Maktub por Dayramazotti
Capítulo 20
Acordei e me arrastei para fora do quarto, mamãe estava me tratando como uma rainha. E eu estava cada dia mais enjoada. O Henrique passava todo dia para me buscar no trabalho, ele estava bobo com o filho que iria nascer. Não lembrava em nada aquele mauricinho de tempos atrás. Ele estava trabalhando na empresa de um amigo de seu pai, e em pouco tempo era um dos advogados mais requisitados de Ouro preto. Nosso casamento estava marcado para março, assim a barriga era menos visível, todos estavam empolgados e felizes, menos eu que não tirava Ana dos pensamentos.
Um dia passando perto de sua casa resolvi parar e conversar com sua mãe, e saber informações dela. Toquei a companhia e Maria veio atender.
- Boa tarde Maria, a senhora Estela se encontra?
- Está sim menina, entre que irei chama-la. - me conduziu até a sala
- Boa tarde Laura, tudo bem? - disse ela vindo ao meu encontro.
- Estou bem, cada dia mais gorda. - sentamos no sofá atrás de nós.
- A que devo a honra dessa sua visita? - perguntou.
- Gostaria de sabe notícias de Ana, sinto falta dela, éramos muito amigas, mas eu estraguei tudo. - falei abaixando a cabeça envergonhada.
- Eu sei de tudo, minha filha me contou sobre o que aconteceu entre vocês, percebo que ainda a ama, mas a magoa correi os corações. - disse e segurou minhas mãos. - ela foi embora por não suportar vê-la casando com outra pessoa, Laura. Mas sei o quanto Ana te ama, e quem sabe um dia as coisas não se acertam. De tempo ao tempo. Viva sua vida, cuide desse bebê e de há ele muito amor, lembre se que ele não tem culpa pelos atos de seus pais.
- Ana tem sorte em tê-la como mãe, uma coisa digo a senhora. Jamais esquecerei sua filha, eu a amo. E nada muda isso.
- Ela foi embora arrasada, mas o orgulho a impediu de ir procura-la, esse tempo em que está fora servirá para lapidar seu coração.
- Nada melhor que o tempo. Posso passar as vezes aqui, para ter notícias dela? - pedi de forma quase infantil.
- Você sempre será bem vinda, minha filha. - disse e me abraçou. - venha quando quiser.
- Obrigada. - e fui embora refletindo as palavras que dona Estela havia me dito.
ANA:
Estava aos pouco me habituando a nova rotina, Tinha aula no período da manhã e a tarde estava fazendo um curso livre de estruturas prediais, tentava preencher todo o meu tempo para não pensar em Ana. Ligava para mamãe todos os dias, faziam quase três meses que eu estava em Londres e a saudade da minha família estava começando a apertar. Harriet chegou semana passada e isso ajudou a não me sentir tão sozinha. Com o dinheiro que papai me mandava, aluguei um apartamento pequeno próximo a faculdade, pensei em chamar Harriet para dividi-lo comigo, mas não era uma boa ideia. Afinal sabia do interesse dela por mim, e queria evitar magoá-la.
Estava tão distraída lendo um livro que quase morri de susto quando ouvi o interfone tocando, pulei do sofá e sai aos tropeços para ver quem era.
- Pronto.
- Oi Aninha, vamos dar uma volta, quer ir com a gente. - era Harriet. - Não demore a decidir, estamos congelando aqui fora.
- Subam, vou me arrumar. - estava vestida com um pijama curtinho então corri para me trocar, mas quando entrei no quarto a Companhia tocou. Tive que abrir daquele jeito. - Vieram rápido, não liguem pro calor que faz aqui dentro, mas eu ainda estou me habituando a esse frio, estão liguei o aquecedor no máximo.
- Realmente da um calor na gente esse ambiente. – olhou para mim de cima a baixo com uma cara que não soube decifrar muito bem.
- Bom, fiquem a vontade, volto já.
Sai meio desconcertada, quase que correndo, não sabia aonde iriam então optei pelo mesmo estilo em que as meninas estavam usando. Como fazia muito frio na rua, coloquei uma blusa de manga de lã, um casaco forrado, duas calcas, duas meias e uma bota de cano longo. Finalizei com um cachecol e uma toca. Pareci um esquimó, mas só assim para enfrentar o frio londrino. Sai do quarto e em pouco tempo estávamos fazendo curso de pinguim. Descobri que iriamos ao um pub não muito longe, entramos no carro da Rosaly e partimos.
O local era diferente de tudo que já tinha visto, possuía uma decoração meio medieval, e todos os móveis eram de madeiras rústicas. Sua meia luz dava ao ambiente um ar aconchegante, sentamos próximas ao palco e pelo que percebi iria ter um show logo mais. Harriet sentou-se ao meu lado e falou em meu ouvido.
- Um banda de amigos meus irá tocar daqui a pouco, espero que goste.
- Eu adorei esse lugar, é a primeira vez que entro em um ambiente assim.
- Tem lugares lindos aqui, se quiser, posso te mostrar Londres inteira. - disse e chamou o garçom. - Vai de cerveja, Ana?
- Com certeza, hoje quero experimentar tudo o que tem nesse local.
- Cuidado hein, isso inclui também as pessoas? - pergunto Rô em tom de brincadeira.
Soltei uma gargalhada, mas não respondi a sua pergunta, preferi deixar no ar. O garçom trouxe nossas bebidas e achei o máximo, pois a cerveja vinha em canecas de madeira. Dei um gole e senti um sabor totalmente diferente das cervejas do Brasil, era forte e encorpada. Uma verdadeira maravilha.
- Vai com calma, porque essa cerveja embebeda a gente rapidamente. - era Cassy. - Na primeira vez que a tomei, fique tão bêbada que até hoje não me recordo como acordei na cama de uma ruiva de cabelos cacheados.
- E essa não foi a única vez, né Cáh. - Harriet adorava zombar as amigas.
- E não será a ultima, eu garanto a vocês. - e todas rimos do seu comentário.
As meninas tinham se tornado mais que amigas para mim, ali sozinha naquele país elas eram a minha família. E agradecia todos os dia a professora Paula por ter me apresentado Harriet.
Perguntei para Rô onde era o banheiro, e ela se propôs a ir comigo, e assim fomos juntas. Como já era de se esperar o banheiro possuía uma decoração incrível, ficava cada vez mais admirada com aquele lugar.
- E ai Ana, o que está achando daqui? - perguntou Rô.
- Estou amando esse país, penso seriamente em não voltar mais para o Brasil.
- Quem sabe você não arruma um novo amor por aqui, e decida ficar de vez não é. Sabe que Harriet é caidinha por ti. - disse em defesa da amiga.
- Acho que sim, percebo as olhadas dela, mas não quero estragar a amizade que temos. Além do mais ainda amo a Ana. - ao fundo ouvi os primeiros acordes da banda.
- Vamos, a banda já começou. - disse puxando-a pela mão.
A banda era incrível, e eu já estava na quarta cerveja, minha fala estava mais arrastada, e meus lábios começavam a adormecer. Mas não me importei muito afinal queria curtir minha sexta-feira, então chamei o garçom e pedi outra cerveja. A banda fez um intervalo e os músicos vieram até nossa mesa, cumprimentou a todas nos, e algum tempo depois voltaram a tocar. Não tenho muita ideia da hora que saímos de lá. As meninas me ajudaram a ir embora, depois disso não há mais lembranças. Acordei no dia seguinte com uma ressaca do cão, vestia um pijama de coração que raramente usava e meu cabelo estava preso em um rabo de cavalo. Levantei com muito custo e fui tomar banho, forçando o pensamento para saber como aquele pijama foi parar em mim, porém só sentia a cabeça doer ainda mais. Precisava ler um monte de coisas, mas a ressaca da noite anterior não deixou, e sem ter o que fazer entrei no Facebook.
Estava com Saudade de Laura, então resolvi olhar a sua página, e foi a vez do meu estômago revirar. Ela havia postado varias fotos junto com Henrique, e eles pareciam felizes, fazendo algumas poses com sapatinhos rosa nas mãos. Fechei o computador por não suportar ver aquelas cenas, eu precisava esquecê-la e seguir com minha vida. Com olhos marejados, peguei meu celular e liguei para minha mãe. Conversamos por mais de meia hora, ela me colocou a par das novidades, contou que vovó estava passando uns dias lá em casa, e que estava morrendo de saudades. Disse o mesmo a ela, contei sobre a faculdade e sobre o curso extra que fazia, ela estava feliz por mim, e eu queria deixa-la muito orgulhosa. Conversamos um pouco mais e desliguei.
Aproveitei meu tempo livre para estudar, queria ser uma das melhores alunas da classe e me dedicava ao máximo para isso. Quando dei por mim estava acordando, havia dormido em cima dos livros. Levantei preguiçosa e fui procurar algo para comer, sentia muita falta de Maria nesse quesito, fiz um lanche rápido e fiquei vendo TV, e assim foi meu fim de semana. As meninas me ligaram para sair novamente, mas aleguei estar indisposta e não fui. Queria ficar sozinha, estava chateada com as fotos que tinha visto. Na segunda-feira, acordei cedo e fui para a aula, era bem puxado, mas eu estava amando.
O tempo passou que nem vi, já estávamos perto das férias do meio do ano, mamãe disse que me mandaria o dinheiro para que eu fosse para casa, mas recusei. E ela entendeu o motivo, não queria encontrar com Laura. Soube por mamãe que ela teve uma menininha e para minha surpresa, colocou o nome de Ana clara, não sei se fiquei feliz ou triste. Sentia uma saudade enorme dela e por mais que ficava com uma menina aqui e outra ali, não conseguia permanecer por muito tempo com a mesma pessoa. Parecia sempre faltar algo, e muitas delas odiavam Harriet, e esse era sempre um motivo de briga, pois não admitia que nenhuma tratasse mal a minha amiga.
Enfim chegou as férias, fechei todos as matérias com notas altas. Todo esforço havia valido a pena. E para não ficar ociosa, resolvi procurar um emprego temporário. Além de manter minha mente ocupada, uma renda extra era sempre bem vinda. Olhando o jornal vi um anúncio no qual precisavam de uma babá. Liguei para o número indicado, uma mulher de voz doce atendeu o telefone e marcou uma entrevista comigo para aquele mesmo dia. Cheguei no local indicado um pouco antes do horário, era uma linda casa no estilo vitoriano, sua pintura em tons claros dava um ar aconchegante ao local antes mesmo de entrar em seu ambiente. Toquei a companhia e uma senhora muito bem vestida atendeu a porta.
- Boa tarde, me chamo Ana e tenho uma entrevista marcada com a senhora Margareth..
- Boa tarde jovenzinha, entre, por favor. Prazer, Margareth.
E me deu passagem para entrar, a casa era ainda mais linda por dentro e parecia ter sido tirada de um filme. Fiquei um tempo admirando aquela construção, até que ela chamou por mim. A entrevista ocorreu de maneira tranquila, ela era uma senhora muito bem educada, perguntou sobre mim, contei que era brasileira e estava fazendo faculdade naquela cidade e para ter uma renda extra estava a procura de um emprego temporário. Conversamos por pelo menos meia hora, explicou que a vaga era para cuidar de seu neto de seis anos que estava de férias com sua mãe. Que eu não precisava ter experiência no cargo, uma vez que ele sempre estaria acompanhado por ela ou pela mãe do garoto. Mas que mesmo assim precisaria de uma outra pessoa para ter um suporte maior. Falou sobre o salário, e sobre os horários, para mim estava ótimo. Sai de lá contratada, combinamos que começaria no dia seguinte. Liguei para mamãe e contei a novidade para ela, mesmo longe ela torcia sempre por mim. Mas percebi que tinha certa chateação em sua voz, devido ao fato de não estar com ela nesse período. Disse que estava com muitas saudades também, e prometi que iria nas férias de fim de ano. Despedi-me e desligamos.
Cheguei em casa radiante, tomei um banho quente e deitei nua em minha cama. Recém fechei os olhos e o celular tocou.
- Alô.
- Aninha meu amor, o que acha de irmos ao pub hoje?- perguntou ela com voz feliz.
- Não vai dar, nem te contei... Amanhã começo a trabalhar de babá.
- Jura? Que chato, perdi minha companheira. - disse ela e pude imaginar o bico enorme que fez.
- Que acha de vir aqui, assistimos a algum filme e você dorme no meu apê, para não ter que sair tarde da noite por ai.
- Hum proposta irrecusável, já já estou ai. - E desligou em meio a gargalhadas.
Amava esse seu jeito de ser, e lá no fundo adorava as indiretas que me jogava. Coloquei uma roupa e fiquei esperando por Harriet, que chegou meia hora depois. Tocou meu interfone e pedi que subisse. Não demorou muito e minha companhia tocou. Ao abrir a porta o cheiro de seu perfume invadiu todo o ambiente. Ela estava diferente, usava um vestido longo solto, com flores estampadas. Em seu pé calçava sandálias sem salto, seus cabelos negros que agora estavam longos, caiam por sobre seus ombros. Os olhos marcados por um delineador deixava-o ainda mais azuis. Não sei precisar por quanto tempo fiquei ali admirando a linda morena a minha frente.
- Que foi Ana, tá tão ruim assim? - disse arqueando uma das sobrancelhas.
- Não, é que... É que, sei lá. - eu estava sem palavras para explicar aquele momento. Ela sempre estava vestida com calças rasgadas e camisetas largas. E vê-la daquela maneira mexeu com a minha libido.
- Sei... Bom, já que você não quis sair comigo para beber, trouxe a adega até nós. - me mostrou duas garrafas de vinho que trazia. As quais eu não tinha percebido.
Peguei os vinhos de sua mão e os levei até a cozinha, cortei alguns pedaços de queijo, e achei um salame na geladeira e logo tínhamos alguns petiscos para acompanhar o vinho.
- Esse vinho é bom, porque não me avisou que o traria, assim teria saído para comprar algo que o acompanhasse a altura.
- Não precisa você já faz isso muito bem. - olhou para mim daquela maneira estranha de antigamente.
- Você não muda né? - dei um tapinha em seu braço.
- Você gosta de mim assim.
- Sua boba vem vou servir vinho para nós.
Juntas fomos até a sala, liguei a TV e passava um filme qualquer. A companhia dela era muito agradável, Harriet era inteligente, e tinha um senso de humor sem igual. Era fácil ficar horas conversando com ela e não se cansar. Em meio a nossa conversa, contei sobre meu emprego novo.
- Espero que eles sejam tão gentis quanto a senhora que fez a entrevista comigo.
- Acredito que sejam sim. Divide comigo mais uma garrafa?
- Já vi que quer me embebedar, não é mesmo?
- Ah não, você adivinhou meus planos. - foi ate a cozinha rindo, e eu fiquei observando o seu andar, ela estava deslumbrante naquele vestido de tecido solto.
Fim do capítulo
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