso desiquilíbrio. Somos como bola de neve ladeira à baixo.
Entre seus devaneios de cigarro, minha namorada me observa enquanto eu a assisto. Foram várias as vezes, quando me perguntou em seu irresistível sotaque:
"Qual é o problema?"
Era impossível não sorrir ao ser invadida por sua beleza, por seu jeito feito para acabar comigo.
"Estou apaixonada." Eu respondia a cada pergunta, a cada dúvida, com o mesmo olhar mirando nos castanhos daqueles olhos redondos.
Amar Delphine me deixa leve feito pluma, flutuante feito pena, airosa feito o vento. Ela veio como relâmpago, sem que eu a percebesse, e quando ela se vai, deixa os rastros de seu trovão.
Nossas manhãs são regadas a preguiça e manha, com beijos ora delicados, ora famintos. No café há frutas, ovos, às vezes até pães e doces, porém, em meio à deslizes de uma rotina recém-casada, há dias que nossa fome só é saciável na cama.
Cormier é meu prato ferido, meu vício, o resultado de muitos sacrifícios, minha tentação, dona de minha total concentração.
É engraçado como aprendo suas manias, decodifico seu ostentoso vocabulário, o qual, aos poucos se torna parecido com o meu. Mas essa ligação estranha é de mão dupla, já até reparei em minhas ações sendo transformadas nas delas.
Nossas noites são cansativas, às vezes dançantes, porém sempre satisfatórias. Há dias que Delphine fica até mais tarde no lab, estes são os mais solitários. Entretanto, no meio da madrugada, quando a temperatura cai lá fora, sinto seus mornos braços longos aquecendo meu corpo aqui dentro do edredom.
O amor está nas pequenas coisas, está no beijo inesperado, no toque apropriado, no "Bom Dia" atordoado. Tal afeição é o resultado de ações tão apaixonadas quanto a paciência ao esperar ela se trocar, para sairmos. Seja à lazer, seja à trabalho. Minha mulher é vaidosa, é arrogante, narcisista e tirana, mas estas são qualidades disfarçadas em mínimos defeitos.
Delphine é mandona, controladora. E eu amo cada uma de suas imperfeições.
Ontem após o expediente, tentei saber mais sobre minha cobaia humana.
"As informações são confidenciais. " Dr. Silva é o cientista mais tranquilo da equipe, sempre com piadas ligeiras e olhar chapado. Nós já fumamos uns becks juntos.
"Eu sei que você pode me dar alguns detalhes." Insisti novamente.
"Olha, qualquer coisa que eu fale pode comprometer o experimento." Respirou fundo, "Você quer mesmo se encrencar com Dr. Leekie." Eu estou à beira de sair na porr*da com esse velho babão.
"Não, Dr. Silva." Reconheci o sotaque tentador entrelaçado naquela voz sensual, "Dra, Niehaus não quer se encrencar. Pode deixar que eu assumo a culpa."
"Dra. Cormier..." O cientista tinha tom de pele parda, porém suas bochechas ganhavam cada vez mais cor rosada.
"Fique calmo, Silva. Envie os arquivos por email à Dra. Niehaus pela manhã." Delphine demandou envenenada por seu próprio imperialismo.
E ao acordar na manhã seguinte, não pude me controlar. Cheguei ao Instituto mais cedo do que o normal, abri meu email e, por fim, me deparei com a escassa chuva de informações sobre minha cobaia.
Nome: Charlotte May.
Idade: 11 anos.
Data de Nascimento: 00/00/2005.
Status: Em tratamento com Bernes.
Nacionalidade: Canadense.
Cidade Natal: Desconhecido.
Parentesco: Desconhecido.
Guardião Legal: Instituto Dyad; Supervisão de Dr. Aldous Leekie desde 2006.
Descrição: Degeneração nos tecidos epiteliais: Útero e Pulmões. Deformação Congênita na perna direita. Não há traços genéticos que apontem ou definam a causa dos problemas descritos.
Patologia: Desconhecido.
Só isso?
Jura?
Leekie é seu "pai"?
Impossível não sentir dó dessa menina.
Após minha rasa descoberta sobre Charlotte, fui ao lab para me encontrar com o restante da equipe. Silva, Coady, Scott e Mud trabalhavam, livre de distrações nas bancadas. Não me viram chegar, tão pouco me ouviram se aproximando de seus ofícios.
"A degeneração está acelerando." Disse Coady, "Temos de encontrar outra terapia, se quisermos salvar LD2005."
"Dr. Leekie foi claro, não podemos desviar nossa atenção dos Bernes." Scott afirmou preocupado.
Tentei me segurar, mas eu tentei muito!
"E vocês vão fazer o que ele falou?" Indignada, me pronunciei.
"Ele é o chefe, Cosima." Mud apontou enquanto segurava sua fiel prancheta.
"Pessoal, ela é apenas uma menina." Respirei fundo, "Temos a tecnologia, a oportunidade, precisamos salva-la."
"Bom dia, equipe." Aldous adentrou o laboratório sorrateiramente, "Prontos para conhecer suas cobaias?"
Sincronicamente, acenamos com a cabeça.
"Pois, bem." Virou-se à porta, "Nealon, mande-os entrar."
A maioria das pessoas que iriamos examinar eram adultas, havia alguns idosos, e apenas uma criança, esta que andava com a ajuda de um aparelho em sua perna. A garota estava completamente alegre, mal sabia de sua deplorável situação.
"Você é minha médica?" Fuzilou meu espírito com a doçura de seus olhos.
"Sim, sou eu." Sorri em resposta à tamanha esperança contida naquela mocinha.
"Gostei do seu cabelo, é trança?" Ajoelhei em sua frente para poder ter melhor aproximação.
"Não são tranças, são dreadlocks." Busquei por uma mecha e a posicionei em suas pequenas mãos.
"Nossa!" Gargalhou brevemente, "É esquisito."
"Sim, mas você acaba se acostumando." Informei ainda com um involuntário sorriso escancarado em minha face.
"Assim como me acostumei com as agulhas?" Não havia tristeza em seu tom, ele era inocente e completamente singelo. Isto partiu meu coração.
"Sim." Abaixei minha cabeça em desconsolo.
"Qual é seu nome?" Questionou curiosa.
"Cosima." Respondi, "E o seu?" Mesmo já sabendo a resposta, perguntei.
"Charlotte May." Disse com tanta propriedade e orgulho, derretendo ainda mais meu coração.
"Bom, Charlotte May, sente-se na maca para começarmos com o exame." Ordenei em tom piadista.
Seus braços eram tão branquinhos, as marcas e hematomas causados pelas agulhas evidenciavam-se muito além do normal. Extraí, pelo menos, dez tubos de sangue enquanto sua pele ficava cada vez mais pálida.
"Você é muito forte." Elogiei honestamente ao colocar seu curativo.
"Eu sei! São os Bernes que me deixam assim." Charlotte realmente acreditava em sua terapia.
Mirei em seus bracinhos novamente e analisei os machucados.
"Sim, são os Bernes que te deixam assim." O vazio de meu sentimento não era capaz de ser preenchido.
"Muito obrigada, Cosima. Eu amei te conhecer." Ela sorria insuspeita e contente.
"Não tem que agradecer." Respondi após ajudá-la a descer da maca.
"Você quer ser minha amiga?" Como dizer não à uma criaturinha como Charlotte?
"Sim!" Recebi um abraço apertado e sincero. Provavelmente, um dos mais sinceros que já experimentei.
Observei, angustiada, minha mais nova amiga fazer seu caminho para fora do laboratório.
Se antes meu fascínio por Charlotte era grande, agora ele é extremamente perigoso. Preciso cura-la, nem que isso seja a última coisa que eu faça.
Durante a tarde até o final do expediente, trabalhei ferozmente. Analisei as amostras de sangue, revisei todos os exames de LD2005 desde o comecinho, isolei proteínas danificadas em camundongos para testar uma vacina, apenas existente em minhas conturbadas ideias.
O relógio foi impiedoso ao marcar 22:00 horas. Meu turno geralmente acaba às 20:00.
"Cos, chega por hoje." Scott soava exausto.
"Calma, Scotty. Tenho que terminar de anotar algumas coisas ainda." Informei sem desviar minha atenção.
"Cosima, eu te admiro muito, mas o que você está fazendo é completamente jovial." Silva se juntou ao meu amigo no sermão desnecessário.
"Vocês não entendem, eu preciso disso." Perdi a paciência e encarei os dois, furiosa.
"Doutora, estou tentando te avisar. Se Dr.Leekie descobrir o que você está fazendo, isto vai arruinar tanto sua carreira quando seu relacionamento. Namorar com superiores tem seus altos e baixos, então pense bem antes de jogar tudo para o alto." Dr. Silva terminou seu discurso relevador e deixou o laboratório com um intenso clima de "Fodeu".
Scott olhou em minha direção chocado com o que acabara de ouvir.
"Quê? Como assim, namorar com superiores?" Questionou irado, "O quê você está escondendo?"
PUTA MERDA!
"Cara, eu ia te contar, juro!" Falhei em minha tentativa de amenizar a atmosfera.
"Você tá pegando o Leekie?" Céus, meu amigo é completamente cego.
Não tenho como continuar nesse jogo, mesmo que me julgasse, Scott precisava saber a verdade.
"Estou namorando com Delphine, Scotty." Exalei cada partícula de oxigênio.
As expressões naquele rosto assustado, delineavam surpresa mista à traição.
"Ah! Você só pode estar brincando, Cosima. Que merd* é essa?" Sua reação era exatamente o que eu esperava.
"Me desculpa, cara." Levei minhas mãos à minha culposa face, "Me apaixonei fodidamente por Delphine desde que a conheci. Não planejamos nada do que aconteceu, as traições, as mentiras, os términos, nada!"
"Agora tudo faz sentido! Era dela que você estava falando na festa de Mark, né?" Perguntou impaciente.
"Sim." Retruquei em tom triste.
"Cosima, é por isso que estamos aqui? Ganhamos o estágio porque você estava trans*ndo com nossa professora?" Suas palavras atravessaram meu ser feito espadas afiadas.
"Não, Scott." Aquele sotaque, aquela presença repentina.
Dra. Cormier caminhou até nós.
"Você sabe muito bem o porquê está aqui." Firmou-se ao meu lado, pegou em minha mão, "Cosima e eu nos apaixonamos acidentalmente. O que você e ela fizeram para chegar até aqui é de total responsabilidade de suas ações e esforço. O mérito é de vocês."
Meu amigo aparentava estar assustadoramente abalado com seus largos olhos confusos.
"Não espero sua aceitação, porém exijo respeito, não somente como sua chefe ou professora, mas como pessoa. Serei julgada por minhas decisões, entretanto, nunca por amar." Minha namorada confortou minha agonia com suas falas certeiras.
"Aqui está, Cos." Me entregou um enorme envelope, "Esses são os documentos para validar nossa relação. Os meus foram entregues pela manhã. Em breve, a equipe e todos os funcionários do Instituto estarão cientes de nós." Beijou meu rosto tranquilamente, "Deixarei vocês se acertarem. Te espero em casa."
Delphine se retirou do laboratório sem olhar para trás, e Scott ainda se encontrava na bagunça de suas atrapalhadas ideias.
"Não acredito nisso! Como você teve coragem?" Questionou.
"Quem não acredita sou eu! Você tá puto porque estou feliz?" A raiva começava a me consumir.
"Não!" Socou o ar, "Estou puto porque você mentiu pra mim."
"Scott, não menti pra você. Eu, apenas, não te contei." Éramos feito irmãos brigando.
"Ah! Jura? Mentir e omitir é basicamente a mesma coisa, Cosima."
"Cara, você acha mesmo que me orgulho das coisas que fiz? Às vezes, fazemos coisas terríveis pelas pessoas que amamos. Apenas omiti a verdade de você, porque tive medo de te perder. Menti pra caralh* porque não conseguia ajustar as coisas para estar com Delphine, na época." Tentar segurar o choro seria completamente inútil, então me rendi as lágrimas que caiam sem pudor.
Meu amigo nada falava, ele só me observava incerto do que pensar.
"Me perdoa?" Supliquei entre soluços incontroláveis.
"Você tá feliz? Ela te faz bem?" Perguntou ao se aproximar.
"Nunca me senti tão completa em minha vida." Confessei secando meu avermelhado rosto.
"Então, estou ao seu lado." Sorri sem querer, "Mas você tem que prometer duas coisas."
"Sim! Qualquer coisa." O Scott de alguns tempos atrás iria se aproveitar dessa situação.
"Me prometa que não vai mais mentir ou omitir nada para mim?" A primeira condição soou fácil demais.
"Prometo!" Retruquei sinceramente.
"E me prometa que as coisas não ficarão estranhas entre nós." E a segunda soou confusa e amedrontada.
"Sim, sim! Nada vai ficar escroto, eu juro! Aliás, hoje é quinta..." Pausei antes de fazer outra revelação, "Toda quinta pedimos comida Japonesa lá em casa."
"Pera, você está morando com Delphine?" Caralh*, ele realmente não sabia de nada mesmo.
"Ela está morando comigo, na real." Sorri tortamente evidenciando meu embaraço.
"Uau!" Suspirou profundamente.
"Vem jantar com a gente?" A probabilidade de meu convite ser negado era gigantesca, porém não custava nada tentar.
"Hum!" Passou a mão por sua inexistente barba, "Eu vou, mas antes preciso comprar muito álcool."
"Sim." Rimos contentes, "Eu também."
Passamos em um mercado 24 horas perto de nosso prédio, selecionamos cervejas e uma garrafa de Jack Daniel's sabor mel. Após alguns minutos, já estávamos em meu apartamento.
A reação de Delphine ao ver Scott em nossa casa foi adorável. Aquela noite foi, com certeza, a mais repleta de surpresas. Minha namorada fazia o pedido por telefone enquanto Scott e eu bebíamos loucamente. Após o delicioso jantar, sentamos na sala para fumarmos aquela ervinha de lei. Por mais que minha namorada não estivesse tragando, ela rapidamente ficou chapada por tabela.
Todos nós sabemos como Delphine fica quando fuma, certo?
Pois bem, a dançante Francesa contava piadas de cunho cientifico, fazendo com que o riso fosse ilimitado. Ela cantava, rebol*va e brincava, mostrava um lado que eu conhecia, este sendo completamente desconhecido por meu amigo.
Ele adorou conhecer sua chefe daquele jeito tão natural.
"Nossa, se eu soubesse que vocês eram assim juntas, não teria dado seu número para uma amiga da Mud." O pobre coitado não sabia o que suas palavras podiam despertar em Dr. Cormier.
Ela congelou por alguns instantes.
"Você está falando sério, Scott?" Ui, a Francesa usou seu tom fatal.
Enquanto meu amigo media as consequências de suas ações, eu não parava de rir.
"Claro que não, Dra. Cormier." Era nítido o medo em suas estruturas.
"Bom mesmo, porque se fosse verdade, eu acabaria com você e com essa amiga." A ameaça foi efetiva até mesmo para mim.
O clima foi amenizando aos poucos. O Nerd permaneceu conosco por mais alguns minutos até decidir ir embora.
"Parece que tudo deu certo, né?" Questionei minha amada enquanto ela lavava a louça.
"Sim, ele aceitou bem." Respondeu aliviada.
"Você poderia deixar essa bagunça para amanhã e vir deitar comigo." Sugeri atentando seus primitivos instintos.
"Vou terminar aqui primeiro. Vá colocar seu pijama." Demandou.
"Credo! Tô indo, mãe." Provoquei.
"Vou dar umas belas palmadas nessa brancura de bunda." Ameaçou ao entrar na brincadeira.
"Ui! Vou tomar um banho, então." Anunciei e rapidamente me retirei da cozinha, mas não sem antes pegar o resto do baseado.
Enquanto a água caia em meu alterado corpo, o cigarro de maconha contribuía ainda mais com minha alteração, o que acabou despertando inúmeras ideais em minha cabeça. No dia seguinte seria o aniversário de Delphine, então arquitetei alguns planos em meio àquela neblina de vapor e fumaça.
Ao terminar meu banho, busquei por meu celular sobre a pia e comecei a mandar mensagens para o pessoal do laboratório. Combinei com eles de fazermos uma festa surpresa no horário do almoço. Scott se ofereceu para me ajudar com as compras pela manhã, e com tanta empolgação, mal notei a longa jornada dos minutos que passei no banheiro.
Escondendo minha suspeita gravidade, fui direto ao closet e vesti um top e um shorts. Para minha infeliz surpresa, Delphine já estava dormindo graciosamente em nossa cama. Exausta, não conseguiu ao menos se trocar, ela dormia com sua camisa desabotoada, mostrando seu sutiã de velha e uma anatomia perigosamente tentadora. Sua calça estava jogada ao chão, o que indicava seu desleixo causado pelo cansaço.
Aproximei-me vagarosamente, com o maior cuidado para não acordar o corpo sonolento ao meu lado. Notei que dormia sem calcinha, mas me controlei para não atacar a frágil carne exposta bem diante de meus olhos famintos.
O sono não me invadiu de imediato, a única coisa que eu queria fazer era observar minha namorada dormindo. Delicadamente, pousei minhas mãos para distribuir carícias em seu rosto e torso. E assim permaneci até ser sequestrada por sonhos fatigados.
Na manhã seguinte, consegui acordar duas horas mais cedo. Ligeiramente me vesti, assinei os documentos que Delphine havia me entregado, os coloquei encima do balcão, preparei um café preto e o deixei pronto na máquina. Ao lado de tudo, escrevi em um bilhete: "Feliz Aniversário, minha senhora."
Encontrei com meu vizinho/parceiro no estacionamento, dirigimos em seu carro até o mesmo mercado da noite anterior. Compramos balões, canapés, patês, donuts e bolo, o menu perfeito para grávidas.
Ao chegarmos no laboratório, fomos direito ao loungue, onde Mud e Gracie estavam esperando ansiosas para nos auxiliar. Penduramos os balões coloridos nas paredes, preparamos os petiscos e os guardamos juntos ao bolo na pequena geladeira.
Tudo estava lindo, tudo estava pronto.
Agradeci meus amigos pela ajuda, e antes que notassem, apressei meus passos para visitar Charlotte em seu aposento. O que estava prestes a fazer não era proibido, porém causaria muitos problemas com Dr. Chato Pra Caralh*, entretanto, eu não dava a mínima importância para suas ordens egoístas.
O quarto da menina era escasso de privacidade, as paredes eram constituídas por vidro transparente, parecia um aquário, ela estava completamente exposta.
Senti ódio navegando em minhas veias.
Passei minha credencial no dispositivo em esperança que fosse autorizada.
Foram sufocantes segundos até a luz vermelha esverdear.
"Hey, mocinha!" Concentrada, ela lia um livro qualquer.
"Cosima!" Sorriu largamente, e mancando, correu até meu abraço.
"Como você está, lindinha?" Questionei, passando minha mão em seu rosto.
"Estou bem, só um pouco entediada. Não sou autorizada a sair do quarto depois dos procedimentos." Informou entristecida.
"Procedimentos?" Perguntei incultamente.
"Sim! Dr. Leekie colocou alguma coisa no meu Berne ontem à noite." Afirmou, "Olha, tá até vermelho aqui." Apontou com o dedo em direção à sua bochecha.
O que esse bosta está dando para a menina? Nada foi prescrito por mim, e sou eu a cientista responsável por ela.
"Ele não falou o que era?" Analisei o pequeno hematoma.
"Não, mas pode confiar nele. Dr Leekie é muito inteligente." Declarou.
"Ele é, não é?" Forcei minha vista um pouco mais, notei a discreta marca da agulha. Seja lá o que Aldous havia injetado, ele não queria que ninguém notasse.
"E você gosta dele, Charlotte?" Estava curiosa demais para entender essa relação entre os dois.
"Sim! Ele é legal, me dá vários presentes. A única coisa que não entendo é o porquê não posso chamar ele de pai." Declarou confusa, "Ele me criou, me ensinou a falar, a andar, ele até me dá aulas já que não posso ir à escola."
"E por que você quer chama-lo de pai?" Questionei interessada.
"Porque se ele não for meu pai, quem seria, então?" Seus olhos eram um ensaio do mais puro abandono.
"Se eu soubesse, te falaria." Confessei, "E o que você acha de Dra. Cormier?"
"Eu nunca a vi pessoalmente, só sei que ela é mais inteligente do que Dr. Leekie, pelo menos é o que ouço falar." Não pude segurar o riso.
"Sabia que hoje é aniversário dela?" Interroguei levantando as sobrancelhas.
"Sério! Eu adoro aniversários!" Clarificou, "Você é amiga dela?"
Merda, como explicar minha relação com Delphine para uma criança nascida e crescida em um aquário?
"Sim, somos amigas, grandes amigas." Expliquei sutilmente.
"Então ela pode ser minha amiga também." A inocência é uma ameaça imatura.
"Sim, ela pode! Depois eu trago ela aqui pra te conhecer." Informei.
"Você me traz bolo também?" Acho que nunca sorri tanto com uma criança assim.
"Pode deixar!" Prometi com meus olhos antes de ir embora.
Lacrei a porta, suspirei fundo consumida por alegria, porém com uma pitada de preocupação.
"Dra. Niehaus, o que faz aqui?" Merda! O velho babão tinha que aparecer.
"Só passei para checar minha paciente." Expliquei.
"Você não é médica, é cientista. Ela não é sua paciente, é sua cobaia." Juro que não sei o que Delphine viu nesse babaca.
"Desculpe." Odeio ser escrava de protocolo.
"Sem problemas, apenas lembre-se do que falei sobre as prioridades de nosso experimento." Impossível esquecer, seu otário.
"Os Bernes são o foco, e não curar os problemas do mundo." Repeti suas distorcidas palavras passadas.
"Muito bem." Ironizou em resposta ao meu sarcasmo.
Dr. Leekie virou-se para seguir caminho, porém antes quis me dar um gostinho de sua cruel personalidade.
"Ah! Cosima." Encarei sua enrugada face, "Recebi o email do RH...parabéns por seu relacionamento, agora oficial, com Delphine."
"Obrigada." Só que não.
"Não se esqueça, também, Delphine não deixou de ser Dra. Cormier." Ameaçou no escuro e continuou a caminhar até o quarto de Charlotte.
Eu odeio esse cara.
A pequena menina correu até os braços envelhecidos de meu chefe. Se ao menos ela soubesse o quão mentiroso e egoísta seu "pai" é.
Engoli minha raiva à seco e segui até o elevador. Ao abrir das portas, encontrei a serena estrutura de Mud. Fazia tanto tempo que não conversávamos apenas nós duas.
"Hey!" Sorri alegremente, "Obrigada por me ajudar com as coisas hoje."
"Sem problemas, doutora." Eita! Seu tom era quase tão esquisito quanto sua vazia expressão.
"Fico te devendo umas cervejas, pode ser?" Indaguei.
"Seria bem legal, mas..." Foi interrompida pela abertura das barulhentas portas.
"Bom dia, meninas." Delphine e seu aterrorizante jeitinho adentraram o elevador.
"Dout-Doutora." A estagiária ficou pálida feito fantasma, "Feliz aniversário."
Tenho certeza que a lunática da minha namorada fez alguma coisa com a pobre coitada da Mud.
"Obrigada, mocinha." Respondeu sorrindo. E que sorriso lindo.
"Estou atrapalhando a conversa de vocês, né? Ficarei aqui no fundo. É só fingirem que não estou por perto." Delphine é uma mulher sensata, mas tem algumas vezes que ela se supera na infantilidade.
"Na verdade." Mud segurou as portas, "Eu preciso descer aqui." E rapidamente sumiu de vista.
"Espera!" Gritei em vão.
Eu nem precisei me virar para ver que Cormier segurava seu maléfico riso com a maciez de sua mão.
"Sua doida, o que você fez com a coitada?" Questionei ainda encarando o tom metálico em minha frente.
"Nada." Puxou meu corpo em sua direção e arrumou o liso de seus cabelos, "Apenas tivemos uma conversinha."
"Sua maluca!" Declarei bufando.
"Não, Cosima..." Socou o botão de emergência fazendo com que o elevador parasse drasticamente. Encurralou meu corpo entre seu domínio e a gelada estrutura, limitando nosso espaço. Com um braço me cercando pelo canto e uma mão em minha cintura, Delphine pressionou nossas anatomias com força, "Sou SUA maluca."
Já devo ter mencionado mais de mil vezes, porém...
EU ODEIO O QUÃO FRACA ME TORNO POR ESSAS COISAS QUE "DRA. SENSUAL PRA PORRA" FAZ COMIGO.
Ela ameaçou beijar meus lábios, tocava superficialmente neles, o que lubrificava ainda mais meu sex*.
"Agora sou sua maluca, oficialmente. Acabei de entregar seus documentos no RH." Agressivamente mordeu meu tremulo beiço inferior.
Nenhum de meus nervos cooperaram com meu fajuto autocontrole. Meus músculos tencionavam e relaxavam em confuso ritmo. Minha vagin* escorria loucamente enquanto apenas a ideia de sentir-me devorada por Delphine, viajava em minha excitada mente.
Fechei meus olhos e me deixei levar por todo àquele êxtase descaradamente promíscuo.
Sem que pudesse notar, Cormier apertou o botão novamente, e então despertei com o movimento violento do elevador. As portas se abriram e minha chefe se retirou. Eu a observei rebol*r até sua intocável sala.
Respirei fundo, ajeitei minhas coisinhas, controlei meu tesão e segui caminho até o laboratório.
Levei um certo tempo para me concentrar no que estava fazendo. Conforme os ponteiros trabalhavam, eu ficava cada vez mais ansiosa para a festa surpresa. Contei os segundos até o horário. A equipe inteira, discretamente, deixou o local para ir ao lounge. Após alguns instantes sozinha, fui ao encontro de minha namorada. Ela revisava os exames cautelosamente, mal notou minha presença em sua frente.
Tossi propositalmente para ganhar atenção.
"Oi, amor!" Levantou a cabeça, "Já está indo almoçar?"
"Sim, mas antes..." Aproximei-me de maneira sensual, "gostaria de terminar o que começamos no elevador."
Suas finas sobrancelhas reagiram em sincronia com suas expressões faciais.
Delphine se levantou e veio ao meu encontro.
"Então você quer mais?" Puxou meu corpo contra o seu.
"Não temos câmeras ou olhos para nos observar lá no lounge." Anunciei após beijar seus lábios carnívoros.
"Hum, não quer fazer aqui?" Questionou sedenta, "O que houve com sua coragem e audácia?"
"Estão guardadas para depois." Declarei em tentação.
Atiçada, Dra. Cormier me seguiu, sem conhecimento, até sua festa de aniversário.
Abri a porta cuidadosamente, adentrei o local com rapidez.
"Surpresa!" A equipe inteira saltou, gritando.
Imediatamente, olhei na rosada face de minha namorada. Sua boca estava levemente aberta e seus olhos redondos ficaram ainda mais lindos.
"Não acredito." Exalou em choque.
"Parabéns, meu amor." Pousei um delicado beijo em sua bochecha vermelha.
Delphine estava em um conflito por não saber se estava contente com a festa ou desapontada por nos trans*rmos. Entretanto, logo, todos começaram a conversar e a comer. Após o parabéns, o pessoal fez a entrega dos presentes e continuaram aproveitando o horário de almoço.
Eu comia meu terceiro pedaço de bolo, quando notei a aproximação de Dr. Leekie.
"Dra. Niehaus." Acenou com a cabeça, "Espero que não tenha levado para o lado pessoal."
"Perdão, mas não entendi o que quis dizer." Confessei em confusão.
"Minha história com Delphine é antiga e eu te admiro como cientista, mas temo por você ser um pouco destemida demais." Tomou um gole de sua bebida, "Participei na criação de Charlotte, e eu desejo a cura de sua doença, porém esta não é minha maior preocupação."
"Eu já entendi, Doutor." Além de velho e egoísta, desconfio que Leekie seja surdo também.
"Estamos entendidos?" Questionou por fim.
"Com certeza." Retruquei ponderando no sarcasmo.
A festa terminou depois de alguns minutos, a tarde foi ligeiramente se despedindo, e ao fim do expediente, eu ainda tinha uma promessa a cumprir. Busquei por minha namorada e a levei para conhecer Charlotte.
Levei bolo e donuts para minha nova amiga, quem ficou deslumbrada pela presença de Dra. Cormier.
"Você é linda." Elogiou a Francesa.
"Hum, muito obrigada, você também." Delphine respondeu sem tirar o sorriso no rosto.
Nós três conversamos e brincamos por muito tempo. Meu coração tornou-se mais leve e puro ao observar Cormier e Charlotte. A alegria naquele lugar era indescritível, era algo tão doce que ao partirmos de lá pude sentir o amargo da despedida.
"Eai, o que achou?" Indaguei curiosamente.
"Acho que estou apaixonada por Charlotte. Não acredito que levei tanto tempo para conhece-la." Confessou risonha.
"Que bom!" Suspirei aliviada, "E ai, vamos pra casa?"
"É o que mais quero, só que Nealon e Aldous estão à minha espera." Informou desapontada.
"Ah! Tudo bem, então. Te vejo mais tarde." Nos beijamos oficialmente destemidas, a melhor sensação do mundo.
Solicitei um Uber até o apartamento, e me deparei com o vazio de não ter minha namorada comigo, a pior sensação do mundo.
Bolei um baseado sentada na sala, logo, deliciosas ideias invadiram minha criativa mente.
Procurei pelos armários, velas e essências. Tomei um banho rápido, vesti uma generosa lingerie, ascendi incensos e as velas que encontrei. Selecionei uma playlist, e ao som de "I Put a Spell On You" por Annie Lennox, Delphine abriu a porta.
Estrategicamente aterrissei meu corpo contra a parede. Meus seios, curvas e pernas estavam completamente disponíveis para que minha chefe fizesse o que bem entendesse.
"Esse é, de longe, meu melhor aniversário." Trancou a porta, mordeu os lábios, jogou seu casaco e bolsa ao chão, e veio salivando em minha direção.
Apertou-me contra a parede, lambeu meu pescoço por inteiro, meu torso sorrateiro, e com dedos festeiros, fincou suas unhas em minha epiderme.
Seus lábios beijavam os meus, suas mãos salientavam meu corpo, seu joelho esfregava em minha vagin* semi-exposta. Nossas línguas, em harmonia, brigavam pelo controle.
"Vou te devorar, Cosima." Pressionei meus olhos.
Levantou minhas estruturas com força, então embrulhei minha amada com minhas pernas bambas. Uma mão arranhava minha coxa, a outra apalpava meus glúteos. Removi sua formal camisa enquanto Delphine caminhava até nossa cama, onde fui lançada sem piedade.
Cormier permaneceu parada em minha frente, ela me observava com olhos perdidamente apaixonados.
"Não vai vir aqui?" Questionei.
Ela não me respondeu, apenas se desfez de suas vestimentas, e novamente, porém completamente nua, ficou à me observar.
"Cosima." Umedeceu seus belos beiços boêmios, "Eu te amo, e continuarei te amando até minha respiração acabar, até o último de meus dias."
"Então vem aqui comigo." Estendi meus braços para acomoda-la.
Toquei em seus pequenos pontudos seios, mordisquei seus francos frágeis mamilos, lambi sua palpável pálida pele, e por fim degustei o sensato sabor de nosso amor.
Não escolhemos a quem amar, tampouco controlamos os acasos da vida. Entretanto, somos responsáveis por cada uma de nossas ações e decisões. Um romance só é romântico quando passa a ser acidentalmente idealizado. Não enxergamos os conflitos, não calculamos as consequências, nós apenas nos enrolamos no desenrolar da trama. O maior vilão da obra é a impulsividade em escrever palavras desnecessárias nas páginas em branco. Tanto a inspiração quanto a paixão não podem ser forçadas, elas tem de ser naturais, singelas, puras.
E em algum quarto escuro, ao som da criatividade, há um escritor e seu computador, ou talvez um caderno em tempos modernos, quem sabe ao certo? Ele descreve cenas que só existem em sua cabeça, ele cria diálogos que nunca serão reproduzidos, ele relata fatos irreais em texturas leais. Suas personagens têm vida, cor e rima, porém são ausentes fora do mundo ficcional. Entretanto, tal circunstância não diminui ou anula o que cada uma delas sentem. As personagens podem até ser fruto da mais distorcida e pura imaginação, mas eu garanto que em um contexto bem distante daqui, elas existem, elas falam, elas são capazes de sorrir, de cantar, dançar, se aventurar, e até mesmo são capazes de amar muito mais do que personagens em suas vidas reais.
O livro que conta minha história com Delphine ainda não foi finalizado. O autor toma cuidado para não deixar passar um só detalhe a relatar. Ele sente e prevê que quanto mais próximo o fim está, saudade e nostalgia nossa estória irá causar. Ele não se empolga, mas ainda assim perde noção das horas. Escreve e apaga, retoma e conta, pontua e acentua, e mesmo cometendo erros lexicais e gramaticais, a estória, ele continua. Capa capítulo leva um nome, cada linha expressa um pensamento, e cada uma de suas ideias vêm e vão de acordo com um indeterminado momento. Sua inspiração é o que o move. Suas palavras, às vezes, não são mensuradas. Contudo, enquanto suas mãos não doerem, enquanto sua coluna não pesar, escrevendo ele irá continuar, até o final do último ponto final, o autor não abandonará a obra que talvez a nenhum leitor agradará.
Fim do capítulo
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