A fortiori por Bastiat
CapÃtulo 19 - A aliada
Laura
Foi como se um relógio despertasse dentro de mim. Acordei no horário habitual que levanto para ir ao trabalho. Mesmo que tenha acontecido tudo da forma como foi, a rotina voltará hoje. Minhas férias chegaram ao fim.
Levantei-me com um peso enorme nas costas. O peso da perda. Eu não teria que acordar a Marina com beijinhos, não teria que arrumá-la para o colégio, não teria que preparar o seu café da manhã com amor e carinho como sempre fiz.
Minhas lágrimas se misturavam com a água do banho. Minha vontade é de ficar na cama para sempre, mas tenho certeza de que meu trabalho me ajudará a não pensar na minha podre vida.
Escolhi uma camisa e uma saia social qualquer. Depois calcei uma ankle boot e concentrei-me em uma maquiagem para disfarçar as minhas olheiras.
- Bom dia.
Ouvi a Patrícia dizer ao despertar. Ela é tão bonita, ainda mais sem maquiagem, ao natural.
- Bom dia, querida.
- Por que você está arrumada? Vai sair?
Aproveitei que ela levantou e selei seus lábios nos meus.
- Sim, as férias acabaram.
- Você vai trabalhar?
- Claro! Que pergunta é essa? Você sabe que eu volto hoje.
- Você não está bem, não tem cabeça para trabalhar. O Sérgio veio aqui ontem e disse que segura as pontas até que você esteja bem.
- Eu volto hoje e não quero discussão.
- Teimosa!
- Gostosa - sorri, não quero brigar.
- É sério Laura, vou ficar preocupada com você...
- Vai trabalhar também, é o melhor remédio para tudo. Agora dá um beijo aqui.
Nem esperei a resposta e beijei seus lábios.
- Tchau, te amo, se cuida.
Deixei uma Patrícia pasma para trás, peguei a minha bolsa e a chave do carro.
Verônica
- Oi, tia Vero.
Girei os calcanhares apressada para ter a certeza de que é a Marina. Ela saiu do quarto, isso é um bom sinal.
- Oi, coisinha fofa! Bom dia.
- Bom dia.
- Vem, senta-se aqui com a tia, vamos tomar café.
Ela se sentou receosa, ficava olhando para os lados. Com certeza procura a Camila.
- A Camila está no trabalho, pode tomar seu café sossegada.
Ela começou a comer em silêncio. Seu olhar é triste. Fiquei de coração partido por ver tanto sofrimento.
- Marina, como era morar em Paris?
Como pensei, conversar pode distrai-la da chateação.
- Era muito bom! Fazia balé, natação, tinha aula de piano. Ah, eu tinha várias amigas também. Minha mãe me levava para museus, fazia piqueniques, a gente fazia várias viagens curtas para conhecer outros países, sabe? Tinha um montão de coisas para fazer.
Ela sorria, os seus olhos se iluminavam conforme narrava.
- E como é a Laura como mãe?
- A minha mãe? Acho que é como toda mãe. Cuida de mim o tempo todo, briga comigo quando faço bobagem, briga também quando respondo ela, ajuda no dever de casa, fazemos brigadeiro para assistir filmes. Sempre diz que só dorme feliz se ver um sorriso no meu rosto antes de se deitar.
- Que lindo! - Fiquei emocionada. - A Laura trabalha?
- Claro né, tia. Adultos trabalham. Em Paris ela trabalhava no jornal 'Le Monde'. Ela continua trabalhando para esse jornal, mas parece que aqui ela é a chefe. Minha mãe é muito importante, você precisa ver como todo mundo admira o seu trabalho.
- Mas ela trabalha muito?
- Acho que trabalha como todo mundo. Às vezes ela faz que nem você, trabalha em casa.
- Mas ela já faltou com você?
- Faltou? Como assim tia?
- Deu mancada, deixou você na mão, deixou de fazer alguma coisa com você para trabalhar.
- Só quando ela tinha alguma uma grande cobertura ou reportagem. Teve uma vez que ela brigou com o chefe pelo telefone porque ele pediu para ela fazer uma viagem de trabalho bem no dia da minha primeira competição de esgrima. Eu falei para ela ir, eu sabia que ia perder. Mas ela nem ligou, disse que eu arrasei porque consegui acertar minha adversária uma vez. Perdi a luta, mas ganhei um sorvete enorme. Depois eu desisti da esgrima, é um esporte muito paradinho.
Laura tinha ao menos tentado mudar pela filha e aparentemente é uma ótima mãe.
- E a namorada dela? Por que você não gosta dela?
- Ah, tia Vero... eu dormia com a minha mãe antes dela ir dormir lá em casa.
Eu gargalhei alto, puro ciúme.
- Então ela te tratava bem?
- Sim. Mas quando eu voltar para casa, vou aprontar uma boa e nova!
- Pestinha! - sorri.
Ela sorriu sapeca e continuo comendo um bolo.
- Marina, é... assim, eu queria entrar em um assunto delicado - ganhei sua total atenção. - Já que você tocou nesse assunto de voltar para casa, gostaria de conversar com você sobre essa situação. Eu vou tentar te ajudar de todas as formas, mas preciso que você colabore.
- Colaborar?
- Sim, eu preciso que você não bata de frente com a Camila. Dê um tempo até a poeira baixar, até eu convencer as suas mães de conversarem para chegar em um acordo.
- Quanto tempo?
- Não sei, preciso que tenha paciência também.
- Eu só quero voltar para casa. Estou com saudade da minha mãe.
- Eu imagino, meu anjo. Brigar não vai resolver. Eu só preciso que você fique aqui por um tempo. Prometo que serei a melhor tia do mundo.
- Está bem.
Ela fez uma carinha triste. Ouvi a campainha.
- Deve ser as modelos. Quer assistir elas desfilando com umas novas roupas que fiz?
- Sim! Adoro!
Ao menos a Marina ficou mais animada.
Laura
Como é boa aquela adrenalina da redação lotada. Discussões acaloradas, reuniões, matérias, reportagens... esse é o meu mundo.
Meu celular começou a tocar. Achei estranho, era um número do Rio na tela.
- Alô?
- Filha?
- Oi, mãe.
- Onde você está? Estou aqui na portaria do seu prédio e o porteiro disse que não tem ninguém em casa.
- Estou trabalhando.
- Trabalhando?
- Pensei que vocês voltariam hoje para o Rio.
- Laura, como você consegue trabalhar com todos esses problemas na sua cabeça?
- É justamente por isso que eu estou aqui, para esquecer os meus problemas.
Ficamos em silêncio por um tempo e pareceu que a qualquer momento íamos desligar uma na cara da outra.
- Bem - ela resolveu falar - você sabe o que está fazendo. Vamos ficar em São Paulo até segunda e gostaria de passar mais um tempo com você. Eu tenho muita saudade.
- Tudo bem, mãe. Vamos marcar um jantar no sábado e passar o domingo juntas. Agora eu tenho que desligar pois tenho uma reunião para comandar.
- Laura, qualquer coisa estou aqui.
- Ok, beijos.
Baixei a cabeça sobre a mesa. Eu não estava nada bem, não estava com vontade de viver, quero as minhas filhas.
... --Sábado--...
Patrícia
Na tela do meu celular o nome ‘Verônica' aparecia com uma certa frequência. Sempre deslizava o botão vermelho, não atendi desde que voltei para casa. Sua insistência é surpreendente. Desde quarta-feira foram cerca de 20 ligações por dia.
Olhei ao redor da sala me sentindo uma idiota. A Laura saí oito horas da manhã e chegava meia-noite. Quase não conversamos mais. Só tenho notícias dela através do Sérgio. Além disso, quase não está comendo, seus dias é ficar na redação, comer algum biscoito, tomar café e fumar. Estou muito preocupada com a Laura e ainda hoje temos o jantar fora com os pais e a irmã dela. Já era para ela estar em casa.
Mais uma vez o celular tocou, resolvi atender para acabar de vez com essas ligações.
- Alô...
Eu ouvia uma respiração, mas a Verônica não dizia nada.
- Alô? - Insisti.
- Oi, Patrícia - sua voz saiu suave e calma - que bom que você atendeu.
- Desculpe não ter lhe atendido esses dias, estou cheia de problemas... - fui interrompida.
- Não, não precisa mentir. Você não atendeu porque é casada e quer evitar dores de cabeça. Acertei?
- Em partes sim. Estou realmente com problemas, mas também não te atendi por ser casada. Não é certo atender uma ligação de quem ficou dando em cima de mim no domingo de carnaval.
- Entenda o meu lado, ninguém resistiria tentar alguma coisa com você. Você é linda por dentro e por fora. Cheirosa, inteligente, gostosa... sua esposa é uma mulher de sorte por ter conquistado seu coração.
- É.
Fiquei sem graça, uma dando valor até demais e a Laura mal falava comigo.
- Não gostei desse seu "é" triste. Seus problemas estão relacionados a ela?
- Verônica... não tenho problema nenhum com ela!
- Entendi. Vamos mudar de assunto, por que você atendeu agora?
- Por que você insiste em me ligar?
- Touché! - ela gargalhou. - Bem, eu realmente gostei de sua companhia. Patrícia, eu nem te conheço, mas sinto sua falta. Parece estranho, mas queria ouvir a sua voz de qualquer maneira. Fiquei triste que você não atendia, pensei que nunca mais fosse falar comigo.
Fiquei lisonjeada. Eu também tinha gostado da Verônica. Mal posso acreditar que ela seja irmã da ex da Laura. Isso é péssimo. Mas algo me fez querer continuar conversando com ela.
- Desculpa, eu deveria ter atendido.
- Não se preocupe, sou paciente e não desisto fácil.
- Mesmo de uma amizade?
- Amizade?
- Verônica, a única coisa que posso te oferecer é uma boa amizade.
- É claro! Amizade. Seremos grandes amigas se você prometer atender as minhas ligações.
A porta da sala foi aberta, Laura chegou.
- Eu prometo.
- Ótimo. Você pode me ligar quando quiser também.
Laura sentou-se do meu lado perguntando com quem eu falo.
- Claro.
- Sabe que eu desenhei um vestido ontem pensando em você?
- Sério? E ficou bom?
Laura saltava sua sobrancelha direita que demostrava um nervosismo. Ela me pediu para encerrar logo a conversa. Fingi que nem vi.
- Ficou maravilhoso. Vou mandar para a produção... Melhor, vou botar a mão na massa e eu mesma vou fazê-lo. Vai ser um presente especial.
- Não! Não quero te dar trabalho.
- Trabalho nenhum. Vou fazer com muito prazer.
- Não posso aceitar...
- Mesmo que você não queira, vou fazer.
- Já que insiste. Eu aceito.
- Mande as suas medidas depois.
- Mando sim. Você faz coisas maravilhosas, estou curiosa para ver como vai ficar.
- Posso dizer que é a minha melhor criação! Gravei bem as curvas de seu corpo, será tudo valorizado. Sou boa no que faço, mas a minha modelo e inspiração que fez essa obra-prima.
Fiquei vermelha e com um sorriso bobo. Laura cruzou os braços, levantou e subiu as escadas.
- Vou aguardar ansiosamente. Verônica, eu vou ter que desligar, depois nos falamos mais.
- É uma pena.
- É sério... tenho um jantar daqui a pouco.
- Tudo bem, te ligo depois. Tchau, Patrícia, bom jantar.
- Obrigada. Boa noite.
Verônica é encantadora, pena que meu coração só bate por aquela que está tão distante de mim.
Eu não sei os motivos que me levaram de tentar ignorar o fato de a Verônica ser irmã da ex da Laura, muito menos ter escondido da Verônica que a Laura é com quem sou casada.
Casada? Que ilusão minha! Morávamos na mesma casa apenas.
Meus pensamentos foram interrompidos pela Laura descendo as escadas já pronta. Só pude admirar a sua beleza. Usa um vestido vermelho colado no corpo que vai até metade de suas coxas, com um decote em formato de 'V' que quase chega no umbigo. O salto alto deixava sua postura mais elegante, sua maquiagem forte destaca seus olhos. Seu cabelo preso deixa em evidência as maçãs de seu rosto.
Esqueci toda chateação e estou babando por essa mulher.
- Gostou do resultado?
- Você sabe que caprichou - suspirei.
- Tinha que estar à sua altura, você está muito gata.
Fiquei olhando o seu sorriso e fiquei me perguntando como ela pode falar comigo de um jeito carinhoso como se não tivesse me ignorado todos esses dias.
- Pensei que você não ia aparecer para o jantar.
- Meus pais me matariam se eu não fosse.
Peguei a minha bolsa e seguimos em silêncio para a garagem. Entramos no carro e permanecemos sem dizer nada por mais cinco minutos depois de ela dar a partida.
- Querida, você pode voltar dirigindo o carro?
- Por que, querida? - fui irônica com o seu "querida" e ela percebeu.
- Porque eu estou com vontade de apreciar um bom vinho, mas preciso de alguém que não beba para dirigir.
- Que seja.
- Ei, o que foi? Por que está tão fria?
Dei risada. Foi o que eu consegui fazer na hora, soltar uma risada.
- Quem está fria? Eu? Eu fiquei três dias sem trocar um diálogo com você? Quem chega em casa tarde, fuma um cigarro, dá um beijo no rosto e dorme? Sou eu quem dá um selinho rápido em você e saio igual uma fugitiva para o trabalho?
- Para! Pode parar! Não começa a controlar os meus passos... Desculpa, eu sei que não tenho falado muito com você esses dias, mas... você sabe.
- Não, eu não sei. Como vou saber se não fala?!
- Agradecida pela compreensão.
- Eu não acredito que você esteja falando de compreensão para mim! Logo para mim.
- E eu não acredito que você quer uma DR no meio do caminho de um jantar.
Resolvi ficar em silêncio. Era ridícula aquela situação.
Chegamos praticamente ao mesmo tempo com os seus pais e sua irmã. Pelo que soube, o Bento já tinha voltado para o Rio de Janeiro.
Nos abraçamos em forma de cumprimentos.
- Vocês duas capricharam tanto que até estou me sentindo feia - foi minha sogra quem disse.
- Até parece dona Andreia, a senhora está maravilhosa!
- Eu estou me sentindo privilegiado por estar neste restaurante com as quatro mulheres mais bonitas do mundo - meu sogro sorriu.
Seguimos para a mesa.
Camila
Já estava há meia hora dentro de uma loja mostrando as roupas para uma Marina que não estava nem um pouco empolgada com as compras. Ela estava agindo normalmente nos últimos dias. Falava comigo timidamente, mas ficava mais com a Verônica e a Diana.
Resolvi ir sozinha com ela ao shopping. Minha pequena precisa de roupas já que não trouxe nenhuma de São Paulo.
A cada roupa que a vendedora mostrava ela dizia "pode ser" ou "tanto faz". Abaixei para ficar na sua altura.
- Meu anjo, você gosta de vestido?
- Pode ser.
- Tem um monte de roupas legais aqui, a Diana adora essa loja.
- Eu não sou a Diana.
- Claro que não é, mas...
- Então pare de me tratar como se eu fosse igual a ela.
- Você não está gostando das roupas, é isso?
Ela não respondeu e saiu correndo da loja.
- Desculpe, sabe como é criança... - sorri sem graça para a vendedora e corri atrás dela.
Encontrei Marina chorando em um banco no meio do shopping. A peguei no colo e fui até o meu carro. Tive medo de alguém me reconhecesse e tirasse foto daquele momento.
- Por que você está chorando?
- Nada. - Ela enxuga as lágrimas.
- Se você não gostou daquela loja, podemos ir em outra. Como você gosta de se vestir?
- Eu não quero comprar nada.
- Meu amor, você não pode ficar usando as roupas da sua irmã para sempre.
- Por que você não pega as minhas coisas em São Paulo?
- Marina... é complicado.
- Camila, eu já entendi que vou morar com você e que minha mãe me abandonou. É por isso que eu estou chorando.
Doeu ouvir aquilo. Eu sabia que a Laura não tinha a abandonado, mas não tive coragem de dizer aquilo. Apenas a coloquei no banco de trás e dirigi para casa.
...
Cheguei em casa e a Vero estava com a Diana no escritório que mais parece um ateliê agora. Ela cismou de fazer um vestido, então tem máquina de costura e diversos panos. Uma bagunça. Há anos não a via botando as mãos na massa para produzir uma camiseta que seja e agora está sorrindo a cada agulhada.
Minha preocupação é ela estar realmente apaixonada por essa tal de Patrícia, que é casada e pelos foras que a Vero leva é completamente apaixonada pela mulher. Está nítido que a minha irmã se apaixonou, então minha preocupação tem total fundamento porque é uma grande furada.
- Oi, Cah. Já voltaram? Deu para comprar tudo?
Bateu uma tristeza em mim, ela notou.
- Nem uma meia.
- Oi? Como assim?
- Di, vai brincar com a sua irmã.
Diana saiu de fininho com a minha ordem.
Desabei na poltrona.
- Ela não queria comprar nada e depois começou a chorar.
- Chorou? Por quê?
- Saudade da Laura... ela acha que Laura a abandonou.
- Pior disso tudo é que sabemos que não é assim. Será que você não enxerga que só está fazendo mal à Marina?
- O que você quer que eu faça? É até melhor ela pensar isso.
- Que absurdo, Cah! Olha o absurdo que está dizendo!
- Eu sei, mas eu não quero conviver com ela. Não quero olhar para a cara da Laura.
- A única coisa que você vai conseguir é a Marina triste pelos cantos.
Ela voltou sua atenção para o vestido, então aproveitei e dei por encerrada aquela discussão.
Laura
O jantar com os meus pais foi melhor do que imaginei A conversa fluía de modo natural, sem perguntas questionadoras ou algum deslize constrangedor. Fiquei contente, precisava me distrair um pouco. Aqueles dias estavam sendo os piores da minha vida. Só "esquecia" de tudo que aconteceu quando estava na adrenalina do trabalho e obviamente me atolei nele. Foi a minha válvula de escape para os problemas.
É claro que o meu escapismo estava ferindo a Patrícia. Sabia que estava em falta com a minha parceira, ela estava certa em me ignorar daquela forma. Ela fez o caminho de casa em silêncio e agora estava na poltrona do quarto. Parecia concentrada no notebook, estava com um semblante sério. Senti-me culpada por aquela cara mau humorada, Patrícia sempre teve sorriso e riso fácil, qualquer coisa era motivo para sorrir, principalmente quando olhava para mim. A única vez que vi um sorriso dela nos últimos dias foi ao telefone hoje. Aparentemente, ela estava falando com outra mulher. Fiquei encanada, mas a culpa é totalmente minha, ninguém merece uma pessoa cheia de problemas como eu.
- Patrícia, - ela olhou para mim - desculpa... eu não estou te fazendo feliz, não é?
- Não, não está. - Respirou fundo.
- Se você quiser ir embora, vou entender completamente.
- Você quer que eu vá?
Eu quero? Claro que não! Eu aprendi a admirá-la. Não era amor, era uma combinação de vida.
- Não. Mas não quero que seu sorriso suma do seu rosto.
- Então pare de me tratar assim. Pare de se fazer de vítima e descontar suas frustrações em mim.
Fiquei ofendida. Essa doeu.
- Ei! Eu não me faço de vítima e muito menos desconto em você. Estou cheia de problemas e quero ficar um pouco sozinha para pensar.
- Se você gosta de mentir para si, o problema é seu. Eu não vou passar a mão na sua cabeça e compartilhar disso. Você está fugindo da sua vida, está se acovardando para os problemas que surgiram. Sua ex faz uma ameaça ridícula e você aceita. Nem quer saber como está a sua filha, só quer saber de reportagem e reunião.
- Não fale do meu trabalho! Ele é a coisa mais importante que eu tenho no momento.
- A COISA MAIS IMPORTANTE NA TUA VIDA É A MARINA E A SUA OUTRA FILHA!
- Não foi isso que eu quis dizer... Eu... Eu só... Eu sou...
- Fraca.
- Fraca - segurei as lágrimas.
- A sua fraqueza é o que me deixa mais triste. Você só vem agindo dessa maneira porque é fraca. Se você tivesse 1% da garra você tem do trabalho para a sua vida...
- O que você sugere que eu faça?
- Eu não sei ao certo. Mas o que você não pode fazer é ficar trancada no ar-condicionado da sua sala esperando a vida passar.
- Caramba Patrícia!
Levantei da cama e abri a gaveta em busca de um cigarro.
- Isso, vai fumar. Uma ótima desculpa para fugir da conversa.
- EU NÃO ESTOU FUGINDO! - Explodi.
- ESTÁ! PIOR AINDA, VOCÊ ESTÁ AFASTANDO UMA PESSOA QUE SÓ QUER AJUDÁ-LA: EU!
Fechei a gaveta nervosa, nem encontrei o maço de cigarros.
- Por que você está me tratando assim?
- Porque eu gosto de você. Eu te amo, Laura. Eu queria que você pegasse na minha mão para sentir segurança e que a gente seguisse juntas para esta batalha.
- Eu não sei nem por onde começar.
- Que tal começar colocando a cabeça no lugar, não deixe que o desespero tome conta.
- Como eu não vou ficar desesperada? Eu corro o risco de nunca mais ver as minhas filhas.
- Você vai ver as suas filhas sim. Vamos dar um jeito. Não é trancada no trabalho que você vai achar uma solução. Vamos pensar juntas, eu estou aqui com você.
Como pode existir uma pessoa tão maravilhosa como a Patrícia? Olhei para ela com atenção, bonita por dentro e por fora. Ela abriu um sorriso.
- Você é a melhor pessoa do mundo. Tem alguma coisa que eu possa fazer para manter esse sorriso que está no seu rosto agora?
Ela deixou o notebook de lado e veio em minha direção. Parou a centímetros do mundo rosto.
- Parar de agir feito uma idiota.
Tomei seus lábios para um beijo avassalador.
O beijo tornou-se mais exigente, ela ofereceu seu pescoço e me deliciei na sua pele macia. Ela tocava os meus seios com uma certa exigência, era saudade. Fui jogava na cama e seus olhos famintos brilhavam como navalhas. Ela estava pronta para o ataque e eu era a sua presa. Patrícia sabia que era um mulherão e usava isso da melhor forma possível.
Patrícia
Uma semana se passou e a Laura mudou de atitude. Jantava em casa, era mais atenciosa e procurava não chorar. Sei que ela ainda estava baqueada, mas está melhorando.
No meio da semana tive uma ideia para ajudar a Laura e botaria em prática assim que a Verônica ligasse. Ignorei as ligações dela de propósito nos últimos dois dias.
Estava na minha empresa e daqui a pouco sairia com a Laura para almoçar. Meu celular tocou, tinha certeza de que a Verônica ligaria por aquele horário. Era hora de colocar meu plano em ação.
- Alô.
- Patrícia! - Percebi o seu alívio e empolgação.
- Quem é?
- Como quem é? Sou eu, a Verônica.
- Eu atendi sem ver, desculpe-me.
- Por que você não está atendendo as minhas ligações? Sua mulher pediu?
- Não.
- Então... por quê?
Fiquei em silêncio, ela continuou:
- Eu fiz alguma coisa?
- Você não... mas...
- Mas?
- A sua irmã sim.
- A Camila? O que ela fez? Já sei, ela pegou o seu número e disse para se afastar de mim, não foi?
- Laura.
- Laura?
- Conheço a Laura, ela é minha amiga - decidi ocultar a minha verdadeira relação com Laura, fazia parte do meu plano.
- Não estou entendendo...
- Um absurdo o que sua irmã fez, não? A Laura está arrasada aqui.
- Ei, eu não tenho culpa!
- Eu não quero contato com alguém tão próxima de quem fez o que fez com uma amiga minha.
- Patrícia, eu não posso fazer nada. Isso é assunto delas, faz parte da história delas. Não tome as dores da Laura, por favor.
- Tomo! Tomo sim. Não é justo o que vocês estão fazendo com a Laura.
Ela riu de nervoso.
- Eu não estou fazendo nada, quem está fazendo é a minha irmã. Você sabe o que a Laura fez?
- Claro que eu sei. Ela me contou tudo! Errou, errou mesmo. Mas tirar a Marina e a Diana dela desta maneira não vai resolver, só trará mais problemas.
- Eu também acho isso, eu vivo dizendo isso para a Camila. Eu quero que isso se resolva da melhor maneira possível. A Marina sente muito a falta da mãe.
- Ela está bem?
- Está numa tristeza de partir o coração.
- Então ajuda a gent... a Laura. Isso, ajuda a Laura.
- Como?
- Não sei. Seria legal se ela tivesse uma conversa com as filhas, já que ela não teve essa chance.
- Verdade... - ela hesitou. - Mas isso é difícil. Você tem alguma ideia em mente?
- Sim, eu estive pensando... Tem que ser aí no Rio, não dá para você trazê-las. Se eu for aí com ela, você dá um jeito para acontecer um encontro?
- Ah Patrícia...
- Por favor, Verônica. É só uma conversa. A Laura só quer se explicar para elas.
Depois de um bom silêncio, a Verônica respondeu:
- Tudo bem, vocês podem vir aqui. Mas tem que ser dia de semana, no horário de trabalho da Camila.
- Sério?
- Uhum. Eu faço tudo por você.
- Faça pelas suas sobrinhas, elas serão as maiores beneficiadas.
- Certo.
- Obrigada, sabia que você não compactuava com isso. Você é um anjo.
- Você é tão amiga da Laura assim?
Estranhei a pergunta. Será que ela desconfiava da nossa verdadeira relação?
- Sim, Laura é muito amiga minha, moramos no mesmo prédio.
- Que coincidência - ela gargalhou. - Então estamos acertadas? Voltamos as boas?
- Sim, claro.
- Sua mulher vem com vocês?
- Talvez.
- Se ela não vier, ela vai te deixar vir numa boa?
- Verônica, eu estava sozinha no carnaval, esqueceu?
- Verdade. É estranho não? Se eu fosse ela cuidaria mais de você.
- Verônica!
- Esquece vai. Que dia vocês virão?
- Pensei na próxima segunda.
- Ótimo! Seu vestido está pronto já.
- Eba! Então já tenho mais um motivo para ir.
Terminamos de conversar naturalmente e encerrei a ligação feliz. Meu plano tinha dado certo, consegui uma conversa que era necessária para a Laura. Ela ficaria feliz.
- Que sorriso é esse?
Laura entrou na minha sala de repente.
- Sorriso de quem fez uma coisa maravilhosa.
- E eu posso saber o que é?
- Sim, você é a principal interessada. Mas vamos almoçar que eu te conto a novidade.
- Ah não, conta agora.
Ela atacou os meus lábios com vários beijinhos tentando me convencer a contar.
- No almoço, sua curiosa - selei nossos lábios em um beijo carinhoso e seguimos de mãos dadas até o meu carro.
O restaurante era o seu predileto, a comida era maravilhosa e eu estava louca para sentar e contar a novidade. Só não gostei de a recepcionista ter secado a Laura com o olhar. Nem disfarçou as olhadas que deu no decote no caminho para a mesa.
Não disfarcei o meu ciúme. Beijei a Laura com vontade quando ela ficou parada esperando sei lá o quê. Foi bom porque ela saiu rapidamente.
- O que foi isso? Esse beijo do nada no meio do restaurante?
- Aquela recepcionista estava querendo te roubar de mim, mas acho que você nem percebeu. Fiquei com ciúmes, desculpa.
- Tudo bem. Mas eu não gosto de cenas de ciúmes, você sabe.
Demos o assunto por encerrado. Não podemos brigar por besteira, sei que foi ciúme bobo. O garçom chegou e anotou os nossos pedidos.
- Você vai me deixar assim na curiosidade?
- É uma novidade fantástica... - respirei fundo e sorri - você vai falar com as suas filhas segunda-feira.
- O quê? Patrícia eu não posso chegar lá...
- Não, meu amor! Você, finalmente, vai conversar com as suas filhas, é certo isso.
- Patrícia... é impossível.
- Deixe-me explicar. No carnaval eu conheci a Verônica, irmã da Camila.
- Agora que piorou tudo... - Ela estava em choque.
- Deixe-me explicar. Nós ficamos amigas, conversei com ela hoje e ela aceitou a conversa. É uma grande oportunidade para esclarecer as coisas com as suas filhas.
- Por que você omitiu que ficou amiga da Verônica?
- Fiquei receosa... Só ficamos amigas mesmo depois do que ocorreu.
- Espera, você conheceu a Verônica no Carnaval, voltou para casa, ficou sabendo de tudo e só depois vocês ficaram amigas? Tem alguma coisa que não encaixa...
- Foi isso mesmo - fiquei nervosa. - E foi ótimo, agora você pode conversar com as suas filhas.
- Por que a Vero está ajudando? Ela nunca gostou de mim, só me suportava.
- É? Bom, ela não está compactuando com o que a irmã dela fez. Ela até disse para a sua ex conversar com você.
- Estranho...
- Não tem nada de estranho. Consigo a conversa e você fica questionando? Pensei que ia ficar feliz!
- Estou! Estou muito feliz. Mas estou com medo de ser armação...
- Não é, pode ficar tranquila. Se teve alguém que armou alguma coisa aqui fui eu.
Laura pareceu ponderar um pouco e depois de um tempo de reflexão disse:
- Obrigada, Patrícia! Você sempre ajudando. Nem sei como te agradecer!
- Só esse seu sorriso com esse brilho nos olhos já pagou até com juros.
- Você é tão linda! Eu te amo.
- Eu também te amo, meu amor.
Nosso almoço foi servido.
- Patrícia, a Vero se casou?
Fui pega de surpresa. Por que aquela pergunta agora?
- Não, que eu saiba é solteira.
- Então não mudou nada - gargalhou -, com certeza continua passando o rodo.
- A gente não conversa muito sobre isso.
- Ela vivia ficando com as modelos, era uma mais bonita que a outra.
Fiquei sem graça com aquela conversa.
- Talvez ela tenha amadurecido.
- É, talvez. Mas era muito engraçado as mulheres correndo atrás dela depois. Dava até pena.
Senti um certo desconforto com aquela conversa. Verônica não parecia aquela pegadora que estava sendo descrita. No carnaval ela tinha tantas mulheres disponíveis e não ficou com nenhuma.
Camila
Nas minhas mãos estava um biquíni branco que ia vestir para cair na piscina com as minhas filhas. É mais uma tentativa de aproximação que eu faço com a Marina. Aquela semana estava sendo difícil para ela, começaram as aulas e eu consegui uma vaga para ela sem ter que falar com a Laura. Os pais dela até tentaram aparecer aqui em casa, mas eu não permiti. Não era o momento de dizer para a Marina que ela tem avós. Além disso, eles se aproximarem é a aproximação da Laura também.
Coloquei o biquíni e desci animada, Marina adora piscina. Antes de ir para o jardim, passei na cozinha e coloquei sorvete de chocolate em dois copos. Aproximei-me da piscina e dei um copo para a Diana que estava sentada na borda. Marina estava sendo mordida na bochecha pela Vero e gargalhava gostoso. Lembrei do dia em que brincamos muito na piscina, antes dela saber de tudo.
- Marina, vem aqui, trouxe sorvete.
Ela olhou para a Vero e agarrou-se em seus braços abraçando-a.
- Vai lá com a sua mãe, coisinha. O sorvete está uma delícia - Vero tentou convencer a Marina.
- Não... - Marina disse manhosa.
Vero nadou com ela até a borda em minha direção e estendeu a mão para que eu desse o sorvete. Fiquei morrendo de ciúmes da relação delas, nos últimos dias era só "tia Vero isso", "tia Vero aquilo". Eu não teria a menor chance se a Verônica continuasse protegendo-a de mim.
A contragosto entreguei o copo com sorvete para a Vero e me sentei na borda ao lado da Diana.
- Como é a Marina na escola? Na sala?
Diana olhou para mim e depois olhou para o sorvete.
- Entra muda e sai calada.
- Mas você não fica com ela? Você tem que apresentar as suas amigas para ela, Di.
- Ela não quer ser amiga das minhas amigas.
- Diana...
- Ela não quer estudar lá.
- Você tem que ajudar a sua irmã. Ela deve estar se sentindo sozinha.
- Ela está sentindo falta da Laura - ela entregou o copo vazio para mim e concluiu - e eu também.
Ela se jogou na piscina e nadou até a tia e a irmã.
Era só o que me faltava. Agora a Diana também se rebelou contra mim? Ela só passou uns dias com a Laura e já se apegou assim?
Levantei, sentei-me na espreguiçadeira, coloquei os óculos escuros e me permiti encher os olhos de lágrimas, mas sem que elas caíssem. Fiquei pensando se estava agindo certo. Eu não sei exatamente se eu não quero conviver com a Laura ou se estou mesmo protegendo as minhas filhas. Será que estava agindo certo tentando afastá-las? Eu suportaria ver a Laura mais uma vez pelas meninas?
- Oi, gostosa.
Vero sentou-se na outra espreguiçadeira ao meu lado. Nem me dei ao trabalho de responder o cumprimento.
- O que foi? Esgotou o estoque de brincadeiras divertidas com as minhas filhas?
- Eita, já vi que não sou bem-vinda.
- Acho melhor você voltar antes que as meninas pensem que eu roubei a tia delas.
- O que aconteceu hein? Esse ataque todo por que estou brincando com elas?
Respirei fundo.
- A Diana disse que sente falta da Laura.
- Ela disse também que sente falta da mamãe que você era antes.
- O quê?
- Ela reclamou ontem que você só fala com ela para perguntar pela Marina.
- Ela está com ciúmes? Que bobagem.
- Você está tão obcecada em ganhar a Marina que não está notando todo o estrago que está fazendo ao seu redor. Você está tão amarga, Camila.
- A culpa disso tudo é da Laura.
- Mas que merd* Camila! - Foi quase um grito. - Por tudo que é mais sagrado, tente esquecer o que a Laura fez e viva o agora.
- Esquecer? Esquecer que não vi minhas duas filhas crescerem juntas? Esquecer que eu fiquei aqui desesperada e ela fazendo a linda em Paris? Esquecer todas as promessas falsas e planos que fizemos? Esquecer todos os "eu te amo" que ela disse? Eu me lembro todos os dias dessas coisas.
- Não dá para conversar com você. Está cega.
- Por que você defende tanto a Laura agora? Você nem gostava dela, esqueceu? Você disse para não me casar com ela. Falava que ela era insuportável, que só convivia com ela por minha causa.
- É claro que eu sinto raiva por ela ter lhe feito sofrer tanto, mas alguém tem que pensar nas meninas aqui.
Levantei-me com raiva daquela conversa e entrei para casa frustrada. A tarde de piscina com as minhas filhas chegou ao fim sem ao menos ter começado. Tranquei a porta do meu quarto e me deitei na minha cama chorando.
- Por que você foi embora Laura? Eu te amava tanto... tanto.
Confidenciei baixo. Tudo estava tão nebuloso na minha vida, eu não sei o que fazer.
Laura
Acordei pilhada naquele domingo. Não acredito que amanhã eu vou falar com as minhas filhas. Graças àquela mulher que está neste momento dormindo nos meus braços. Olhando para aquele rosto tão bonito e tranquilo e comecei a divagar sobre o quanto ela estava se tornando importante para mim. A Patrícia estava colocando em cheque o que eu entendia por amor. Eu abri o meu coração para ela e estava gostando da sua ocupação. A relação com ela era tão diferente da que tive com a Camila. Com a minha ex parecia tudo muito à flor da pele, a gente vivia intensamente aquele amor, eu chegava perto dela e meu coração disparava, era um amor de posse e entrega total, uma loucura de sentimentos que invadia os nossos dias. Já com a Patrícia era uma convivência calma, braços que me passavam tranquilidade em abraços apertados, um querer que está me fazendo querer ficar com ela cada vez mais. Eu lamento amargamente todas as mulheres com quem transei enquanto estava com ela. A Patrícia me resgatou para a vida e está fazendo isso todos os dias.
- Amor, não fica me olhando assim.
- Não posso olhar o que é meu?
Ela abriu os olhos e deu seu melhor seu melhor sorriso.
- Não quando estou feia, sem maquiagem e com a cara amassada de sono.
- Pois para mim quanto mais simples, mais bonita você fica.
- Que mentira!
- É sério! Estava te admirando e pensando o quanto você é especial.
- Eu te amo, Laura.
- Por quê? - Não sei por que perguntei isso, saiu por sair.
- Porque você é maravilhosa, é uma grande jornalista, uma ótima mãe. Além disso, você tem um coração de ouro e o sex*... ah, o sex* é ótimo.
Ela mordeu o meu pescoço de forma sexy e aproveitou para sentar-se em cima do meu quadril. Alisei suas coxas e tentei sorrir. Acabei interrompendo sua investida pesada por estar sem cabeça para o ato. Patrícia logo entendeu deixando um selinho nos meus lábios e a campainha interrompeu seu carinho.
- Não acredito, quem será? - Resmunguei contrariada.
- Se o porteiro não interfonou...
- O Sérgio precisa urgentemente ter alguém para trans*r pela manhã.
Patrícia gargalhou e saiu de cima de mim. Vestimos um robe por cima e descemos.
Abri a porta e era realmente o Sérgio.
- Bonjour mon amour! - ele sorriu.
- Bonjour mon cher.
Sérgio abraçou-me rodopiando na entrada de casa.
- Comment allez-vous?
- Je vais bien et vous?
- Bien.
Caímos na risada e encontramos a Patrícia já preparando o café na cozinha.
- Oi Pati, tudo bom?
- Oi Sérgio! Estou bem e você?
- Também. Vim filar o café.
- Já já está pronto.
- É bom ver esse sorriso no seu rosto, Laura. Está muito ansiosa para amanhã?
- Eu não paro de pensar nisso. Não vejo a hora de poder abraçar as minhas pequenas.
- Fico muito feliz por você, será uma grande oportunidade para esclarecer as coisas para a suas filhas. Não é estranho ver a Vero te ajudando? Eu achei que ela seria a primeira a querer te ver longe da irmã e das sobrinhas dela.
- O mais estranho ainda é que ao que tudo indica, ela não concorda com que a Camila está fazendo.
- Pelo menos isso. Eu sempre achei a Vero fantástica. A Vero pode convencer a Camila a ter uma conversa com você.
- Isso eu acho mais difícil. Mas eu sinto que aos poucos a vida vai se ajeitar.
- Patrícia, como você convenceu a Vero?
- Conversando, Sérgio. A Verônica é legal, sabe?
- Verônica, a grande aliada.
Demos risada da definição do Sérgio. Espero que ela seja mesmo uma aliada.
- Pelo pouco que eu conheço a Verônica, ela me parece uma mulher justa, não tive que implorar pela ajuda dela. Claro que ela está receosa de algo dar errado e a irmã descobrir, mas vai dar certo - Patrícia era só elogios para a minha ex-cunhada.
- Ela sabe que você é a mulher da Laura?
Que pergunta idiota era aquela do Sérgio? Claro que ela sabia, a Patrícia não esconderia isso.
- Não... - Patrícia pareceu hesitar e virou as costas.
- Não? Como não? - Perguntei surpresa.
- Eu... decidi omitir esta informação... eu... se, se ela soubesse... talvez não ajudasse... acho que... ela nem seria minha amiga.
- Hã? - ela falou tão enrolado que eu que não entendi nada.
Ela virou-se para frente e apertou os lábios.
- Ela não sabe que vivemos juntas. Eu falei para ela que somos amigas. Achei melhor, sabe? Depois é claro que eu vou contar...
- Amanhã mesmo! - Defini para a Patrícia.
- Não! Depois eu conto. Primeiro a sua aproximação, depois resolvemos tudo.
Pensei por um tempo. O importante é falar com as meninas, não importa essa informação omitida.
- Certo.
Verônica
Eu passei o domingo todo tensa o domingo todo e esta madrugada em claro. Pode ser loucura o que eu aceitei fazer, mas eu não podia negar um pedido da Patrícia, ainda mais esse que envolvia a felicidade das minhas sobrinhas.
A Camila acabou de sair de casa, de segunda à sexta ela sai às 6:00 da manhã. Agora eu teria que levantar e acordar as meninas para irem à escola, mas hoje será um dia diferente.
Meu celular começou a tocar e no visor aparecia o nome que ocupava a minha mente nos últimos dias.
- Oi Patrícia, bom dia.
- Bom dia, Verônica. Tudo bem?
- Tudo e você?
- Bem. Estou no aeroporto e vamos embarcar agora, está tudo certo por aí?
- Está sim. Vou acordar as minhas sobrinhas e contar a novidade.
- Espero que dê tudo certo.
- Eu também, confesso que nem dormi.
- Então somos três. Nem eu e muito menos a Laura dormimos, fortes emoções nos aguardam.
- Sim. Patrícia, quando você estiver no caminho de casa me liga, ok?
- Pode deixar.
- Tchau, até daqui a pouco.
- Beijos.
Confesso que estava ansiosa para vê-la. Fiquei até me perguntando se não estava me aproveitando da situação, mas o objetivo principal é realmente acertar aquela situação entre a Laura e as meninas.
Entrei no quarto das meninas, que agora dividiam o mesmo espaço. A Marina já estava acordada e esfregava seus olhinhos com os seus pequenos dedos. Diana estava em um sono profundo, dava até pena de acordar.
- Bom dia coisinha da tia - resolvi chamar a Marina de coisinha, era um jeito carinhoso.
- Bom dia tia Vero. - Ela sorria triste.
Sacudi a Diana para que acordasse.
- Acorda, amorzinho! Preciso falar com vocês.
Com a cara de sono e meia contrariada por ser acordada, Diana sentou-se na cama.
- Marina, vem para cama da Diana.
A menina obedeceu e se sentou ao lado da irmã.
- Bom... - sorri - vocês querem encontrar a Laura?
Os olhos da Marina não poderiam brilhar mais.
- Sim, por favor! - Ela responde com entusiasmo.
- Então, vocês vão ter que me prometer que vão guardar segredo do que vai acontecer aqui hoje.
- A minha mãe Laura vai vir nos visitar? - Diana parecia não acreditar.
- Vai sim, Di. Mas, por favor, é escondido da mamãe, então não pode contar nada.
- Por quê? - Diana indagou.
- Deixem as perguntas para depois. Vocês precisam conversar e hoje vocês terão esta chance.
Marina não cabe em si de tanta felicidade. Entrou no banho pulando de alegria, literalmente. Um sorriso que não vejo há dias não consegue sair do seu rosto.
Fim do capítulo
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mtereza
Em: 30/07/2017
Como disse a vilã está sendo a Camila
Resposta do autor:
Vou agradecer por aqui todos os comentários dos outros capítulos e dizer que li todos.
Entendo sua aflição pela a Camila ser encarada como vilã, mas não é isso. As meninas estão apenas confusas.
Obrigada, beijos.
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patty-321
Em: 30/07/2017
Vamos ver se vai dar certo. Eu não tiro a razão Camila,claro q ela sofreu muito. Mas ela precisa pénsar no melhor para as filhas. Laura precisa lutar para ter o direito de ver as filhas, ela errou e feio mas quem é mãe sabe q se faz loucuras pelos filhos. Bjs
Resposta do autor:
É bom pensar um pouco nas duas.
Obrigada pelo comentário.
Beijos.
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NovaAqui
Em: 30/07/2017
Camila poderia se declarar para Laura kkkk
Espero que esse encontro termine bem
Patrícia tentando ajudar
Abraços fraternos procê
Resposta do autor:
Neste momento só se for declarar que a odeia hahahaha
Também espero, mas essa mulher faz besteira demais. Não é possível né?! haha
Abs para você também.
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sonia
Em: 29/07/2017
O que é mais estranho é que parece que a Laura é a coitada da estória, ela faz tudo errado e Camila que esta errada...A Camila tem sim todo o direito do mundo de quer a Laura o mais distante possível.
Resposta do autor:
Nem a própria Laura acha que é uma coitada. Ela sabe que se as coisas estão assim hoje é porque ela fez tudo errado. Mas também ela não consegue evitar de sentir saudade e ficar triste por isso, é ser humano com todas complexidades.
A Patrícia está ajudando porque ela conhece a Laura "de hoje" e acredita no seu arrependimento. Ela só está tentando ajudar alguém que ama a "consertar" os erros.
A Verônica no meio disso tudo está com os olhos voltados para as sobrinhas. Pensando na Diana que está confusa e quer curiosa com o fato de ter outra mãe, mas principalmente pensando na Marina que deseja uma explicação da mulher que a criou, que ela conheceu por mãe.
Os pais da Laura são os pais da Laura. Pai e mãe querem sempre que os filhos estejam bem.
Ninguém aplaude o que a Laura fez. Ninguém falou que ela fez certo.
Sim, a Camila tem todo direito de nem querer ver a Laura e ela está fazendo valer isso. O problema é que ela tem duas pessoinhas que não entende isso. Como você vai falar para duas crianças odiar e esquecer a outra mãe?!
Obrigada pelo comentário, beijos.
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Mille
Em: 29/07/2017
Ola autora
Ah Verônica pensando tanto na Patrícia ela vai ficar triste quabdk souber que a mulher que está apaixonada é esposa da Laura.
As meninas vão rever a mãe Laura, que com certeza vai amar ter as filhas em seus braços.
Camila está sendo outra pessoa, talvez por saber que a Laura tem uma namorada aí fica brava, só que no momento ela não está pensando no bem estar das filhas.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá!
Vamos ver a reação da Verônica. Com certeza vai ser um choque. Será que a Patrícia consegue reverter a situação se ela ficar com raiva?
Sim, vão rever haha.
É como comentei (não sei se foi no seu ou em outro), Camila nunca parou para pensar em como as coisas iam se desenvolver no dia que achasse a Marina e a Laura. Não pensou que as filhas pudessem ter sentimentos pela ex, não pensou nos próprios sentimentos. Ainda é tudo muito recente. Acho que ela está tendo a atitude de proteção total, ela pensa que isso é o melhor.
Beijos, até quarta.
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Bia08
Em: 29/07/2017
Só espero que dê tudo certo nesse encontro e que a Laura não coloque mais lenha na fogueira na relação entre Camila e as meninas.
E que a Camila acorde logo e perceba a besteira que está fazendo. ( eu sei que estou ansiosa, hahahaha)
Adorando cada dia mais...
Bjs
Resposta do autor:
Já imaginou se depois de tudo a Laura ainda mete os pés pelas mão? Veremos no próximo capítulo.
Já disse, a Camila precisa de um tempo, calma hahaha
Beijos.
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sonhadora
Em: 29/07/2017
Sabe gosto dessa história, é forte e trás muitas emoções juntas. Amor, traíções, rancor, mágoa... Não tenho raiva nem da Laura e nem da Camila. Sou mãe, então entendo o lado das duas, mas não faria o que a Laura fez, jamais, imaturidade e egoísmo, são duas coisas que combinam muito com ela. Quanto a Camila, é terrivel pensar em me afastar de um dos meus filhos, sinto uma dor que queima meu peito só de imaginar isso, imagino o quanto Camila sofreu!!! Se é difícil perdoar? Sim, quanto mais quando se ama desesperadamente como ela ama a Laura. Sinto um medo dessa história não conseguir me levar ao caminho do perdão e do amor incondicional entre elas, será uma dura batalha para Camila perdoar, o que acho que ela vai fazer porque o amor a tudo vence, mas estou com ela, Laura brincou muito com o destino e agora está colhendo seus próprios frutos, tenho certeza que vai sair mais madura e um ser humano mais resolvido.
Parabéns pela história!!! Beijos!
Resposta do autor:
Sim, concordo que será uma dura batalha. Acredito que mesmo que elas não terminem juntas, a chave do perdão é uma parte da história.
Acredito também que erros que sucedem um arrependimento possa sim amadurecer uma pessoa. Laura errou e sabe disso. Cabe a ela mudar o destino se tiver uma chance para isso. Se ela não tiver uma chance de consertar os erros, não temos história rsrs. Tomara que eu consiga levar para o caminho certo.
Muito obrigada! Beijos.
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