LAURA:

            Acordei para ir à aula, mas querendo ficar na cama com Ana, porem ela já estava de pé e vestida para sair, seu semblante estava abatido e ela mal falava comigo. Achei estranho, todavia deixei-a com seus pensamentos. Arrumei-me apressada e em pouco tempo estávamos na faculdade. Fui para minha aula e meu telefone vibrou, era uma mensagem do Henrique pedindo para me encontrar, mais a tarde. Não respondi, ter ficado com ele foi o pior erro da minha vida. Gostaria de voltar no tempo, até hoje não sei o que aconteceu comigo naquele maldito dia. 

            As aulas foram tranquilas e encontrei-me com Ana no intervalo, e fomos lanchar. Conversamos amenidades, ela parecia perdida em seus pensamentos. Meu celular tocou, era Henrique mais uma vez, senti meu estomago doer. Precisava contar a Ana o que havia ocorrido entre nós, mas não tinha ideia de como abordar esse assunto sem que a perdesse. O sinal tocou e juntas fomos para sala de aula, ao sair ela me levou para casa e eu insisti que ela ficasse, porém ela não estava com uma cara muito boa e não cedeu ao meu pedido, se despediu com um beijo rápido e foi embora.

            Passei o dia todo dentro do quarto sem falar com ninguém, mandei mensagem para ela, mas não obtive respostas, queria tentar entender o que estava acontecendo, peguei minha bolsa e fui andando até sua casa, pensando em como contar a ela sobre o Henrique. Quando estava virando a rua, vi Harriet saindo pelo portão. O sangue subiu e eu tremi de ciúmes, parei em frente a sua casa e toquei a campainha. Não demorou muito e Maria atendeu a porta.  Perguntei por Ana e a senhora me informou que ela estava dormindo, mas que eu poderia subir até lá. E mais que depressa o fiz, subindo os degraus de dois e dois.

            Abri a porta devagar e ela estava deitada abraçada a um ursinho toda encolhida, sentei ao seu lado e beijei sua testa fazendo com que ela acordasse. O quarto estava escuro, e eu mal a via. Ela se mexeu na cama, e eu afaguei seus cabelos dourados. Cheguei mais perto e aspirei seu perfume, ela tinha cheiro de flor.

-        Acorda meu amor. - falei baixinho em seu ouvido.

-        Oi, faz tempo que está ai? - questionou sentando na cama.

-        Não, recém entrei, desculpe te acordar. Preciso falar com você, mas não sei por onde começar. - disse escolhendo as palavras.

-        Acho que sei do que se trata. - Disse ela ascendendo a luz do abajur, seus olhos estavam inchados, e davam a impressão de que ela havia chorado a pouco.

-        É sobre o Henrique.

-        Eu, li uma mensagem dele em seu celular, e pelo teor da mensagem posso imaginar o que aconteceu entre vocês. Porque fez isso comigo? Você disse que me amava e, que não faria nada para me magoar... - E lagrimas escoriam em seus olhos.

-        Ele me ligou implorando para me ver, disse que queria conversar comigo, então saímos, bebemos e acabou acontecendo. Não menti quando disse que amo você, Ana. Perdoa-me? Isso nunca mais irá acontecer. – Segurei sua mão.

-        Laura, você tinha a escolha de não sair com ele, eu confiei em você e você jogou isso no lixo no momento em que me traiu. Eu te amo, mas sempre que olho para você, te imagino com ele e dói demais.  Dói saber que outra pessoa tocou seu corpo, o corpo tão amado por mim, eu entreguei a ti meu coração e em troca você acabou com esse amor, no momento em transou com Henrique. – Vociferou em meio ao choro.

-        Não precisa ser assim, amor. Fica comigo, foi um erro que nunca mais vou repetir.

-        Sim foi um erro terrível, e ele custou a minha confiança em você, você me tinha em suas mãos, todo o meu amor era seu e eu não tinha olhos para mais ninguém. Está vendo aquela caixinha em cima da mesinha de estudos? Pois bem, são as alianças que comprei para te pedir em namoro. Agora vejo que errada fui eu em pensar que me amava como eu te amo. - Ela falava com rancor na voz cuspindo as palavras, dilacerando meu coração.

-        Um dia você perdoara o meu erro e será a minha Ana novamente? - Perguntei segurando ao máximo as lágrimas que teimavam em rolar pelo meu rosto.

-        Um dia talvez, hoje, porém quero que vá embora, eu não consigo olhar para você e não pensar na merd* que fez.

-        Eu vou, mas saiba que nunca irei desistir de você. E por mais que eu tenha errado isso não diminui meu amor por ti. Quando estiver pronta a me perdoar, me procure.  Eu te amo. - Me aproximei e beijei seus lábios esperando uma rejeição dela, porém beijou-me com o mesmo amor de sempre. Senti o gosto salgado de suas lágrimas se juntarem as minhas. Soltei-me dela e parti.

            Sai do seu quarto totalmente desconcertada, sem rumo caminhei por horas até ser interrompida por uma chuva torrencial que caia em meu rosto misturando-se as lagrimas que vinham de maneira descontrolada. Cheguei a minha casa e tranquei-me no banheiro, estava arrasada. Fechava meus olhos e era como se ela estivesse ao meu lado. Era capaz de sentir o cheiro gostoso de seus cabelos e a senti saudade dos banhos que tomávamos juntas. Fui tão tola, e inconsequente, acabei perdendo a única pessoa que de fato se importava comigo. Só me restava dar tempo ao tempo, meu coração sempre seria dela.

ANA:

            Ao sair, Laura levou consigo mais que uma parte de mim, levou com ela a minha capacidade de confiar de novo em alguém e de me entregar totalmente. A amava como nunca antes fui capaz de amar alguém, porém seus atos estavam marcados em mim e talvez o tempo fosse o único a conseguir curar a ferida aberta no momento em que soube da sua traição.  Liguei para Harriet e contei a ela o que havia acontecido, ela tentou me acalmar. Disse que em pouco tempo estaria ali, mas eu queria ficar sozinha e gentilmente recusei sua visita, me despedi e desliguei Dormi segurando uma foto nossa, do tempo em que ela era só minha.

            Acordei antes do despertador, olhei-me no espelho e não reconheci o reflexo nele. Eu estava acabada, com o olhar perdido e sem brilho. Fui arrastada tomar banho, eu teria prova na segunda aula e não poderia faltar, tomei uma ducha e parti para a faculdade. Cheguei atrasada e ao entrar na sala me deparei com aqueles olhos negros que eram capazes de enxergar o mais profundo de minha alma. Seu semblante estava carregado, e de longe notava se suas enormes olheiras, ela parecia sofrer. Senti vontade de ir até ela e acabar com nosso sofrimento, mas não tive coragem. Ao invés disso desviei o olhar e me sentei o mais longe que pude. Não fazia ideia do que a professora falava, meu corpo estava ali, porém minha alma estava em outro lugar, talvez junto da alma de Laura que parecia tão alheia quanto eu.

            E esse martírio se prolongou por meses, ela me ligava e eu não atendia. Com as mensagens era a mesma coisa. Mesmo amando aquela mulher, não estava pronta a perdoar. Passou se o natal, e o ano novo, e posso dizer que foi as piores datas de minha vida, Harriet e as meninas faziam de tudo para me alegrar, mas nada funcionava, a cada dia que passava eu ficava ainda mais magra. Mamãe achou que eu estava doente. Mas mal sabia ela que meu problema era coração partido.

            As aulas começariam em breve e a prova do mestrado estava chegando, eu estava sem vontade de fazê-la, mas mamãe me incentivou a não desistir. E alguns dias depois do início das aulas, fiz o teste. E o resultado sairia em duas semanas. Por mais que minha mente estivesse naquele par de olhos negros, fui bem. Ao sair da sala embarrei em alguém, quando ia me desculpar vi quem era e meu coração quase fugiu do peito. Laura estava um pouco mais gorda do que me lembrava.

- Desculp... - e interrompeu a fala ao me ver. Ficando mais branca que as paredes ao nosso redor.

-        Tudo bem acontece. Via ela quase todos os dias, mas sempre de longe e desde o nosso rompimento, essa era a primeira vez que ficávamos tão próximas, sentir seu cheiro trouxe a mim todo o amor que tentava esconder. - tenho que ir. - Sai o mais rápido que pude de perto daquela mulher, meu corpo tremia e já não me lembrava de onde estava.

Aquela havia sido a ultima vez que havia visto Laura, ela não estava mais indo para a faculdade, não me ligou mais, e nem mandava mais mensagem. Eu sentia uma saudade enorme dela, dormia todos os dias com uma camiseta velha que ela havia esquecido em meu quarto, parecia bobagem, mas isso amenizava a falta que ela me fazia.

            Estava em meio a uma aula quando a diretora chamou por mim, assustada fui até sua sala.

-        Oi, a senhora pediu para falar comigo? - Disse apreensiva

-        Ana, recebemos o resultado da prova do mestrado, e é com muito orgulho que digo que passou em primeiro lugar.

            Eu estava incrédula, nunca imaginei que passaria no teste, ainda mais em primeiro lugar.

-        E tem mais. - Continuou ela. - Você pode concluir seu curso lá. Além do mestrado, você ganhou uma bolsa integral, em decorrência a sua pontuação no teste. O reitor me escreveu hoje sobre isso, aguardamos a sua resposta.

-        Eu não sei o que dizer, preciso conversar com meus pais. - Eu estava feliz, pois era um sonho estudar em Londres, mas e Laura?  Ter encontrado com ela mexeu demais comigo, a ponto de rever minhas atitudes. E quem sabe perdoa-la e seguir em frente.

-        Tudo bem converse com eles, esperamos sua resposta, Ana. - Disse me fazendo voltar a realidade.

-        Darei a resposta o quanto antes, Até mais. - Sai pela porta sem rumo.

Fim do capítulo