Capítulo 4 Sensações
Nadia
Respirei fundo, respirei fundo várias vezes em sequência, pisquei rapidamente tentando desembaçar os olhos na esperança de não ver o que estava vendo. Não era Douglas ali, não era mesmo o meu marido diante de mim completamente embriagado, tentando insistentemente um diálogo com a ruivinha amiga de Mariana, que claramente não fazia a menor questão daquele encontro. Me aproximei um pouco mais na tentativa de entender o que realmente se passava diante dos meus olhos, no entanto, eu não esperava presenciar aquele diálogo patético entre os dois.
Engoli seco, engoli o gosto amargo da traição, da vergonha, do desprezo e principalmente do orgulho ferido. Então aquela ruiva era a tal biscate por quem ele se apaixonou? Com quem ele me traiu e por quem ele me trocou?
Mantive os pés firmes no chão apesar da tremedeira que tomava conta das minhas pernas, fiquei ali imóvel o vendo se declarar e insistir por qualquer minuto que fosse de sua atenção. Respirei fundo uma última vez afastando-me dos dois, meu corpo tremia e a raiva tomava conta de cada veia do meu corpo, minha vontade era voar naqueles dois e bater com toda minha força, chingá-los com todos os palavrões possíveis ou matá-los com minhas próprias mãos, mas eu não faria isso, era mesquinho demais, fraco demais, minha vingança teria que ser maior, teria que ser inesquecível praqueles dois.
Voltei para a mesa me juntando com os demais, carregando um sorriso frio e falso no rosto, meus neurônios estavam a mil tentando bolar um plano maligno de vingança, mas devo confessar que nada além de assassinato e mutilação surgiam na minha mente.
* * * * *
Júlia
Que porr* de saudade o que? Deixei Douglas falando sozinho e entrei no banheiro, estava com os nervos a flor da pele, já não bastava ter a mulher dele logo ali, ainda aparecia ele pra me enlouquecer de vez. Respirei fundo apoiada na pia.
-- Mas que porr* ele tem na cabeça?
A pergunta fora proferida em voz alta, a moça que estava ao lado até pensou que estava a falar com ela, mas nem dei atenção quando ela me questionou com quem eu estava falando. Sacudi a cabeça com um sorriso idiota que não conhecia no canto da boca, que diabos Douglas havia visto em mim pra deixar uma mulher daquelas por alguém como eu? Eu não tinha nada, não tinha onde cair morta, não tinha a classe, a elegância ou o estudo que ela tinha, não tinha aquele sorriso lindo, nem aquele corpo perfeito de quem passava horas malhando. Sorri mais uma vez ao constatar que os homens realmente são uns tolos.
Voltei pra mesa um pouco constrangida com a situação, louca pra inventar um pretesto pra sair logo dali. Ao me acomodar ao lado de Emerson senti o olhar de Nadia sobre mim, passei os olhos nela e senti o ardor com que me encarava fazendo meu corpo se arrepiar. Tossi disfarçando, olhando para o par de olhos negros ao meu lado, sorri encarando ele com a sensação de que continuava sendo observada, então aproveitei cochichando em seu ouvido.
-- Me leva pra casa?
Emerson sorriu, passando claramente suas segundas intenções naquele sorriso, ou talvez eu tivesse passado segundas intenções no meu pedido.
-- Bom pessoal, pra nós já deu! Eu e minha linda vamos acabar a conversa em casa.
O pessoal riu, todos ali entenderam a conotação em sua frase. Ergui os olhos sorrindo um tanto constrangida, mas feliz por estar saindo logo dali.
-- Foi um prazer conhecê-los!
Mariana cumprimentou-nos cordialmente agradecendo a companhia, Lucas também se despediu dando a entender que voltaria pra casa de táxi, ou talvez nem voltaria já que a sintonia entre eles era forte. Por fim, Nadia levantou-se comunicando que também estava de saída, que no dia seguinte teria muito trabalho e não poderia dormir muito tarde então, nós três nos dirigimos pro estacionamento tendo Emerson com seus dedos entrelaçados nos meus.
* * * * *
Nadia
O que faria com que Douglas sofresse o mesmo que sofri? O que faria com que sentisse a vergonha que senti? Eu devolveria na mesma moeda, eu os faria passar pelo mesmo que passei. Fixei meus olhos naquele homem que seguia a frente da biscate, ele era um pobre exibido, era insuportável, era promíscuo mas era bonito, dava pra encarar facilmente. Então, apressei o passo aproximando-me do casal incerta do que realmente iria fazer, ficar com aquele rapaz não faria com que Douglas sofresse, não se ele realmente não sentisse mais nada por mim, no entanto a ruivinha parecia estar interessada no garotão, e no momento atingi-la era o que mais parecia importar.
O bar estava lotado, Emerson parou próximo da saída pra cumprimentar um outro rapaz deixando Júlia um pouco de lado, um outro moleque esbarrou em mim fazendo com que me aproximasse ainda mais dela, e sentisse o perfume suave que vinha do seu corpo, era um perfume barato provavelmente, mas combinava com ela.
Sorri, um sorriso filho da puta que eu conhecia bem, eu estava instigada, meu corpo estava quente, excitado com a situação, eu queria acabar com aquela palhaçada que estava prestes a acontecer. Segurei-a pelo braço descaradamente, cochichando em seu ouvido.
-- Vem comigo!
Não esperei resposta, sai do bar trazendo-a pela mão, deixando o exibidinho pra trás. O frio se fazia presente, o vento gelado fez com que eu apertasse sua mão na minha instintivamente, segui pela calçada até onde estava meu carro sem olhar pra trás, sentia que as coisas estavam saindo do controle mas não conseguia parar e me concentrar, já não sabia o que estava fazendo, afinal o plano era roubar o garoto dela e nesse exato momento era ela quem estava comigo.
Destravei a SUV soltando finalmente de sua mão, abri a porta do carona fazendo um gesto para que entrasse no carro.
-- Eu disse pra entrar!
-- Eu...eu não vou entrar...
Encarei-a pela primeira vez desde que deixamos o bar, seus olhos verdes estavam arregalados, os cabelos ruivos esvoaçantes devido ao vento frio que a fazia se encolher. Suspirei, eu deveria estar bêbada ou completamente louca, não sabia explicar nem entender os motivos que me faziam ter aqueles tipos de pensamentos no momento, mas eu estava completamente excitada pela figura femina a minha frente.
-- Mas que merd*! Está um puta frio aqui fora, entra logo!
-- Porquê? Por...porquê tenho que entrar? Cadê o Emerson?
Bufei, ela estava mesmo preocupa com a porcaria daquele imbecil? O Douglas até dava pra entender, mas aquele moleque? Fiquei completamente irritada com aquela situação, puxando-a pelo braço com um pouco mais de força empurrando-a na direção do carona. No entanto, a ruiva resistiu firmando os pés no chão e a mão livre em minha cintura, a situação fez com que Júlia acabasse por fim batento com as costas no carro, puxando-me pra ela, já que sua mão seguia firme em mim. Não dava pra acreditar, eu estava a um palmo do seu rosto, do seu rosto lindo de pele branquinha e olhos verdes, meu corpo ardia pelo dela, não dava pra entender nem negar, e eu jamais dizia não aos meus desejos.
Então eu a beijei, beijei com vontade, com desejo, com força, beijei apertando-a ainda mais contra o carro, contra meu corpo, beijei-a como se quisesse devorá-la ali mesmo, e eu realmente e queria, beijei-a despudoradamente apertando minhas mãos em seus corpo, apalpando-a, sentindo-a com ânsia, com ardor, com desejo.
* * * * *
Júlia
Tudo aconteceu tão rápido, eu estava com medo por que era óbvio que Nadia sabia quem eu era, e certamente não era nada bom o que ela tinha em mente quando praticamente me arrastou pra longe das pessoas, afinal pra todos eu não passava da puta barata que destruiu o casamento da famosa socialite Nadia A'dab.
No entanto, quando dei por mim eu já estava sendo invadida por sua boca afoita, suas mãos ousadas apertavam meu corpo como se a ela pertencessem, não houve tempo pra recusas ou questionamentos, não houve tempo pra reagir, porquê meu corpo parecia não querer reagir, apenas se entregar. Respirei fundo num pequeno intervalo de beijos que sua boca me dera, voltando logo em seguida a me entregar aquela sensação nova e extremamente excitante que estava vivendo. Minha mente não raciocinava mais, não fazia a menor diferença pra mim quem estava me possuindo, se era mulher, se era a ex de Douglas, já não importava mais, só sentia aquela boca linda me enlouquecendo.
Nadia interrompera o beijo para meu desespero, constragendo-me não apenas pelo fato de ter sido arrancada daquele torpor, mas também por ser obrigada a encarar aqueles olhos com milhões de questionamentos e acusações camuflados por entre o fogo que era quase palpável. Senti meu rosto arder ainda mais, ficamos alguns segundos em silêncio uma encarando os olhos da outra, até que o barulho de passos se fizeram presentes tirando-nos a atenção que no momento era uma da outra. Olhei rapidamente para o lado tendo o desprazer de avistar Emerson, com o sorriso convencido e escroto o qual já não suportava mais.
-- Danadinhas vocês! Onde pensam que vão sem mim?! Kkkk
Eu não sabia o que fazer, o que falar, pra onde olhar sequer se deveria continuar respirando.
-- Nos perdemos de você, então viemos pro carro.
-- Encontrei um amigo no bar.
-- Hum. Bom boa noite Emerson, até mais.
Fiquei ali perplexa, vendo-a contornar a situação como se nada tivesse acontecido, despediu-se do babaca ao meu lado com um olhar absurdamente vulgar, fazendo-me apertar com força o maxilar. Em seguida, virou-se pra mim dando-me um beijo que saiu mais na orelha que no rosto seguido de uma frase sussurrada.
-- Foi um prazer...Júlia.
Minha noite havia acabado, não que eu cogitasse a possibilidade de tê-la terminado na cama com Emerson, até porque definitivamente eu não queria nem olhar pra ele mais, no entanto, eu estava acabada, arrasada. O táxi me deixou na rua de casa, e eu deixei com ele meu último e sofrido dinheirinho, sai praguejando um monte de palavrões sem sentido, mal sabia eu que aquilo era só o começo do inverno, ou seria inferno?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
Comentários para 4 - Capítulo 4 Sensações:
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]