A sensual Duda e minha doce Nandinha
Ao longe encarei aqueles olhos azuis tão profundos que pareciam ter o poder de desvendar os mistérios da minha alma até há alguns anos atrás, e não se afetando com isso, a moça permaneceu sustentando o olhar.
--Tá tudo bem Ju? -o garoto perguntou me olhando fixamente.
--Tá sim, por que não estaria? -indaguei ainda com o pensamento longe.
--Sei lá, você pareceu que estava em outra órbita ainda pouco.
--Impressão sua.
--Mas...
--Licença, preciso ir ao banheiro. -disse sem a menor paciência de responder aos questionamentos de Ewerton.
Caminhei confusa até o toalete daquela boate a fim de acalmar os meus pensamentos que pareciam ter vida própria. Antes de entrar em um dos reservados, senti o meu braço ser puxado suavemente por uma mão firme que no passado me causava uma explosão de sentimentos bem intensos.
--O tempo passa e você continua sendo a garota mais gata e meiga que já conheci. -disse fazendo-me encarar os azuis piscina.
--Você deve falar isso pra todas. -disse rindo ironicamente.
--Admito que já fui muito cafajeste, mas hoje em dia estou mudada e você sabe disso. -falou sem soltar o meu braço.
--Eu não sei de nada...
--O que você tem de linda, tem também de difícil. -ela disse e saiu bufando do toalete
Maria Eduarda, ou melhor Duda, como gostava de ser chamada foi o meu primeiro amor lésbico, através dela descobri que gostava tanto de mulheres quanto de homens. Nos conhecemos através da Fernanda, prima dela. Era o ano de 2010, estava com quase 14 anos quando Nanda e eu nos tornamos grandes amigas.
Em um final de semana na sua casa, conheci a Duda, uma morena alta de olhos azuis e muito simpática. Foi paixão a primeira vista, algumas semanas depois engatamos um namoro muito intenso.
Apesar dos momentos bons, vivi muitos dramas, brigas e discussões ao lado dela. Com apenas 14 anos namorando uma garota mais velha descobri o seu lado cafajeste, mentiroso e fui traída várias vezes até tomar vergonha na cara e terminar esse relacionamento sem futuro. Passei anos em depressão sofrendo por alguém que não me merecia, engordei e descuidei da aparência. Porém, graças a muito esforço e ajuda das pessoas que mais me amavam, consegui me reestruturar, inclusive não guardava mais nenhuma mágoa, raiva ou qualquer outro sentimento negativo de Duda, com ela aprendi a amadurecer e não me entregar mais de corpo e alma a ninguém.
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Quatro anos atrás:
Estava em um certo domingo assistindo a uma comédia romântica com a Duda deitada no meu colo, por mais que fisicamente estivéssemos perto, já havia muito tempo que nossas almas estavam desconectadas. No meio do filme tomei uma atitude inesperada que naquele momento me arrependi seriamente, mas hoje percebo que foi a decisão mais acertada.
--Quero terminar o nosso relacionamento. -disse em um fôlego só antes que me faltasse coragem.
--Do que você tá falando? -Eduarda perguntou espantada sentando-se no sofá e olhando-me assustada.
--Isso mesmo que você ouviu. Você me trai, não tem respeito por mim, não me ama, já tô cansada de viver em uma relação sem futuro. -confessei em uma espécie de desabafo controlando as lágrimas.
--Ana Júlia, eu juro que eu tentei várias vezes ser fiel, não te magoar, mas você sabe... Não é fácil, nasci para ser livre e não me prender a ninguém.
--Já chega de desculpas esfarrapadas, Maria Eduarda! -disse aumentando um pouco o tom de voz. -Melhor para nós duas terminarmos esse namoro, assim eu não sofro e você tem a sua tão sonhada liberdade.
--Tem certeza que é isso o que você quer pra sua vida? -perguntou calma.
--Não é o que quero, mas é o necessário pra esse momento.
--Tá bem!
Com essa pequena discussão ali marcava o fim de um ciclo na minha vida. Na frente da Duda parecia ser forte, na verdade sempre fui muito orgulhosa desde criança, podia está sofrendo por dentro, com o coração em frangalhos, mas nunca admitiria isso para ninguém, sempre passava a imagem de forte para os outros. No fundo tinha esperanças de que a Maria Eduarda corresse atrás de mim, percebesse a grande besteira que havia feito e me implorasse para voltar, tinha plena certeza de que isso aconteceria, porém estava bastante enganada. Quando percebi que não teríamos mais volta e associado a outros problemas, enfrentei uma grande depressão.
XXXX
Quando voltei para a pista de dança não encontrei mais o Ewerton, com certeza o garoto havia desistido de esperar e até agradeci por isso, não teria mais aquela desgraça no meu pé.
Estava procurando pela Aretha quando mais uma vez fui surpreendida por Duda.
--Acho que a sua amiga te esqueceu. -Eduarda conseguia ser um calo no sapato quando queria.
--Deixa de falar bobagens, esquece que eu existo garota. -respondi impaciente.
--Isso tá meio difícil. Tá vendo a sua amiguinha ali naquele canto? Acho que ela não vai querer ser interrompida. -olhei para o local indicado e vi minha melhor amiga atracada, nos maiores amassos com Lucas.
--Caramba. Tô doida pra ir embora, agora o jeito é voltar de ônibus. -disse mais para mim mesma, mas notei que ela escutou.
--Tô de carro, posso te levar sem problema. Já estava indo mesmo. -falou animada
--Esquece Maria Eduarda! Vou de ônibus e está decidido.
--Legal! Quer ir de ônibus, então vai. São quase 2 da madrugada e estamos em um lugar violento dessa cidade, mas você sabe o que é melhor pra ti. -disse e saiu me deixando pra trás.
--Espera! Pensando bem é melhor aceitar a sua carona mesmo. -disse e Eduarda retribuiu com um sorriso vitorioso.
Era muito teimosa, mas nessa hora o bom senso falou mais alto. Seria só uma carona rápida, não teria perigo. Mesmo com esse pensamento não pude negar o quanto estava nervosa.
--Para de se tremer aí no banco. Não precisa se preocupar porque não vou te atacar a menos que você queira. -essa é a Eduarda, direta em todos os sentidos e cafajeste.
--Tira o cavalo da chuva fia! Você é passado. -respondi convicta.
--Se você diz... Ju, antes de te deixar no seu apartamento, podemos passar na minha casa porque hoje pego serviço ainda de madrugada e tô precisando de um banho.
--Tá bem, contanto que não demore. -concordei apenas porque senti sinceridade nas palavras de Eduarda. Ela estava em um bico como técnica de enfermagem ao mesmo tempo em que estudava pra conseguir passar no vestibular.
Não demorou para que chegássemos na casa de dois andares que ficava em um bairro de classe média. Logo notei que a garota ficava puxando conversa todo momento comigo, parecia querer a minha presença ao seu lado.
--Vai logo tomar banho, criatura! -disse querendo fugir de perto dela.
--Eu vou, não quer vim comigo?.
--NÃO. Anda logo antes que eu vá embora.
--Eu vou, mas me dá um beijo antes.
Por mais que não fosse mais apaixonada pela Eduarda (pelo menos eu acho), era impossível resistir ao charme dela. A Duda é uma mulher de 26 anos muito encantadora e inteligente. Talvez por esse motivo, me deixei ser enlaçada por ela e recebi um beijo delicioso, ardente e apaixonado, esse último só pela parte dela. Eu apenas sentia excitação e um prazer intenso junto com uma vontade de recordar o passado...
--Ana Júlia, milagre te vê aqui por casa. -nesse momento Duda e eu nos separamos bruscamente.
Fomos interrompidas por uma moça de descendência húngara de cabelos compridos e castanhos, olhos castanhos claros, cerca de 1.78m e pele bem branquinha, descalça. Gasparzinho estava vestida em um short folgado e uma regata. Não pude negar o quanto aquela figura que descia as escadas era extremamente sexy mesmo sem querer, a Fernanda Lengyel era única e insubstituível mesmo, e no fundo ela sabia disso.
Por algum tempo nós três ficamos paradas sem dizer absolutamente nada. Eduarda tinha a cara de criança quando é flagrada roubando doces, a branquela olhava para nós duas de maneira divertida e eu tentava me manter com cara de paisagem.
--Meninas, é minha impressão ou está rolando um flashback entre vocês?
Ela perguntou e como não obteve respostas, já achou de tirar conclusões precipitadas.
--Espero que sejam felizes. -disse rindo.
--Fernanda, você tá bêbada é? Não tá rolando nada entre a sua prima e eu. -nem morta voltaria a ter algo com a Eduarda, sofri demais.
--Ué! Quem cala consente e como vocês não falaram nada, pensei...
--Por mim até que gostaria de voltar com a Ju, mas ela não me quer. -a Duda além de ser cafajeste, ainda conseguia atuar muito bem.
--Você deveria cursar teatro, Maria Eduarda! Não te faltaria emprego. -respondi impaciente.
--Meninas, não briguem. Sejam como eu, mesmo com a tempestade na porta, sempre tenho um sorriso no rosto. -Nanda disse calmamente como se falasse com duas crianças.
--Acontece que não sou masoquista. Agora se me dão licença, preciso tomar meu banho. -Duda saiu rápido da sala de estar, nos deixando a sós.
Passamos longos minutos sem dizermos nada uma para a outra, era muito esquisito, nem parecíamos mais aquelas amigas de tantos anos. Não sei porque isso estava acontecendo, pela primeira vez estava me sentindo sem graça na frente da minha amiga.
--Tô começando a achar que o gato comeu sua língua. O que foi agora? -Gasparzinho disse bem humorada como sempre.
--Sei lá, deve ser porque eu tô morta de sono. -disse desviando o olhar e pegando rapidamente o celular.
--Aham... Eu finjo que acredito enquanto você finge que tá ligada no celular.
--Que? -perguntei abismada.
--Nada não, se você quer ficar em silencio, então vamos curtir esse momento.
Passamos mais de trinta minutos desse jeito, eu fingia que mexia no celular e a Fernanda ficava ali do meu lado, quieta, me olhando.
--Ana Júlia, preciso falar com você...
Quando a minha amiga ia se pronunciar, a Eduarda desceu pelas escadas e lhe interrompeu.
--Vamos Ju, estou em cima da hora. -Duda disse vindo já com o seu uniforme procurando pelas chaves do carro.
--Mas a Nanda precisa falar comigo. -falei querendo ficar mais tempo com a minha amiga.
--Fernanda, eu já tô mega atrasada, tens que falar com a Ju agora mesmo?
--Não é nada demais, falo contigo outra hora. -"minha amiga" disse chegando perto de mim e afagando meus cabelos como ela sempre fez. -Tchau meninas e cuidado no transito, dona Eduarda!
Como Duda estava muito atrasada, rapidamente ela me deixou no meu apartamento. Mesmo com pressa, ela procurava ser carinhosa e até tentou se despedir de mim com um beijo, mas ao contrário do que ocorreu mais cedo, não deixei ela ir adiante. Na minha cabeça só pensava no quanto me senti estranha ao lado da Nanda.
Quando cheguei dei de cara com a minha mãe que já estava se preparando para ir trabalhar.
--Filha, onde você estava? -perguntou vindo me abraçar.
--Fui na festa do Lucas com a Tatá. -minha mãe não sabia da minha orientação sexual e muito menos que já havia namorado meninas, então não seria nada bom contar que estava com a Eduarda.
--Você pode pedir almoço de um restaurante, não volto mais hoje meu amor, vou precisar fazer algumas horas extras. -minha mãe até que ficava bastante tempo em casa, porém com o emprego novo, nossa situação financeira melhorou, mas quase não a via em casa.
--Tá bom mãe! Bom trabalho. -disse aproximando-me para beijar o topo da sua cabeça e fingir que esse fato não me incomodava.
Fui para o meu quarto, tomei um banho rápido e joguei-me embaixo dos edredons tentando inutilmente dormir. Por mais cansada que estivesse, minha mente insistia em trabalhar, eram tantas preocupações que não conseguia dormir.
Os meus principais questionamentos era por que a Eduarda ainda insistia em flertar comigo? Será que ela achava que eu era um simples brinquedinho nas mãos dela? Pensei também que havia ficado solteira há pouco tempo desde que o meu ex-namorado terminou comigo e talvez estivesse carente, se não bastasse isso, ainda pensei no real motivo de não conseguir mais agir naturalmente com a Fernanda, andava estranha com ela e minha amiga já havia percebido isso mesmo sem tecer nenhum comentário a respeito.
Não lembro ao certo quanto tempo depois consegui dormir, mas passei um bom tempo virando de um lado pra outro na cama até que acordei bastante assustada com a campainha tocando insistentemente, olhei no visor do celular e estava marcando ainda 09:45.
Mesmo emburrada fui obrigada a levantar, pois a campainha não parava de tocar. Somente a Aretha, a Fernanda ou algum familiar tinha acesso livre ao meu apartamento, a Tatá ainda deveria está dormindo, a Nanda não iria até lá sem me avisar. Com certeza deveria ser algum funcionário do prédio.
Nem me toquei que ainda estava de camisola, abri a porta sem olhar pelo olho mágico.
--É assim que você costuma receber todas as visitas? -perguntou me olhando sem esconder a surpresa em me vê vestida daquela maneira.
--Ai Deus! Fernanda, você por aqui? -perguntei correndo para dentro do apartamento e sendo seguida pela minha amiga.
--Não sei porque se assustou, não sou sua amiga mais? -perguntou aborrecida.
--Claro que é, só não esperava que fosse te encontrar aqui a essa hora da manhã.
--Aposto que te acordei né? -perguntou rindo se esparramando no sofá.
--Claro que sim, até parece que você não sabe que sábado acordo depois do meio-dia.
--É nisso que dá levar essa vida de baladas.
--Vê se não enche, tá bem! -disse muito nervosa sem saber o motivo.
--Que adorável recepção! -Nanda disse irônica. -Ainda não tomei café, o que tem aí pra comer?
--Você já é de casa, dá uma olhada lá na geladeira. -disse já indo para o meu quarto a fim de mudar de roupa.
--Ana Júlia? -ouvi Nandinha me chamar.
--O que é? -perguntei me voltando, achava que ela ia pedir ajuda no preparo do café.
--A sua bundinha é muito gostosa. -disse gargalhando me fazendo corar.
Mais do que depressa parti rapidamente para o meu quarto, me tranquei lá dentro com o coração aos pulos. Era minha impressão ou a Fernanda havia acabado de me cantar? Logo deixei esses pensamentos de lado, ela era muito brincalhona, sem falar que tinha namorada, esse último pensamento me deixou muito triste e angustiada.
Fim do capítulo
Hi girls, segue terceiro capitulo, e este está bem maior do que os dois primeiros, espero que gostem. Poxa... Será que a história está tão ruim? Capítulo passado não teve nem comentários :(
Comentem. Façam uma autora feliz.
Quem deve ficar com a Ju? Maria Eduarda ou a Fernanda?
Bjs e bom final de semana.
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carnavals
Em: 12/06/2019
Ah, eu quero mais! MUITO MAIS!
Continua a escrever a história, Nath! CON-TI-NUA!
E na minha humilde opinião?
A que tratá-la com o respeito e amor que merece leva o prêmio, JSDOISDAJ. <3
Beijos e não esquece de postar o resto!
Resposta do autor:
Você sabe muito bem que eu não estava tão disposta a finalizar essa história, mas em respeito a todas as leitoras, e em especial a você, eu vou finalizar kkkkk.
Espero que possa corresponder as suas expectativas, com você me cobrando não tem nem como esquecer hahaha.
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