Nadia O final de semana chegou rapidamente, a revista havia me dado uma dor de cabeça a semana toda, era muito trabalho atrasado, pessoas incompetentes e matérias ruins, precisava de algo novo que desse um Up na Diária, afinal eu mesma como diretora já estava farta daquele mesmo blá blá blá de sempre, imagina os leitores. Estava cansada, estressada, e minhas noites continuavam uma porcaria com insônia, havia passado os últimos dias da semana, remoendo não o final do meu casamento como era de se esperar, mas sim os acontecimentos de quarta a noite. Sorvi mais um gole do whisky com gelo que estava em meu copo, encostando em seguida a testa na janela enquanto observava as mesmas árvores de sempre, balançando devido ao vento que se fazia presente do lado de fora. Sorri enquanto chegava a conclusão de que já não pensava mais em Douglas e sim na sua amante, admitia a mim mesma que de longe seu beijo havia sido o melhor de toda minha vida, e não seria sacrifício nenhum repetir. Então mentalmente fiz um brinde às loucuras que estava disposta a cometer em nome da vingança. Me joguei na cama com o notebook nas mãos, abri o facebook e pesquisei por "Júlia", no entanto, as informações eram muito vagas para encontrá-la. -- Mas que droga! Júlia do quê?? Entrei nos meus amigos, mas definitivamente ela não deveria ter nenhum em comum comigo, afinal ela vinha de uma realidade completamente diferente da minha, se bem que não combinava em absolutamente nada com a vida de pobretona que levava. O jeans rasgado que ela vestia quarta-feira, dava um ar jovem assim como o all star comum e a jaqueta simples a deixavam com cara de colegial, mas confesso que fiquei imaginando o espetáculo que ela deveria ficar, em um terninho com blazer acinturado ou talvez num vestidinho preto da Gucci. -- Mariana!!! Disquei ansiosa o número de Mariana, e pra ajudar ela levou um década pra atender. -- Ta fodendo que não atende essa porr*? -- "Oi! É...é...ela está no banheiro, pediu pra eu atender..." Realmente ela estava trans*ndo, a voz gaguejante do homem que atendeu deixava claro que havia atrapalhado alguma coisa. Continuei na linha aguardando. -- "Obrigada Lucas. Alô?!" -- Ah, então é o loirininho de quarta a noite com quem você está fu... -- "Não seja bocuda Nadia, nem invasiva." -- Ai, ai, desculpe-me pela indiscrição. Mas você realmente estava. -- "Estava, mas não precisa ficar falando disso." -- Ok! Liguei porque preciso de um favor teu. -- "Qual?" -- Preciso do endereço da ruiva amiga do loirinho que está ai contigo. Aproveita a presença dele e já pergunta. -- " Pra que precisa?" -- Você está sendo invasiva agora... -- " Fiquei curisosa, vai dar um emprego a ela?" -- Porquê eu daria emprego a ela? Por acaso ela é jornalista? -- "Não! Achei que ela tivesse pedido já que vocês conversaram um monte." -- Quem disse que conversamos? -- "O peguete dela." Aquele exibido escroto, eu não conversei com ela, eu beijei ela. -- Não é emprego. Pergunta logo ai. -- "Tá." Além de tudo o imbecil ainda era fofoqueiro. -- "Capão Redondo, rua Nícola Florentino, apartamento 12 do prédio amarelo de 4 andares. Mais alguma coisa?" -- Não! Já pode voltar pro boy magia. Obrigada. Levantei correndo da cama, vesti o primeiro casaco que encontrei no closet e sai as pressas, afinal ela morava bem longe de mim. * * * * * Júlia Minha cabeça estava rodando, estava bêbada pela terceira vez aquela semana, pois sem emprego não me restava mais nada a não ser aproveitar o tempo livre e encher a paciência de Alessandra, que por sinal havia saído um pouco mais cedo de casa porquê já não me aguentava mais. Desde a última quarta-feira quando beijei uma mulher pela primeira vez, e não conseguia mais tirá-la da cabeça, tenho bebido toda noite tentando ordenar os pensamentos e os últimos acontecimentos, que de tão absurdos estão me enlouquecendo. À três dias atrás, Douglas era de longe meu maior problema, pois não largava do meu pé nenhum segundo sequer, também havia Emerson que o tempo todo queria repetir a burrada que fiz ficando com ele, mas ele não era tão incômodo assim já que mulherengo como era tinha outros esquemas pra se entreter. No entanto, a ex de Douglas havia se tornado o meu maior problema, nem mesmo o fato do desemprego havia me deixado tão abalada ou ansiosa como ela havia feito, não dava pra esquecer o jeito nervoso que me tocou ou beijou, era inexplicável. Sai do torpor que me encontrava quando a campainha tocou. Quem diabos estava na minha porta aquela hora? Sai aos tropeços receber a visita, resmungando um monte de palavrões. Abri a porta e não me surpreendi nenhum pouco com o rosto que vi. -- Antigamente se ligava antes de aparecer na casa dos outros... -- Que isso princesa?! Não acredito que ainda ta bravinha comigo... Deixei a porta aberta para que entrasse, e voltei para o conforto do meu sofá jogando-me sobre ele. -- A sua amiga?...ela está em casa? -- Não! E não deixou recado pra você... -- E porquê deixaria? Gargalhei, ele achava mesmo que Alessandra não ia me contar, que quinta-feira a noite eles se encontraram em uma boate e acabaram trans*ndo? -- Qual é? Acha que eu não sei de vocês dois? -- Você está bêbada Júlia. Nem vou dar ouvidos ao que está falando. -- Aham! Sempre achando que os outros são idiotas. Finalmente Emerson entrou, fechando a porta atrás de si apanhando em seguida o latão de Polar que eu segurava na mão. -- Tem mais? -- Na geladeira. -- Vou pegar uma, e vou no banheiro também. Assim que Emerson saiu da cozinha e entrou no banheiro, a campainha tocou mais uma vez. Bufei, quem merd* seria agora? Levantei contra minha vontade, indo abrir a porcaria da porta antes que o filho da égua estragasse a campainha já que não tirava o dedo dela. Abri a porta com a cara mais emburrada que consegui, deparando-me com ninguém menos que Dr Douglas Monteiro, segurando um escandaloso buquê de Tulipas rosas e brancas. -- Estava com saudade Ju. Não consegui falar nada, fiquei ali feito uma demente me desgraçando mentalmente, porque já não bastava o Emerson pra encher meu saco, ainda tinha que aparecer ele? Com aquela cara de cachorro abandonado, achando que me comoveria? Até comoveria se fosse uma semana atrás, antes que eu tivesse conhecido a sua ex mulher. -- Merda! Deixei-o na porta assim como havia deixado Emerson, voltando ao meu tão maravilhoso sofá, com os pensamentos voando até uma certa baixinha de olhos azuis, que por sinal era ex do babaca logo ali, e estava mexendo com minha sanidade. -- Que merd*! Mal tive tempo de fechar a boca e a campainha tocou mais uma vez. -- Mas que porr*! Será que todo mundo resolveu me encher a paciência hoje? Levantei pronta pra mandar pro quinto dos infernos seja lá quem fosse, mas antes de chegar girar a maçaneta da porta que Douglas havia acabado de fechar, eis que Emerson surge na sala com seu latão de Polar na não, resmungando um tal de... -- Quem era na porta meu amor? Virei o rosto na direção deles, sem ter tempo de responder nada pois Douglas rapidamente partiu pra cima de Emerson socando seu rosto. -- Que merd*! Continuei agarrada na maçaneta da porta enquanto assistia os dois se embolando no corredor, qual mais qual tinha mais gana em estrangular o outro e tudo isso sem sequer saberem porque, pois eu não tinha nada com nenhum deles, mas eles não entendiam isso não é? Merda de novo, minha cabeça estava doendo com tudo aquilo. * * * * * Nadia Quando cheguei no prédio onde Júlia morava, fiquei um tanto intimidada ao descer do carro, o bairro era de classe baixa e definitivamente uma SUV importada como a minha chamaria bastante a atenção, mas eu estava decidida a por meu plano em prática, então segui em frente. Toquei a campainha e aguardei, acabei ouvindo mesmo que sem querer o "bafafá" que rolava no interior do AP, dava claramente pra perceber que uma briga estava acontecendo ali, e por frações de segundos me preocupei achando que Júlia poderia estar envolvida, voltei a tocar a campainha. Quando Júlia abriu a porta no segundo toque, simplesmente deixei de ouvir os ruídos e as vozes alteradas no fundo, foquei simplesmente e totalmente minha atenção na menina mulher a minha frente, com o cabelo solto caído sobre os ombros, de legging preta e blusão de lã que as mangas cobriam até mesmo suas mãos, estava linda, absurdamente linda com a pele avermelhada nas bochechas e com os olhos miudinhos como se estivesse...bêbada. As vozes no fundo voltaram com força até meus ouvidos, voltei a mim no momento que constatei que ela estava bêbada e que um pouco mais atrás no corredor do AP, era Douglas que se embolava feito marginal com o exibidinho da noite de quarta-feira. O quê diabos estaria acontecendo ali? Um ménage? E porquê ela estava bêbada? Eu não gostei nenhum pouco de seja lá o que estivesse a acontecer. -- Nadia... Júlia balbuciou meu nome, com os olhos arregalados como se estivesse vendo o próprio demônio a sua frente, e talvez naquele momento eu realmente fosse, já que ela sabia que eu era mulher do homem pra quem ela estava dando e este homem estava dentro da sua casa, aos socos e pontapés com outro homem com quem ela também estava envolvida. Fechei a cara pros meus próprios pensamentos, fingindo não ter reconhecido Douglas ou o talzinho ali. -- Quem são aqueles que estão se matando no seu corredor? -- Ah...ah...são, são meus irmãos. Júlia cuspiu a primeira desculpa deslavada que surgiu na sua mente nada sóbria, fechando a porta atrás de si nos deixando do lado de fora do apartamento, impedindo-me assim de continuar vendo os dois. -- Eles vão se machucar... -- Normal. Eles vi...vivem fazendo isso. -- Hum! -- E você o que tá fazendo aqui? Sorri, ela nem disfarçava a perturbação que minha presença estava lhe causando, então como eu também não fazia a menor questão de que Douglas ou o outro me vissem ali, e estragassem meus planos antes mesmo de começarem, resolvi mudar de assunto. -- Vim te buscar pra sair. -- Ótimo. Ri ainda mais, quando de imediato ela começou a andar em direção a saída do prédio, deixando os dois do lado de dentro sem esboçar a menor preocupação com eles.

Fim do capítulo