Sete

 

Meus pensamentos, aos poucos, começaram a ficar menos conturbados.

Na terça-feira, quando Yara entrou na minha sala, tive a certeza que não queria mais me afastar dela.

 

 

- Olá! (Ela disse sorrindo alegremente e iluminando todo o meu consultório).

 

- Oi, seu sorriso é lindo (afirmei já sendo contagiada por ela e sorrimos juntas).

 

- Obrigada (agradeceu feliz).

 

- Tudo bem contigo?

 

- Sim e com você?

 

- Também.

 

- Bom!

 

- Como está seu braço?

 

- Bem melhor.

 

- Então vamos continuar o tratamento.

 

Concentrei-me no meu trabalho e com delicadeza realizei todo o procedimento.

 

 

- Ontem a secretária do colégio reclamou de caspas. Sua especialidade também cuida disso?

 

- Sim. Fale para ela marcar um horário com a Bia.

 

- Legal, falarei sim.

 

- Prontinho. Terminamos por hoje.

 

- Mais uma vez, obrigada!

 

- Se cuida viu (falei a admirando).

 

- Você também (ela respondeu me abraçando).

 

Ficamos abraçadas por alguns minutos, depois ela deu um beijo no meu rosto e foi embora. A semana seguiu tranquila, com meus pensamentos menos conflitantes e comecei a resolver meus dilemas internos. Troquei algumas mensagens com a Yara e já estava louca para reencontra-la. Na sexta à noite, depois que tomei banho e lanchei; tomei coragem e voltei a ligar para ela.

 

 

 - Alô!

 

- Oi, pode falar? (Perguntei educadamente).

 

- Claro que posso. Como vai?

 

- Bem e você?

 

- Feliz com a sua ligação (falou transparecendo certo sorriso na voz).

 

- Que bom. O que faz?

 

- Acabei de jantar, estava assistindo ao jornal, que acabou há pouco.

 

- Como foi sua semana?

 

- Foi tranquila e a sua?

 

- Também.

 

- Ótimo!

 

- Você tem compromisso amanhã à noite? Pensei de irmos naquele barzinho (arrisquei).

 

- O meu primo me chamou para sair no Guarujá, venha comigo (convidou).

 

- Não, nem quero te atrapalhar (falei rapidamente).

 

- Imagine, você nem atrapalha.

 

- Eu devia ter te ligado antes (lamentei).

 

- Você não quer ir?

 

- Acho melhor não (ponderei).

 

- Tudo bem, então eu desmarco com os meninos.

 

- Não precisa fazer isso, podemos marcar outro dia.

 

- Pode ser amanhã mesmo.

 

- Mas você já tem compromisso.

 

- Que horas amanhã?

 

- Yara, não...

 

- Eu passo te pegar às nove.

 

- Mas...

 

- Já esta decidido!

 

- Sei não (disse indecisa).

 

- Eu sei e quero te ver.

 

- Eu também (admiti).

 

- Usa seu cabelo cacheado amanhã? Eu gosto dos seus cachinhos.

 

- Uso sim (fiquei feliz por ela comentar que gostava do meu cabelo).

 

Um silêncio constrangedor se estabeleceu entre nós e claro que ela percebeu.

 

 

- Bom, então, até amanhã.

 

- Até! Boa noite!

 

- Beijo!

 

- Outro (respondi imaginando como seria o sabor do beijo dela).

 

Desliguei o telefone e fiquei sorrindo. Ela iria desmarcar com o primo porque queria me ver, fiquei radiante e mais uma noite adormeci pensando nela.

No sábado dormi até tarde e almocei num restaurante perto de casa. Durante o dia troquei mensagens com a Yara, eu estava muito animada e querendo que a noite chegasse logo. No final da tarde me exercitei e corri bastante; liberar adrenalina me fez muito bem. À noite me arrumei e caprichei no visual. Utilizei meus cremes favoritos e cuidei com carinho da minha maquiagem; apliquei base, um duo de sombras, delineador, rímel, batom matte e blush. Felizmente meu cabelo colaborou comigo, meus cachinhos comportados e em ordem. Nem um pouco enriçado e com os fios em plena harmonia.

Depois de olhar várias vezes no espelho, fiquei muito satisfeita com o resultado e decidi fazer um mantra anti-idade: Florência, não seja preconceituosa, relaxe, se permita, nada de auto sabotagem e tenha atitudes positivas.

Uns vinte minutos antes do horário combinado, Yara mandou mensagem avisando que já estava me esperando, eu avisei que já estava pronta e logo desci.

 

 

- Boa noite! (cumprimentei entrando no carro).

 

- Você esta ainda mais linda, boa noite! Desculpa chegar antes, é que eu estava ansiosa.

 

- Sem problemas. Seu primo não ficou chateado?

 

- Não, ele entendeu e eu não perderia a oportunidade de te ver. Vamos?

 

- Sim!

 

- Gosto da fragrância do seu perfume, é delicioso.

 

- Obrigada e também gosto do seu. Combina muito contigo.

 

Ela dirige muito bem e com cautela. Ouvimos música durante o trajeto e no barzinho escolhemos uma mesa próxima da parede. Sentamos uma ao lado da outra. Pedi caipirinha e ela cerveja, também escolhemos porções de fritas com bacon e frango a passarinho. A música ao vivo já tinha começado e gostei muito das canções.

 

 

- É tão bom estar na sua companhia (ela falou me apreciando).

 

- Tem certeza que não preferiria estar com alguém da sua idade?

 

- Tenho! Deixa de bobagem. Temos pouca diferença etária....

 

- Dez anos (frisei).

 

- E isso não é importante. Florência você é uma mulher maravilhosa, inteligente, atenciosa, competente, pare de se apegar nisso. Entenda, são apenas números.

 

- Você é apaixonante (falei impressionada com a forma que ela explicava e com toda aquela maturidade, até parecia que ela era mais velha).

 

- Não sou a única apaixonada por aqui? (perguntou sorridente).

 

- Não (falei sem jeito e toda envergonhada).

 

Nossas bebidas chegaram, bebemos, cantamos com o grupo que se apresentava e comemos nossas porções.

Certo momento da noite ela pegou em minhas mãos, sorriu e falou:

 

 

- Se eu te pedisse para ir comigo até a minha casa você aceitaria?

 

- Hoje não, quem sabe outro dia. Podemos ir com calma? (Pedi).

 

- Claro e eu já imaginava que seria assim, mas ao menos tentei.

 

- Você não vai ficar brava né.

 

- Não. Eu compreendo.

 

Cantarolamos mais um pouco e já era madrugada quando deixamos o barzinho. Quando ela estacionou em frente ao meu edifício fiquei tentada em convida-la para subir, contudo me controlei e lembrei sobre o combinado de ir com calma.

Ficamos um bom tempo olhando uma para a outra, prevalecendo entre nós o encantamento. Trocamos sorrisos cúmplices e vagarosamente nossos rostos começaram a se aproximar; parecíamos dois imãs. O nosso primeiro beijo, foi ali dentro do carro dela e foi delicioso.

 

 

- Sonhei tanto com seu beijo e é ainda melhor do que eu imaginava (ela falou voltando a me beijar).

 

Era um beijo urgente, carinhoso, exigente, perspicaz e com sabor de quero mais; eu nunca tinha beijado daquela forma e estava amando. Demoramos a separar os nossos lábios. Paramos com os beijos somente quando ficamos sem fôlego e o meu lábio já estava começando a ficar dormente.

 

- Qual a sua programação para hoje, depois que acordar?

 

- Passarei o dia com a Nina.

 

- Começo a me morder de ciúmes agora? (Perguntou contrariada).

 

- Não, mesmo porque não curto zoofilia (esclareci).

 

- Sério que fiquei com ciúmes de um pet? (Questionou envergonhada).

 

- Uma yorkshire (elucidei).

 

- Que mico!

 

- Ciumenta?

 

- Sim (confirmou).

 

- Qualquer dia você conhece a Nina.

 

- Vou querer conhecer sim, gosto de cachorros.

 

- Você também tem animal de estimação?

 

- Atualmente tenho alguns peixinhos e também um jabuti, chamado Teco.

 

- Que legal.

 

- No final da tarde podemos ver o pôr do sol?

 

- Claro!

 

Voltamos a nos beijar e nos despedimos.

Adorei a noite com a Yara e a paixão me arrebatou. Adormeci muito feliz.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo