Olá meninas, neste capitulo eu mensionei um lugar incrível da cidade de Amsterdã. Se vocês tiverem o interesse de saber um pouquinho mais, segue o nome do "Jardim Secreto" : Begijnhof.
Um grande beijo e uma boa leitura.
Capítulo 50. Renascida
"-- Quem é você? – Katrien finalmente prestou atenção naquelas palavras, dando-se conta de que a filha estava completamente confusa após o acidente e os anos em coma."
-- Emily... Sou eu, a sua mãe. – Ela tentou tocar o rosto da filha novamente, mas foi rejeitava quando Emily afastou-se, deixando claro que não queria aquele contato.
-- Não... – A ruiva balançava a cabeça repetidamente, negando-se a acreditar naquelas palavras. – Não! Você não é a minha mãe... – Emily estava claramente alterada, seus pensamentos estavam ligados no 220 e embora ela buscasse continuamente por qualquer lembrança daquela mulher, ela simplesmente não conseguia lembrar dela. – Eu saberia se você fosse... Eu... – Os olhos da ruiva preencheram-se com lágrimas, e seus olhos transmitiam o quanto ela estava assustada com a situação. – Quem é você? Aonde eu estou? – Emily estava agitada na cama, e seus olhos percorriam todo o ambiente enquanto ela tentava levantar-se da cama, mas sem muito resultado, uma vez que seu corpo ainda não respondia a suas vontades.
-- Emily, calma. Está tudo bem agora. – Katrien segurou a mão da filha. – Você sofreu um acidente de carro e está em um hospital, se recuperando. – O coração de mãe de Emily estava apertado no peito e o medo da filha não se lembrar mais dela estava consumindo-a.
-- Um acidente? – A ruiva franziu o cenho, tentando recordar-se de alguma coisa, mas suas lembranças pareciam uma enorme e vazia escuridão. – Eu não me lembro de... – Aqueles olhos azuis, tão confusos e aflitos, não conseguiam conter as lágrimas que rapidamente se formaram.
-- Está tudo bem querida. É normal você não se lembrar. – Katrien tentava acalmar a filha, ignorando o fato de que ela também precisava se acalmar.
-- Eu não me lembro de nada... Eu... – Emily percorreu o quarto com seu olhar novamente, buscando por qualquer coisa que pudesse lhe lembrar alguma coisa, mas isso não aconteceu, e toda essa aflição deixou-a completamente descontrolada.
A ruiva estava agitada e por várias vezes tentou tirar a aparelhagem que estava conectada ao seu corpo, tento que relutar contra a própria mãe, que tentava impedi-la de o fazer. Os gritos assustados e o alto tom de voz no qual a jovem repetia as perguntas logo chamou a atenção dos médicos que não tiveram outra opção a não ser sedar a ruiva.
-- O que vocês fizeram com ela? – Katrien desesperou-se ao ver a filha ficar mole e apagar novamente.
-- Desculpe senhorita Harley, mas nós tivemos que sedá-la. – A doutora responsável tocou no braço de Katrien, tentando transmitir à ela algum conforto. – É extremamente comum, em casos de longo coma, que os pacientes acordem confusos e agitados, como no caso da sua filha, a Emily. Os sedativos vão fazer com que ela esteja mais calma quando acordar, e quando ela o fizer, é melhor que um médico esteja ao seu lado. Alguém mais preparado...
-- Ela... Ela... Ela acordou depois de dois anos e vocês... – Katrien não conseguiu entender a necessidade de colocar Emily para dormir de novo, e pensar na possibilidade de que ela poderia não acordar de novo deixou-a completamente nervosa. – VOCÊS A COLOCARAM PRA DORMIR??? O QUE VOCÊS PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO? A MINHA FILHA ELA... – A doutora aproximou-se da ruiva e encarou-a seriamente.
-- Senhorita Harley, você não tem com o que se preocupar. Por favor, acalme-se. Sua filha acordou. Ela acordou e isso já é um grande milagre. – Ela olhou nos olhos da mãe, buscando passar-lhe confiança. – Nós só demos um calmante à sua filha, para que ela possa acordar melhor daqui a algumas horas. É um método cem por cento seguro. E quando ela acordar, eu estarei aqui para explicar para ela tudo que aconteceu.
-- Mas a Emily é a minha filha... Eu quero estar ao lado dela quando ela acordar. – Katrien tentou acalmar-se, mas imaginar a filha acordando longe dela não lhe agradava nem um pouco.
-- Eu entendo, senhorita Harley. Mas visto que ela pode não se lembrar de nada e que isso vai deixa-la extremamente confusa, eu acredito que a melhor opção para nós nesse momento será que ela veja um médico. Alguém responsável pelos cuidados humanos, alguém que possa lhe passar confiança e que não deixe as emoções afetarem a interação com ela. – A mãe de Emily olhava atentamente para a médica. – Sua reação de choro e aflição, senhorita Harley, podem ter colaborado para a agitação de sua filha. Ela precisa de alguém estável, e você não pode ser esse alguém agora. Você compreende? – Katrien consentiu. – Nós cuidaremos muito bem da Emily, como temos feito, eu prometo. E assim que ela estiver mais calma, nós entraremos em contato.
Katrien estava tão em choque com a situação quanto a filha há alguns minutos atrás. De todas as vezes em que ela havia imaginado a filha acordando, em nenhuma delas ela tinha cogitado a hipótese de Emily não se lembrar de nada.
-- Vá para casa, Katrien. Tome um banho e descanse um pouco. O pior já passou, Emily está de volta, e ela está bem.
-- Você vai me ligar assim que ela acordar, certo?
-- É claro que sim. – Reafirmou a doutora ao balançar a cabeça.
Ao longo destes dois anos, Katrien e Verônica, a doutora que havia acompanhado todo o caso de Emily, haviam se aproximado muito. Verônica era nova no hospital e acabou embarcando com tudo no caso da ruiva, envolvendo-se não só de forma profissional, mas também de forma emocional, tonando-se uma grande amiga e um pilar de Katrien. E embora este envolvimento dela no caso pudesse ser de certa forma ser falta de profissionalismo, ela simplesmente não conseguiu evitar. Aproximou-se da família e desde o momento em que Emily havia dado entrada no hospital, ela fez questão de acompanhar tudo de perto.
-- Vamos Alice, você precisa atender... – Katrien resmungava para si mesma enquanto segurava o celular e caminhava pelos corredores do hospital de um lado para o outro, aguardando até que a advogada a atendesse. – Ela não vai acreditar nisso... – Katrien estava em uma euforia fora do normal, apenas por ter visto a filha acordando, e estando fora de perigo. O fato dela não recordar-se das coisas sequer a incomodava naquele momento, afinal, sua mente ainda não tinha sequer parado para pensar sobre isso.
“Você precisa me retornar, é urgente!” – Katrien enviou a mensagem ao celular de Alice, uma vez que ela não havia atendido, e por fim, entrou em um taxi para retornar pra casa e dar a notícia à seu filho.
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Algumas horas haviam se passado desde que Katrien havia retornado para casa, e junto à essas horas, passaram também os efeitos dos sedativos que mantinham Emily dormindo, e como a médica que acompanhou todo o caso de Emily havia dito, ela estava ao lado da ruiva quando ela acordou.
-- Bem vinda de volta Emily. – A doutora deu uma breve olhada para a jovem enquanto conferia seus exames. – Está se sentindo mais calma? – A ruiva apenas consentiu ao balançar a cabeça, permanecendo em silêncio.
-- Você sabe onde está?
Emily observou atentamente todas as coisas a sua volta, o quarto com paredes extremamente brancas que chegavam a lhe incomodar os olhos, os diversos equipamentos médicos conectados ao seu corpo e ao seu redor, a roupa da mulher à sua frente e também a dela, podendo concluir o obvio ao pensar de forma calma e sem toda aquela pressão emocional que havia sentido ao ver Katrien chorando ao seu lado.
-- Em um hospital, eu acho. – A voz fraca da jovem refletia o pouco efeito dos sedativos que ainda estavam presentes em seu sistema.
-- Isso mesmo... – Ela se aproximou do leito. – Meu nome é Verônica, e eu sou a médica que vem cuidando de você. – A doutora sorriu ao concluir. – É um grande prazer finalmente conhece-la, Emily. – A ruiva franziu o cenho enquanto encava-a, deixando transparecer que estava perdida na situação. Dando à doutora a certeza de que ela precisava explicar melhor tudo que havia acontecido. – É normal você estar se sentindo confusa. Você sofreu um grave acidente e ficou um longo período em coma. E também, ainda deve estar sentindo alguns efeitos dos sedativos que nós tivemos que dar à você.
-- Um acidente? – Repetiu as palavras da médica. – Por quanto tem... – Emily respirou fundo antes de prosseguir, tentando assimilar o conjunto de informações que havia acabado de ouvir. – Por quanto tempo eu estou aqui?
-- A exatamente dois anos. – O olhar atento e preocupado de Verônica seguiu os olhos da ruiva, que desprenderam-se dos dela ao ouví-la.
A feição de Emily misturava sentimentos de surpresa, medo e aflição. Pensar que ela havia ficado em uma cama de hospital, em coma, por dois anos deixou-a assustada.
-- Dois anos? – Repetiu, incrédula. – Isso é muito tempo. – Seus olhos encheram-se de lágrimas por culpa do nervosismo.
-- Sim. É. – Respondeu de forma breve. – É um milagre quando pessoas, depois de tanto tempo em coma, acordam. – Ela sorriu para a ruiva. – Você é um milagre, Emily.
-- Um milagre? – A ruiva não conseguia pensar dessa forma. – Eu não... Minha família... Meus amigos... Como eu posso não me lembrar de ninguém? – As lágrimas escorriam pelos olhos de Emily, que sentia um aperto no coração por não conseguir entender ou se lembrar de ninguém. Muito menos de quem era.
-- Sua perda de memória pode ser temporária, Emily. Você sofreu um traumatismo craniano no acidente, e isso pode ser uma consequência temporária do trauma. – A médica apoiou uma das mãos sobre a de Emily, atraindo o olhar da ruiva para si. – Agora que você acordou, podemos fazer uma série de exames para verificar o que, vamos assim dizer, “o que não está funcionando direito”. – Gesticulou as aspas para que a jovem a compreendesse melhor. – Em muitos casos, as memórias dos pacientes podem voltar com o tempo.
-- Ela PODE voltar? – Enfatizou, semicerrando os olhos. – E se não voltar? – Era possível sentir o medo na voz da ruiva.
-- Não se preocupe com isso agora. Tente descansar um pouco. Amanhã faremos uma bateria de exames para entender melhor tudo isso.
Emily consentiu e observou a doutora se retirar do quarto. E embora ela houvesse tentado seguir a recomendação da médica para descansar, sua mente e seus pensamentos funcionavam a todo vapor, impedindo-a de pegar no sono. A ruiva tentava recordar-se de qualquer coisa a respeito do seu passado, mas as informações simplesmente não faziam sentido algum. Ela perguntava-se como podia assimilar ou até mesmo saber que seu próprio nome era Emily, uma vez que não se lembrava do exato momento em que soube disso, mas ela simplesmente sabia. Alguns flashs lhe vinham a memória, flashs de lugares, carros, e até mesmo o rosto de algumas pessoas, mas esses flashs vinham acompanhados de fortes dores de cabeça e também sem nenhum outro tipo de informação. Era como se Emily pudesse ver imagens sem legendas, sem significados, e isso a deixava perturbada.
Por fim, ela acabou cedendo ao sono, horas após relutar para tentar trazer suas lembranças de volta.
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Assim que acordou, Emily deparou-se com a mulher de cabelos ruivos do dia anterior, a mulher da qual ela não conseguia recordar-se do nome. Ela até que tentou se comunicar com a mulher que dizia ser a sua mãe, mas a sua garganta seca impediu-a de emitir qualquer som. Ela teve que pigarrear para alcançar sua voz.
-- Será que você poderia pegar a água pra mim? – Emily olhou em direção ao copo de canudinho.
-- Claro. – Katrien respondeu, após sorrir para a filha ao vê-la acordada, entregando-lhe o copo logo em seguida.
-- Obrigada. – Pressionou os lábios ao retribuir o sorriso.
Um silêncio um tanto quanto constrangedor tomou o quarto. Katrien estava receosa ao que perguntar a filha, e embora ela quisesse lhe mostrar o turbilhão de sentimentos bons que estava sentindo ao tê-la de volta em sua vida, ela precisava se controlar para não deixar Emily assustada novamente, e parecia-lhe mais fácil o fazer se ela controlasse suas palavras.
-- Então você é a minha mãe... – A ruiva encarou a mulher a sua frente, franzindo as sobrancelhas ao demonstrar a incerteza.
-- Uhum. -- Katrien consentiu, emitindo um som nasal baixo.
-- E meu nome é mesmo Emily, como eu acho que é... – Katrien consentiu novamente, balançando a cabeça desta vez, e completando os pensamentos da filha.
-- Emily Egmond Leur Harley.
-- Desculpa eu... – Emily fez uma careta, repreendendo-se internamente por não saber o nome da mulher que supostamente a criou. – Eu não sei o seu nome...
Katrien tentou disfarçar a forma como seus olhos lacrimejaram naquele momento, controlando até mesmo a sua respiração mais profunda.
-- Katrien. Katrien Egmond Leur, como o seu. – Forçou um sorriso.
-- Entendi... – Outro longo silêncio.
-- Me desculpa eu... – As lágrimas correram pelo rosto da mãe. – Eu vou te abraçar agora, tudo bem? – Perguntou a jovem enquanto já a envolvia em seus braços.
Emily estava mais calma agora. Depois de passar uma longa noite tentando entender tudo que havia acontecido com ela, compreender que aquela mulher era sua mãe a permitia aceitar melhor o motivo de todas aquelas emoções e lágrimas, afinal, ela ter acordado era um milagre, segundo sua própria médica. Emily permitiu-se ser abraçada por sua mãe, envolvendo-a em seus braços de forma desconsertada e retraída, e embora ela não se sentisse confortável com tudo aquilo, ela sabia que aquela mulher a sua frente precisava daquilo, principalmente agora.
-- Eu não acredito que você voltou para mim... Emily, eu te amo tanto. – Katrien falava entre os soluços do choro. -- Eu não sabia o que fazer sem você aqui. Eu tive tanto medo de perder você para sempre... Eu... Eu não suportaria perder você, minha filha. – Ela apertou a filha em seus braços, como se não tivesse a intenção de soltá-la tão cedo.
-- Eu sou um milagre, foi o que a médica disse. – Emily remexeu-se nos braços da mãe, tentando aliviar-se um pouco daquele abraço apertado.
-- Sim meu amor, você é um milagre. – O choro de Katrien ficou mais intenso ao ouvir a filha dizendo aquelas palavras.
-- Eu não consigo respirar direito com você me apertando assim. – O tom sério de Emily fez Katrien recuar.
-- Desculpa, eu não quero te colocar pra dormir de novo, se é que me entende. – Katrien riu, tentando descontrair a filha, mas Emily manteve-se séria.
-- Você sabe que eu posso não ser mais a Emily que você conhecia, não sabe? – Os olhos azuis e sérios da ruiva encaravam Katrien, e aquele timbre tão pouco usado por sua filha antigamente deixou-a curiosa. Como Emily poderia ter tão drasticamente mudado seu humor?
-- Você sempre vai ser a minha filha, Emily. A minha garotinha. – Katrien segurou a mão da filha.
-- Você não sabe disso. – Ela retirou sua mão do contato, puxando-a para perto de si. – E eu também não. Não força a barra, tudo bem? – Emily tentava de todas as formas afastar aquela multidão de sentimentos que Katrien transmitia, sentimentos que deixavam-na completamente confusa e assustada. Ela pensava que o fato de entender que aquela era sua mãe lhe ajudaria a aceitar todos esses sentimentos, mas o incomodo com aquela proximidade e com as emoções excessivas traziam-na agonia. Agonia por não sentir nada de volta, por não gostar daquela proximidade, por não sentir confiança. – Você pode dizer que é a minha mãe, mas eu não sei quem você é. – A frieza na voz da ruiva era involuntária, e embora aquelas palavras machucassem sua mãe de uma forma que só ela pudesse entender, Emily não ligava, e de certa forma, também não percebia, pois para ela, a ausência de sentimentos não lhe permitia ter uma sensibilidade naquele momento. – E eu não confio em você. – A ruiva franziu o cenho ao ver a suposta mãe murchar na cadeira. – Não ainda pelo menos. – Emily suspirou, tentando buscar um pouco de humanidade para tratar daquela situação de uma forma menos ofensiva. – Eu espero que você entenda...
O coração de Katrien apertou no peito. A dor de ouvir aquelas palavras tornou-se não apenas emocional, mas física, quando ela pôde sentir fortes fisgadas no coração e também na boca do estomago, pois embora ela houvesse tido tempo para pensar no problema de memória de sua filha, ela não podia esperar por aquelas palavras. Katrien havia sido avisada antes de entrar que Emily poderia ter drásticas mudanças de humor e também de personalidade, mas ela não esperasse que pudesse ser uma mudança tão grande assim. Ela estava acostumada com toda doçura e carinho que a filha sempre carregava consigo, e vê-la tão fria a respeito da família deixava-a triste.
-- Nós podemos cuidar disso com o tempo, que tal? – A voz dela quase não saiu por conta do choro que ela tentava suprimir a todo instante.
Emily apenas consentiu.
-- Como você está se sentindo hoje, Emily? – A doutora Verônica, que estava de plantão naquela madrugada, entrou no quarto da ruiva, questionando-a assim que a viu acordada, as exatas 4 da manhã.
-- Na mesma, eu acho... – hesitou antes de responder. – Eu ainda me sinto incomodada por não reconhecer a Katrien... Quero dizer, a minha mãe. – Emily franziu o cenho, estranhando o fato de ter que chama-la assim.
A médica forçou um sorriso ao olhar para a ruiva, um sorriso completamente sem graça e perdido, por não saber exatamente o que lhe responder.
-- Quando eu vou começar a lembrar das coisas? – Emily acompanhou a doutora com o olhar pelo quarto, enquanto ela olhava as medicações e a ficha médica dela, analisando se haviam tido mudanças em seus exames.
Verônica desviou seu olhar da pasta de exames e encarou a jovem, atentando-se a impaciência que seus olhos tão azuis transmitiam.
-- Infelizmente eu não tenho essa resposta, Emily. Seus exames não mostraram, em momento algum, falhas nas partições responsáveis pelo armazenamento de memórias de longo e curto prazo... E isso nos deixa sem meios para identificar e saber o quanto isso pode durar. – Ela viu o semblante de sua paciente murchar com as informações. – Mas eu posso lhe dizer, baseando-me em outros casos, que sua memória pode voltar a qualquer momento... Pode ser que seja hoje, semana que vem... Podem levar meses, anos ou... – Ela hesitou, permitindo que Emily completasse seus pensamentos em um tom fraco e desanimado.
-- Ou nunca... Não é mesmo?
Verônica apenas consentiu com a cabeça, apoiando uma das mãos no ombro da ruiva na tentativa de confortá-la.
-- Que tal se a gente deixar as incertezas de lado e focar no que a gente sabe? – Ela sorriu para a jovem, que devolveu a ela um olhar curioso. – Seus exames estão ótimos e não houveram alterações preocupantes ou relevantes na sua ressonância e mapeamento cerebral... Com isso, eu não vejo porque te manter aqui no hospital... Comendo essa comida sem graça...
Ao contrário do que a doutora esperava, Emily não sorriu e nem mesmo demonstrou entusiasmo com a notícia.
-- O que foi? Você não quer ir pra casa? – Arqueou uma das sobrancelhas ao encará-la.
-- Não é isso... – Arfou. – É só que... – Emily fitou a médica, e aquele olhar atento e preocupado que ela lançava sobre ela a fez recuar um pouco. – Nada, deixa pra lá.
-- O que está te deixando assim? – Verônica aproximou-se do leito.
-- Eu não vejo o porquê ficar feliz por ir para uma cassa que eu não vejo como minha, ou ficar cercada de pessoas que ficarão me olhando como se esperassem que eu me lembre delas... – O semblante da ruiva transparecia sua chateação com sua atual situação. – Eu vejo como a Katrien me olha, eu não sou estúpida! – Esbravejou. – Eu vejo que em algum lugar nela, ela sente pena de mim e tem essa esperança de que eu volte a ser a filha que ela conhecia... Mas e... E se eu não for? E se eu nunca me lembrar das coisas? E se eu não lembrar de quem eu era? – Os olhos de Emily estavam cheios de lágrimas e preocupações. O fato de saber que todos esperariam algo dela a deixava completamente apavorada e cheia de anseios. Ela simplesmente não queria desapontar todas as pessoas que rezaram e esperaram até que ela acordasse. Mas da mesma forma que ela não queria decepcionar ninguém, ela não se via encontrando uma forma de não o fazer, uma vez que sua memória não tinha prazo e data para voltar. – Eu não posso ter acordado simplesmente para decepcionar todo mundo que esperou por mim. – A ruiva enxugou o rosto, tentando secar as lágrimas que caíam de seus olhos.
-- Não pense dessa forma, Emily. – A médica sentou na borda do leito onde a ruiva estava deitada e tocou em sua mão. – Tente pensar no quanto o fato de você, apenas por ter acordado, já os deixou felizes... Independentemente de você ser a mesma pessoa ou não, você está aqui, está com eles, e é isso que importa.
-- Talvez você tenha razão. – A ruiva tentou disfarçar o sono quando cobriu a boca durante um bocejo.
-- Eu vou deixa-la descansar. Amanhã será um longo dia para você. – Verônica sorriu ao levantar-se. – Boa noite, Emily.
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-- Aqui está o número da fisioterapeuta que você me pediu. Não esqueça que as sessões devem ser diárias para que ela volte a andar e recupere a força muscular o mais rápido possível. – A doutora entregava à Katrien um pequeno cartão. – Os primeiros meses da reabilitação podem ser bem difíceis para a Emily. Ela pode e vai querer desistir do tratamento, então é o seu papel, como mãe, não deixa-la fazer isso, tudo bem? Esses meses serão os mais difíceis, mas depois vai melhorar. Ela vai precisar de todo apoio e paciência que vocês, familiares e amigos, tiverem e puderem dar à ela. Certifique-se de que ela o terá. – Sorriu. – E nossas consultas serão realizadas de quatro em quatro meses neste primeiro ano, para que possamos evitar surpresas indesejáveis. – Verônica, a médica neurologista de Emily, estendeu a mão para cumprimentar a mulher a sua frente.
-- Muito obrigada pela atenção e por ter cuidado tão bem da minha filha durante esses anos. Eu não tenho como agradecer por tudo que você por ela e por mim... – Katrien ignorou a mão estendida à sua frente e abraçou a doutora com todas as suas forças.
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-- Eu pedi ao seu irmão que arrumasse o quarto do térreo para você... – Katrien sorria enquanto levava a filha, de cadeira de rodas, até a sala de casa.
-- Meu irmão... O Robbert, certo? – Inclinou a cabeça ao tentar enxergar a mãe.
-- Isso, o Robbert. – Katrien respondeu um tanto quanto sem graça, forçando um sorriso ao ser confrontada pelo olhar inseguro da filha.
-- Certo...
Assim que adentraram à casa, Katrien e Emily deram de cara com o rapaz de cabelos ruivos que esperava-as ansiosamente na sala, lançando para elas um enorme sorriso.
-- Como é bom ter você de volta! – Robbert soltou aquelas palavras tão esperadas enquanto disparava em direção à Emily, mas travou quando a viu reagir de forma assustada, recuando o máximo que podia na cadeira.
-- Obrigada... – Ela forçou um sorriso para o rapaz.
-- Eu senti muito a sua falta, pequena. – Robbert se aproximou vagarosamente da irmã, na medida em que não via rejeição da parte dela. – Eu tive tanto medo de te perder! – Os olhos marejados do irmão comoveram a ruiva, que fitava-o atentamente.
O rapaz ajoelhou-se diante dela e segurou em sua mão, enquanto lutava para tentar controlar as lágrimas que se formavam em seus olhos.
-- Eu estou aqui agora. – Emily pressionou os lábios e novamente forçou um sorriso, tentando confortar o rapaz a sua frente.
Ao ouvir aquelas palavras, Robbert perdeu completamente o controle, permitindo-se entregar-se ao choro. O rapaz encostou a cabeça no colo da irmã, buscando não só o conforto daquele contato, mas também esconder o rosto rubro pelo choro. Emily tentou tranquiliza-lo ao acariciar seus cabelos, mas o toque carinhoso da irmã o fez chorar ainda mais, sendo completamente possível notar os movimentos bruscos que o corpo dela liberava a cada soluço.
No início, toda aquela situação estava aceitável para a ruiva, mas na medida em que o rapaz persistiu em seu colo e também no choro, Emily começou a sentir-se extremamente desconfortável, e embora ela lutasse para compreendê-lo da melhor forma possível, a sua falta de sensibilidade perante a aquelas pessoas tornava esse processo de compreensão muito complicado. Seus pensamentos estavam confusos a respeito de como agir ou o que falar para ele, fazendo-a olhar para Katrien de forma apreensiva, como se implorasse para que ela a ajudasse a sair dessa situação. E sua mãe, de prontidão, entendeu e prontificou-se a ajuda-la.
-- Querido, deixe ela respirar um pouco. É muita coisa para digerir.
A ruiva suspirou quando seu irmão a soltou, afastando-se dela após consentir com a mãe.
-- É difícil controlar toda essa felicidade. Desculpa Emily.
A ruiva apenas sorriu.
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-- Eu não sabia se você ainda gostava das mesmas coisas, então eu acabei preparando um pouco de tudo que você costumava gostar... – Katrien colocava diversas travessas de comida sobre a mesa de jantar, enquanto dirigia a palavra a ruiva, que sem poder fazer muito, por não conseguir andar ainda, apenas acompanhava-a com o olhar durante o trajeto da sala para cozinha e vice-versa.
-- Parece ótimo. – Emily avistou o irmão, recostado na beira da porta. Ele estava encarando-a com uma expressão indecifrável, e isto deixou-a desconfortável. – Porque você está me olhando tanto? – A ruiva fechou a cara.
-- Desculpe... É que fazia tanto tempo que eu não via você assim... – Ele sorriu de canto de boca, aproveitando cada segundo da irmã ali. – É muito para digerir para nós também, Emily. – Os olhos do Robert brilhavam enquanto fitavam a ruiva. Era notável o quanto vê-la bem o deixava bem.
-- Entendi.
Emily desviou o olhar, e repensou sobre a pergunta que pretendia fazer à Katrien desde a primeira vez em que conversaram enquanto jantavam, e antes que terminassem de comer, ela acabou decidindo perguntar à eles.
-- Como eu era? – Katrien quase engasgou com a comida quando ouviu a filha.
-- Co... Como assim?
-- É simples. Como eu era? – Falou pausadamente, mostrando outra vez a seriedade que Katrien tanto estranhava nela.
-- Você era repleta de alegria. E você tinha esse jeitinho incrível de conquistar todos com a sua carisma, Emily. – O rapaz se antecipou em responder, visto que Katrien paralisou com a pergunta da filha, não sabendo como responde-la. – Você sempre foi rodeada de amigos e de certa forma, sempre cuidou de sua família.
-- Você tinha essa mania de querer proteger todo mundo de quem gosta... – Katrien completou. – E você o fazia muito bem. Você costumava dizer que proteger a quem se ama é a melhor forma de mostrar o amor que você tem por essa pessoa.
-- Você tinha esse amor no olhar, sabe? Como se o amor transbordasse de você. – Completou o rapaz, mas antes que ele prosseguisse, eles foram interrompidos pela campainha que tocou. – Eu atendo. – Robbert levantou, prontificando-se a abrir a porta para quem quer que fosse.
O rapaz abriu a porta em um impulso, sem sequer olhar pelo olho mágico, e a presença daquela mulher à sua porta o surpreendeu.
-- Anne? – A voz chegou a falhar quando ele disse o nome dela, depois dos longos segundos em que trocaram olhares.
-- Você me mandou uma mensagem mais cedo... Eu vim assim que a vi. -- A morena tentou olhar para dentro da casa. – Onde ela está?
-- Eu não sabia se você viria ... – O coração do rapaz palpitou.
-- Como não? – Antecipou-se em responde-lo. – É a Emily, é claro que eu viria. Onde ela está? Eu quero vê-la. – Anne não via a hora de poder abraçar a ruiva, e sua impaciência podia ser percebida pelo rapaz.
-- Ela está na sala de jantar. – O semblante dele mudou completamente quando ela demonstrou interesse apenas em saber da Emily.
Era fácil compreender que a atenção toda se voltaria para a irmã que acordou do coma após dois anos, mas após passar meses sem sequer falar com Anne, ele esperava que esse reencontro pudesse trazer à tona os assuntos não terminados de seu casamento.
-- Eu vou lá. – Anne já passava pela porta quando sentiu o rapaz puxando seu braço, fazendo-a voltar-se para ele, e naquele instante sua respiração chegou a falhar.
-- Anne... – Robbert sentiu o coração apertar no peito ao olhá-la tão de perto. Seus olhos percorreram todo o rosto de Anne, inclusive sua boca. – Vá com calma... Ela está diferente.
A morena consentiu com a cabeça, e após sorrir discretamente para o rapaz ela prosseguiu até a sala onde mãe e filha se encontravam.
-- Você sempre foi decidida sobre o que queria da vida, exceto...
-- Exceto no amor. – Anne completou ao adentrar a sala, surpreendendo as duas mulheres sentadas à mesa.
Emily assustou-se com a intromissão repentina daquela garota que a olhava-a de uma forma tão atenciosa. Ela encarou-a por um longo tempo, e aquela troca de olhares entre elas, de alguma forma, trouxe-lhe um frio na barriga, deixando-a completamente curiosa por sentir-se assim.
-- Oi Emily. – Anne levantou a mão, como se pretendesse acenar para ela, e sorriu ao esbarrar com aqueles olhos azuis dos quais tanto havia sentido falta.
-- Oi ... – A ruiva franziu a testa, enquanto tentava recordar-se de quem poderia ser ela. Afinal, sentir-se daquela forma perante a alguém deveria significar alguma coisa. Em alguma parte de sua cabeça, alguma lembrança daquela mulher deveria estar lá, era o que Emily pensava.
-- Anne. – A morena completou, como se já esperasse que a ruiva fosse perguntar seu nome.
-- Anne... – Repetiu, enquanto ainda mantinha seus olhos sobre ela.
-- Eu não sabia que viria, Anne. – Katrien sorriu de forma simpática para ela.
-- Robbert me mandou uma mensagem, então eu pensei em dar uma passada... – Anne fugiu ao olhar de Katrien, envergonhada pela atual situação entre ela e Robbert.
Durante aquela troca de palavras, Emily não conseguiu tirar os olhos da morena parada a sua frente. Ela tentava buscar qualquer traço que pudesse lhe trazer alguma lembrança, e acabou desta forma, analisando-a. O semblante dela demonstrava uma impaciência enorme naquele momento, e seus olhos castanhos brilhavam ao encontrar os dela, transmitindo uma emoção que até então a ruiva desconhecia, mas que misteriosamente não a assustava como os demais olhares.
-- Eu não acreditei quando o Robbert disse que você havia acordado. – Anne retornou seu olhar a ruiva, deixando-a trêmula. – Eu precisava ver com meus próprios olhos... – Uma única lágrima escorreu dos olhos daquela mulher durante um sorriso ainda desacreditado, mas completamente encantado por vê-la ali, e Emily sentiu tanta vontade de confortá-la, que se pudesse, teria se levantado e a abraçado sem pensar duas vezes.
A ruiva estava paralisada e boquiaberta enquanto seu olhar não conseguia desprender-se de Anne, e pela primeira vez, ela não se sentiu desconfortável por ver alguém dessa forma por ela. Emily não conseguiu responder.
Anne caminhou em passos receosos até a ruiva, e sua surpresa ao realmente vê-la acordada foi tanta, que durante o percurso ela sequer piscou ou permitiu-se deixar de olhá-la. A morena esticou uma das mãos em direção ao rosto de Emily, mas o receio de tocá-la foi tanto, que ela teve que relutar contra a sua vontade de o fazer.
-- É você mesmo... – A ponta dos dedos de Anne tocaram a lateral do rosto da ruiva, na altura de seu maxilar, fazendo com que Emily fechasse os olhos por breves segundos após sentir o toque. – Eu não posso acreditar... É... É você. – Anne permitiu-se tocar o rosto da ruiva com toda a sua mão, enquanto sentia as lágrimas correrem pelo seu próprio rosto.
As lágrimas de Anne misturaram-se a um sorriso e uma risada gostosa, e antes mesmo que Emily pudesse questionar quem ela era em sua vida, a morena a envolveu em um abraço repleto de saudade, enquanto lhe acariciava os cabelos com uma das mãos.
Katrien ficou sem palavras ao ver Anne ali, tão emocionada e feliz por sua filha. Seu coração encheu-se de alegria ao vê-las abraçadas, como se soubesse que Emily precisava do carinho do maior número de pessoas possíveis. Mas o fato de ver a filha entregando-se a aquele abraço deixou-a intrigada.
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Um mês depois do despertar.
Os primeiros dias e semanas de tratamento com a fisioterapeuta foram tediosos e complicados. Emily estava fechada, incomunicável. E as vezes a ruiva, inexplicavelmente, tinha mudanças radicais de humor, ela ficava irritada com facilidade, triste com facilidade e chateada ainda mais.
A ausência de lembranças da sua vida ainda a incomodavam muito, e mesmo que sua família e Anne lhe dissessem que isso não importava agora e que ela ainda tinha trações semelhante à pessoa que era antes do acidente, Emily sabia aquilo não era verdade, ela percebia todos os olhares assustados e surpresos que eles tentavam disfarçar toda vez que ela dizia algo, ou expressava sua forma de pensar e suas vontades, e tinha mais, o fato de saber que suas memórias memórias estavam lá, em algum lugar, perdidas dentro de si, deixava-a ansiosa. Emily sentia como se pudesse e precisasse encontra-las de qualquer jeito. Ela precisava começar a entender quem ela era.
-- Lara, eu sei que não é a sua especialidade, mas... – Emily fitou o horizonte que começava a esconder o sol, enquanto seus últimos raios refletiam no lago que ficava à frente da clinica. – O que você acha que vai acontecer com a minha memória? – A ruiva tentou esconder o quanto quis chorar. – Você acha que elas vão voltar?
A fisioterapeuta se sentou no banco que estava próximo a cadeira de rodas de Emily, olhando-a, e então confiante disse palavras que mexeram com ela.
-- Nós temos que crer que sim. Mas, Emily, seu passado é apenas uma parte de você. O que realmente importa é quem queremos ser a partir daqui, do presente. O presente diz quem nós somos, não o passado. – Lara tocou a mão da ruiva, fazendo-a um carinho. – E de alguma forma, a sua realidade está no seu coração e não em sua cabeça. Mas seja como for, não tenha medo de se lembrar... Muitas pessoas são conseguem se lembrar por que no fundo tem medo de encontrar as respostas que procuram.
-- Eu não tenho medo. – Emily afirmou mais para si do que para Lara. – Eu deveria ter? – Pensou alto, mostrando-se duvidosa quanto ao seu passado.
-- Eu suponho que não. – Lara se levantou. – É melhor nós irmos, sua mãe já deve estar chegando para te buscar.
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Dois meses depois do despertar.
-- Mas que droga! – Emily esbravejava enquanto tentava se levantar, apoiando-se nos corrimãos e usando a força que podia para tentar se manter de pé de novo. – Eu não aguento mais isso! Quando é que eu vou andar, em? – O timbre claramente irritado da ruiva não era surpresa alguma para Lara, sua fisioterapeuta, que claramente, dentro daquele primeiro mês, já havia ouvido de tudo com Emily.
Lara já estava cansada de saber o quanto os pacientes em reabilitação passavam por essa rejeição ao tratamento em um primeiro momento. Eles reclamavam de todas as falhas e ficavam irritados, mas tudo aquilo fazia parte, até porque, ninguém gosta de falhar.
-- Vamos lá Emily, você consegue. – Ela tentou estimular a jovem, que consentiu com a cabeça ao tentar andar outra vez.
Emily se segurava nos corrimãos enquanto forçava os passos, mas embora era conseguisse movimentar a sua perna, ela simplesmente não conseguia manter o peso do seu corpo em equilíbrio, fazendo-a cair outra vez. A ruiva apertou as mãos com toda força que pôde, e naquele momento ela simplesmente deixou de acreditar que poderia, um dia, voltar a andar. Seus olhos irritados e cheios de medo preencheram-se com lágrimas, e quanto Lara se aproximou para ajudá-la, ela simplesmente retrucou.
-- Sai daqui. – A voz embolada de Emily deixou transparecer a sua insegurança.
Lara respirou fundo antes de responde-la.
-- Emily, você precisa ir com calma. Tudo bem? – A fisioterapeuta agachou em frente a ruiva, fitando-a. – Você vai melhorar, tenha paciência.
-- Como eu posso ter paciência? – A ruiva gesticulava. – Eu sinto como se tudo que eu fiz desde que acordei foi incomodar as pessoas que tentam cuidar de mim. – Ela tentou segurar as lágrimas, mas naquela altura do campeonato, Emily simplesmente não se importava mais com isso. – Eu não me lembro delas. Eu não sei quem elas são e... Ainda assim eles fazem de tudo por mim. – A ruiva desviou seu olhar, ficando cabisbaixa. – O mínimo que eu deveria fazer era dar à essas pessoas uma preocupação a menos, um cuidado a menos... Mas como eu posso fazer isso se sequer consigo levantar dessa cadeira estúpida e andar? – Emily esbravejava aquelas palavras mistas em dor e raiva. – Eu não consigo sequer ir ao banheiro sozinha por causa daquele maldito ressalto na porta... – As palavras da ruiva perderam a força, dando espaço apenas para a tristeza que ela tanto sentia com sua atual situação.
Anne havia se responsabilizado por leva-la até a clínica naquele dia, e observava toda a sua sessão de fisioterapia de longe, mas quando a viu daquele jeito, sentada ao chão sendo tomada por um choro compulsivo, ela apressou-se ao tentar se aproximar dela, sendo impedida por Lara, que apenas ergueu uma de suas mãos, pedindo-a através daquele gesto que não se aproximasse, porque ela sabia que Emily precisava daquele momento para se recompor. Aguentar toda essa pressão que ela mesmo impunha para si era extremamente difícil, e Lara sabia que a qualquer momento a ruiva podia quebrar se simplesmente não desabafasse sobre isso, e vê-la expor a sua raiva e insatisfação parecia-lhe uma boa forma de deixa-la fazer isso. Embora Anne sentisse seu coração apertar no peito ao ver Emily naquele estado e relutasse contra a sua forte vontade de ir até ela e envolve-la em seus braços para protege-la de tudo aquilo, ela optou por obedecer a fisioterapeuta, acreditando que ela sabia o que fazia, afinal, seu currículo e sessões eram impecáveis, ela havia pesquisado.
-- Quando eu acordo, eu preciso ficar na cama até que alguém venha ao meu quarto pra me ajudar a ir para a cadeira. Você entende isso? – Ela passava a mão pelo rosto, tentando enxugar as lágrimas que não cessavam. – Eu tenho essa vontade de sair pela porta assim que acordo, de sair e correr... De poder aproveitar a manhã logo cedo... Mas eu não posso. Eu dependo das pessoas até para poder sair da casa.... Eu não aguento mais isso. – Emily gritou, enquanto batia suas mãos no chão na tentativa de liberar toda aquela raiva.
Lara ouvia atentamente tudo que sua paciente dizia, e embora ela não tivesse a intenção inicial de interrompê-la, vê-la descontrolar-se daquela forma deixou-a desconsertada e de certa forma, preocupada. Afinal, com a força com a qual Emily se debatia, ela poderia acabar se machucando. Lara puxou-a para seus braços, dando-lhe um abraço terno e bastou isso para que Emily se acalmasse gradativamente.
-- Vem. Vamos tentar de novo. Eu estou aqui com você. – Lara levantou-se assim que percebeu que o choro da ruiva cessou, estendendo a mão para que ela levantasse.
Emily respirou fundo, buscando em si mesma a força que precisava para continuar, e pensar em todos os motivos pelos quais ela precisava voltar a andar trouxe esse incentivo do qual ela tanto precisava. A ruiva segurou na mão da fisioterapeuta e se levantou, disposta a tentar outras vezes.
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Três meses após o despertar.
A noite caía e antes de pegar no sono, Emily recebeu uma visita inesperada e particular no seu quarto, era Anne.
-- Como está indo o tratamento? – A morena se aproximou da cama e pôs-se a sentar na beirada. – Eu acabei indo na sua última sessão, mas não tive coragem de falar com você, não queria atrapalhar. – Sorriu ao olhar a ruiva. – Você está se saindo bem.
-- A Lara é uma ótima fisioterapeuta. Nós estamos progredindo, mas às vezes eu sinto como se nunca mais fosse voltar a andar normalmente. – Emily desviou o olhar, direcionando-o para a janela e respirou fundo.
-- Não fala assim. Você sabe que isso não é verdade. – A morena tocou o rosto de Emily, puxando-o levemente para si, fazendo-a olhá-la novamente.
Aqueles olhos castanhos a fitavam tão intensamente quando seu olhar a encontrou, que sua respiração chegou a falhar, e seu coração acelerou quando a viu sorrir mais uma vez, sentindo não só o carinho de Anne por ela, mas também a confiança que ela tinha nas próprias palavras.
-- Daqui a pouco você vai estar correndo por ai de novo, como tanto gostava de fazer... – Anne acariciava o rosto da ruiva.
-- Quem era você? – Emily franziu as sobrancelhas enquanto enfrentava os olhos daquela mulher, sentindo-se completamente confusa por sentir todas aquelas coisas por ela, que até então havia sido apresentada à ela apenas como ex-noiva de seu irmão.
-- Como assim? – Anne recuou ao retirar sua mão do rosto da ruiva em reação à sua pergunta.
-- Quem era você na minha vida? – Os olhos perdidos da ruiva acompanhavam toda a movimentação da morena na cama, percebendo o quanto ela havia ficado desconsertada com aquela pergunta. – Eu não entendo... Tem alguma coisa em você que me incomoda. – Emily tentou forçar sua memória outra vez, mas havia apenas escuridão em seu passado.
-- Com... Como assim? – Gaguejou.
-- Tem alguma coisa diferente em você. – Afirmou, concisa sobre tudo que Anne a fazia sentir. – Quando você está por perto eu me sinto estranha, eu sinto esse frio na barriga e tem essa sensação... – Emily colocou a mão sobre o peito. – Essa sensação que eu sinto aqui... Eu não entendo... – Anne paralisou ao ouvi-la falar daquela forma. Pensar que em algum lugar daquela nova pessoa que Emily havia se tornado ainda pudesse haver resquícios do sentimento que ela supria por Anne quando eram mais novas deixou-a perplexa. Afinal, será que em algum lugar, Emily podia, inexplicavelmente, lembrar-se daquele amor? Lembrar-se dos sentimentos que haviam compartilhado quando estavam juntas? Refletir sobre isso certamente deixou Anne desconsertada, e de certa forma, esperançosa. – Então... Quem era você? – Repetiu calmamente, enquanto cercava-a com o olhar.
-- Eu não quero esconder mais nada de você. – Anne enfrentou os olhos azuis da ruiva. – Mas você precisará de estomago para digerir tudo que eu vou te dizer. – A morena buscou na reação de Emily qualquer traço que a fizesse sentir segurança em prosseguir, mas sua expressão neutra deixou-a confusa. – Você tem certeza que quer saber disso? – Emily se ajeitou, encostando-se na cabeceira da cama.
-- Tenho. – Reafirmou ao balançar a cabeça.
-- Eu não fui apenas a sua cunhada, Emily. – A ruiva franziu o cenho, não sabendo o que esperar ouvir daquela mulher. – Eu e você, nós... – Anne respirou fundo antes de prosseguir, buscando a melhor forma de tentar dizer isso para Emily, mas não havia uma maneira melhor de dizer isso. – Nós ficamos juntas por algum tempo... Antes de eu me casar com seu irmão.
Emily arregalou os olhos, surpresa com a revelação.
-- J... Juntas? – A ruiva estava pasma, e sequer tentou disfarçar a reação.
Anne apenas consentiu.
-- E eu acredito que fui seu primeiro amor, então eu não sei se é por isso que você se sente assim ou... – Foi interrompida.
-- E você se casou com meu irmão? – Arqueou uma das sobrancelhas.
Anne consentiu outra vez.
-- Como? – Gesticulou ao dar de ombros. – Como você se envolveu com meu irmão depois de estar comigo? A gente terminou ou coisa do tipo? – Os pensamentos da Emily estavam embaralhados. Ela não conseguia entender aquela situação, e muito menos entender como Anne havia se casado com o irmão da mulher com quem havia “namorado”, se é que elas haviam de fato namorado.
-- Foi mais complicado do que isso. – A morena ficou sem jeito com as perguntas da outra, mas ela estava disposta a contar toda a verdade para Emily. Afinal, havia sido por culpa de todos esses segredos que tudo isso havia acontecido. Anne sentia-se culpada pelo acidente, afinal, se elas tivessem contado à Emily sobre tudo, Matheus jamais teria motivos para tirá-la daquela festa, e esse acidente jamais teria ocorrido. – Eu namorei o seu irmão muito antes de eu e você nos evolvermos... A questão é que antes de tudo isso, eu e você éramos grandes amigas... E depois que seu irmão foi para os Estados Unidos, nós... Bom, nós acabamos nos envolvendo. – Anne hesitou em continuar, mas o fez quando se confrontou novamente com a promessa que havia feito a si mesma de nunca mais mentir para a ruiva se ela acordasse. – Eu machuquei você, Emily. – O semblante da ruiva mudou. Ela não aparentava curiosidade mais, e sim medo de ouvi-la continuar. Em seu atual presente, Anne era uma pessoa boa, uma pessoa que estava lá em todos os momentos para apoiá-la e trazê-la conforto, mas saber de fatos do passado entre elas podia mudar a forma como Emily pensava sobre ela, e isso a amedrontava. – Eu trai você... Quando o seu irmão voltou. – A voz da morena falhava.
O medo daquela revelação não era apenas de Emily. Anne compartilhava aquele mesmo sentimento e seu coração chegava a sufocar só de pensar que aquilo poderia fazê-la perder a ruiva novamente.
-- Ele... – Emily desprendeu-se do olhar de Anne, percorrendo-o por todo o quarto enquanto pensava sobre a descoberta que havia feito. – Ele sabia que nós estávamos juntas? – O receio da ruiva ao fazer aquela pergunta era notável, e antes que Anne pudesse responder, ela se antecipou. – NÃO RESPONDE! – Emily levou as mãos até os ouvidos enquanto balançava sua cabeça de um lado para o outro, negando-se a ouvir mais daquela história. – Por favor, não responde. Eu não quero saber.
-- Emily, eu sinto muito... Eu... – Anne tentou tocar a outra, mas Emily desviou-se de seu toque.
Era realmente muita informação para digerir, e talvez Emily não estivesse pronta para aquilo, não como achou que estaria. Pensar que aquelas pessoas que tanto ficavam a sua volta haviam-na magoado tanto no passado tirava toda a confiança que elas tinham conquistado com Emily. A ruiva precisava admitir que havia sido muito corajoso da parte de Anne lhe dizer todas aquelas coisas, uma vez que ela poderia inventar qualquer história que a transformasse em uma pessoa melhor no passado imaginário dela, mas ela não o fez, e isso contava também.
-- Eu não deveria ter perguntado essas coisas... Eu não deveria querer saber... – O olhar da ruiva murchou, transparecendo sua decepção pessoal.
-- Emily... – A ruiva a interrompeu aos berros.
-- EU NÃO QUERO SABER! – Emily cobriu os ouvidos com as mãos, tentando bloquear qualquer som que Anne pudesse emitir.
-- Eu sinto muito. – A morena enxugou as lágrimas que caíam de seus olhos, levantando-se logo em seguida para deixar que Emily tivesse seu próprio tempo para assimilar toda a informação.
A ruiva observou todo o percurso de Anne até a porta do quarto, abaixando sua guarda na medida em que ela se afastava. Mas antes que a morena saísse do quarto, ela voltou seu olhar para Emily, e lhe disse palavras que mexeram com ela de uma forma absurda.
-- Eu prometi pra mim mesma e para Deus que nunca mais iria mentir para você se você acordasse. E eu não vou. – Engoliu seco. – Mesmo que isso signifique te afastar de mim, eu contarei a você tudo que você quiser e estiver pronta para ouvir, Emily. – Seus olhos encontraram-se com os da ruiva uma última vez naquela noite, a após certificar-se de que ela havia ouvido a cada palavra, ela saiu do quarto deixando apenas um boa noite.
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Quatro meses após o despertar, Europa.
-- Como nós viemos parar aqui? – A loira alta olhou aos arredores, encantada com a praça pacata que haviam encontrado após adentrar em uma porta enorme e de madeira de um edifício feito com pequenos tijolos avermelhados, percorrendo um pequeno corredor, no centro da Amsterdã.
Alice olhou por todo o lugar, acompanhando todos os detalhes do verdadeiro “jardim secreto” no qual estavam.
-- Achei você... – A advogada disse a si mesma enquanto deixava escapar de seus lábios um sorriso bobo, completamente encantada com o lugar.
-- O quê? – Evellyn franziu o cenho ao olhá-la, não tendo certeza do que Alice havia dito.
-- Hm? – Levantou as sobrancelhas ao encarar a loira.
-- Como você sabia desse lugar? Digo... Nós parecíamos estar invadindo a casa de alguém para pararmos aqui... Como você sabia que... – Alice antecipou-se em responder.
-- Eu não sabia. – Mentiu. – Foi apenas uma escolha de sorte, eu diria. – Forçou um sorriso para a companheira. – Vem, vamos explorar o lugar. – Alice segurou na mão da loira e arrastou-a pelo lugar que, embora ela dissesse não conhecer, ela sabia exatamente o que estava procurando ali.
Elas andaram por todo o lugar até que Alice parou de frente a uma grande e antiga igreja, a Engelse Kerk, e ficou lá, observando-a por vários minutos. Seus olhos percorriam o lugar como se estivesse acompanhando movimentos por lá, movimentos que de certa forma ela presenciou, mas anos atrás.
“ – Você sabia que meus pais se casaram aqui? – O sorriso largo e contente de Emily era encantador. – Minha mãe fugiu de casa para que pudesse se casar, porque meus avós não aceitavam o relacionamento deles, só porque ele era um rapaz pobre na época. – A ruiva olhava com tanta admiração para a igreja que seus olhos chegavam a reluzir. – Quando ela me trouxe aqui, ela conseguiu descrever tão bem como se sentiu e como tudo aconteceu que... – As palavras de Emily foram interrompidas pelo sorriso que tomou conta de seus lábios novamente. – Eu consigo imaginar exatamente como foi. Você entende como é isso? – A ruiva umedeceu os lábios com a língua quando olhou para Alice, que a admirava tão detalhadamente. Os olhos dourados da advogada acompanharam-na enquanto ela revelava o real motivo pelo qual estavam ali, e era impossível não emocionar-se com aquela garota a sua frente, tão apaixonada pela história dos pais.
Alice balançou a cabeça, dizendo a Emily que não conseguia compreender tudo que ela sentia ali, mas esperou e torceu para que ela continuasse a história.
-- Ela me disse que casou-se com o vestido antigo da minha avó paterna, um vestido que meu pai havia trazido para ela no dia do casamento deles. E que ela chegou até a porta que dá acesso ao jardim vestindo apenas as roupas velhas que usava na fazenda naquele dia. – Os olhos de Emily encontraram-se com os de Alice, e após uma longa troca de olhares, ela prosseguiu. – Ela contou que quando encontrou a igreja, meu pai estava parado aqui – A ruiva caminhou até o ponto que indicou, parando na mesma pose que sua mãe havia descrevido para ela. – E ele segurava uma sacola de papelão com partes do vestido vazando para fora... Ele estava inquieto, como se já a aguardasse por muito tempo. – O sorriso invadiu os lábios de Emily mais uma vez, fazendo com que Alice se perdesse nele. – Vem aqui. – A ruiva andou até a advogada e puxou-a até o local que seu pai havia esperado por sua mãe. – Você será o meu pai, okay?
Alice apenas consentiu com a cabeça. Ela estava tão vidrada e encantada com a forma como Emily falava sobre aquilo que mal se deu conta de que estava fazendo parte de toda aquela encenação que era reviver o casamento dos pais da ruiva.
-- Minha mãe disse que ao chegar, a primeira coisa que ela fez foi ir até o meu pai e cobrir seus olhos... Desse jeito... – Emily passou para trás da advogada e cobriu seus olhos com um toque suave. – E ela lhe pediu para adivinhar quem era... “Adivinha quem é?” – Repetiu.
-- O que ele disse? – Alice respondeu em um sussurro, quando sentiu Emily retirando as mãos dos olhos dela.
A ruiva apoiou o queixo sobre o ombro de Alice, e abraçou-a por trás, sussurrando em seu ouvido.
-- Essa é a melhor parte. – Ao sorrir novamente, a superfície dos lábios de Emily acidentalmente tocaram na orelha de Alice, arrepiando-a o braço. – Ela disse que naquela hora meu pai sorriu de uma forma que ela jamais havia visto, e que ele disse de uma forma pacata que aquela era a mulher com quem ele iria passar o resto de sua vida. – Completou ainda em um sussurro. – Você consegue imaginar um amor assim?
Alice sentiu um calafrio passar por todo o seu corpo quando aquelas palavras saíram da boca de Emily. Tê-la ali, tão aberta e tão perto deixava-a completamente fora de si. Seu coração batia tão rápido e tão forte que parecia querer lhe sair do peito, e controlar a respiração naquele momento foi difícil, uma vez que Emily havia tirado todo o seu ar com aquela atitude.
-- Emi... – A voz de Alice quase não saiu, e antes que ela pudesse completar, a ruiva passou um dos braços a sua volta e puxou seu queixo, fazendo-a virar-se para ela, tomando os seus lábios em um beijo logo em seguida.
-- A resposta é sim. – Afirmou após cessar o beijo.
-- Hãm? – Alice pareceu surpresa com aquelas palavras. – Como assim? – Pressionou os lábios enquanto enfrentava aqueles olhos tão azuis de Emily.
-- Naquela noite no seu quarto, quando estávamos estudando e acabamos nos beijando... Você me perguntou se eu queria treinar isso com você... Essa coisa de se relacionar com mulheres. – Emily franziu o cenho ao se dar conta de como era estranho falar sobre aquilo. – A resposta é sim.”
-- O que eu estou fazendo? – Alice pensou alto, enquanto sentia seu coração apertar-se no peito, causando-lhe dores físicas. Seus olhos estavam marejados e avermelhados pelo choro que ela segurava ao lembrar daquele momento com Emily. Suas mãos estavam trêmulas pelos sentimentos que todas aquelas lembranças lhe causavam. Ir até aquele lugar trouxe à tona todos os sentimentos que ela havia tentado ignorar nos últimos meses, toda a saudade que sentia de Emily, das suas conversas, do seu cheiro, do seu sorriso e principalmente daqueles olhos azuis tão intensos. A advogada sentiu-se péssima quando percebeu que, de certa forma, ela estava tentando deixar toda a sua história com Emily para trás. Uma história cheia de altos e baixos que a fizeram ser a mulher que ela era hoje. Independentemente de sua dor, abandonar seu passado parecia-lhe completamente errado agora. Ela não podia simplesmente deixar aquela mulher para trás. Haviam marcas de Emily em cada traço de Alice, em cada sorriso, em cada choro, em cada respiração, e por mais que ela soubesse que a ruiva gostaria que ela seguisse com a sua vida da melhor forma que pudesse, ela não conseguia se ver fazendo isso e deixando tudo sobre elas para trás.
Naquele exato momento e exato lugar, Alice havia entendido pela primeira vez, anos atrás, que o sentimento que ela supria por Emily sempre fora amor. Um amor que ultrapassou todas as barreiras da razão naquela época, e que a deu forças para continuar ao lado de Emily, mesmo sabendo que aqueles beijos e intimidades entre elas seriam temporários, uma vez que a ruiva havia aceitado aquilo apenas para estar pronta para Anne quando finalmente acontecesse. Alice não podia abandonar ou até mesmo esquecer um amor assim, um amor com essas dimensões.
-- Eu não posso fazer isso, Evellyn. – As palavras, embora sem nexo, da advogada, fizeram completo sentido na cabeça da loira, quando ela a viu chorando.
Evellyn mordicou o lábio inferior, tentando disfarçar a expressão entristecida que se formava em seu rosto. Foi questão de tempo até ela assimilar que Emily havia entrado nos pensamentos da namorada outra vez.
-- É a Emily, não é mesmo? – Perguntou receosa, sabendo perfeitamente qual seria a reposta.
-- Eu não posso deixa-la, Evellyn. – Deu de ombros, tentando conter as lágrimas que escapavam-lhe dos olhos o máximo que podia. – Por mais que eu tente, ela não vai sair de mim. – A advogada olhou nos olhos da mulher a sua frente, rezando para que ela entendesse. – A Emily é parte de mim. Nós crescemos juntas... Eu... Eu a conheci a minha vida inteira. Você entende? – Alice tocou no ombro da loira, enquanto trocava olhares com ela, buscando sua compreensão. – Eu não posso deixa-la agora. Ela não está morta... – Evellyn a interrompeu.
-- MAS ESTÁ EM COMA! – O timbre alto e nervoso da loira a fez recuar alguns passos para trás, sendo acompanhada por Evellyn. – Ela está em coma há mais de dois anos, Alice. – A voz da loira pareceu mais calma quando lhe disse aquilo. – Dois anos... Você sabe o que é isso? Eu não queria ter que dizer isso à você, Alice... Mas a Emily pode nunca acordar. Você deve ter ouvido os médicos falando sobre as chances dela... – Insistiu.
-- Você está certa. – A voz fraca da advogada refletia a surpresa com as palavras de Evellyn, que até então sempre havia sido tão compreensiva com o assunto. – Mas existem casos onde as pessoas acordam depois de anos e...
-- E você acha que ela será um desses casos, certo? – Interrompeu.
-- Eu não posso descartar essa possibilidade. – O semblante de Alice demonstrava o quanto sentia-se desconfortável e triste por toda aquela situação. – Eu não sei porque eu tentei deixar isso para trás...
-- Porque você estava sofrendo. – Evellyn a recordou de seus motivos.
Alice desviou o olhar da loira, buscando algum argumento que pudesse rebater aquelas palavras, mas de certa forma, Evellyn estava certa. Ela havia fugido de tudo aquilo porque não sabia lidar com o sofrimento que a atual situação de Emily trazia à ela.
-- Eu acho que faz parte. – Pressionou os lábios e respirou fundo antes de continuar. – Acontece que eu consigo lidar com tudo isso agora. E não só consigo, como preciso. E não é só por mim, Evelyn. Eu fui egoísta quando me afastei de todo mundo... Katrien, meus pais e até mesmo a Anne... Eles não merecem isso apenas porque eu não soube lidar com toda aquela situação. – Alice enxugou as lágrimas. – Eu preciso voltar.
Os ombros da loira murcharam ao vê-la tão decidida à fazê-lo.
-- Eu sinto muito por tê-la envolvido em toda essa confusão que eu sou. – Alice forçou um sorriso e abraçou-a, depositando um beijo carinhoso em sua bochecha. – Isso não é um adeus, mas eu espero que entenda que eu preciso me resolver antes de tentar me entregar para qualquer pessoa que não seja ela.
Fim do capítulo
Olá meninas, espero que tenham gostado desse capitulo. Ainda tenho algumas coisas sobre o passado delas que quero mostrar para vocês, e como acredito que estamos caminhando para um final de história, tentarei postar capitulos mais longos.
Me digam se estiverem de acordo, tudo bem?
Um grande beijo à todas vocês, e mais uma vez, obrigada por todo o carinho!
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JeeOli
Em: 21/07/2017
Saudades da história espero que volte a postar ela, as duas merecem um final digno mesmo que não seja juntas (torço pra ser)
Resposta do autor:
Oi linda! Como está?!
Espero que bem!
Voltei a postar os capitulos, estava com meus horários todos bagunçados e não consegui me programar para escrever, mas agora estamos aqui de novo!
Espero que continue acompanhando, e desculpa mais uma vez pela demora.
Um grande beijo.
becky blue
Em: 12/05/2017
Faz pouco tempo que descobri seu romance e do primeiro até este capítulo 50 foram cinco dias num looping sem ler outra coisa, com exceção dos textos da faculdade. Seu texto é absolutamente lindo. Devastador e lindo. Não é tarefa fácil escrever sobre um amor como esse, e If I should fall, perpetual run me devolveu a inspiração que eu precisava pra voltar a escrever.
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codinomehelena
Em: 05/05/2017
Dei até um suspiro quando terminei de ler, confesso que tô me deixando levar, mas ah! Está tão incrível essa história. Meus parabéns por ela, querida.
Aguardo ansiosamente pela continuação.
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lay colombo
Em: 01/05/2017
Meu Deus me diz q a Em vai se apaixonar "de novo" assim q ela vê a Aly, pq meu coração não aguenta saber o qnt elas foram feitas uma pra outra é não estão juntas por falta de comunicação, ai Deu.
Jenny mimha princesa a cada dia me apaixono mais pela sua escrita, casa comigo? Kkkkkkk mas sério vc arrasa, bjo linda e até o próximo
Resposta do autor:
Oi lay!! Tudo bem?
Olha, eu gostaria de poder te dizer isso... Mas me disseram uma vez que é feio fazer fofoca! Hahahahahha
Então acredito que você terá que esperar para ver :x
Eu as vejo como dois completos opostos que foram atraídas uma para a outra de uma forma única e especial. Acho que trouxe parte de um amor meu para cá. :)
Essa proposta vale até a distância? Vamos lá então!!
Mas sério, obrigada por todo o carinho meu bem, de verdade. É uma alegria enorme vir aqui, mostrar a minha escrita para vocês e receber todos esses elogios e carinhos de quem acompanha.
Vocês são muito importantes para mim!
Um grande beijo, da sua Jenny querida :*
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JeeOli
Em: 27/04/2017
Ate que enfim a Alice entendeu senhor... Anne mudou e amadureceu mt com o passar do tempo e espero mt que ela encontre alguém legal pra ela que possa amar e ser amada sem nenhuma dor, Alice e Emily merecem ser felizes juntas se vai acontecer eu não sei... mas espero do fundo do meu coração que aconteça
Resposta do autor:
Oi Jee, tudo bem?
Eu torço para o melhor das nossas meninas também, todas as três, mesmo que Anne tenha feito tanta coisa ruim em seu passado.
Eu acredito naquele ditado de que "tudo que nós fazemos nessa vida, volta para nós de alguma forma" então pode ser que Anne ainda tenha que enfrentar muita coisa até encontrar a sua tão esperada paz.
Continue com teu coração torcendo por elas
Um grande beijo e até o próximo.
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patty-321
Em: 27/04/2017
Adoro cap. Longos. Q barra para a Emily neste momento dá vida. Desmemoriada,cheia de incertezas, sem andar. A Anne está bastante mudada. As merdas q ela fez e as mágoas q causou na Emily foram muitas e profundas. Agora a Alice vai voltar, será q Emily vai lembrar dela? Bjs
Resposta do autor:
Oi Patty!! Tudo bem?
É bom saber que você gosta de capítulos longos, pois pretendo faze-los assim agora que estamos caminhando para um final.
Concordo contigo em todos os pontos citados... É uma barra a que a nossa ruiva está passando e com todo o drama do acidente, Anne cresceu muito.
O fato de Emily não se lembrar das coisas que ela fez podem ser uma forma da Anne se aproximar, não acha?
Um grande beijo e até o próximo!!
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