Clara sempre foi o tipo de garota que nunca mostrou para muitos, principalmente para a família, quem ela realmente era.

Ficava com a cara enfiada naquele celular o dia todo, seja falando com o noivo, seja se atualizando nas redes sociais.

Ah! O noivo... Aquele ser humano que, até o momento, era quem fazia seu mundo ficar mais feliz. Conheceram-se através de um amigo e mantiveram contato. Talvez por ter passado muito tempo sem se relacionar de forma intensa com alguém, Clara se apaixonou por ele.

Enfrentou toda sua família, pois ela era quinze anos mais nova que ele. Após um ano e meio de namoro, veio o pedido de casamento, inesperado, porém aceito...

Entre planos e mais planos, eles morariam juntos antes de se casarem, pois o trabalho trouxe a necessidade dele mudar para uma cidade muito distante e Clara estava disposta a acompanhá-lo.

Tinham uma boa relação, não brigavam constantemente e sempre resolviam as discussões da melhor forma possível. Ela não conseguia pensar em uma vida com mais ninguém além dele.

Até um certo dia...

Um dia como outro qualquer.  

Clara acordou naquela linda manhã de Sexta-feira, tomou seu banho e foi até a cozinha preparar o café da manhã. Não fazia a mínima ideia do que iria acontecer. Apenas mais um dia simples...

Era muito fã de uma famosa saga, escrita pela brilhante J. K. Rolling, a saga que contava a história do bruxinho Harry Potter. Estava acostumada a entrar e sair de grupos no whatsapp que tinham como integrantes fãs da saga.

Essa saga é composta por oito livros, dos quais Clara havia lido apenas sete, pois não tinha como comprar o oitavo até o momento. Seus novos amigos virtuais adoravam falar sobre o último livro, porém Clara nunca se encaixava no papo.

Viu que algumas pessoas haviam comentado que tinham lido pela internet e pediu que alguém lhe mandasse o arquivo.

Alguns minutos depois, Clara percebeu que havia recebido uma mensagem de alguém que não estava em sua lista de contatos.

Abriu a mensagem e viu que era alguém do grupo. Foi olhar a foto para ver quem era e pensou “Nossa, que guri gatinho...”. Viu que era um dos contatos que conversava sempre no grupo e agradeceu:

-Valeu, cara!

-De nada, mas eu sou uma guria.

Aquela resposta, não era a esperada. Clara abriu a foto novamente e não acreditou, perguntou se era verdade e a resposta foi sim.

Daquele dia em diante, não houve um dia sequer, que elas não se falassem. Do bom dia, ao boa noite.

Eram conversas que duravam horas...

A cada dia elas se conheciam mais e mais.

Clara se encantava com a personalidade forte de Vitória. Com a inteligência e com todos os outros detalhes que ela apreciava.

Vitória aos poucos ia, sem perceber, se afeiçoando ao jeito meigo, carinhoso, meio doido e único da Clara.

A nossa história começa bem ali, naquele momento onde duas pessoas completamente opostas começaram uma ligação única e maravilhosa.

Se tornaram amigas em pouquíssimo tempo.

Criou-se uma confiança enorme de uma para com a outra, daquelas que mesmo sem nunca terem se visto, confiariam segredos e histórias que não confiaram a mais ninguém.

Aos poucos, Vitória se tornou uma das raras pessoas que conheceram Clara como ela realmente é.

Clara permitiu que Vitória enxergasse seu melhor e seu pior lado, ela se permitiu ser desvendada e se deixou levar...

Até então era apenas uma nova amizade... mas, era daquelas que nasce do nada e acaba se tornando tudo.

Clara vinha enfrentando (já há algumas semanas) problemas em seu relacionamento e decidiu conversar com Vitória e pedir sua opinião.

Contou a história do início, desde quando se conheceram, a primeira vez que se encontraram, o pedido de namoro, o de noivado e os problemas atuais. Clara estava levando o relacionamento sozinha, pois seu noivo não estava se importando, nem dando a devida atenção às suas responsabilidades. Ela havia agilizado tudo, para poder se mudar e começar sua vida ao lado dele, porém ele não resolvia o lado de lá.

Vitoria, mesmo não querendo se envolver na situação, aconselhou Clara a conversar com o noivo e procurar saber uma resposta completa e satisfatória.

Depois de muitas conversas e muitos conselhos, Clara decidiu conversar com o noivo e resolver de vem a situação.

Ligou para ele e falou sobre o que queria falar mas ele, como sempre, mudou de assunto e decidiu não dar importância.

Algumas horas depois, Clara decidiu dar um passo muito importante: terminar o relacionamento.

Ligou para o noivo, porém, ele não atendeu. Ligou novamente e nada...

Decidiu então digitar a seguinte mensagem: Eu não estou disposta a levar um relacionamento sozinha. Ele tem que ser baseado em confiança e reciprocidade, e você não está sendo recíproco comigo. Eu gosto muito de você, mas entre ficar sozinha e viver com alguém nas minhas costas, que não me dá a devida atenção, eu prefiro terminar com você agora. Adeus

Ele passou três dias sem dar uma resposta e Clara, orgulhosa e decidida, esperou que ele à procurasse. Conversou com Vitória durante esses 3 dias e ela tinha a mesma opinião: Ele devia procurar.

Três dias depois ele liga e tenta consertar as coisas. Disse que não ligou e nem falou antes, por medo de ouvir as palavras da mensagem vindas da boca de Clara.

Ela, por já ter sofrido muitas decepções, não deu o braço a torcer. Manteve-se firme em sua decisão (Por outros motivos também, mas que não a influenciaram tanto quanto a decepção e sensação de abandono). Ele argumentou, tentou dissuadi-la, porém foi tudo em vão. Clara havia aprendido a pensar em si mesma antes de pensar nos outros.

Quando desligou a ligação, ligou para Vitoria automaticamente. Contou sobre a conversa e desabafou tudo o que sentia. Vitória ouviu e disse que ela havia feito a coisa certa... Depois de alguns segundos de silêncio, veio a frase que deu um total sentido à tudo o que Clara havia feito.

Vitória: Eu preciso te contar uma coisa!

Clara: Achei que a ligação havia caído. Pode falar.

Vitória: Eu estou apaixonada por você!

*Silêncio...

Clara: Eu também, por você.

Fim do capítulo