Quase dez da manhã, saímos de casa ao encontro das meninas. Fazia um calor escaldante naquele dia. Fomos divididas em dois carros e um pouco mais de meia hora estávamos parando próximo ao nosso destino, descemos do carro e completamos o percurso a pé. Optei por leva-las a cachoeira dos namorados, pois essa era a minha favorita.

As meninas ficaram encantadas com o lugar, não demorou muito em se despirem e pular na água, com gritinhos elas nos chamava para entrar também.

-        Vêm meninas, a água está boa demais. - Gritou Rô, já quase no meio da cachoeira.

            Olhei para Laura e ela balançava a cabeça rindo de como as meninas estavam maravilhadas com o lugar.

-        Vamos amor? - Falei próxima ao seu ouvido.

-        Vamos. - Saiu correndo pulando na água.

            Corri até onde elas estavam e entrei também, nadei até para mais próximo delas e quando me virei, Harriet estava tirando as peças de roupa, ficando apenas com seu biquíni preto em detalhes florais que acentuava ainda mais a brancura daquele corpo escultural. Ela acenou para nós e pulou na agua, em pouco tempo ela já estava ao nosso lado. Laura não perdia um movimento, ela tinha uma implicância nata por Harriet, deve ser o sexto sentido feminino, pensei.

-        Que lugar lindo, Aninha. – Comentou olhando ao redor.

-        Lindo mesmo, sempre que posso venho até aqui. Esse lugar trás paz ao meu coração.

-        Já falei para você na sexta, mas vou repetir hoje também. Vocês formam um lindo casal. -  Falou deixando Laura inquieta.

-        Obrigada, Espero que ninguém mais note. - Disse Laura um pouco apreensiva.

-        Vocês são muito discretas, mas também sou lésbica, então fica mais fácil reconhecer outras, entende? - Falou tranquilamente.

            Laura a olhou ainda mais desconfiada, e tenho certeza de que seu ciúme aumentou ainda mais. Eu já sabia em qual time Harriet jogava, pois sempre que ela tinha uma oportunidade me jogava indiretas, estas eu fingia não ver. Amava Laura e não faria nada para magoá-la, se dependesse de mim casaria com ela.

            As meninas estavam curtindo muito a cachoeira, brincavam feito crianças, e eu estava feliz por proporcionar isso a elas, uma vez que de onde vieram não existia nada disso. Fiquei o tempo todo ao lado de Laura, e como todas ali sabiam de nós a tratei como minha namorada.  Lá pelas tantas sentimos fome, pegamos os lanches que trouxemos e fizemos um maravilhoso pique nique, e só fomos embora quando o sol se pós. Deixamos as meninas na república onde moravam e fomos para minha casa, Laura dormiria comigo aquela noite, e juntas partiríamos para a faculdade na segunda.

            Estava louca por um banho e queria minha cama, mamãe estava na cozinha e pelo cheiro no ambiente estava preparando um bolo. Subimos até meu quarto peguei uma toalha para Laura que foi tomar banho primeiro, um tempo depois seu celular tocou, era Henrique. Quis atender, mas me contive, então deixei que tocasse até parar. Mas sabe como mulher é um bicho curioso né, então assim que ele parou de tocar, peguei seu celular e vi diversas mensagens, não resisti e abri. E quase derrubei o celular no chão quando li o que estava escrito.

            “Não some assim, estou louco para repetir a noite de quinta-feira, você foi incrível. Me liga assim que puder, beijos. ”

             Não acreditei nas palavras recém-lidas, meu estômago embrulhou e minhas vistas ficaram turvas devido às lágrimas que teimavam e sair. Coloquei seu celular no lugar onde estava e me recompus. Estava de pé próxima a janela, perdida em pensamentos e nem vi quando ela entrou e veio até mim me abraçou, senti raiva por amar aquela mulher que me traia, e sem dizer uma palavra, fui tomar banho. Não sei quanto tempo demorei, mas quando retornei ao meu quarto, ela já estava dormindo. Deitei ao seu lado, mas minha mente não me deixou dormir, eu não conseguiria perdoar essa traição.

            O sol estava nascendo e eu havia apenas cochilado, levantei antes do despertador tocar, tomei um banho rápido e em pouco tempo já estava pronta, esperando Laura acordar.

-        Bom dia, amor. Está tudo bem? -Perguntou ela me dando um beijo.

-        Estou um pouco enjoada, mas creio que logo vá passar. Vamos? – Menti saindo para tomar café da manhã.

            Fui calada para faculdade, eu travava uma luta dentro de mim, queria gritar com ela, questionar o teor da mensagem, mas ao mesmo tempo não me achava digna disso, afinal nenhum compromisso havia sido firmado entre nós. Estávamos apenas ficando e por mais que amasse a morena ao meu lado, não sabia como agir diante da atitude dela. Chegamos e Laura foi até sua sala, ela fazia algumas matérias diferentes das minhas. Estava indo para minha aula, quando vi Harriet lendo algo no mural e fui ao seu encontro.

-        Bom dia, moça. - Disse e ela se virou.

-        Bom dia, flor do dia. Nossa que cara é essa Ana? Parece um zumbi.

-        Não dormi bem, mas então o que está lendo ai? - Perguntei referindo-me ao mural.

-        Estão abrindo novas vagas de mestrado na minha cidade natal, penso em me escrever, meu intercambio está acabando e se passar já estarei meio caminho andado, porque você não se escreve também?

-        É isso mesmo que vou fazer. - Respondi decidida e juntas fomos até a secretaria nos informar melhor.

            Descobrimos que diferente dos anos anteriores precisava ser feita uma prova, pois algumas matriculas tinham sido fraudadas, e aprova seria aplica no começo do ano letivo. Escrevi-me mesmo assim, e Harriet também, pedi a ela que não contasse a ninguém, posso ter tomado a decisão precipitadamente, sem nem ao menos informar minha família, mas mamãe já sabia dessa minha vontade e tenho certeza que me apoiaria, enquanto a Laura, não sabia sobre o nosso futuro, então sem pensar muito me candidatei.

            No intervalo me encontrei com ela, fomos até a lanchonete e seu celular tocou. Ela apenas olhou o visor e não atendeu, mas seu rosto empalideceu na hora e eu tive a certeza de quem era, porém tentei manter a calma. Queria ver até onde ela conseguiria esconder isso de mim, eu também não falei nada sobre o mestrado, afinal não sei se passaria. O sinal tocou indicando o fim da nossa pausa, e dessa vez nossas aulas seriam as mesmas e juntas fomos para a sala.

-        Você está bem, Ana? - Perguntou antes de entrarmos para a aula.

-        Estou sim, só um pouco indisposta. Pode ser cansaço. - Respondi sem olhar para ela, e percebendo minha vontade em permanecer calada, fomos assim o restante do caminho.

            A aula passou arrastada, na saída dei carona a ela, pois estávamos só em meu carro, ela insistiu para que entrasse em sua casa, mas eu queria ir para casa ficar sozinha. E assim o fiz, ao chegar mamãe estava na sala e contei a ela sobre minha inscrição para o mestrado, ela ficou radiante foi correndo pegar o telefone e ligou para papai contando a novidade, ao desligar veio até mim.

-        Vai ser ótimo, filha. Você é brilhante, tenho certeza que vai conseguir.

-        Obrigada mãe, mas tem a prova ainda, e se não passar ficarei por aqui mesmo.

-         Você é muito inteligente, Ana. Agora sente se aqui e coma alguma coisa, sua carinha não está nada boa. - Mamãe sempre muito atenciosa.

            Comi contra minha vontade, empurrando a comida goela a baixo e um tempo depois estava enfiada em meu quarto, mamãe bateu na porta e disse que eu tinha visitas, pensei ser Laura, mas para minha surpresa era Harriet.

-        Posso entrar? - Disse ela colocando a cabeça para dentro do quarto.

-        Claro, entra ai.

-        Percebi que está meio abatida hoje, e resolvi fazer uma visita, espero não estar atrapalhando. – Estava visivelmente sem jeito.

-        Você não atrapalha.

-        Quer conversar sobre algo? Parece que tem alguma coisa te incomodando, quer dividir comigo? – Perguntou, e vi ali a chance de desabafar e tirar aquele peso de mim.

-        Descobri que Laura me traiu. - Disse sentindo as lágrimas brotarem em meus olhos.

-        Nossa Ana sinto muito. Mas vocês não estão namorando, estão?

-        Não, mas a pedira em namora esse fim de semana, todavia antes disso descobri sua traição lendo uma mensagem no celular dela. - Abaixei a cabeça, deixando as lágrimas rolarem soltas.

-        Calma Aninha, tente conversar com ela, de longe dá para ver o amor de vocês duas. Acho que o dialogo é à base de tudo. Conte a ela que você descobriu, e se acha que consegue perdoar, e seguir em frente, faça. Só não quero que saia machucada – Segurou meu queixo e levantou meu rosto. - Há pessoas que dariam qualquer coisa para ficar com você. - Falou olhando profundamente em meus olhos.

-        Vou conversar com ela, obrigado Harriet, você tem me surpreendido com sua amizade.

-        Conte comigo sempre. Vou te deixar sozinha, até amanhã. - Se despediu me dando um selinho. O que me deixou meio desconcertada.

-       Obrigada. - Levei Harriet até a porta e voltei para meu quarto.

Fim do capítulo