Capítulo 50
O JARDIM DOS ANJOS -- CAPÍTULO 50
Depois de alguns minutos Fael emergiu, encheu o peito de ar e mergulhou novamente. Por mais intensa que fosse a correnteza, ele continuava lutando bravamente para encontrar Felipe.
Sem alternativa, por inúmeras vezes, emergiu e mergulhou novamente, mas sem sucesso. Quando mais uma vez veio a tona para respirar e, tentar não sucumbir, avistou Felipe sendo levado pela correnteza.
Os braços longos moviam-se com agilidade. Fael era um exímio nadador.
Ao avistar Felipe, Fael empenhou-se ainda mais em alcançá-lo e tirá-lo da água o mais rápido possível.
Experimentando um misto de bravura e desespero, Fael emergiu para encher os pulmões de ar, depois voltou a mergulhar e nadou em direção a Felipe. Desta vez, conseguiu passar o braço pelo seu tronco e o puxou para a superfície.
Por que um homem tão sensato e bom, tomaria a decisão de atentar contra a própria vida? Por acaso não sabe que o suicídio é tido como um crime grave aos olhos de Deus? "Pobres Espíritos, que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda aos que sofrem e não aos que carecem de energia e de coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados!"
Fael perguntava-se. Porém, ele não tinha tempo para procurar respostas. Segurando Felipe com firmeza, nadou até a margem.
Algumas pessoas correram para ajudar Fael. No mesmo momento, ouviram o som de sirenes ao longe.
Ao contemplar o corpo inerte e desfalecido de Felipe, acreditou que ele não poderia voltar a respirar. Sentiu dor, pânico, desespero e uma fé profunda e forte.
Foi motivado por essa fé que Fael começou a fazer a massagem cardíaca e a respiração boca a boca. Por volta de um minuto Fael tentou e nada de Felipe expelir a água.
-- Volta pra mim amor! Não vá, eu te imploro -- Felipe chorava e olhava para o céu buscando ajuda divina, mas não deixou por nenhum instante de fazer as manobras de primeiros socorros -- Pai, ajuda! -- E para o alívio de Fael, ele começou a tossir e a cuspir a água dos pulmões.
-- Deixem-nos passar -- Uma voz grave pediu e foi abrindo caminho por entre os curiosos -- Agora pode deixar que a gente assume -- disse o bombeiro -- Você fez um belo trabalho, rapaz.
As pessoas começaram a bater palmas. Fael estava com o cérebro anestesiado, incapaz de raciocinar.
-- Por favor! Levem ele para o hospital Leonor Hernandes -- Foi só o que conseguiu pronunciar.
Quando Lorraine retornou a sua sala, o técnico desviou os olhos da tela do computador, girou sua cadeira de couro reclinável de forma a ficar de frente para ela.
-- Andras permaneceu no mesmo lugar. Não abriu nenhuma gaveta, nenhum armário, nada, nada.
-- Isso quer dizer que os objetos não estão guardados aqui no hospital -- constatou Lorraine.
-- É bem provável que ela tenha guardado no apartamento -- girou a cadeira para olhar novamente para o computador -- A Patricia ligou avisando que as câmeras estão todas instaladas. Já fiz um teste e tudo está funcionado perfeitamente.
-- Ótimo! -- Lorraine inclinou-se para frente mantendo seus olhos fixos na tela. Fez cara feia e indagou-se: -- O que você está planejando fazer, Andras?
Enquanto isso, em sua sala, Andras tentava colocar seus pensamentos em ordem. Em nenhum momento cogitou a possibilidade de Lorraine tomar essa decisão. Ela é arrogante e esnobe demais para passar por uma situação tão humilhante que é ser presa.
Ficou impaciente, pegou o celular e discou para Beleth.
-- Aonde você está? Larga tudo o que está fazendo e vá para o meu apartamento. Temos que mudar os planos. A imbecil da Lorraine desistiu do casamento.
Enfiando as mãos nos bolsos de seu jeans desbotado, Alisson saiu do quarto e entrou na cozinha.
-- Augusta, o pai chega em casa de viagem e traz presentes para cinco filhos, e o sexto fica no canto da sala chorando. Qual o nome do filme?
Augusta virou-se para ela e respondeu sem muito interesse.
-- Não sei.
-- O sexto sentido.
Ela deu de ombros e voltou a lavar a louça.
-- Aonde fica João Neiva?
-- Fica no estado do Espirito Santo -- Alisson puxou uma cadeira e sentou-se de frente para a pia -- Não é uma cidade muito grande, penso que caso essa mulher ainda more lá, não será difícil encontrá-la.
-- Eu não conheço João Neiva, mas já ouvi falar do Mosteiro das Irmãs Carmelitas que fica próximo a essa cidade.
-- Eu não sabia -- Alisson se levantou e empurrou a cadeira -- Me dá uma mãozinha? Estou com dificuldade em arrumar a mala.
-- Gostaria de ir com você -- ela disse -- Não me agrada a ideia de você ir sozinho.
-- Eu não vou sozinha. A Nádia vai comigo.
-- Mas ela não vai cuidar de você como eu cuido.
Alisson deu uma gargalhada.
-- Você cuida de mim... Tá bom. Não vou nem comentar -- disse olhando para a mala que começou a arrumar. Era uma mala grande, mas, mesmo assim, parecia que nela não ia caber nem a metade da roupa que Alisson queria levar -- Olha só, a mala está cheia e ainda falta uma pilha de roupas.
-- Meu Deus! Você não dobrou as roupas.
-- Tinha que dobrar?
-- Lógico.
Alisson sentou-se na beirada da cama, olhando para Augusta. Jogou as pernas para o lado e respirou fundo.
-- Pelo menos a Priscila vai ficar protegida lá no orfanato, assim posso viajar mais tranquila.
-- Viajar é ótimo... Mas voltar a cagar em casa é bom demais. Né Alisson?
-- O que é isso? -- Alisson pulou da cama -- Que palavreado é esse? Meninas fazem cocô, quem caga, são os meninos.
-- Ah, tá. Desculpa aê.
Alisson murmurou alguma coisa inteligível e saiu do quarto, olhando para o relógio.
Andras pegou a bolsa e virou-se para sair da sala.
Automaticamente Lorraine remexeu-se na cadeira, inquieta.
-- Será que ela está voltando para casa? -- perguntou pensativa -- O que você acha?
-- Não sei se ela está voltando para o apartamento, mas, de qualquer maneira, vamos ficar preparados para isso. Vou ligar para a Patricia.
Lorraine pegou a bolsa, as chaves do carro e caminhou até a porta. Antes de sair virou-se para o técnico e disse mostrando o celular:
-- Vou me encontrar com a Patricia, continuarei acompanhando os passos da Andras pelo celular.
-- Lorraine! -- ele a chamou com a fisionomia preocupada -- Tome cuidado. Não se esqueça que você estará no território inimigo.
-- Não se preocupe. Tomarei cuidado.
Felipe deu entrada no hospital desacordado e foi levado diretamente para a UTI.
-- Meu Deus! O que aconteceu, Fael? -- Agnes segurou o braço dele -- Você está todo molhado!
-- O Felipe jogou-se da ponte -- disse Fael com voz cortada pelo nervosismo. Estava agitado e tentava conter as lágrimas -- Foi assustador!
-- Eu imagino -- Agnes passou a mão pelos cabelos molhados do rapaz.
Beca aproximou-se trazendo notícias.
-- Acabei de conversar com o doutor Mendes. Ele pediu para esperarmos o resultado dos exames -- Beca observou que o amigo estava pálido. Muito pálido. Os olhos castanhos estavam chocados e cheios de lágrimas represadas -- O médico solicitou Gasometria arterial, hemograma completo, radiografia de tórax e tomografia computadorizada de crânio.
-- Como ele está? -- Fael agarrou as mãos de Beca, apertando-as com força -- Por favor, me diga.
-- A única coisa que sei é que ele acordou. Está um pouco confuso, mas aparentemente bem.
-- Graças a Deus! -- Lagrimas silenciosas caíram por suas bochechas.
-- Você aguardou milhares de anos, talvez milhões, por esse momento. Para cumprir nossas missões de vida temos que enfrentar os desafios que a vida nos coloca -- Beca sorriu mansamente -- Ao nascer você já sabia que passaria por essas dificuldades.
-- Eu sei, porém, não imaginava que seria tão dolorido. O risco de perder a pessoa que se ama dessa forma tão cruel e prejudicial ao espírito, me deixou arrasado.
-- Não estou entendendo nada do que vocês estão falando, mas o que importa nesse momento é que o Felipe vai se recuperar -- Agnes sorriu com ternura e acariciou o braço de Fael.
-- Alguém avisou a Lorraine ou a Nádia? -- perguntou Beca.
-- A doutora Lorraine saiu apressada do hospital um pouco antes da ambulância chegar. A doutora Nádia nem veio hoje. Sobrou o doutor Marcos que provavelmente já foi avisado -- Disse Agnes.
Lorraine dirigia muito rápido e o trânsito ainda era intenso, apesar da hora. Olhava de minuto em minuto para o celular. Patricia havia feito um ótimo trabalho instalando as câmeras em pontos estratégicos do apartamento. Assim que Andras abriu a porta do apartamento, Lorraine arregalou os olhos e levou a mão ao peito.
-- Ela chegou! -- Observou Lorraine, assustada -- Droga de trânsito! Desse jeito vou levar horas para fazer o trajeto -- Desesperada deu um soco no volante.
Andras jogou a bolsa em um canto e foi até a geladeira pegar algo para beber. O ar estava quente e abafado. Um suco de uva gelado cairia muito bem.
O ruído das sandálias de saltos de Beleth, no piso do corredor, quebrou o silêncio e mesmo antes da campainha tocar, Andras abriu a porta.
-- Só você para me fazer vir até aqui sob esse sol inclemente que está me sufocando. Odeio quando o meu rosto fica brilhando de suor -- Beleth passou pela porta resmungado e gesticulado sem parar.
-- Entra e deixa de ser reclamona -- disse Andras, sorrindo -- Quer um suco?
-- Aceito -- respondeu Beleth seguindo Andras até a cozinha -- Quer dizer que a doutora desistiu do casamento? -- perguntou, virando-se para Andras
-- Desistiu.
-- E agora, Andras? Como você vai pegar a menina?
-- Ainda não sei. Cada vez que estou quase conseguindo, a loira metida aparece e estraga tudo.
Beleth riu, enrugando o nariz.
-- Confessa que você se borra de medo dela.
-- Não seja ridícula! -- Disse irritada -- Apenas sei dos meus limites.
-- E você pretende cumprir as ameaças que fez a Lorraine?
-- Com certeza -- Entregou-lhe um copo de suco e voltou para a sala -- Ela não perde por esperar -- murmurou, olhando demoradamente para Beleth -- Foi para isso que chamei-a aqui. Quero que você envie as provas para o investigador Pinto. Ele é o policial responsável pelo caso.
Lorraine estacionou o seu carro atrás do carro de Patricia. Olhou ao redor atentamente antes de sair do veículo e caminhar até aonde Patricia estava.
-- Você se atrasou um pouquinho -- disse Patricia, destravando a porta -- Ela já chegou faz tempo. Inclusive a megera da Beleth.
-- Eu sei, eu sei -- Lorraine entrou e travou a porta -- O trânsito estava terrível, mas acompanhei tudo pelo celular.
-- Hum, deixe-me ver -- Patricia olhou séria para o visor -- Que beleza! Novos tempos esses.
-- Espero que essa tecnologia avançada me ajude a não ir para a cadeia -- a médica recostou-se no banco macio com o celular diante dos olhos -- O que estas duas tanto conversam?
-- Com certeza elas estão tramando alguma malvadeza. Essa Beleth é uma cobra peçonhenta.
-- Olha, Patricia! Elas entraram no quarto! -- Lorraine estendeu o celular para ela -- Talvez esse seja o grande momento.
Andras largou seu copo em cima da cômoda depois de tomar mais um gole do suco. Abriu a gaveta e retirou um envelope.
-- Aqui está. Quero que envie ainda hoje.
-- Tem certeza disso?
-- Absoluta! Lorraine será afastada da presidência do Hospital. E quem assumirá?
-- Não sei, quem sabe a Nádia.
-- Duvido! Doutor Marcos considera a Nádia uma fracote, metida a Madre Tereza. E o Felipe... esse nem se fala. Enfim, vamos jogar a sorte numa carta só.
De repente o celular tocou. Andras sorriu com prazer ao verificar quem ligava.
-- Já está com saudades, minha ex noiva? -- falou suavemente, com o tom de voz provocativo -- Aqui na portaria? -- A expressão do rosto de Andras mudou. Ela parecia estar extremamente surpresa e admirada -- Claro. Pode subir.
Andras voltou-se para Beleth, com a cabeça cheia de dúvidas.
-- Lorraine está lá embaixo -- murmurou ela, meio para si mesma - Será que ela se arrependeu?
-- Pode ter certeza disso -- Beleth fez uma careta -- Que mulher mais complicada. Toma aqui o seu envelope. Pelo jeito voltaremos ao plano inicial. Que tédio!
Andras jogou o envelope na gaveta e deu um sorriso debochado.
-- Lorraine deve ter pensado bem e percebido que cadeia lotada e cheirando a xixi, não é lugar para uma mulher tão elegante e requintada como ela. O medo falou mais alto.
-- Mas, só para garantir, foi ficar um pouco por aqui -- Beleth sentou-se na cama de Andras e encostou-se na cabeceira -- Vai que seja outra coisa.
Lorraine abriu a porta do carro e colocou uma perna para fora. Virou-se para Patricia e falou decidida:
-- Esse é o momento. Fica com o meu Smartphone. Estou levando o aparelho que uso normalmente e você tem o número.
-- Deixa sem som. Qualquer movimentação diferente eu mando um Whats avisando.
-- Tá certo.
-- Ei Lorraine... Boa sorte!
Lorraine sorriu de leve.
-- Obrigada!
Lorraine saiu, batendo os saltos no asfalto. Antes de entrar no prédio, ainda lançou um último sorriso para a amiga.
Com o rosto de expressão fria ao qual todos estavam tão acostumados. Marcos ficou calado, em sua cadeira, esperando que doutor Mendes dissesse algo.
-- Seu filho escapou por pouco. Muito pouco mesmo. Por sorte um técnico de enfermagem do hospital estava presente no momento e fez todas as manobras recomendadas. Ele foi perfeito.
O cardiologista limpou a garganta.
-- Alguma complicação? -- perguntou.
-- No momento não. Mas, conforme o protocolo, ele vai ficar em monitorização eletrocardiográfica (ECG) contínua, com verificação dos sinais vitais, ter uma veia profunda cateterizada, para verificação da pressão venosa central, sonda vesical para controle da diurese horária. Provavelmente ele vai evoluir para uma broncopneumonia. A preocupação nesse caso vai ser a de evitar o agravamento da lesão pulmonar e cerebral com o excesso de líquido administrado.
Marcos colocou-se em pé e ajeitou a gravata. Sentiu uma pontada de remorso por sua severidade. Por que tinha sido tão rude com o filho? Tinha seus problemas, mas não devia ter direcionado a ele. Foi uma grande besteira.
-- Obrigado, doutor Mendes. Qualquer novidade, me avise.
-- Sim -- concordou ele, caminhando para a porta. O médico hesitou e virou-se para Marcos -- Ele acordou dizendo que odeia o pai.
Marcos respirou fundo e balançou a cabeça.
Depois de o médico ter se retirado e fechado a porta, ele encheu um copo de uísque e bebeu em um gole só. Com passos lentos, andou até a janela e ficou olhando a cidade.
-- Eu sou um ótimo empresário... No entanto, um péssimo pai.
Andras abriu a porta e olhou Lorraine de alto a baixo. Com certeza deveria haver um motivo muito sério para ela estar ali.
-- Que bons ventos te trazem ao meu humilde apartamento, meu amor?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:

Mille
Em: 01/08/2017
Olá Vandinha
Ainda bem que Fael conseguiu salvar o Felipe, será que depois deste susto o poderoso Doutor Marcos repensa o tratamento dos filhos, porque não é só com um que o humilha é com todos.
Os dedinho estão cruzados para que a Lorraine consiga pegar o envelope ainda tem que driblar a Belleti, mais ela consegue.
Bjus e até o próximo
[Faça o login para poder comentar]

NovaAqui
Em: 01/08/2017
Um conselho Andras: não subestime uma mulher. Kkkkkkkkk n parece que você é uma kkkk ah tá! Você é soberba e do mal, mas Lonzinha vai te dar uma volta Kkkkkk
Vamos ver se esse pai dá uma melhorada no seu jeito de ser com os filhos.
Louca para ver Lonzinha sacaneando Andras kkkk perdão pelo palavreado kkkk
Abraços fraternos procê!
[Faça o login para poder comentar]

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]