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If I should fall, perpetual run por JennyB

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Palavras: 18493
Acessos: 6888   |  Postado em: 04/08/2017

Notas iniciais:

Olá meninas, espero que ainda não tenham desistido de mim!

As vezes eu me atrapalho um pouco com o tempo, mas como eu disse, essa história terá um final :))

 

Fiquem atentas as passagens de tempo, por favor. E qualquer dúvida, podem me perguntar por aqui ou até mesmo pelo facebook ou instagram.

 

Um grande beijo à todas e boa leitura!

Capítulo 51. Lar doce Lar

Cinco meses após o despertar.

-- Emily, eu pedi que Anne viesse ficar com você hoje. Tudo bem? – Katrien fitou a filha que estava jogada no sofá, mass a ruiva estava tão focada na série de televisão que assistia, que sequer prestou atenção no que a mãe fala. Fazendo-a repetir. – Emily, meu bem... – Katrien enfiou-se entre ela e a televisão quando foi ignorada uma segunda vez, conseguindo, dessa forma, a atenção de sua filha.

-- Quê?

-- A Anne vai ficar contigo essa tarde. – Sorriu e completou. – Seu irmão está em uma reunião do escritório e não sabe a que horas vai chegar, e como eu estou indo ao supermercado agora, eu pedi à ela que viesse.

-- Mas... Mas por quê? – A ruiva deu de ombros, inconformada pelo fato de estar sendo tratada como uma criança. – Eu já consigo andar sozinha... Não preciso de uma babá ou coisa do tipo.

-- Filha, você acabou de conquistar isso... E eu ainda vejo você com algumas dificuldades... Por favor, eu prefiro que tenha alguém com você, pelo menos por enquanto...

-- Mas eu... – Katrien a interrompeu.

-- Eu ficaria menos preocupada se ela ficasse aqui.

 A ruiva arfou, percebendo que não tinha chances contra a vontade de sua mãe.

-- Ta bem. – Emily respondeu emburrada e cruzou os braços.

-- Até depois, teimosinha. – A mulher mais velha mandou um beijo para a filha. – Anne não deve demorar. Se comporte até lá.

Emily revirou os olhos, incrédula com as palavras finais de sua mãe antes de sair.

-- E mais essa agora... Vou te contar viu... – Resmungou enquanto tentava alcançar o controle da televisão que estava na mesa de centro da sala.

A ruiva trocou de canal algumas vezes até encontrar um filme que lhe parecesse interessante, e enquanto aguardava por Anne, comportadamente, como sua mãe havia pedido, ela acabou pegando no sono, despertando apenas quando ouviu alguns ruídos vindos da cozinha.

-- Quem está ai? – Emily resmungou em um tom rouco enquanto tentava se levantar do sofá, mas ninguém a respondeu.

A ruiva permaneceu sentada no sofá por alguns instantes sentindo-se zonza de sono por causa daquele cochilo, mas com a persistência daqueles barulhos na cozinha, era relutou e por fim se levantou, caminhando com certa dificuldade até a cozinha, deparando-se com Anne, que estava sentada sobre a bancada, fitando o micro-ondas como se esperasse ansiosamente para que, o que quer que ela estivesse preparando, ficasse pronto logo.

-- Você está aqui há muito tempo? – A ruiva caminhava para perto da bancada quando a questionou, fazendo-a tremer por conta do susto que havia levado.

-- Menina do céu!!! Você quer me matar do coração? – Anne havia levado as mãos rapidamente até o peito quando ouviu a voz repentina de Emily eclodir pela cozinha, e seu coração estava acelerado pelo susto.

-- Eu que te pergunto. – Usou um timbre debochado. – Vê se pode... Você entra na minha casa de fininho e eu é quem quero te matar do coração... Faz todo sentido. – Emily sorriu ironicamente ao fita-la.

-- Eu não entrei de fininho... – Anne observou que a ruiva havia levando uma das sobrancelhas enquanto a olhava, como se a questionasse, fazendo-a admitir a verdade. – Talvez um pouquinho...

-- É, talvez um pouquinho. – Ela repetiu as palavras da morena, deixando escapar um riso por conta da situação.

Anne mordiscou o lábio inferior durante um sorriso divertido e acompanhou a ruiva com o olhar pela cozinha, até que ela se escorasse na mesma bancada onde a morena estava sentada.

-- O que você está preparando de bom? – Emily levantou o olhar, tentando avistar, mesmo que de longe, o que havia dentro do micro-ondas.

-- A pergunta mais correta seria: “O que estou esquentando de bom”. – Anne sorriu vangloriando-se de sua esperteza. – A lasanha da sua mãe.

-- Aaaah – A ruiva deu ênfase, como se tudo fizesse sentido agora. – Ela é boa mesmo. Não é? – Anne apenas consentiu.

-- Eu trouxe algo para você. – O semblante da morena ficou sério. – Eu não sabia se você iria gostar ou não de ver... Mas eu achei melhor trazer e perguntar à você aqui.

-- O que é? – O olhar curioso da ruiva percorreu toda a cozinha, procurando por qualquer coisa de diferente.

-- Vem, eu vou lhe mostrar. – Anne desceu da bancada e segurou na mão da ruiva, fazendo-a a acompanhar até a sala. – Senta ai.

A morena foi até o cabideiro  ao lado da porta, onde sua bolsa estava pendurada, enquanto Emily se ajeitava no sofá, e assim que se sentou ao lado da ruiva, ela retirou da bolsa um objeto muito semelhante a uma pasta cheia de folhas.

-- É um álbum de fotos de quando ainda éramos do ensino médio... – A morena olhou atentamente para Emily, buscando naqueles olhos azuis algo que lhe desse permissão para prosseguir, e ao avistar o primeiro vestígio de curiosidade nos olhos dela, Anne não se conteve e foi logo abrindo o algum.

-- Isso era a gente? – Emily arregalou os olhos ao se deparar com algumas fotos delas mais novas.

-- É eu sei... A gente melhorou muito. – Brincou, fazendo-a rir. – Está vendo esse menino? – Anne apontou e prosseguiu quando a ruiva a questionou sobre o que tinha ele. – Ele foi seu primeiro namoradinho... – A voz completamente divertida e descontraída, e também a piscadela que ela havia dado à ruiva passaram despercebidas, de tão perplexa que ela havia ficado ao saber que teve um “namoradinho” no ensino médio.

-- Ele era bem gato. – Emily tentou segurar, mas acabou pensando alto demais. – Quer dizer então que eu sempre tive bom gosto? – Seus olhos arregalaram-se ao perceber o comentário estúpido que tinha feito, uma vez que, até agora, ela só sabia de duas pessoas com quem havia ficado: O tal garoto e Anne, que a essa altura já estava tão vermelha quanto seus fios de cabelo.

Emily fechou os olhos com força, buscando fugir do olhar de Anne enquanto tentava desesperadamente achar um jeito de mudar o assunto.

-- Qual era o nome dele? – A ruiva abriu os olhos cautelosamente, tentando verificar se Anne ainda a olhava.

-- Kevin. O nome dele era Kevin. – A morena sorriu tímida, desviando seu olhar do de Emily por breves segundos.

A ruiva sentiu suas bochechas corarem quando os olhos de Anne esbarraram-se com os dela novamente, fazendo-a olhar para  algum  canto imediatamente.

-- Que lugar era este e quem são essas pessoas? – Emily apontava para uma foto onde duas famílias pareciam estar reunidas. – São teus pais?

Anne forçou um sorriso naquela hora, sentindo um frio na barriga quando viu que a ruiva apontava para uma foto onde a família de Alice e a dela própria estavam juntas. Anne percorreu o olhar por toda a sala bagunçada, reparando os enfeites que estavam desorganizados sob a mesa de canto e o tapete que estava com a ponta dobrada. A enorme janela da sala que dava de frente com a garagem chamou-a atenção por estar com uma vidraçaria trincada, fato este que ela nunca havia reparado.

A morena respirou fundo antes de encarar Emily novamente, buscando no fundo de seus pensamentos uma forma de falar sobre o assunto de uma forma mais pacata e sem chamar muito a atenção da outra.

-- Não Emily... Esses são Viviam e Thiago Butckovisky, grandes amigos da sua família. E também pais da... – A morena hesitou ao sentir que não saberia explicar para a ruiva quem realmente era Alice em sua vida, uma vez que nem mesmo ela sabia de tudo que já havia acontecido entre elas.

-- Da...? – Emily franziu o cenho ao encarar Anne, esperando que ela dissesse à ela de quem eles eram pais.

-- Da Alice. – Anne tentou sorrir para a ruiva, mas foi um sorriso tão descaradamente sem graça que praticamente pediu para que Emily a questionasse.

-- Essa Alice... – A morena gelou ao ouvi-la, temendo toda e qualquer pergunta que pudesse vir dela. – Porque ela não estava na foto, junto com a nossa família? – Anne sentiu um alivio no peito ao ver que Emily havia se interessado apenas pelo fato da advogada não estar na foto.

-- Eu não me lembro bem o porquê... Mas acho que ela não estava ai. – Gaguejou.

-- Entendi.

A ruiva folheou o álbum de fotos de maneira desordenada, como se em seu inconsciente ela buscasse por algo ou alguém que lhe trouxesse lembranças daqueles instantes que estavam tão apagados e escondidos em sua memória. Os movimentos impulsivos de seus olhos analisavam todas as fotos de maneira desatenta, e sem que ela mesmo soubesse, seu coração coordenava a busca por qualquer pessoa a quem ela pudesse assimilar o nome “Alice”, que eclodia repetidas vezes em sua mente sem motivo ou sentido algum. Seu coração parecia-lhe encolher no peito a cada página que ela passava daquele álbum de recordações que tão cruelmente não lhe trazia recordação alguma. Sua boca ficou seca pelo nervosismo que aquela situação agoniante lhe causava, e a irritação de Emily pôde começar a ser percebida quando seus toques nas páginas do álbum ficaram mais brutas e descuidadas. E foi a respiração pesada da ruiva que permitiu a Anne concluir que tudo aquilo definitivamente não estava a fazendo bem.

-- Emily, eu acho que não foi uma boa ideia te mostrar tudo isso... Ainda está cedo e... – Emily a interrompeu em um rompante, esbravejando palavras inesperadas por Anne. 

-- MAS QUE CARALHO!!! – A ruiva jogou o álbum no chão, empurrando-o do seu colo em um único impulso. – POR QUE EU NÃO ME LEMBRO DE NADA? – Ela apertou as mãos com toda a força que pôde, batendo-as contra o sofá logo em seguida.

Anne assustou-se com o ataque de fúria de Emily, recuando o máximo que pôde no sofá para evitar ser atingida pelos movimentos impensados da ruiva. Ela travou, enquanto observava a outra completamente descontrolada, ouvindo-a esbravejar palavrões e diversas frases negativas.

-- Eu odeio tudo isso!! – Emily levantou do sofá e derrubou a mesa de centro com um dos pés. – Eu não sei porque vocês insistem em querer me fazer lembrar dessa porcaria toda!

Os cacos de vidro da mesa de centro espalharam-se por todo o tapete da sala, assim como os enfeites que estavam sobre ele, mas ainda insatisfeita com aquilo, a ruiva foi até a estante da televisão e derrubou todos os vasos absurdamente caros e tão adorados por sua mãe no chão, enquanto se esgoelava de tanto gritar.

As mudanças repentinas de humor de Emily já não eram surpresa para Anne, que via a ruiva, pela terceira vez, ser tomada por sentimentos exagerados, sentimentos como raiva, mágoa e insatisfação não só para com os outros, mas principalmente com si mesma., como há algumas semanas atrás quando a ruiva tentou atacar o próprio irmão alegando não confiar nele.

Katrien também já havia sofrido com alguns ataques da filha, que costumava acordar na maioria das noites sem saber aonde estava, se estava segura, ou até mesmo sem saber quem eram aquelas pessoas ao seu lado. Katrien tinha uma teoria sobre isso: a teoria de que a filha podia estar sonhando com fatos do acidente e trazendo de volta todo o trauma que havia passado durante o percurso do local do acidente até o hospital, mas isso não passava apenas de uma suposição dela, visto que todas as vezes em que ela questionou a filha sobre os pesadelos, Emily nunca sabia o que responder.

Embora Anne houvesse sido avisada e já tivesse presenciados alguns desses distúrbios de personalidade da ruiva, aquele a deixou apavorada. Emily estava diferente, ela demonstrava uma violência incomum ao sair derrubando tudo que estava a sua frente, e toda a sua inquietação durou longos minutos, minutos estes em que Anne não foi capaz de fazer nada, pois estava estagnada ao vê-la daquele jeito, e seus olhos não escondiam o medo que a morena sentiu de Emily.

A ruiva parecia não se contentar com os palavrões e os atos de fúria. Seus pensamentos voltavam-se sempre para o mesmo ponto inicial “Quem diabos eu sou?”, e não saber disso deixava-a agoniada. Emily estava cansada de ver aquelas pessoas esperando algo dela, de notar todos os olhares esperançosos que eles a lançavam toda vez que ela perguntava sobre alguma coisa, como se de alguma forma eles imaginassem que aquela pergunta pudesse ser proveniente de alguma lembrança. Ela tentou. Tentou se lembrar de tudo, tentou ignorar todas as vezes em que decepcionou as pessoas que tanto estiveram lá para ela, e tentar tanto por cinco longos meses a deixaram emocionalmente exausta. Estava na hora de mostrar à eles que ela não era a Emily, não a que eles conheciam e se lembravam, pelo menos.  A ruiva precisava começar a se desprender da vontade que os outros tinham de que ela lembrasse do seu passado, ela precisava desprender-se até mesmo das suas curiosidades a respeito de quem ela era.

No instante em que a ruiva preparava-se para jogar pequeno porta retrato ao chão, as palavras de sua fisioterapeuta, Lara, invadiram sua mente, acalmando-a de uma forma que nem ela mesmo acreditava ser possível naquela hora.

“—Mas, Emily, seu passado é apenas uma parte de você. O que realmente importa é quem queremos ser a partir daqui, do presente. O presente diz quem nós somos, não o passado.”

-- Meu passado é apenas uma parte de mim... O que importa é quem eu quero ser a partir daqui... – Ela repetiu essas palavras algumas vezes, e a cada uma delas, seu corpo parecia acalmar-se, assim como seu coração e sua mente, e naquela hora ela soube que estava pronta para deixar de viver pela vontade dos que tanto a amavam. Emily decidiu viver por ela, por quem ela queria ser.

A ruiva respirou fundo enquanto abaixava a mão que estava a pouco de jogar o porta retrato no chão. Ela segurou-o contra o corpo, e encarou a morena que encontrava-se travada no sofá, com aqueles olhos castanhos que exaltavam o medo que estava sentindo e também o sentimento de impotência diante daquela situação.

-- Me desculpa... – Emily falou em um tom baixo e envergonhado enquanto esfregava os olhos para enxugar as lágrimas. – Eu... Eu só estou cansada. – Ela deu de ombros, mostrando-se desanimada.

Emily caminhou em direção a morena, e sentou-se ao seu lado cautelosamente, por medo de assustá-la ainda mais. O receio e  arrependimento podiam ser vistos através daqueles olhos azuis que logo cruzaram-se com os de Anne.

-- Eu estou cansada de tentar ser a pessoa que vocês conheciam, Anne. – Admitiu em palavras tristonhas. – Eu estou exausta... – A ruiva apoiou as mãos sobre as coxas e abaixou a cabeça enquanto olhava para os próprios pés.

-- Emily, eu te entendo. – A morena depositou sua mão sobre a de Emily, apertando-a levemente. – Eu jur... – A ruiva a interrompeu.

-- Deixa eu terminar. – Aqueles olhos azuis tão profundos foram em direção aos da morena quando ela curvou seu rosto para observá-la. – Eu preciso dizer isso pra alguém. – Emily pressionou e prosseguiu. – Eu não quero ser essa Emily de quem vocês falam. Essa não sou eu. Não agora. Eu preciso descobrir quem eu sou... Do que eu gosto, do que eu quero... – A ruiva virou a mão que Anne tocava para cima, entrelaçando seus dedos aos dela e naquele instante, o coração da morena chegou a parar. – Se eu pudesse, eu me lembraria de tudo... Me lembraria de tudo por vocês, por tudo que fizeram para mim... Mas eu... Eu não sei se eu faria isso por mim. – Emily se aconchegou para mais perto de Anne, aproximando seus rostos. – Anne, eu não me sinto como essa pessoa que vocês tanto descrevem. Eu não tenho as gostos que “ela” tinha, nem as vontades... Ou muito menos os sentimentos “dela”. – Gesticulou as aspas.

Anne atentou-se a todas as palavras da ruiva, sentindo-se completamente confusa com aquela revelação. Por um lado, ela sentia-se triste por Emily não querer se recordar de seu passado e das pessoas que fizeram parte de sua vida, assim como dos sentimentos que ela possuía por eles, porque a Emily que ela conhecia sempre fora extremamente ligada aos laços e sentimentos que a prendia as pessoas. Seu espirito sempre cheio de amor lhe proporcionava isso. Mas por outro lado, não seria ruim se a ruiva não voltasse a se sentir como antes, afinal, Anne sabia que se ela se recordasse de tudo, talvez elas não estivessem tendo essa conversa agora, e talvez ela jamais teria a chance de tentar reconquistá-la, e a possibilidade de poder fazer isso a trouxe uma estranha e remota felicidade.

-- Você não tem nenhuma vontade que “ela” tinha?  – Os olhos de Anne desprenderam-se dos da ruiva e foram de encontro à aqueles lábios avermelhados e tão bem desenhados que ela tanto gostava e sentia falta. Imaginar-se beijando-os novamente fez seu corpo estremecer e seu coração acelerar. Seus olhos enfrentaram os de Emily mais uma vez, e durante aquela longa troca de olhares, ambas se analisavam como se tentassem descobrir o que estavam prestes a fazer ali.

Toda a atenção de Emily voltou-se aos lábios da morena quando ela mordiscou o lábio inferior, e bastou que Anne notasse a atenção do foco do olhar da ruiva para que ela se aproximasse ainda mais dela, deixando seus lábios à poucos milímetros de se tocarem.

Emily engoliu seco quando percebeu o quanto estavam próximas. Deu-lhe um frio na barriga ao concluir que Anne estava prestes a beijá-la, e embora a ruiva quisesse descobrir como seria se ela o fizesse, ela não podia permitir que isso acontecesse. Um pressentimento incomodava-a em algum lugar dentro de si, fazendo-a questionar-se diversas vezes se evitaria ou não o que estava prestes a acontecer.

Anne retomou a atitude ao tentar beijá-la, mas seu lábio mal havia tocado no de Emily, quando a mesma recuou em um único impulso quando uma voz invadiu sua cabeça.

“ Você precisa ficar bem meu amor.” – O coração da ruiva disparou com a sensação de ter ouvido aquelas palavras, de quem quer que fosse, simplesmente soando ao pé do seu ouvido, como se ela estivesse lá, e certamente aquela voz que eclodiu em seus pensamentos não parecia nada com a voz da morena a sua frente.

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Dois anos e 4 meses atrás.  – Um mês após o acidente –

-- Nós retiramos os sedativos há mais de oito horas, senhorita Butckoviscky.  A essa altura ela já deveria ter acordado... – A postura da médica era séria. – Eu sinto muito.

Alice tentou conter as lágrimas em seus olhos, mas suas pernas ficaram bambas quando recebeu a notícia, e o desespero que a tomou quando se deu conta de que Emily poderia não acordar foi tanto que tornou-se impossível manter a postura firme a qual vinha trazendo consigo desde a primeira semana após o acidente, quando os médicos disseram que a pior parte já havia passado. A advogada cobriu o rosto com as mãos, tentando esconder as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, mas os soluços do choro não escondiam o quando ela havia ficado abalada com a notícia.

Na tarde do dia anterior, quando Katrien havia recebido a notícia de que a filha seria tirada dos sedativos por estar com a pressão interna cerebral controlada, o sentimento dela, de Alice e de toda a família e conhecidos havia sido completamente diferente. Todos esperavam encontrá-la acordada na próxima visita, como a médica havia informado que seria possível, e o choque de ver o completo oposto do que esperavam deixou-a sem chão, e além de ter que lidar com toda a situação da mulher que ela amava estar em realmente em coma, ela ainda teria que lidar com a reação inconsolável que a mãe de Emily provavelmente teria ao receber a notícia por ela, uma vez que naquele dia ela não pôde ir no horário de visitas da tarde.

-- O que isso quer dizer? – Alice questionou-a durante respirações apressadas e desconsertadas, enquanto seu coração torcia para que a médica lhe dissesse qualquer coisa que desse fim a aquela realidade que ela enfrentava agora.

-- Que a Emily pode não acordar deste trauma. – Naquele momento, Alice apoiou-se na borda da cama onde a ruiva estava deitada, segurando-se com as forças que lhe restavam para não desabar ali mesmo. Seu corpo estava mole e o choro compulsivo lhe doía o peito de uma forma tão intensa que a cada soluço tornava-se necessário uma respiração mais profunda, e em algum momento dali, Alice sentiu como se não pudesse respirar. – Eu sinto muito. Mas tudo que podemos fazer agora é proporcionar conforto à Emily. – A médica tentou oferecer algum apoio a advogada, mas ela recusou-se a ser tocada por aquela mulher que havia lhe dado uma notícia tão drástica. – Está nas mãos dela agora.

Alice transcorreu a mão pelo leito até encontrar a mão de Emily, segurando-a com toda a força que pôde enquanto apenas se deixava levar pela dor e sofrimento que sentia naquele instante. Vê-la daquela forma, parecendo tão pacata em sono, não lhe trazia mais um sentimento de alivio por saber que estava viva. Mas sim uma mistura de sentimentos que deixaram-na inconsolável. Como Emily podia simplesmente não acordar mais? A advogada não achava que ela tinha esse direito, não agora. Não com tudo que elas tinham para resolver entre elas. Haviam tantas coisas não terminadas, tantas conversas para se ter, tantos sentimentos para compartilhar, tanto para perdoar. Alice sempre achou que teria tempo para resolver tudo entre elas, afinal, já haviam sido tantos anos ao lado daquela mulher incrível, que lhe parecia injusto o destino intervir e simplesmente reduzir o tempo delas à zero de uma hora para outra, justo agora que elas finalmente haviam conseguido ficar juntas.

-- Não... Tem que haver algo que nós possamos fazer... Por favor, tem que ter alguma coisa... – Alice olhou para a doutora a sua frente, e seus olhos imploravam por qualquer tipo de alternativa.

A médica respirou fundo, e enquanto tentava compreender toda a dor da advogada, ela lhe ofereceu uma alternativa que a confortasse naquela situação, mesmo embora não houvessem estudos científicos que comprovassem o que ela estava prestes a dizer.

-- Em alguns casos... – Alice atentou-se as palavras. – Alguns pacientes alegam ter ouvido e sentido coisas durante o seu tempo em coma. – A médica colocou as mãos dentro dos bolsos do jaleco. – Não existem provas de que isso seja verdade, mas alguns cientistas vêm estudando as possibilidades dos pacientes perceberem os estímulos ao seu redor... Existem casos de pessoas que acordaram com uma música, ou com conversas e...

-- Eu vou fazer isso. – Alice antecipou-se, acreditando que se Emily pudesse ouvi-la, ela voltaria correndo para ela.

-- Senhorita Butckoviscky, preciso dar ênfase que... – A advogada a interrompeu novamente.

-- Eu vou tentar. – Falou pausadamente enquanto encarava a doutora. – Obrigada. – Alice olhou-a como se esperasse que ela saísse do quarto.

-- Estarei no final do corredor se precisar. – Ela consentiu com a cabeça ao notar que Alice queria privacidade, e logo saiu, deixando-as sozinhas.

Alice puxou a cadeira para perto da cama e sentou-se o mais próximo que podia, segurando a mão da ruiva enquanto a acariciava.

-- Oi Harley... – A advogada sentiu-se estranha por falar com alguém que não poderia responde-la, mas ao recordar-se do que a médica havia falado, ela decidiu continuar. – Eu espero que você realmente possa me ouvir agora... – Apertou a mão da ruiva. – Porque eu estou com saudades de ti. Com saudade da tua risada gostosa e da forma como você me olhava, como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo... – A voz da advogada falhava cada vez que ela precisava conter e engolir o choro durante aquelas palavras. – Eu daria tudo para ter isso de volta... Tudo... – Alice fechou os olhos e puxou a mão da ruiva para perto do seu rosto, depositando um beijo demorado e carinhoso em sua superfície, enquanto respirava o máximo que podia para sentir o seu cheiro. – É engraçado como a gente vive cada dia da nossa vida deixando as coisas para depois como se tivéssemos um tempo infinito na Terra e de repente...—A voz falhou durante um murmuro. – Eu... Eu achei que teria mais tempo, Emily. Eu achei que teria todo o tempo do mundo ao seu lado, mas de alguma forma nós tínhamos tanto e tão pouco... – A morena manteve a mão da ruiva junto ao seu rosto, e aqueles olhos perdidos e tristinhos voltaram-se em direção ao rosto da ruiva, buscando por qualquer reação ou expressão, mas a ausência da tão esperada reação da amada a fez chorar novamente. – Você precisa ficar bem, meu amor. – Ela acariciou os cabelos de Emily com a outra mão. – Você está me ouvindo? Você precisa levantar daí e me dar aquele longo sermão sobre como eu não devo nunca mais mentir para você... Eu... Eu aceito que você esteja zangada comigo, amor. – Os soluços começavam a surgir, impedindo-a de continuar com mais delongas. – Eu ac... Eu aceito tudo. Só... Só levanta daí...

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Tempos Atuais

“ Você precisa ficar bem meu amor.” – O coração da ruiva disparou com a sensação de ter ouvido aquelas palavras, de quem quer que fosse, simplesmente soando ao pé do seu ouvido, como se ela estivesse lá, e certamente aquela voz que eclodiu em seus pensamentos não parecia nada com a voz da morena a sua frente.

-- Você ouviu isso? – Emily segurava-a pelos ombros ao afastá-la do quase beijo.

-- Isso o quê, Emily? – Anne franziu o cenho ao encará-la, incrédula com o corte que havia levado e também curiosa para saber o que a ruiva havia ouvido.

-- Isso, essa voz... Quem... – Emily olhou ao redor da sala procurando pela portadora daquela doce e linda voz, mas nada encontrou.

-- Emily... Ninguém disse nada... – Ela se auto afirmou ao balançar a cabeça. – Deve ter sido impressão sua.

-- Mas pareceu tão real... – A ruiva respirou fundo e fechou os olhos. – Deixa pra lá... Você deve ter razão.

A morena sorriu completamente sem jeito, demonstrando o desconforto com a situação embaraçosa na qual tinha se metido.

-- Anne... – Emily olhou-a nos olhos e tocou em seu rosto. – Eu gosto muito da pessoa que você é. Mas isso... Nós... Isso não pode acontecer. – Emily franziu o cenho, estranhando o que ia dizer. – De novo não. – Retomar o passado não lhe parecia correto agora, e embora Anne soubesse que a ruiva estava certa em tomar essa decisão, a decepção em seu olhar foi evidente. – E você... Você também não quer isso, vai por mim. Você não me conhece...

-- Emil... – A ruiva a interrompeu.

-- Nem eu me conheço ainda, Anne. – Forçou um sorriso.

A morena recostou-se no sofá e cruzou os braços enquanto enfrentava os olhos tão atentos de Emily. Ela pressionou os lábios durante uma longa reflexão e somente após longos segundos é que ela se atreveu a dizer alguma coisa.

-- Anne Calliari. – A morena estendeu a mão para Emily.

A ruiva não pôde conter o sorriso bobo que invadiu seus lábios ao se deparar com o humor inesperado de Anne.

-- Emily Egmond Leur Harley.  – Emily a cumprimentou com um aperto de mãos. – Esse me parece um bom começo. – Ela prendeu o riso.

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Seis meses após o acidente

-- Eu vi vocês conversando, Anne. – O rapaz parecia impaciente e andava de um lado para o outro no quarto.

-- E nós não podemos conversar agora, é isso? – Ela o seguia com o olhar e controlava-se para não alterar o tom de voz, uma vez que estavam na mesma casa que Emily.

-- Não se faça de sonsa, Anne. Você sabe muito bem do que eu estou falando. – Ele parou em frente à ela, encarando-a enfurecidamente.

-- Não, Robbert, eu não sei. – Falou pausadamente, sem recuar.

-- Não seja hipócrita comigo. Afinal, depois de dois anos quase sem conversa, eu acho que você me deve alguma explicação.

-- Uma explicação? Pelo quê? – Anne levantou as mãos, gesticulando. – Eu não devo nada a você! Eu devia explicações à tua irmã, por ter a feito passar pelo inferno que eu fiz.

O rapaz pressionou os lábios ao conter as palavras grosseiras que queria dizer à ela naquele momento, e após respirar fundo, ele prosseguiu da maneira mais sensata que conseguiu.

-- Você não me deve nada, Anne? – A expressão do ruivo demonstrava o desapontamento dele para com ela, e seus olhos já não continham as lágrimas que queriam escapar de lá. Ouvir sua ex mulher dizer todas essas coisas depois de tanto tempo cortava seu coração. – Nós ficamos casados por quase dois anos... – O olhar profundo e machucado do ex marido a atingiu, fazendo seu coração apertar. – Dois anos, e desde o acidente da Emily nós não tivemos uma conversa decente. Você se fechou no seu mundo como se precisasse carregar toda a dor que sentiu sozinha... Por Deus, Anne! Eu era o teu marido!! Eu estava lá para você! Nós deveríamos ter passado por isso juntos! Mas não... Você preferiu se isolar e ignorar o fato de que nós éramos um casal. E você foi tão egoísta que sequer lembrou que eu estava sofrendo também, e que eu precisava de você. – Robbert passou as mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas que escorriam de seus olhos de forma brusca.

A morena se calou diante do desabafo do ex marido. Ela sabia que havia agido de forma egoísta e errada, mas a culpa pelo acidente havia a consumido tanto durante aqueles anos que ela sequer conseguia olhar para o rapaz sem imaginar que a culpa da irmã dele estar em coma era parcialmente dela. Anne não tinha estomago e nem coragem para tudo aquilo.

-- Eu sinto muito Robbert... Eu não conseg... – O ruivo a interrompeu.

-- Você sente muito, Anne? Você? – Ele apontou para ela. – Dois anos é tempo demais para sentir muito e não dizer nada. – Robbert se afastou da morena e apoiou a mão em uma das paredes, ficando de costas para ela. – Eu te procurei tantas vezes para tentar entender o que estava acontecendo... – Lamentava-se por todas as vezes em que foi ignorado por ela. – Seja sincero comigo, Anne. – Ele olhou-a por cima dos ombros, e seus olhos esverdeados expressavam o quanto ele temia como aquela conversa terminaria. – Eu só vou lhe fazer uma pergunta a respeito de todos esses anos... – Robbert cobriu a boca com uma das mãos, apertando-a sobre os lábios como se por alguns instantes ele teimasse em questioná-la, mas acabou o fazendo. – Você a amou por todos esses anos?

-- O Q-U-Ê? – Anne ficou boquiaberta com a pergunta do rapaz, e seus olhos acompanharam a surpresa que aquela pergunta lhe causou. – Você só pode estar ficando louco. – O rapaz franziu o cenho com a reação da ex mulher. – É CLARO QUE NÃO.

-- Como não, Anne?

-- Não amando, Robbert. – A morena se aproximou do rapaz. – Que tipo de pessoa você acha que eu sou?

-- Eu sinceramente não sei! – Ele a segurou pelo ombro, mantendo-a afastada de si para que a proximidade entre eles não o fizesse amolecer.

-- Eu nunca me casaria com você se a amasse, só para você ficar sabendo. – Foi arrogante.

Ele colocou as mãos na cabeça, confuso com as palavras que tanto contradiziam as atitudes de Anne durante aqueles anos.

-- Eu não entendo! O que eu perdi aqui? – O olhar perdido do rapaz buscou pelo da morena, que negou-se a encará-lo naquele momento. – Porque você se afastou então? Porque reagiu dessa forma tão intensa quando tudo aconteceu? Porque você não ficou ao meu lado, Anne?

-- PORQUE EU NÃO CONSEGUIA! – Respondeu em um rompante, com um timbre de voz alto.

Emily passava pelo corredor dos quartos quando ouviu a voz alterada de Anne, e por pura curiosidade ela acabou caminhando até a porta do quarto onde a morena discutia com seu irmão e recostou-se sobre a parede, ouvindo toda a conversa entre eles.

-- EU NÃO CONSEGUIA, TA LEGAL? – Anne passou as mãos pelo rosto, tentando suprir o nervosismo.

-- Como assim? – O olhar atento do rapaz a cercava por todos os cantos.

-- A culpa do acidente da sua irmã... foi minha. – Anne engoliu seco. – Em partes, eu acho.

Robbert recuou alguns passos ao ouvi-la, mantendo-se calado por longos e cruéis segundos, segundos estes que deixaram a morena completamente inquieta.

-- A culpa foi minha e eu não... Eu... Eu não conseguia olhar para você, ou para a Katrien... Eu não tive estomago para isso, Robbert. – As lágrimas de aflição corriam pelo rosto da morena, e quanto mais ela observava o rapaz a sua frente, mais aflita ela ficava, pois o ruivo manteve-se calado e parado o tempo inteiro. E embora ela o conhecesse muito bem, sua expressão era um tanto quanto misteriosa, uma vez que ele estava boquiaberto, mas seus olhos estavam obscuros, sem uma emoção visível. – Robbert, fala alguma coisa... Por favor.

-- O que você está dizendo, Anne? – O rapaz segurou no braço da ex mulher e seu timbre sério  a assustou. – O que você fez com a minha irmã? A culpa disso é sua? – Robbert estava cego pelas palavras nas quais Anne se culpava pelo acidente, e o fato de não ter prestado atenção as outras coisas deixou-o transtornado. Em sua cabeça, haviam diversas possibilidades de que aquele acidente pudesse ter sido provocado de forma proposital, e se Anne tivesse sido culpada por tudo isso, tudo faria sentido.

-- Robbert, não é o que você está pensando... – Anne tentava soltar o braço das mãos firmes do rapaz, mas foi em vão. – Eu não causei o acidente dela diretamente, eu...

-- FALA!!!! – Ele se exaltou na voz, transmitindo uma raiva incontrolável, e naquele momento Emily ameaçou entrar no quarto, mas quando sua mão tocou a maçaneta, ela pôde ouvir a voz de Anne, e a resposta daquela mulher a fez travar.

-- EU DORMI COM A ALICE, MA... – Antes que a morena pudesse concluir a história o rapaz virou a mão em seu rosto.

A força do tapa havia sido tanta que o corpo de Anne foi ao chão, e a junção de todos aqueles sons, do tapa, da queda e do gemido de dor da morena, fizeram com que Emily adentrasse ao quarto em um rompante após concluir o que estava acontecendo ali. E embora ela não soubesse quem era a Alice de fato, ela jamais deixaria que seu irmão agredisse Anne daquela forma, não importasse o motivo.

A ruiva adentrou ao quarto e foi direto até a morena caída ao chão, abaixando-se para verificar se ela estava bem. Suas mãos alcançaram e levantaram o rosto de Anne, e seus olhos azuis analisaram toda a expressão amedrontada, surpresa e triste que ela carregava depois da reação do ex marido.

-- VOCÊ ESTÁ MALUCO? O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Emily o enfrentou com o olhar após se certificar de que Anne estava “bem”.

-- Você não ouviu o que ela disse, Emily? – O rapaz apontava para a ex mulher ao chão, enquanto tentava culpa-la por seus atos.

-- FODA-SE O QUE ELA DISSE ROBBERT! – Emily apoiava uma das mãos em Anne, oferecendo-lhe apoio emocional enquanto discutia com o irmão. – Sai daqui agora! – Ela pediu de forma calma, tentando amenizar a situação.

-- Você não ouviu o que ela disse? – Esbravejou as mesmas palavras, questionando a irmã enquanto tentava se aproximar das duas de peito empinado.

Emily observou a morena mais uma vez, e vê-la chorando deixou-a ainda mais irritada, fazendo-a levantar-se e ficar cara a cara com o irmão.

-- Eu acho que foi você que não me ouviu, Robbert. – Os olhos enfurecidos da ruiva encontraram-se com os do irmão, e a frieza que eles carregavam naquele momento o fez recuar. – Se você não sair daqui agora, eu juro que não vou me segurar para lhe dar o que você merece agora! Então na boa... S-a-i  d-a-q-u-i. – Emily empurrou o rapaz para longe ao bater em seus ombros com as palmas das mãos.

-- Eu não vou sair daqui até que ela me dê uma explicação Emily! – Robbert tentou se aproximar delas novamente, e antes que Emily pudesse intervir, Anne gritou com ele.

-- EU NÃO TE TRAI, PORRA! – A morena se levantava do chão, ainda com uma das mãos depositadas no lado do rosto no qual havia levado o tapa. – Eu dormi com ela, isso é verdade, mas foi há mais de NOVE ANOS ATRÁS, SEU RIDICULO! – Anne tentou avançar para cima dele, mas a ruiva a segurou pela cintura, puxando-a para trás.

-- Para com isso Anne, não vale a pena... – Emily usava toda força que conseguia para impedir a morena de avançar sobre seu irmão.

Robbert engoliu seco quando ouviu o que Anne tinha para dizer, e seu olhar não escondeu em nenhum momento o quanto ele estava arrependido de ter feito o que fez. Ele estava cego pelo ódio de saber que o acidente da sua irmã poderia ter sido causado pela sua ex esposa, e quando Anne admitiu ter dormido com Alice, ele entendeu tudo errado, acreditando que elas haviam feito isso quando Anne ainda estava com ele e Alice com Emily.

-- Anne eu s.... – A morena o interrompeu.

-- CALA A BOCA!!!! EU NÃO QUERO OUVIR A SUA VOZ! – As lágrimas corriam pelo seu rosto, mas a força para se debater nos braços da ruiva não duraram muito. Emily a envolveu pelos braços, abraçando-a na altura dos ombros para impedir que ela lutasse mais.

O olhar perdido de Robbert presenciou toda a raiva e mágoa que agora Anne estava sentindo por ele, e tê-la causado esses sentimentos deixou-o devastado. E sem que ele conseguisse evitar, as lágrimas logo voltaram a correr de seu rosto. Há anos atrás, o rapaz havia prometido que à morena que jamais a faria odiá-lo de novo, como quando havia ido embora, mas claramente ele havia quebrado essa promessa, e pior, ele havia conseguido fazê-la odiá-lo ainda mais que naquela época. Seu corpo estava anestesiado pelo choque de realidade que havia lhe acertado em cheio, ele havia batido na mulher que amava, e por mais que ele quisesse voltar ao tempo e retirar todas as coisas que havia feito, era impossível.  Robbert tentou dizer mais algumas palavras, mas ver Anne, completamente desolada e aos prantos, nos braços da irmã o fez recuar. O rapaz passou as mãos pelo rosto diversas vezes enquanto buscava pelas palavras certas que pudessem fazê-lo se redimir, mas ele não encontrou uma forma de o fazer.

-- Me desculpa... – O olhar envergonhado do rapaz acompanhava as mulheres a sua frente.

Emily apertou a morena em seus braços quando sentiu seus soluços intensificarem com as palavras de Robbert, e embora não soubesse ao certo o que fazer, uma coisa estava claro para ela: Seu irmão precisava sair dali.

-- Robbert, agora não. – A ruiva tentou ser compreensiva com o rapaz, contrariando suas vontades enquanto tentava buscar uma situação que deixasse Anne mais confortável.

Robbert apenas consentiu com a irmã, sabendo que nada poderia ser feito agora. Ele deu uma última olhava para ex mulher e deixou o quarto, levando consigo todo o arrependimento e consequências de seus atos. Assim que o viu sair, Anne afastou-se da ruiva, cobrindo o rosto com as mãos enquanto murmurava o quanto não acreditava no que ele tinha sido capaz de fazer.

-- Você está bem? – Emily suspirou.

-- Vou ficar. – Anne respondeu em um sussurro, mantendo-se de cabeça baixa pela vergonha que sentia de toda aquela situação embaraçosa na qual Robbert a havia colocado quando a agrediu.

A ruiva pressionou os lábios enquanto consentia com a cabeça, e embora ela sentisse que a morena precisasse do seu apoio agora, ela não estava nem um pouco afim de dar isso à ela. O fato de tê-la a ajudado minutos atrás havia sido um ato impulsivo que não a eximiu de pensar e refletir sobre o que eles estavam conversando antes dela entrar no quarto. De alguma forma que Emily era incapaz de entender agora, Anne havia sido culpada pelo acidente que havia lhe tirado tudo. E não só ela, talvez a Alice também tivesse culpa.

A ruiva pensou em dizer alguma coisa, mas tocar naquele assunto só as causaria mais brigas, e ela estava de saco cheio disso. Emily só precisava de um pouco de paz, e ela sabia exatamente onde podia encontrá-la agora, mas quando ela se prontificava a sair do quarto, Anne a abordou.

-- Emily, aonde você vai? – Não era necessário conhecer a morena tão bem para perceber aquele timbre de voz que praticamente implorava Emily para ficar.

A ruiva retirou a mão da maçaneta e olhou para Anne. Seu estomago estava revirado por toda a situação estressante na qual havia se envolvido, e olhar para a morena não a ajudava muito.

-- Olha, eu não entendo o porquê do fato de você e essa Alice terem dormido juntas pode ter sido o motivo pelo qual eu sofri esse acidente, mas... – Emily umedeceu os lábios e após uma respiração profunda e impaciente ela continuou. – De alguma forma, por culpa de vocês eu perdi tudo. – A ruiva recordou-se de todos os momentos difíceis que havia passado desde que havia acordado, lembrando-se do quanto a falta de identidade deixava-a transtornada no início. De como, de certa forma, havia perdido sua família, amigos e memórias... De como havia perdido a vida, e saber que os culpados por isso faziam parte de quem ela era no passado a tocou de uma forma estranha. Emily levou uma das mãos até a boca, mordiscando a unha enquanto refletia se deveria ou não dizer o que estava querendo, pois ela sabia que acabaria machucando a mulher à sua frente, mas lá no fundo, bem lá no fundo talvez ela sequer ligasse para isso, então prosseguiu sem medir as palavras. – E eu sinceramente não quero olhar pra sua cara agora, entende? – A frieza no olhar e nas palavras da ruiva surpreenderam a morena, mas antes que ela pudesse expressar qualquer coisa, Emily prosseguiu. – Eu não tenho estomago pra isso. – Foi arrogante ao usar das próprias palavras de Anne e abusar de um sorriso forçado. – Melhoras.

Emily saiu do quarto às pressas, ignorando todas as palavras que Anne tentou lhe dizer.

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Sete meses após o acidente

Os olhos azuis da ruiva percorriam a linda paisagem a sua frente, admirando o balançar das arvores e o som que a chuva fazia ao tocar suas folhas e o chão. Respirou fundo quando fechou os olhos, permitindo-se realmente sentir as gotas frias que lhe caiam sobre o rosto, e o vento gélido que bagunçava seu cabelo já húmido. Seu coração parecia encontrar paz ali, uma paz verdadeira e real, diferente de como havia se sentido em todas as outras semanas anteriores. Emily sentia-se estranha perto daquelas pessoas, e por mais que ela houvesse jurado a si mesma que não faria nada para agradá-los, de certa forma ela acabava o fazendo uma vez ou outra. Seus olhos buscavam por verdades em todas as palavras que Robbert, Anne ou até mesmo sua mãe dizia, e por mais que ela quisesse acreditar neles, ela via claramente o receio, a preocupação e o medo através de todos eles, como se eles sempre estivessem escondendo algo dela. Ela tentou não se importar, mas ali, agora, ela realmente não se importava.

A harmonia daquela fazenda a trazia uma tranquilidade incomum que não dava espaço a nenhum medo ou pensamento sobre o passado. Emily conseguiu tudo o que queria quando finalmente conseguiu passar uma longa semana sozinha, ou melhor, longe daqueles que tanto a pressionavam para lembrar-se. As pessoas daquela fazenda a conheciam desde pequena, assim como os outros, mas diferente deles, eles a aceitaram como ela era agora, e respeitaram todos os seus momentos.

Emily havia reaprendido a andar à cavalo, e após uma longa cavalgada pelas extensas montanhas da fazenda, ela acidentalmente encontrou uma cabana com um deck incrível que dava vista à aquele imenso vale que ela tanto apreciava agora.

A ruiva perdeu-se no tempo ali fora, infiltrada em seus próprios e bagunçados pensamentos a respeito de tudo, dando-se conta do quanto chovia apenas quando o frio tomou conta. Suas roupas molhadas faziam-na estremecer quando o vendo soprava mais forte. Pensou em retornar a casa principal da fazenda, mas a forte neblina dominava a estrada que afundava-se em lama. Olhou seu cavalo que já escondia-se no pequeno estábulo ao lado da cabana, protegendo-se da chuva e decidiu que seria melhor ficar por ali, pelo menos até o tempo melhorar, afinal, ela não queria colocar o animal em risco, muito menos ela mesma.

Emily forçou a porta da cabana, batendo contra a mesma algumas vezes, até obter sucesso, e quando adentrou ao lugar, procurou pela luz e a acendeu. Os poucos móveis que estavam na cabana serviriam para dá-la conforto por aquela noite. Havia uma cama de casal ao lado de uma cômoda de roupas, uma pequena bancada de três lugares que separava a cozinha do resto do cômodo, e um sofá em frente a uma estante que comportava apenas um toca discos. A ruiva retirou suas roupas molhadas e vestiu um moletom azul que encontrou na cômoda, colocando o toca discos para funcionar logo em seguida.

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Algumas horas antes

Andar por aquelas tão conhecidas ruas lhe dava frio na barriga, e todo o controle que Alice pensou que teria ao retornar pra casa depois de tanto tempo se esvaiu assim que ela parou diante do portão da casa de Katrien. Seu coração disparou com as lembranças vívidas que aquela casa lhe trazia, e por um instante, o fôlego lhe faltou.

A advogada passou as mãos pelo rosto, nervosa por saber que tão logo encontraria a mãe de Emily novamente. Ela pedia e rezava por boas notícias desde o dia em que havia embarcado de volta para casa, mas a razão não lhe deixou criar expectativas. De alguma forma, ela sabia que as chances de Emily ter acordado eram praticamente nulas. Pensou em ir ao hospital antes de aparecer ali, mas o medo da ruiva não estar mais lá a fez travar, e se fosse para descobrir que Emily morreu, ela preferia que fosse através da única pessoa que poderia confortá-la, Katrien.

Alice tentou apertar a campainha algumas vezes, mas falhou vergonhosamente em alguma delas. –“O que eu estou fazendo aqui? E se...” – A advogada balançou a cabeça, negando-se a dizer aquelas palavras. –“Vamos lá, não seja uma medrosa agora, você atravessou o oceano para ficar com ela. Você precisa enfrentar o que for, você deve isso à ela.” – Alice apertou a campainha em um impulso, recuando alguns passos assim que o fez.

Os minutos que se passaram até que o som do portão sendo destrancado pudesse ser ouvido por ela pareceram durar uma eternidade, e durante, Alice pediu para que ninguém atendesse, e se contrariou quando desejou que milagrosamente fosse Emily a abrir o portão. Aqueles olhos dourados e ansiosos apressaram-se ao buscar pelo rosto do quem o abria, e encontrar os olhos de Katrien, tão surpresos, a fez sorrir instintivamente. Um sorriso envergonhado por ter partido, tímido por ter voltado e receoso por não saber o que esperar daquele reencontro. Seu coração batia forte no peito, aguardando por notícias de Emily, mas antes que Katrien ousasse dizer alguma palavra, ela envolveu a advogada em um abraço forte e cheio de carinho.

Alice não soube o porquê, mas quando aquela mulher a abraçou, o choro veio junto à soluços compulsivos e constantes, sendo difícil dizer qualquer palavra que lhe viesse a cabeça.

-- Alice, quanta saudade de você. – Katrien recusou-se a soltá-la.

-- Eu também senti saudades, Katrien. – Disse em meio ao choro, enquanto apertava a mulher em seus braços.

Toda a distância das pessoas que significavam alguma coisa na vida de Alice havia lhe feito uma falta absurda, e durante os meses em que não falou até mesmo com os próprios pais, a advogada perdia-se em nostalgias quase todos os dias. Não havia sido apenas por Emily que ela havia sofrido nesses últimos meses, mas também por toda a sua antiga vida e as pessoas que a faziam valer a pena. Alice aproveitou aquele abraço o máximo que pôde, e embora ela soubesse que não havia como se preparar emocionalmente para a conversa a respeito de Emily, ela tentou. Respirou fundo e quando decidiu que perguntaria, Katrien pronunciou-se.

-- Porque demorou tanto para voltar? – O olhar confuso da mãe de Emily seguia os movimentos de Alice.

-- Katrien, você sabia que eu não pretendia voltar aqui... – Tristeza pôde ser sentida naquelas palavras fracas e sem ânimo.

-- Depois da mensagem eu achei q... – Alice intorrompeu.

-- Mensagem? – Arqueou uma das sobrancelhas. – Do que está falando? – Questionou após sentir seu corpo gelar.

Em horas como esta, nada de bom se passa na cabeça das pessoas, e não foi diferente para Alice, que apressou-se em concluir que a mensagem deveria ter sido para informar que Emily havia falecido. Os olhos de Alice já preenchiam-se com lágrimas novamente e seu coração apertou no peito quando se deu conta de que se fosse verdade, ela teria perdido a chance de vê-la pela última vez.

-- Alice... – Katrien a segurou pelos ombros, forçando-a a olhá-la nos olhos. O timbre sério no qual ela usava assustava a advogada, que certamente não estava pronta para ouvir a verdade. – Ela acordou. – Um sorriso tomou os lábios da mãe, e tão rápido quanto ele se formou, lágrimas emocionadas também surgiram em seus olhos quando lembrou-se do momento em que a filha acordou. – Emily acordou.

“Ela acordou” – Aquelas palavras atingiram a advogada em cheio. Ela levou as mãos até a boca, cobrindo-a como se pudesse conter todo aquele misto de sentimentos que afloravam em seu peito agora. Seu coração batia tão forte e rápido que chegava a lhe causar dores físicas, e durante as lágrimas que correram dos seus olhos e os soluços, podia-se ouvir o som de um riso choroso e incrédulo. –“Meu Deus, ela...” – Alice não conseguia conter as emoções, e em seus pensamentos, ela agradecia a todas as energias possíveis. Era difícil crer no poder que aquelas palavras tinham sobre ela, difícil acreditar no milagre que havia acontecido e embora ela quisesse correr para os braços de Emily agora mesmo, seu corpo sequer se mexia.

-- Ela... A Emily... – Faltava-lhe fôlego para completar as palavras, e ainda com suas mãos na boca, ficava difícil para Katrien entender o que ela tentava dizer. – Eu quero vê-la. Katrien, eu preciso vê-la. – Disse em um único fôlego, apressando-se ao adentrar ao portão e lutando contra seu corpo que estava completamente tremulo pelo nervosismo.

-- Alice, ela não está em casa. – Katrien segurou em seu pulso, impedindo-a de seguir.

-- Como não? Onde ela está? – A ansiedade de Alice podia ser percebida através de suas palavras impacientes.

-- Ela foi para a fazenda. – A advogada a interrompeu.

-- Eu preciso ir até lá.

-- Alice, espera, tem algo que voc...

Alice soltou-se da mão daquela mulher e foi até o carro em passos apressados e desnorteados. Seus pensamentos fluíam a todo vapor, fazendo-a ignorar tudo que Katrien disse depois dali. Ela apenas desculpou-se por estar saindo daquela forma e partiu.

Katrien observou-a sair dali em um rompante, e embora ela entendesse a aflição e a ansiedade que Alice provavelmente estava sentindo, sentiu seu coração apertar por não conseguir explica-la o que havia acontecido com Emily. A filha não se recordaria de Alice, e o reencontro entre elas poderia não ser nada como a advogada esperava, e Katrien sentiu-se completamente incapaz quando não conseguiu prepara-la para o que estava por vir.

Alice não se preocupou em saber quando a ruiva tinha acordado, ela só conseguia pensar na chance que teria de ver aqueles olhos tão azuis, brilhantes e lindos de novo, de vê-la realmente viva, de ouvi-la falar e rir mais uma vez. Seu coração explodia em batidas intensas e em ritmo acelerado a cada vez que as lembranças de Emily a deixavam com nostalgia e durante aquela viagem, a advogada agradeceu por tê-la de volta em sua vida. Foi uma longa viagem, de baixo de uma chuva forte, de pensamentos desorganizados e de sentimentos confusos que afloravam a todo momento. Não havia apenas felicidade nas lágrimas que corriam pelos olhos de Alice, sentimentos de culpa e arrependimento também a confrontavam quando ela se repreendia por ter partido. –“Eu deveria estar ao lado de Emily quando ela acordou... Como eu pude deixa-la sozinha? “ – Alice apertou o volante entre seus dedos, sentindo raiva de si mesma por ter sido fraca quando Emily mais precisou dela. –“Que idiota.” – Alice gritou, enquanto esmurrava o banco ao lado.

Era difícil para a advogada tentar imaginar como seria reencontrá-la depois de tê-la praticamente a perdido. Mas duas certezas ela tinha: Seu amor por Emily ainda estava ali, e mesmo que a ruiva pudesse não perdoá-la pela mentira e por tê-la deixado, ela não estava disposta a desistir desse amor.

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Algumas lembranças do Cápitulo 42.

“-- Como não confiar? -- A brincadeira entre as duas acabou ali, com aquela simples e séria frase. Olhos azuis e dourados encontraram-se mais uma vez, compartilhando de sentimentos que ambas conheciam tão bem. Todo o companheirismo e amizade que construíram transformava-se em algo ainda maior, algo que parecia-lhes não caber-lhes apenas no coração, mas sim que as consumiam por inteiro, cada ação, pensamento, cada parte do seu ser. -- Emily... -- A ruiva apenas a olhou, passando-lhe confiança para que completasse o que tinha a dizer. -- Porque agora? -- Alice apertava os dedos uns contra os outros, nervosa por pensar no porque Emily quis dar-lhe uma chance, mesmo que ela não a tenha pedido diretamente.

-- Como assim? -- Olhou-a um tanto quanto desconfiada.

-- Você teve todas as oportunidades, todos esses anos para ficar comigo... -- Sentiu sua garganta secar. -- Então...

-- Já entendi. -- Interrompeu-a, ficando ambas em um longo e tortuoso silêncio. -- Eu simplesmente e finalmente consegui perceber uma coisa Alice. Algo que eu deveria ter enxergado anos atrás... -- A ruiva buscou pelos olhos da amiga, que se afugentavam devido ao nervosismo e também ansiedade. -- Nós crescemos juntas, mesmo que obrigadas, nós sempre estivemos próximas e isso permitiu que conhecêssemos cada parte e cada detalhe uma da outra, seja lá uma expressão facial ou até mesmo um timbre de voz... -- Suspirou. -- Eu sei que tudo nem sempre foi um mar de rosas, na verdade, nós começamos com o pé esquerdo e nos enfrentamos diversas vezes, machucando uma a outra. E todas essas mágoas que nós nos causamos Alice, de alguma forma se encarregou de afastar qualquer sentimento bom que pudesse vir a florescer em mim... Quero dizer, eu fiz questão de afastar eles de mim. Eu sempre me neguei a acreditar no que eu realmente sentia por você... Mas como não negar? -- Emily estranhamente sorriu, fazendo com que Alice franzisse o cenho, confusa. -- Você sempre foi essa garota teimosa, cheia de si e completamente implicante. Você sempre teve essa capacidade de me tirar do sério, de me deixar completamente louca. E quando digo louca, digo lélé da cuca mesmo. -- Alice retribuiu-a com um sorriso tímido e com aquelas covinhas demarcadas pelo tom rubro. -- Nossa... Quantas foram às vezes em que nós quase nos metemos em grandes problemas por culpa desse... -- Emily repensou bem as palavras, não queria usar o adjetivo ‘ódio’ quando agora sabia que nunca se tratara disso. -- Dessa rixa. -- Emily endireitou-se na cama, aproximando-se vagarosamente da amiga. Tocou-lhe a mão em um carinho com o polegar, sorrindo por finalmente encontrar aqueles olhos dourados e brilhantes dos quais tanto adorava. -- Você sempre esteve aqui para mim, Alice. Em todos os momentos da minha vida... E eu fui burra por escolher o caminho mais fácil quando eu sabia que o caminho certo me levaria até você. Eu... -- Emily olhou para suas mãos dadas e sentiu o coração palpitar incontrolavelmente, causando-lhe um frio na barriga. -- Eu percebi que durante toda a minha vida eu sempre deixei todas as outras pessoas de lado por você, e eu ignorei isso por muito tempo... Eu acho que nunca havia parado para pensar no real significado de ter simplesmente transformado você na coisa mais importante da minha vida quando na verdade eu pensava apenas estar fazendo o meu papel de amiga presente. -- Alice compartilhou do mesmo sentimento que a ruiva, sentia também seu coração descompassar no peito, sua cabeça parecia não funcionar quando seu foco mantinha-se tão preso em Emily. -- E como eu te disse diversas e incontáveis vezes, Alice Butckovisky. -- Olhou-a nos olhos mais uma vez. -- Você é minha melhor amiga, é a melhor e a pior parte de mim. Mas dessa vez é diferente, desde o dia em que você me disse que as pessoas não esperam para sempre eu tenho sentido essa impaciência terrivelmente incomoda de saber como seria se eu tivesse seguido o meu sentimento há seis anos quando ficamos presas naquele elevador e você teve aquela estranha atitude para me livrar da crise de pânico, atitude essa que salvou a minha vida, literalmente. -- Alice sentiu seu coração bater tão forte que parecia querer-lhe explodir o peito. Ela jamais imaginaria que Emily pudesse recordar desse momento.

                Emily segurou forte na mão de Alice e trouxe-lhe até o alcance de seu peito para que ela pudesse assim, sentir seus batimentos de maneira tão intensa como ela estava sentindo dentro de si.

-- Está vendo? -- Alice desmanchou-se, tentou conter as lágrimas alegres que se formavam em seus olhos, mas isto era impossível, todas aquelas palavras tocava-lhe a alma. Como pudera Emily esconder isso por tanto tampo? Como pudera ambas fazerem isso? Justamente elas que diziam se conhecer tão bem... A vida era mesmo uma eterna caixinha de surpresas. -- É por você que ele bate assim, pois ele sabe que é teu, unicamente teu.”

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Pouco mais de 8 anos atrás. – No dia do elevador.

 -- Eu não acho isso uma boa ideia, Emily. – Alice andava de um lado para o outro, pensando sobre o convite estúpido que a ruiva acabava de fazer à ela. – Deixe-me te lembrar que: Anne está saindo com Thiago, o anfitrião da festa. Você sabe disso, não sabe? – O timbre rígido da morena carregava também um pouco de preocupação. Ela sabia que Emily se machucaria se os visse juntos, e vê-la triste não era uma opção essa noite.

-- Eu sei, Alice. – Os olhos da ruiva acompanharam todos os movimentos impacientes da outra. – Relaxa, okay? – Forçou um sorriso, tentando demonstrar um pouco de força.

-- Relaxar? Como eu vou relaxar? Eu não quero que você se machuque, Harley. – Seus ombros murcharam quando encontrou os olhos atentos da ruiva. Alice havia desmanchado quando lembrou-se que uma situação dessas não machucaria apenas Emily, mas ela também, e por um breve momento, a morena arrependeu-se de ter se metido naquele maldito triangulo amoroso. Emily era apaixonada por Anne e só estava naquela “relação” com ela para aprender como se relacionar com mulheres antes de realmente investir em Anne. Ou seja, Alice era apenas um meio de campo, um meio para que a ruiva se preparasse para o amor da vida dela. Seu coração apertou no peito quando lembrou que podia ser deixada de lado a qualquer momento, e a qualquer momento incluía a festa onde Emily encontraria a outra depois de tanto tempo sem a vê-la na escola.

-- Alice... – Chamou-a em um tom imperativo, fazendo-a despertar de seus pensamentos e, atraindo seus lindos olhos dourados em direção aos seus. – Eu vou ficar bem. – O olhar duvidoso que a morena lançou sobre ela a fez completar. – Você estará lá comigo. E... – Emily umedeceu os lábios antes de prosseguir. – Eu não estou querendo ir à essa festa por causa da Anne.

-- Não? – Franziu o cenho em uma expressão confusa.

-- É obvio que não. – A ruiva sorriu mais uma vez, carregando nos lábios uma doçura incomum.

Aquelas últimas semanas em que havia começado alguma coisa com Alice haviam feito muito bem a Emily. De uma forma rápida e um tanto quanto estranha, elas pareciam ter parado de discutir uma com a outra, e seus momentos juntas haviam se tornado mais frequentes, por pura vontade, e não obrigação de família. A ruiva costumava frequentar a casa de Alice quase todos os dias, e no meio das novas experiências em que estavam vivendo, acabaram difundindo uma amizade que nenhuma delas esperava. A morena tinha receio de que tudo aquilo fosse temporário, e embora elas não falassem sobre o motivo pelo qual haviam começado aquilo, ela não se permitia esquecer de que era por outra mulher que Emily estava com ela agora, ou pelo menos, era isso que ela pensava.

-- Eu quero me divertir com você, Alice. – Repensou naquelas palavras, percebendo que o duplo sentido delas poderia machucar a outra, e consertou. – Digo, chega de ficar se escondendo, sabe? – Emily pegou na mão da morena. – Vamos lá, e dane-se o que os outros possam pensar. Ninguém tem nada a ver com a nossa vida.

O coração de Alice palpitou ao ouvi-la. A insinuação de que Emily não se importava em ficar com ela na frente dos outros a fez suar frio.

-- Do que você está falando, Emily? – Aqueles olhos dourados mostravam o sentimento de surpresa.

-- Do que acha que eu estou falando, Alice? – Emily foi irônica. – Vem, vamos sair. – Pressionou os lábios em um sorriso encantador, e em seguida depositou um beijo carinhoso no canto da boca de Alice.

A morena ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo ali, ela acompanhou Emily até a festa, e a encarava por boa parte do percurso enquanto tentava retirar dos olhos e também dos gestos da ruiva, qualquer coisa que lhe desse certeza daquelas palavras. Alice buscou por qualquer receio em relação à festa nos olhos da ruiva, qualquer sentimento de dúvida ou preocupação, mas tudo que ela conseguiu absorver foi uma alegria e empolgação fora do normal, fazendo-a questionar dois pontos: Ou Emily sabia fingir muito bem, ou ela realmente não estava nem ai para Anne aquela noite, e fosse um ou outro, aquilo era de fato uma surpresa para Alice.

Quando chegaram a festa, o local já estava infestado de alunos da escola delas e também de outras . O ambiente extrovertido estava regado a bebidas alcóolicas e petiscos espalhados em vasilhas pela casa. As pessoas pulavam ao som da música e diversos grupinhos estavam pelo local, conversando e rindo sobre qualquer coisa.

-- Vem, vamos pegar alguma coisa pra beber... – Emily pegou a morena pela mão e a puxou pela festa.

A noite corria bem, tomaram algumas bebidas, encontraram amigos e durante um bom tempo, sequer encontraram com Anne. Mas as coisas não correram sempre bem durante a noite, foi só afastar-se de Alice por alguns minutos, quando foi buscar mais bebida, que seu azar começou. Emily estava chegando na cozinha quando deu de cara com Anne sentada sobre a pia e entre as pernas dela estava um rapaz de cabelos negros e compridos, provavelmente Thiago. Eles se beijavam ferozmente enquanto o rapaz aproveitava-se das pernas dela em toques impacientes e de certa forma até brutos. A ruiva ficou parada lá por alguns segundos, tentando assimilar o que estava vendo e pensou na maldita tendência que tinha em ficar se martirizando com essas cenas, mas não era só isso, a real intenção de Emily era observar Anne e perceber se ela estava ou não gostando daquilo tudo, e seu coração apertou ao notar que sim.

Emily respirou fundo, dando a si mesma a força necessária para ignorar aquela situação, e lembrar-se que Alice esperava por ela logo mais à frente à deu essa força, ela não pretendia deixar a outra chateada com a história de Anne justo hoje. Emily já havia percebido o quanto a morena se segurava em relação à elas por medo do sentimento que ela acreditava ainda existir entre ela e Anne, e tudo que ela não queria agora era que Alice se afastasse dela.

A ruiva sentiu seu coração descompassar quando imaginou, por um instante, que Alice pudesse se afastar dela, e aquele sentimento novo a deixava morrendo de medo. O que haviam construído ali era real demais para que ela pudesse perder justo agora. O caminho que haviam percorrido até ali havia sido longo, doloroso e tão cheio dos mais variados  sentimentos que Emily sequer conseguia explicar. Do ódio ao... amor? Seria isso? De certo ela não sabia, e muito menos compreendia o que sentia a respeito de Alice, mas seja lá o que fosse, ela não podia perder aquela história, não podia perder aquela amizade, aquela mulher.  –“O que eu estou fazendo aqui?” – Emily repreendeu-se por ainda estar parada ali, fitando-os, e logo deixou a cozinha, após pegar, em cima da bancada, uma garrafa de tequila vazia até a metade.

-- Olha o que eu achei. – Levantou a garrafa de tequila, balançando-a em frente aos olhos de Alice, que logo retribuiu com um sorriso.

-- Passa isso pra cá. – Alice tentou pegar a garrafa de Emily, mas a ruiva reagiu rápido, retirando-a do seu alcance. Abriu a garrafa e deu um longo gole, passando-a para a morena logo em seguida.

Terminaram o resto da tequila que havia na garrafa, e a ruiva não pensou duas vezes ao puxar Alice para dançar junto dela quando começou a tocar “Stay – Zed, Alessia Cara”.

Alice se segurou no primeiro momento, mas era difícil não seguir o ritmo que a ruiva impunha. Todo o álcool e a vontade de estar perto dela falaram mais alto, e ela logo começou a acompanhar. Seus corpos tocavam-se durante uma dança mais próxima, e embora várias outras pessoas estivessem dançando também, os olhares conhecidos voltavam-se para elas, que tão estranhamente, aos olhos deles, pareciam estar se dando tão bem a noite inteira. Emily Harley e Alice Butckoviscky estavam juntas, e o assunto correu rapidamente pela festa, chegando aos ouvidos de Anne.

-- Anne, você não vai acreditar no que está acontecendo. – Uma colega de classe aproximou-se dela na cozinha, interrompendo o beijo entre ela e o rapaz. – A Emily... – Thiago a interrompeu.

-- Ow, não está vendo que está atrapalhando não? – O rapaz tentou beijar Anne novamente, mas ela o segurou, empurrando seus ombros para trás.

-- A Emily está bem? – Os olhos atentos dela voltaram-se para a garota ao seu lado.

-- Aparentemente não. Ela só pode ter perdido a cabeça...

-- Do que você está falando? Onde ela está? – Anne desceu da pia, interrompendo a jovem de maneira apressada. – Ela está aqui na festa? – Seu coração pulsou forte ao pensar que ela podia estar passando mal ou coisa do tipo.

-- Ela e a Alice estão juntas... – Apontou em direção à sala, onde todos estavam dançando.

-- Mas que droga... – Resmungou ao imaginar qual seria a briga dessa vez.

Anne apressou-se ao procurá-la e surpreendeu-se ao vê-las, ao contrário do que pensava, tão bem e em tanta sintonia. Elas estavam próximas o suficiente para dar o parecer de que se beijariam a qualquer momento, e os sorrisos discretos nos lábios delas não passou despercebido pelos olhos de Anne, que as observava tão minuciosamente. Naquele instante, o mundo ao redor de Anne parou, e todas as vozes e a música não passavam de um silêncio absoluto. Vê-las daquele jeito deixou-a estranhamente enjoada, e embora ela não soubesse o porquê, ela só queria tirar Emily dali e afastá-la de Alice antes que algo acontecesse.

Em sã consciência Anne jamais faria isso, mas antes que ela pudesse ter noção de suas atitudes, sua mão já estava no alcance do braço da ruiva, puxando-a para longe enquanto resmungava algumas palavras.

-- Anne, me solta... – Emily reclamava enquanto era puxada para dentro da multidão de pessoas. Seus olhos perdidos e confusos buscaram por Alice toda as vezes que ela olhava para trás, e seus olhos até encontraram-se algumas vezes antes de se perderem no meio das pessoas. A ruiva tentou relutar contra Anne quando perdeu os olhos da morena de vista, mas ela parecia determinada a ter aquela conversa e não soltaria Emily tão cedo.

Alice pensou em impedi-las e até deu alguns passos em direção à elas, mas seu corpo travou ao lembrar-se que Anne era a garota que a ruiva amava, e não ela. Sua respiração chegou a falhar quando se deu conta de que talvez esse fosse o momento em que ela seria deixada de lado.

-- Emily, eu preciso falar com você... – Anne empurrou a ruiva para dentro do banheiro e a fitou. – O que você pensa que está fazendo?

-- Do que você está falando? – Gesticulou ao enfrentar seus olhos. – Eu que deveria perguntar isso à você. Você me puxa do nada e... – Foi  interrompida.

-- Você e a Alice estavam quase se beijando ali no meio de todo mundo... O que te deu na cabeça? – Anne alterou o timbre, mostrando-se claramente irritada.

-- Nada deu na minha cabeça Anne. – A ruiva respondeu quase que em um rompante.

-- Como não? É DA ALICE QUE ESTAMOS FALANDO EMILY, E VOCÊ QUASE A BEIJOU!

-- Ei, abaixa esse tom. – Semicerrou os olhos para a outra, não entendo o motivo de tanto nervosismo. – E também, o que é que você tem a ver com isso? Só você pode sair beijando pessoas por ai?! – A ruiva cutucou, sabendo que Anne estava com ciúmes.

Anne tentou responde-la, mas nenhuma palavra saiu de sua boca, perceber que o assunto acabaria retornando ao fato delas terem se beijado semanas atrás a travou.

-- Eu sinceramente não te entendo. – Emily balançou a cabeça, reafirmando suas palavras.

-- Emily eu... Eu não posso ficar com uma garota. Você não entende... – A voz de Anne estava sentida. – Eu não posso levar uma vida como essa. – Seus ombros murcharam, e naquele momento ela não teve coragem de olhar a ruiva nos olhos.

-- Porque me impedir de ficar com alguém então? Se você não sabe o que quer, Anne, então sai fora. Vai viver a tua vida e deixa eu a minha. – Aquelas palavras doeram nas duas.

-- Eu não consigo, okay? – Admitiu. – Eu não consigo ver você com outra pessoa... Eu não sei o que me deu, eu...—Os olhos de Anne foram de encontro aos da ruiva, e naquele momento, quando seu olhar cruzou com o dela, ela entendeu o que sentia, e por mais que ela soubesse que seus pais jamais fossem aceitar essa vida, ela não conseguia mais negar aquele sentimento. – Emily, por favor, não fica com a Alice. Eu paro de ficar com o Thiago e a gen...

A ruiva parou de prestar atenção nas palavras de Anne no instante em que ouviu o nome da Alice, e seu coração apertou quando a viu pedir para não ficar mais com ela. Como Emily poderia fazer aquilo? Ainda mais depois de tudo. Era obvio o quanto ela estava confusa em relação aos sentimentos dela pelas duas, ela era apenas uma jovem que ainda não entendia nada sobre o amor, ou sobre se apaixonar realmente por alguém, e se haviam duas pessoas nesse mundo que a deixavam louca, de suas maneiras, essas eram Alice e Anne. O sentimento que ela havia criado por Anne era puro, uma amizade que desde sempre havia dado certo, e um companheirismo invejável, mas de certa forma, era como se elas no fundo não se conhecessem, não a ponto de entender uma a outra, ou compartilhar olhares e pensamentos. E o sentimento dela por Alice fora construído em cima de todas essas coisas, e foi além, transpassando as barreiras da razão e até mesmo do amor, e embora Emily não tivesse capacidade para compreender o real significado daqueles sentimentos ou da história que tinha com Alice, ela não queria perde-la, e não havia suportado ouvir Anne pedi-la para, de certa forma, deixá-la.

-- Para de falar Anne. – O timbre rouco e pacato da ruiva contrariou a vontade que teve de gritar com Anne naquela hora. – Você não tem o direito de me pedir isso, não agora. – Emily pressionou os lábios e respirou fundo antes de continuar. – Eu vou sair agora. E por favor, não venha atrás de mim. – Emily encarou os olhos da morena antes de partir, e admitiu, talvez mais para ela, do que para Anne. – Alice e eu somos amiga agora, e não há nada que você possa fazer para mudar isso. – A ruiva deixou o lugar, não sendo capaz de ouvir os últimos resmungos de Anne.

-- Vamos ver.

Alice estava recostada no para peito da varanda, virando copos de cerveja seguidos quando foi abordada por uma garota de outro colégio.

-- Você é a Alice, certo? – Os olhos negros da menina de pele pálida eram intensos e misteriosos.

-- O que você quer? – Foi rude.

-- Direto ao ponto, gosto assim. – Sorriu. – Você está com aquela garota com quem estava dançando? 

Aquelas palavras penetraram como facadas em seu peito, e sua garganta secou quando imaginou a ruiva com Anne, e o que elas provavelmente estariam fazendo.

-- Você está vendo ela aqui agora, por acaso? – Forçou um sorriso sarcástico e tomou outro gole de cerveja.

-- Então ela não vai se importar se eu te beijar agora, ou vai? – A garota se aproximou, cercando-a no para peito.

Alice sentiu seu corpo retrair, recusando-se a estar com qualquer outra pessoa que não fosse Emily, mas pensar que agora ela estaria com Anne deixou-a completamente irritada. Em seu coração, ela sentia um aperto e uma vontade incomum de só sair daquela festa e chorar, mas ela sabia que não podia dar isso de presente para Emily.  A morena apertou os punhos e respirou fundo, tentando engolir a vontade de chorar. –“Que se fôda.” – Alice apenas se deixou ser beijada pela garota, e embora ela estivesse fazendo aquilo pensando em devolver à Emily o sentimento de “tanto faz”, aquele beijo não lhe trouxe o tão esperado sentimento de vingança, mas sim um enjoo e arrependimento.

Alice interrompeu o beijo entre elas ao empurrá-la para longe, mas já era tarde, ela havia beijado outra garota, e Emily, que acabava de retornar para o ambiente da festa, procurando por ela, havia visto tudo.

-- Emily, sua idiota... – Disse a si mesma em um timbre baixo e sem muito animo.  Emily respirou fundo enquanto olhava-as, e lutar contra as lagrimas que se formavam em seus olhos foi difícil. Deu meia volta e buscou por qualquer bebida na cozinha. –“E eu pensando que... Ahr, idiota. Isso, é isso que eu sou. Idiota por pensar que eu e Alice poderíamos um dia ter alguma coisa” – Emily tomou alguns goles de uma garrafa de Whisky, e a intensidade da bebida a fez tossir. –“Ela realmente só queria que eu me preparasse para Anne, sempre foi isso... E eu aqui criando coisas em minha cabeça” – Seu coração apertou ao descompassar-se, e novamente as lágrimas estavam lá, teimando em sair de seus olhos quando caiu em si de que talvez Alice jamais houvesse sentido algo por ela.

-- Emily, você está bem? – Matheus se aproximou da ruiva ao vê-la de cabeça baixa, resmungando algumas palavras.

A ruiva assustou-se com o aparecimento repentino do rapaz, soltando uma gargalhada nervosa com a própria situação.

-- Ei Matheus. – Forçou um sorriso. – Estou sim, acho que só bebi demais por hoje.

-- E ainda está com essa garrafa em mãos? – Arqueou a sobrancelha.

-- Claro, é até pecado deixar uma garrafa dessas pela metade. – Emily sentou-se sobre o balcão e bateu a mão ao lado, chamando-o para acompanhá-la, afinal, uma companhia agora era exatamente o que ela precisava para não ficar remoendo o beijo que havia acabado de ver.

-- Passa essa garrafa pra cá. – Matheus sentou ao lado da ruiva, tomando a garrafa de suas mãos para que pudesse tomar um gole também. – Você e a Alice em... Tá rolando? – Olhou-a curioso, levantando uma de suas sobrancelhas.

-- Rolando? – Franziu o cenho, fazendo-se de desentendida.

-- É. Rolando... Você sabe. Vocês estão juntas?  -- As palavras do rapaz atingiram-na em cheio, e naquele momento Emily tomou a garrafa das mãos do rapaz, tomando um longo gole.

-- Alice e eu? – Deu um riso forçado. – É claro que não. – Emily rapidamente desviou o olhar.

-- Qual é, pode me contar. – Roçou o ombro no da ruiva. – Eu vi vocês na pista de dança... Aquela sintonia... Vocês estavam a milímetros de se beijarem.

-- Você não estava na festa a minutos atrás? – Respondeu ríspida, fazendo o rapaz, que não havia entendido nada, arquear as sobrancelhas. – Não a viu beijando outra garota agora pouco? – O ciúme pôde ser claramente percebido no timbre de voz de Emily, e embora Matheus tivesse tentado se conter, ele acabou rindo da outra. – Do que você está rindo? – Gesticulou.

-- Você está com ciúmes. – Afirmou para si mesmo e para a amiga. – Emily Harley apaixonada por ninguém menos que nossa maravilhosa e malvada, Alice. Quem diria. – O timbre embargado e brincalhão de Matheus, assim como as palavras não filtradas, transpareciam o quanto estava bêbado.

-- Ah Matheus, não fode. – A ruiva largou a garrafa sobre a pia e saiu, sendo acompanhada pelos olhos do amigo que sequer respondeu, ainda surpreso pelas palavras da outra.

-- Não dá pra acreditar em uma coisa dessas... – Emily murmurava enquanto saia do apartamento onde acontecia a festa. – É cada coisa que a gente é obrigada a ouvir...

A ruiva apertou o botão para chamar o elevador, e enquanto o mesmo não chegava, seus pensamentos ousavam voltar na específica palavra que Matheus havia falado “apaixonada”.

-- Tá bom. Até parece.  – Emily sacodiu a cabeça, recusando-se acreditar nisso. Embora ela, por alguns instantes, houvesse pensado em ter algo a mais com Alice, estar apaixonada era um termo forte demais. Afinal, seu amor era por Anne. Certo?!

Emily adentrou ao elevador assim que o mesmo chegou, mas o fechar da porta foi interrompido pelas mãos de Alice, que tão apressadamente havia corrido até ela ao ouvir Matheus dizer que ela havia ido embora.

-- Você tá de brincadeira né? – Murmurou aquelas palavras, não acreditando que estava vendo a morena ali, parada na sua frente.

-- Emily, aonde você está indo? – Franziu o cenho.

-- Pra onde mais eu estaria indo?! – Foi arrogante. – Para casa né.

Alice recuou as palavras ao vê-la reagir de forma tão grossa e seus olhos buscaram pelos da ruiva, que a evitou a todo momento, deixando claro que as coisas não estavam bem. A morena adentrou ao elevador e esperou que a porta se fechasse para questioná-la.

-- O que a Anne fez dessa vez? – Sem saber do real motivo pelo qual Emily estava daquele jeito, seu primeiro e único palpite foi a respeito da outra, e seu coração apertou no peito quando pensou que ela havia sido machucada outra vez.

Emily respirou fundo e umedeceu os lábios, lutando contra a vontade que estava de brigar com Alice por ela ter beijado outra pessoa. A ruiva não podia deixar transparecer o quanto aquilo havia lhe doído, afinal, se Alice havia feito aquilo, ela definitivamente não queria nada sério com Emily, e demonstrar ciúme em uma situação como essa só colocaria em risco a amizade que elas estavam construindo agora.

A luta não estava sendo fácil, o coração da ruiva ardia em raiva por ter visto Alice beijando alguém que não fosse ela, e falar sobre qualquer coisa agora poderia dificultar ainda mais as coisas.

-- Alice, agora não. – Cruzou os braços e continuou a evitar o olhar da morena.

O silêncio que se estabeleceu no elevador depois daquelas palavras não durou muito tempo, mas os segundos pareceram durar eternidade para as duas, que tão intensamente sentiam seu coração apertar no peito, cada uma por seu motivo, e ambas sem saberem que naquela hora, só uma conversa poderia salvar o que ainda podia acontecer entre elas. Alice sentia uma pontada na boca do estomago, seus pensamentos confusos e diversos caminhavam desde um acontecimento romântico entre Emily e Anne, até uma briga. E embora as duas opções lhe causassem tristeza, ela desejou que a ruiva ficasse bem, desejou que Anne não tivesse feito nada estúpido dessa vez, e as diversas tentativas  falhas de falar alguma coisa durante seus pensamentos a fez suspirar pesado. Emily a olhava discretamente algumas vezes, notando a inquietação de Alice e a clara vontade que ela estava de furar o pedido que havia feito, e embora ela soubesse que não falar talvez fosse a melhor opção, seu coração palpitava a cada vez que a amiga abria a boca como se fosse questioná-la, mas nenhuma palavra saia. A ruiva pensou em dizer alguma coisa para acabar com aquele silêncio que a corroía por dentro, mas recuou, pois sabia que elas brigariam assim que ela abrisse a boca. Aquele silêncio perduraria até a hora que elas fossem embora se dependesse de sua coragem, mas o pane do elevador, causado por um apagão no bairro, fez as duas gritarem assim que as luzes de emergência acenderam-se e o elevador parou.

-- Não, não, não, não... – Emily repetia incontáveis vezes, e a cada uma delas, o medo e o desespero tornavam-se mais visíveis.

A ruiva odiava ficar em lugares pequenos e fechados. Seu coração já havia disparado no peito, e o nervosismo pela situação era extremamente perigoso para ela, que entendia que podia ter uma crise a qualquer momento.

-- Mas que droga... – Alice resmungou, sem se dar conta que a amiga buscava incansavelmente por algo dentro dos bolsos e da bolsa que carregava. – Não acredito nisso... – Ela tentou apertar os botões do elevador, mas nada acontecia. Pegou o interfone de emergência e ligou, rezando para que o porteiro atendesse, e quando o mesmo o fez, ela avisou que estavam presas no elevador, e seu desapontamento e desespero logo aumentaram, quando o mesmo a disse que poderia levar algum tempo para tirá-las de lá, uma vez que a energia do bairro ainda não havia voltado. – Emily... – Alice estava de costas para a ruiva quando a chamou em um timbre receoso e também amedrontado, e ao se virar, seus olhos acompanharam toda a movimentação apressada da ruiva que à aquela altura já resmungava algumas palavras irritadas.

-- Não! Não fala nada agora Alice. – Foi grossa ao falar de forma tão ríspida e imediata.

-- Emily, você ouviu o que o porteiro disse? – Gesticulou ao se aproximar da ruiva. – Nós vamos ficar nessa porcaria de elevador por um bom tempo, então para com isso e desembucha logo. – Seus olhos buscaram pelos da amiga, e encontra-los tão frios a deixou preocupada. – Fala comigo vai, o que rolou entre vocês?

Emily soltou um riso nervoso quando Alice perguntou sobre ela e Anne novamente.

-- Você realmente não faz ideia do porque eu estou assim, não é? – A ruiva apertou o maxilar, e respirou fundo outra vez.

-- É claro que não. Eu não estava lá com vocês, lembra? – O timbre debochado da morena fez com que Emily explodisse em raiva,  não podendo acreditar no quanto Alice podia ser tão burra.

--  Ah, eu sei que não estava. Você estava ocupada beijando outra garota. – Aquelas palavras repentinas fizeram com que a morena travasse, e o frio na barriga tomou conta.

-- Q... Quê? – A voz falhou, fazendo pigarrear.

Emily balançou a cabeça, negando-se a acreditar na reação da outra.

-- Quem te disse isso? – Os olhos assustados de Alice não foram surpresa para a ruiva.

-- Ninguém precisou me dizer nada, Alice. – Estava séria. – Eu vi, okay? Eu vi. – Emily engoliu seco, torcendo para que pudesse se controlar, tanto no ciúme quanto no choro naquela altura já parecia querer engasga-la.

A voz de Alice vacilou quando tentou se explicar, e ver a ruiva com aquela cara fechada parada na sua frente não a ajudava muito. Ela estava arrependida do que havia feito, mas é claro que Emily jamais acreditaria nisso, não agora pelo menos, e seu coração logo apertou no peito, ao imaginar que podia ter estragado tudo antes mesmo de começarem.

-- Mas você estava com a Anne e... – As palavras apressadas de Alice logo foram interrompidas por Emily, que não se conteve ao ataca-la.

-- Porr* Alice! – Esbravejou. – Você tinha mesmo que fazer isso justamente hoje? – Seu coração apertou ao lembrar da cena que minutos atrás havia acabado com a noite tão linda que estavam tendo.

-- E você queria o quê? Que eu esperasse você voltar pra me dizer que finalmente ia ficar com o amor da sua vida? – Finalmente Alice havia tocado no ponto que tanto a incomodava por semanas. – Vamos ser sinceras, Emily. Você só estava comigo por causa dela e você só foi nessa festa para deixa-la com ciúmes de nós. – Falou sem pensar nas consequências daquelas palavras.

-- Cala a boca. – Emily enfrentou aqueles olhos dourados, e embora ela soubesse que haviam verdades nas palavras da outra, nem tudo que ela tinha falado era uma verdade agora. A ruiva não havia ido a festa para causar ciúmes em Anne, e talvez ela não fosse mais o motivo pelo qual continuava a ficar com Alice.

-- Admite Emily! – Alice retrucou. – Desde o início nós sabíamos que isso ia acabar acontecendo.

-- Isso o quê? Você beijar outra garota? – Retornou ao assunto que tanto a incomodava. Emily queria saber o porquê, ela queria entender como Alice podia ter feito algo assim com elas.

-- Você e Anne ficarem juntas, Emily. – Alice machucou a si mesma com aquelas palavras, mas ela precisava confirmar o que já suspeitava.

Emily semicerrou os olhos, fitando-a enquanto tentava digerir o que havia ouvido. Estava claro para ela agora: Alice só estava esperando o momento em que isso aconteceria para que pulasse fora, e embora houvesse sido uma surpresa para a ruiva o quão rápido ela tinha feito isso, foi fácil entender que seus pensamentos estavam certos ao achar que Alice não queria nada com ela.

-- Não existe Anne e eu. – As palavras embargadas pela vontade de chorar não passaram despercebidas por Alice, que engoliu seco ao ouvi-la. Seu coração disparou com a surpresa das palavras, e uma mistura de alivio e arrependimento tomaram conta novamente. – Mas tudo bem... – A ruiva desviou o olhar, temendo não conseguir conter o choro se a olhasse nos olhos. – Eu entendi agora... Não é como se existisse eu e você também. Nunca existiu, não é? – Emily pensava alto. – Você deixou claro o motivo pelo qual começamos isso e...  Eu não sei o que deu em mim por me deixar levar por esse senti...– Antes que a ruiva terminasse de falar, um forte balanço no elevador a assustou, fazendo-a cambalear e esbarrar na lateral do elevador. – PUTA QUE PARIU. – Suas mãos foram de encontro a barra na lateral do elevador, segurando-a com toda a força que pôde.

Alice havia sido jogada para o outro lado do elevador, segurando-se do jeito que conseguiu para não cair. Seu coração pulsava forte no peito, parte pelo susto, parte pelas palavras de Emily que haviam acabado com sua noite, e provavelmente com qualquer esperança que ela tivesse. Seus olhos atentos percorreram todo o corpo da ruiva e logo buscaram por aqueles olhos azuis que tanto gostava. Ela sabia que havia pisado na bola, e estava arrependida por isso, mas como consertar as coisas agora? Como fazê-la entender que não era por Anne que ela havia proposto ficarem juntas?

Alice suspirou pesado ao notar que Emily preferia olhar para qualquer outro lugar do que para ela agora, e aquilo lhe doeu.

-- Emi... – A ruiva interrompeu novamente.

-- Alice... – O timbre calmo e fraco chamou a atenção da morena, que esperava tudo, menos calma da parte dela. – Eu esqueci a minha bombinha em casa. – Falou com dificuldade, sentindo o ar lhe faltar.

Emily deu alguns passos para trás, encostando as costas em uma das laterais do elevador, e levantando o rosto enquanto tentava controlar a respiração. Mas a evidente crise a deixava completamente apavorada, pois sem a bombinha, e presa em um elevador, as chances de sair dessa não eram muito favoráveis.

-- Não... Emily, agora não. – Aqueles olhos dourados e já tão preocupados foram de encontro ao rosto da ruiva, e vê-la respirar pesado a fez perceber que era tarde demais.

Em um impulso, Alice se soltou da barra do elevador e foi até a amiga, tocando em seu ombro enquanto a pedia para respirar com calma e mais devagar.

Foi em vão. A ruiva não conseguia mais controlar a respiração à aquele ponto, e a série de fatores que haviam acontecido ali não ajudariam, afinal, elas estavam presas em um elevador que parecia querer cair a qualquer momento. Emily segurou o pulso de Alice, apertando-o enquanto lhe pedia para dar espaço.

-- Quê? – Questionou quando mal ouviu as palavras da ruiva, mas não obteve uma resposta. Emily estava concentrada em trabalhar na sua respiração para que aquela crise não se tornasse um risco.

Os olhos da ruiva percorreram todo o elevador, buscando alguma brecha ou entrada de ar, e não encontra-las deixava a situação ainda mais hostil, causando-a mais pânico. E bastou isso para que os outros sintomas se agravassem, causando-a dores no peito e uma tosse seca.

Alice segurou nos ombros da ruiva, forçando-a a olhá-la e embora estivesse tão aflita quanto ela, sua voz calma amenizava a situação de alguma forma.

-- Emily, calma, ta bom? Respira devagar. – Seus olhos acompanharam a movimentação da ruiva. – Vamos lá, junto comigo. Respira... – Respirou fundo, querendo que a ruiva conseguisse acompanha-la. – Espira...

Emily apenas balançou a cabeça, afirmando que não conseguia fazer aquilo agora. Ela fechou os olhos com força e o medo da situação a tomava de todas as formas possíveis, fazendo seu coração acelerar a cada batida, aumentando a falta de ar.

Alice se desesperou ao notar que a ruiva havia piorado, e sem pensar duas vezes, ela fechou os olhos e apenas a beijou, depositando seus lábios sobre os dela de forma pacata.

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Pouco mais de 8 anos atrás  - Duas semanas após o incidente do Elevador

-- Tchau Katrien! – Anne acenou para a mãe de Emily mais uma vez antes de finalmente deixar a casa, carregando nos lábios um sorriso indiscretamente contente.

-- Essa menina ainda não gosta da Alice, não é mesmo? – Katrien pensou alto enquanto fechava a porta da sala. Seus olhos atentos buscaram pela filha, que sequer esperou que Anne partisse para se jogar no sofá da maneira desleixada que sempre fazia.

-- Acho que não. – Restringiu-se a aquelas poucas palavras e logo pegou o celular, evitando um contato direto com os olhos da mãe.

Katrien observou-a por alguns instantes, e seus olhos intrigados notaram todos os sinais de que Emily não queria falar sobre Alice: O semblante desanimado, e a forma como a filha instantaneamente pegou o celular ao ouvir aquele nome deixava tudo bem mais transparente.

-- Você vai me esperar perguntar à você o que aconteceu ou o quê? – Se aproximou, sentando no braço do sofá.

Emily levantou o olhar, fitando a mãe, e soltou um suspiro pesado ao saber que não conseguiria fugir desse assunto, afinal, sua mãe a conhecia demais para deixar essa passar.

-- O que você quer saber? – A ruiva se ajeitou no sofá.

-- Você e a Alice estavam estranhamente próximas... – Franziu o cenho. – E dessa vez eu nem precisei implorar para isso...  – Emily revirou os olhos, incrédula com o comentário da mãe. – E agora ela... Ela sumiu. – Katrien se aconchegou para mais perto da filha. – Vocês brigaram de novo?

Emily sentiu suas bochechas corarem e o longo silêncio que perdurou na sala foi consequência da vergonha que estava sentindo por ter que contar toda a história para a mãe.

-- Mãe, eu e a Alice nós... – A ruiva gaguejou diversas vezes até ser interrompida pela mãe.

-- Estão juntas. – Concluiu. – Eu sei.

-- C... Como assim você sabe? – Os olhos e a expressão surpresa da filha quase fizeram Katrien gargalhar.

-- Emily... – Sorriu. – Eu sou a sua mãe. Como eu não saberia?

-- M... Mas... – A jovem sequer conseguiu se defender.

Aqueles olhos azuis e tão atenciosos de Katrien buscaram pelos da filha, decifrando neles uma imensa confusão.

-- Eu sei que não tivemos tempo para conversar sobre essa nova parte da sua vida Emily, mas... – Katrien sobrepôs a mão da filha, entrelaçando seus dedos. – Eu não quero que você tenha medo de se abrir para mim... – Emily abaixou o olhar, envergonhada. – E eu sei também que não reagi muito bem quando você me contou da sua primeira experiência, mas entenda... Foi um choque para mim. Foi difícil digerir tudo isso, e eu sei que foi injusto te fazer esperar tanto tempo para dizer que... – Katrien respirou fundo e exibiu nos lábios um sorriso doce e compreensivo. –... Que eu quero que você seja feliz, Emily. E não me importa se vai ser com um garoto ou uma garota... Você vai continuar sendo a minha menina... – O olhar emocionado da mãe chamou a atenção da ruiva, fazendo-a apertar a mão da mãe.

-- Mãe... – Emily pressionou os lábios em um sorriso receoso. – Eu ainda não sei o que eu quero para mim... Não sei do que eu gosto ou não... Eu... Eu ainda preciso me conhecer.

-- Tudo bem querida. – Katrien afagou as maçãs do rosto da filha, e seu timbre calmo a tranquilizou. – Eu ainda estarei do seu lado quando você descobrir.

A ruiva sorriu, e seus olhos emocionados lacrimejaram. Emily estava orgulhosa e feliz pela mãe que tinha, e naquele momento ela sabia que não havia problema estar em um estado de completa confusão, sua mãe estaria ali com ela, ajudando-a a passar por tudo.

-- Você é a melhor mãe do mundo. – O timbre emocionado da filha fez Katrien puxá-la para um abraço terno e demorado.

-- Mas então... – Katrien afastou-se da filha e a olhou nos olhos. – O que aconteceu entre você e Alice? Eu estava crente que vocês finalmente iam... – Emily interrompeu.

-- Alice e eu nunca daríamos certo, mãe. Nós somos tão diferentes e... – A ruiva começou a falar e não parou mais. Contou para a mãe toda a história que havia se desenrolado desde o seu beijo com Anne, revelando sentimentos para a mãe que nem mesmo ela sabia que estavam lá antes.

-- E é por isso que nós não estamos nos falando... – Quando Emily se calou, seus olhos estavam preenchidos com lágrimas doloridas da lembrança de duas semanas atrás, da forma como Alice havia a beijado e se calado quando a crise parou... Da forma como sequer tiveram coragem de se despedir quando finalmente foram resgatadas do elevador. Aquelas lembranças a machucavam, fazendo seu coração apertar.

-- E você acha isso justo, Emily? – Franziu o cenho. – Digo... Depois de tudo isso, o mínimo que vocês devem uma a outra é uma conversa sensata.

-- Você não ouviu o que eu disse, mãe? – Enxugou as lágrimas que ousaram cair.  – Ela beijou outra garota!

-- Eu sei querida, eu sei. – Katrien acariciou o rosto da filha, tentando confortá-la. – Mas quando vocês falaram sobre isso, ambas estavam de cabeça quente...

-- Ela não estava! – Esbravejou ao ver a mãe tentar apaziguar o lado de Alice.

-- Emily, se eu ouvi direito toda essa história... E se é da mesma Alice que estamos falando – Katrien gesticulava. – Daquela que eu vi crescer... Ela estava sim. – Afirmou, confiante de si. – Ela achou que você estava fazendo o mesmo com Anne, beijando-a ou sei lá o que. Ela achou que vocês estavam juntas... – Olhou atenta para a filha, que parecia finalmente começar a pensar sobre o assunto. – Você não acha que isso a machucou também?

Emily franziu o cenho ao encarar a mãe, e ouvir aquelas palavras deixaram sua mente a mil. Ela havia sido tão machucada naquela noite que sequer havia se colocado no lugar de Alice, e talvez o que sua mãe falou fizesse sentido agora, que tudo estava mais calmo, que ela não estava com tanta mágoa de Alice.

-- Eu sinceramente não sei, mãe. – Falou em um timbre chocho.

Emily desviou o olhar ao sentir a garganta engasgar pela vontade de chorar, mas retornou sua atenção à mãe quando sentiu a mão dela tocar-lhe o ombro.

 -- Eu vejo um amor tão puro entre vocês, que poderia mover céus, Emily. – Katrien pressionou os lábios em um sorriso incentivador.

-- Você acha?

-- Uma mãe nunca erra.

-- Mas nós brigamos tanto... – Abaixou a cabeça, retraindo-se no sofá. – Eu tenho medo de que nossos corações nunca se alinhem.

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Dias atuais

 

“Emily forçou a porta da cabana, batendo contra a mesma algumas vezes, até obter sucesso, e quando adentrou ao lugar, procurou pela luz e a acendeu. Os poucos móveis que estavam na cabana serviriam para dá-la conforto por aquela noite. Havia uma cama de casal ao lado de uma cômoda de roupas, uma pequena bancada de três lugares que separava a cozinha do resto do cômodo, e um sofá em frente a uma estante que comportava apenas um toca discos. A ruiva retirou suas roupas molhadas e vestiu um moletom azul que encontrou na cômoda, colocando o toca discos para funcionar logo em seguida.”

“I've got sunshine on a cloudy day

When it's cold outside

I've got the month of May

I guess you'll say

What can make me feel this way

My girl (my girl, my girl)

Talking about my girl (my girl)”

 

-- Essa música… -- Emily estreitou os olhos. Ela jurava já ter ouvido-a.

A ruiva pensou em sentar no sofá, mas aquele ritmo a envolvia, e sem conseguir evitar, seus pés começaram a movimentar-se, dando embalo ao seu corpo.

 

 

 

 

“I've got so much honey

The bees envy me

I've got a sweeter song

Than the birds in the trees

 

Well I guess you'll say

What can make me feel this way

My girl (my girl, my girl)

Talking about my girl (my girl)

 

“I don't need no money fortune or fame

I've got all the riches baby

One man can claim”

 

 

-- Well, I guess you’ll say .What can make me feel this way. My girl (my girl, my girl). Talking about my girl (my girl) – Emily fechou os olhos enquanto cantarolava junto a banda, e naquele instante sua mente a levou para um momento que ela jamais imaginaria.

 

“—Vamos Emily, você tem que dançar essa música comigo!! Por favor! – Alice levantou da mesa em um pulo repentino, e seu timbre animado fez a ruiva gargalhar.

-- Aqui? Agora? – Emily sorriu envergonhada, e seus olhos percorreram todo o ambiente.

As pessoas daquela lanchonete temática dos anos 60 “vestiam” o lugar. Todos aparentemente velhos demais e ocupados demais com suas panquecas, milk-shakes e cafés para se levantar e dançar. Mas seus olhares curiosos logo foram de encontro ao casal que transbordava sintonia e felicidade.

-- É Emily! – O sorriso que a advogada esbanjava nos lábios era tão lindo que atraiu toda a atenção da ruiva. – Aqui! Agora! – Alice pegou nas mãos da ruiva e a puxou, chamando para elas a atenção dos poucos que ainda não haviam olhado.

Emily ficou retraída no começo, afinal, todos aqueles olhares lhe deixavam completamente envergonhada. Mas foi impossível não se envolver naquela dança. Alice guiava-a de um lado para o outro, e cantava a música junto a jukebox. A advogada até a fez girar algumas vezes, descontraindo-a.

-- Você é completamente louca, Alice Butckovisky! – A ruiva sussurrou em seu ouvido, e o riso que compartilharam depois daquelas palavras encantou à todos, fazendo todos os outros casais antigos se levantarem e as acompanharem na dança.”

 

Emily abriu os olhos repentinamente, e seu coração batia forte no peito, dando-a a sensação de que conseguia ouvi-lo. Suas pernas estavam bambas, e junto à elas, todo o seu corpo tremia, e apenas quando sentou-se no sofá ela se sentiu segura, prevenindo qualquer desmaio que pudesse partir dali. Aquela imensidão azul que eram seus olhos mostravam-se completamente, arregalados pela surpresa e confusão que aquela visão havia lhe trazido e embora o rosto de todas aquelas pessoas fosse um completo borrão em sua memória, a voz de Alice ficou marcada. Os pensamentos da ruiva organizaram as imagens daquilo que ela podia chamar de “primeira lembrança”, e a tatuagem que Alice tinha na mão foi uma das coisas que Emily decidiu guardar.

“Gratidão” Escrito pouco abaixo do polegar, na parte superior da mão.  – Essa era a única coisa, além da voz, que Emily pôde usar para posteriormente tentar identificar quem era aquela mulher que aparentemente a fazia tão feliz, e que segundo ela mesma, era completamente louca.

A ruiva levou  mão até o peito, apertando-o em uma tentativa de acalmar seus batimentos inquietos e apressados.

-- Alice Butckovisky... – Repetiu para si mesma, enquanto fracassava mais uma vez ao tentar lembrar-se do rosto dela.

Um maldito borrão, era isso que Emily tinha.

-- Mas que droga... – A ruiva lembrou-se do que Joana, a caseira da fazenda, havia lhe falado sobre os álbuns de foto que a família mantinha lá, e isso a deixou inquieta e cheia de ansiedade. Seu coração acelerou mais uma vez, e em um impulso, Emily levantou e caminhou até a porta, decidida a sair naquela tempestade apenas para poder ver aquele álbum e encontrar um rosto que pudesse chamar de “Alice”.  – O que eu estou fazendo? – Retirou a mão da maçaneta da porta. – Não dá pra ver nada lá fora agora... Tem a chuva, a neblina e... e está de noite, Emily. – Falou sozinha, tentando convencer-se de que podia ver aquelas fotos amanhã. – Não é como se aquelas fotos fossem criar pernas e sair andando... – Persistiu em se fazer desistir enquanto caminhava de volta para o sofá.

A ruiva tentou resistir à ansiedade e curiosidade que a dominava, mas seus pés não paravam quietos, e suas mãos apertavam-se todas as vezes em que se lembrava do quanto estava feliz naquele momento, com Alice. Emily fechou os olhos mais uma vez, retornando aos momentos que havia vivido, mas tudo acabava ali, naquele riso, naquela tentativa de olhar para o rosto da mulher que fez seu coração bater mais forte.

-- Ah, mas que diabos!! – Emily levantou do sofá, irritada consigo mesma por não conseguir parar de pensar naquilo. Ela caminhou de um lado para o outro, relutando contra suas próprias vontades.

A luta interna não durou muito tempo, e a ruiva logo saiu da cabana, correndo até seu cavalo em passos apressados.

-- Eu espero que você me desculpe e entenda o meu lado, Bartolomeu. – Sussurrou para o animal enquanto acariciava a sua crina.

Emily montou em seu cavalo e o aguçou para saírem dali, enfrentando a chuva que caía forte e a neblina que cobria grande parte de sua visão. Os passos cuidados e lentos de Bartolomeu logo foram sendo deixados para trás, e o som de seus galopes mal podiam ser ouvidos, uma vez que o solo lameiro e as poças de água junto a chuva faziam um ruído alto e único.

A ruiva cobriu o rosto com uma das mãos quando uma gota de chuva atingiu seu olho, e quando finalmente conseguiu levantar seu olhar, avistou um outro cavalo que vinha em sua direção à todo vapor. Emily puxou a rédea para o lado na tentativa de desviar, mas não foi o suficiente. A forte neblina que cobria a estrada só a havia permitido enxergar o outro cavalo quando já estava perto demais para evitar a colisão. Antes de cair no solo úmido, Emily sentiu um forte impacto em sua perna, que havia atingido a perna da pessoa que montava o outro cavalo.

Para a sorte da ruiva, seu corpo caiu em um monte de lama, amortecendo a queda. Mas a queda “suave” não a deixou menos irritada.

-- VOCÊ É LOUCO? – Emily sequer permitiu-se reclamar de alguma dor. – VOCÊ PODIA TER ME MATADO!!! – Esbravejou aolevantar do chão em um impulso, e apalpar as próprias roupas para tirar o excesso de lama. A ruiva posicionou uma das mãos sobre os olhos, cobrindo a chuva, enquanto buscava pela pessoa que havia lhe derrubado. – EI!!! EU ESTOU FALANDO COM VOCÊ, SEU MALUCO. – Seus olhos percorreram os arredores, mas apenas quando começou a andar na direção que o outro cavalo havia passado é que conseguiu encontrar o causador da colisão, que mesmo após tê-la ouvido esbravejar e reclamar tanto, ainda se levantava.

-- Você está bem? – Emily amansou a voz quando viu que a pessoa estava com dificuldades para se levantar, e por alguns instantes ela até pensou em se aproximar para ajudar, mas o fato de não conseguir enxergar quem estava lá a amedrontou. Afinal, várias outras fazendas ficavam aos arredores e o que a garantiria de que esse acidente não havia sido proposital?

Estava escuro, e a chuva não a ajudava a identificar o individuo. Emily aproximou-se em passos lentos e esfregou os olhos quando as gotas pesadas atingiram seu rosto e prejudicaram sua visão e acompanhou todos os movimentos da pessoa de longe, perguntando-a mais uma vez se estava bem, mas o silêncio da ausência de uma reposta a fez recuar alguns passos.

-- Eu não posso acreditar... É você mesmo... – As lágrimas misturavam-se as gotas de chuva que escorriam pelo rosto da mulher parada na frende da ruiva.

Emily estreitou os olhos, e embora ouvir uma voz feminina a deixasse menos preocupada com a situação, seu coração ainda refletia as consequências do susto que havia levado e também da surpresa por ser uma mulher a cavalgar com toda aquela falta de responsabilidade.

O que antes era apenas um borrão que dava formas a uma pessoa se tornou uma visão clara quando a mulher se aproximou em passos cautelosos, permitindo que a ruiva observasse cada detalhe dela. Os cabelos longos, e o rosto perfeitamente desenhado daquela mulher chamaram a atenção da ruiva, mas no fim, foram naqueles olhos dourados e tão cheios de sentimentos que prenderam a atenção de Emily, e mesmo hipnotizada pela beleza daquela junção de cores tão única, a ruiva tentou entender e identificar o que estava acontecendo ali, e quem era aquela que tanto a olhava.

Os lábios finos e avermelhados daquela mulher destacaram-se quando um sorriso se formou, misturando a felicidade que explodia em seu coração com aquelas lágrimas saudosas que insistiam em correr-lhe pelo rosto. Seus lábios movimentaram-se algumas vezes, como se pretendesse dizer algo à Emily, mas nenhum som saiu de sua boca, e isso deixou a ruiva ainda mais confusa. Ela não conseguia entender as reações e sentimentos que a outra deixava transbordar de seu corpo, e por mais que tivesse tentado compreender que nenhuma delas tinha culpa daquela situação completamente desconfortável, ver a mulher tão estagnada a fez falar, interrompendo o longo e torturante silêncio que as rondava.

-- É claro que sou eu!! – Afirmou com sarcasmo e certa fúria na voz, sabendo que aquela mulher a conhecia de algum lugar. – E você quase me matou de susto! Qual é a sua em? – A ausência de uma resposta deu brechas para continuar. – Você cavalga sempre como uma louca ou prefere deixar para os dias em que não dá pra ver porr* nenhuma?

A ruiva observou a mulher caminhar em sua direção sem dizer uma palavra sequer, e a forma como foi olhada quando ela parou diante dela a fez corar, mas não por vergonha, e sim pela raiva que lhe subiu pelo corpo ao ser ignorada.

Seus olhos, levemente apertados por conta da chuva que ainda caia forte, foram de encontro aos da outra, e encontra-los tão facilmente lhe deu um frio na barriga.

-- Será que dá pra você parar de me olh...

-- Cala a boca Harley. – O conjunto de palavras que saiu da boca de Alice, junto ao forte abraço que ela a deu, deixou Emily completamente sem jeito. E embora ela não conhecesse a linda mulher que a havia abraçado, o toque entre seus corpos a fez arrepiar, e foi impossível não sentir-se acolhida por ela.

 

O timbre de voz embargado pelo choro não passou despercebido pela ruiva, que mesmo após se entregar a aquele abraço, ainda franzia o cenho, confusa com todo aquele carinho que a mulher que a havia derrubado do cavalo demonstrava.

Fim do capítulo

Notas finais:

Voltei :OOO

 

Olá meninas! Espero que tenham gostado da leitura, e sempre que puderem, deixem seus comentários e opiniões! É muito importante para mim!

 

Mais capitulos longos como este virão por ai! 

E desculpa por algum possível erro de escrita, não tive tempo para revisar o capitulo.

Um grande beijo :*

E até o próximo! 


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Comentários para 51 - Capítulo 51. Lar doce Lar:
lay colombo
lay colombo

Em: 10/08/2017

MEU DEUS MEU DEUS  M-E-U D-E-U-S

EU TO SURTANDO, MULHER Q CAPITULO FOI ESSE

Olha vc demora pra volta mas já volta me derrubando, caralho. Jenny sua linda casa comigo ? Vc é perfeita mulher, eu tava morrendo pra ver o reencontro delas. Será q elas vão brigar um monte, ai já vou pro próximo pq não aguento de curiosidade.

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patty-321
patty-321

Em: 05/08/2017

Olá sumida. Tô feliz com teu regresso. Q capítulo imenso e maravilhoso é esse encontro no final? Pra me matar do coração. Alice terá um ataque ao perceber q a Emily não lembra dela? Vai ficar e enfrentar é conquistar a Emily novamente? Ou irá fugir de novo? Volte logo, por favor. Bom fds. Bjs


Resposta do autor:

Oi meu bem!!! Como está?

Desculpe pela demora, eu estava bem enrolada com os meus horários e não consegui me programar direito para escrever. Mas aqui estou, como prometido. E não vou abandonar a história, e muito menos vocês.

Esse reencontro promete fortes emoções, se prepare!!

Em breve venho com novos capitulos!

 

Um grande beijo e obrigada por continuar acompanhando. 

Responder

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Mille
Mille

Em: 05/08/2017

Bom dia Jenny

Que alegria e adorei o capítulo grandão e no final cheio de emoção do reencontro das duas. 

E muito bom que a Emy não ter dado chances a Anne.

Bjus e até o próximo capítulo


Resposta do autor:

Bom dia e boa noite, no meu caso HAHAHHAHA

 

Eu fico muito contente em saber que gostou! Estarei de volta em breve com outros capitulos!

Desculpa pela demora outra vez, e muito obrigada por continuar acompanhando <3

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JeeOli
JeeOli

Em: 04/08/2017

Ateeeeeeeeee que enfim o reencontro das duas.... Alice mexeu com a Emily de alguma forma... 

Tava com saudades da historia e espero que continue logo para ver como vai ser de agr em diante, será que Alice vai contar toda a verdade para a Emy?

 


Resposta do autor:

Oláaaaaa, voltei :))

Vamos ver se ela terá a coragem de contar né! Em dois anos muita coisa muda, inclusive as pessoas.

 

Um grande beijo e obrigada por continuar acompanhando! 

Responder

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