A fortiori por Bastiat
Capítulo 14 - Paixão pela pessoa errada
Laura
Esperei a Patrícia se despedir da Marina e seguimos para fora do apartamento.
Antes de apertar o botão chamando o elevador, agarrei sua cintura e tomei seus lábios.
- Cuidado lá no Rio, viu?
- Cuidado por quê?
- Bebida... Carnaval... mulheres lindas...
- Ciúmes, Laura?
- Não. Se você não resistir a alguém lá, vou te entender.
- Está me liberando para ficar como alguém?
- Patrícia, eu prefiro tudo às claras.
- Eu acho que eu não escutei direito esse absurdo! Temos um compromisso. Ou você acha que temos um relacionamento aberto?
- Não Patrícia, não foi isso que eu quis dizer - fiquei sem graça.
- Escuta Laura, você pediu para morarmos juntas e eu interpretei isso como um compromisso, como um casamento. Se você está me entregando assim de bandeja significa que você quer se livrar de mim. Você se arrependeu? É isso?
- Não! Você entendeu tudo errado. Esquece o que eu falei. Vai ver é ciúme mesmo, quis me prevenir de uma situação constrangedora e acabei falando besteira.
- Pois saiba que eu vou lá assistir aos desfiles e só.
- Eu sei. Eu confio no meu taco e em você. Você é linda sabia?
Beijei com carinho seu rosto.
- Amo você, Laura.
Ela me abraçou e beijou-me com carinho.
- Tchau, até terça.
- Tchau, boa viagem, Patrícia.
Vi a porta do elevador se fechando e voltei para o meu apartamento.
Eu e a Patrícia nunca discutíamos e em dias desentendimentos surreais apareceram. Era sempre culpa minha. Eu tenho que me entregar para esse relacionamento, tenho que fazer valer essa relação. Já errei uma vez e não posso errar de novo. Patrícia não merece uma pessoa tão complicada como eu na vida dela.
Camila
- A TABAJARA LEVANTA POEIRA!
Uma animada Verônica entrou no meu quarto cantando e sambando.
- Diretamente de Osvaldo Cruz de Madureira. Alô Porteeeeeela! - Empolguei-me também.
- Dá o som bateria - Vero acompanhou-me.
- Toca Tabajara do samba.
- Sou carioca sou de Madureira...
- A Tabajara levanta poeira.
Caímos na gargalhada.
- Está animada, hein? E linda!
Minha irmã sabe se vestir até com uma saia curta simples e uma camiseta.
- Obrigada. Você vai de lingerie mesmo?
- Não! Estou procurando o que vestir.
- Ah, deixa comigo.
Verônica optou por um shortinho e uma blusinha de frente única.
- Nem pensar! Vou ficar com a calça branca que eu já tinha escolhido e uma camiseta.
- Cah, você está indo para o carnaval e não para a empresa. Vamos fazer assim, a sua calça com a minha blusinha.
Pensei na combinação e aprovei.
- Tudo bem, vai.
Me arrumei rapidamente e saí do meu quarto com a Vero.
Na sala está uma Diana mais feliz do que nunca. De tão ansiosa, não para de pular.
- Vamos, filha! Animada para ver tudo de pertinho?
- Sim! Sim!
Adorei ver o sorriso iluminado da minha pequena. Seus olhos quase fechavam quando o sorriso era largo, são tão lindos.
...
Chegamos no camarote e a empolgação de todos a nossa volta é gigante. Já estava começando o desfile da União da Ilha.
- Oi, Camila.
Virei-me para ver de quem é a voz que fala comigo.
- Oi, dona Andreia.
Nos abraçamos por uns bons minutos. Se tem uma pessoa que eu gosto neste mundo, essa pessoa é a dona Andreia. Ela sempre moveu céus e terras para encontrar a Laura. Em todas as férias e folgas, todos esses anos, ela viajou para diversos países para tentar investigar por conta própria o paradeiro ou até achar a sua filha e neta. Nessa brincadeira, ela já tinha feito todo o continente americano, Japão, China, Coreia do Sul, Índia, Sri Lanka, todos os pequenos países do leste europeu, Itália, Espanha, Alemanha, Finlândia, Noruega, Dinamarca, Suécia, Suíça, África do Sul, Angola, Moçambique, Egito, Israel... Devo até ter esquecido algum.
- Boa noite, minha querida.
- Boa noite, senhor Carlos - dei dois beijos em cada lado do seu rosto. - Está tudo bem com vocês?
- Tudo e com você? - Andreia respondeu.
- Estou bem também.
- E a Diana?
- Foi com a minha irmã pegar refrigerante.
- Então ela está aqui? Estou morrendo de saudade dela.
Marina
Que sonho realizado, minha mãe sempre me contou como a Sapucaí é maravilhosa. O som da bateria realmente balança o coração.
- Refrigerantes nas mãos, vamos voltar - tia Vero me chamou.
Quando estava me aproximando da Camila, a vi conversando com os âncoras do jornal da noite. Inacreditável. Ah, mas claro que eles se conhecem, a mãe da minha cópia é apresentadora do jornal da manhã, trabalham na mesma emissora.
- Oi, Diana!
A apresentadora abaixou-se para ficar na minha altura e me deu um abraço apertado.
- Como você está grande! Uma mocinha já.
Gostei dela. Sempre gostei quando a assistia pela televisão, mas agora pessoalmente eu gostei mais.
- Oi, Di.
Fui pega no colo pelo apresentador.
- Está enorme realmente! Aprontando muito? - Ele perguntou.
Ia responder, mas a Camila falou primeiro.
- Ela é um anjo.
- Camila, você se importaria se a gente ficasse um pouco com a Diana? Podemos assistir ao desfile da Tijuca com ela? Só viemos para isso e já vamos embora. Já vai até começar.
Tijuca? Não acredito que vou assistir a minha escola com os apresentadores do jornal.
- Deixa!!! Por favor! - Implorei para a Camila.
- Tudo bem. Vão lá assistir enquanto vou cumprimentar alguns amigos.
Quando eu voltar para casa vou contar tudo isso para a minha mãe. Ela não vai acreditar que que eu conheci os apresentadores do jornal da noite e que eles são tijucanos.
Camila
Era incrível como a Diana gosta dos avós mesmo sem saber que eles são isso: os seus avós. Espero que quando ela crescer entenda que manter esse segredo foi um mal necessário.
Deixei a minha filha com eles porque é visível que a dona Andreia queria ser mais próxima da neta. Ela sofre também pelas atitudes que a minha ex tomou. É bom dar esses momentos de avó.
Diana sente-se tão feliz com eles no camarote. Tudo poderia ser diferente se a sua outra mãe não passasse de uma idiota.
- Camila?
Um desconhecido falava comigo.
- Oi...
- Caíque, prazer.
- Prazer - apertei sua mão.
- Eu admiro muito o seu trabalho, para mim você é a melhor jornalista que existe.
- Ah, obrigada.
- E a mais bonita também. Linda.
Ótimo, um homem dando em cima de mim agora. Era só o que me faltava.
- Obrigada.
- Vamos tomar uma cerveja?
- Não bebo, obrigada.
- Nem uma água?
- Hoje não... com licença que a minha irmã está chamando.
Sai quase que correndo daquele cerco. Fui parar na área reservada para os jornalistas.
- Camila! Você poderia dar uma entrevista rápida? Vamos entrar ao vivo.
- Claro!
Sorri para uma colega de trabalho ao iniciar a primeira pergunta.
Diana
A Laura está como uma louca assistindo a Tijuca. Ela é tão engraçada.
- Estou sentindo que seremos bi, o desfile está lindo! Não é, filha?
- Sim, está tudo lindo.
De repente a minha mãe de verdade apareceu na TV.
Que saudade dela! Ela está tão linda.
Olhei para a cara da Laura que perdeu a alegria. Ela está surpresa com alguma coisa, o sorriso que estampava seu rosto até uns segundos atrás sumiu e encarava a TV com uma certa tristeza no olhar.
- Mãe... - ainda tinha receio de chamá-la assim. - Está tudo bem?
- Hã? Falou comigo?
- Você não gosta dessa moça da TV? Você conhece ela?
- Vou pegar alguma coisa para beliscar, estou com fome.
Estranhei.
Laura
Que perseguição é essa? O que está acontecendo? Em duas semanas a Camila tinha se materializado na minha TV duas vezes. Que loucura!
A única pergunta que vem a minha cabeça é: Será que eu serei perdoada por ela algum dia?
Muitas vezes eu tive vontade de procurá-la. Ela não era rancorosa. Nunca foi. Talvez ela me perdoasse.
Maldito dia, maldita briga. Ainda me lembro bem de suas palavras: "...se depender de mim você nunca mais verá as meninas, você é um perigo para elas". Será que eu estou fazendo um bom trabalho com a Marina? Estou cumprindo a minha promessa?
Camila, Camila, que saudade de você.
Camila
Há muitos anos eu estou sem ver a minha escola de samba desfilando na Sapucaí. A última vez que eu estive aqui nem casada eu era, só estava noiva da Laura.
" - Por que você não leva para casa? - Perguntei para Laura após observar a direção dos seus olhos.
- Oi, amor? Disse alguma coisa? - Questionou olhou para mim.
- Por que você não leva a madrinha de bateria para casa já que você não para de admirar seus... atributos?
- Levar para casa? Não sabia que você gosta de um menage à trois. - Ela sorriu.
Olhei feio para a Laura e agarrei seu rosto com uma mão só, de modo que ela ficou até com bico.
- Não brinca com uma coisa dessas. Você é só minha.
- Amor, está doendo - soltei e ela passou a mão no rosto alisando. - Ciumenta! Agressora e ciumenta.
- Vai lá mandar ela fazer carinho e dá beijinho.
- Olha a cena, Camila!
- Cena fez você babando por ela na minha frente.
- Eu estava prestando atenção no samba dela.
- Cara de pau!
Laura pegou firme na minha mão e me arrastou para dentro do banheiro. Entramos juntas em uma cabine.
- Sua ciumenta, você é muito melhor que ela! Para de bancar a inferior, você é gostosa, sua bunda é perfeita, seus seios são perfeitos, você é perfeita. E vou te provar como te desejo.
Sua mão já estava puxando minha calça para baixo e sua boca alternava sugando os meus seios."
Já transei dentro do banheiro da Sapucaí, que loucura!
- Oiiiii. Terra chamando Camila.
Verônica balançava a mão na minha frente.
- Oi, estava distraída.
Vi a Diana em seu colo com sono.
- Já vimos o desfile da Portela, já nos divertimos e já está tarde. Vamos, Di - Perguntei.
- Ainda tem um monte de desfiles - respondeu-me cheia de dengo.
- Mas eu avisei que só íamos assistir até a Portela e você está sono. Vem para colo da mamãe, meu anjo.
Peguei a pesada Diana no colo que ajeitou a cabeça no meu ombro.
- Tchau, Vero. Divirta-se!
- Pode deixar, a noite está só começando.
Verônica Sullivan não tem jeito mesmo!
Verônica
Oba, finalmente sozinha. Hora de atacar!
Comecei a circular entre as pessoas e recebi vários olhares. Retribuía todos, é claro.
Cheguei em um dos balcões, pedi uma cerveja e vi uma morena maravilhosa pegando um copo de cerveja. Ela nem olhou para o meu lado, mesmo assim a acompanhei com meu olhar. Olhava desde os seus longos cabelos, até as belas pernas.
Que mulher é essa? "É dessas mulheres para comer com dez talheres. De lado, quatro, frente, verso, embaixo, em pé..." Foi a música que veio na minha cabeça como resposta.
Ela parou em um grupo de 4 mulheres, sentou-se com elas e ficou de frente para mim. Nenhuma daquelas mulheres parece namorada ou que tivesse alguma coisa com ela. Se o meu gaydar não estiver falhando, todas ali são heterossexuais, menos ela.
Passei a observá-la com mais atenção. Ela tem pernas lindas. Seu cabelo preto longo, seu nariz arrebitado e sua boca levemente carnuda deixa seu rosto ainda mais belo. Seu sorriso de tirar o fôlego e suas covinhas são outros detalhes que a deixa mais charmosa. Vi suas amigas se levantarem e irem na direção do acesso para assistir os desfiles. Ela ficou.
A moça sorria quando meus olhos cruzaram com os dela. Meu coração acelerou como nunca antes, me senti ansiosa. Ela não me deu bola, nem sustentou o olhar por muito tempo.
- Moço, dois copos de cerveja por favor. - Pedi para o barman.
Peguei as bebidas e fui na direção da deusa.
- Notei que sua cerveja acabou, tirei o trabalho de você ir buscar. Aceita?
Ela olhou receosa para o copo, mas acabou aceitando.
- Obrigada - sorriu sincera.
- Verônica, prazer.
Estendi minha mão na sua direção.
- Verônica? Pensei que fosse Camila.
Ela apertou a minha mão e uma corrente elétrica pareceu passear lentamente pelo meu corpo.
- Camila? Ah não! Camila é a minha irmã gêmea, a âncora do jornal.
- Você está falando sério?
Peguei meu RG dentro da bolsa e mostrei para ela.
- Desculpe-me. Eu não sabia que ela tinha uma irmã gêmea.
- Ah não, tudo bem. As pessoas vivem confundindo e ela é mais conhecida do que eu, então dá-se a confusão.
Ela estava com as bochechas levemente vermelhas de vergonha.
- Vamos nos apresentar novamente. Eu sou Verônica Sullivan, muito prazer.
Nem fui convidada, mas me sentei ao seu lado.
- Verônica Sullivan? A estilista? A dona da 'Vero S'?
- Aha! Viu como sou famosa? Pelo menos de nome.
- Eu adoro o seu trabalho. De verdade, adoro.
- Eu acredito.
Fiquei olhando para a sua boca que ostentava um singelo sorriso.
- Mas essa gata não tem nome?
- Tem, tem sim. Patrícia, prazer.
- O prazer é todo meu.
Aproveitei que sua mão estava sobre a mesa e pousei a minha por cima fazendo carinho. Foi como se minha mão fosse fogo, pois ela escorregou para fora sem cerimônia.
- Verônica, eu...
- Você mora aqui no Rio?
- Não, em São Paulo.
- Primeira vez no Rio? Veio assistir aos desfiles de pertinho?
- Não. Já é o quinto ano seguido.
- Mentira! Que destino cruel, todos esses anos aqui e nunca nos encontramos?
- Mas neste camarote é a primeira vez.
- Agora está explicado. Nunca é tarde para conhecer alguém, não é verdade? Ainda mais alguém tão bonita assim como você.
Coloquei a minha mão sobre a sua novamente. Senti um arrepio subindo a minha espinha, sua pele é macia. Mordi meu lábio inferior de forma sexy e ao mesmo tempo tentando controlar o meu desejo.
Ela pegou a minha mão com delicadeza e colocou em cima da mesa. Ela faz a difícil, vai dar um trabalhão pelo jeito. Mas valerá a pena. Farei agora a romântica, talvez funcione.
- Desculpa, não resisti. Mas que belas pernas você tem.
- É... então... Verônica, eu sou casada. Não vai rolar.
Olhei em seus olhos, não parecia estar mentindo. Olhei para a suas mãos e não tinha aliança nenhuma.
- Ah é? E você esqueceu a aliança no hotel?
Sua expressão ficou séria.
- Não.
- Ela está aqui? É uma daquelas mulheres que estavam aqui?
- Não, ela está em casa.
- Então ela está em São Paulo e deixa você sair sozinha assim?
- Por que não? Ela sabe que sou fiel.
- Vai ver você não tinha ninguém assim como eu para cair na tentação...- ajeitei seu colar no pescoço e aproveitei para deixar a minha mão escorregar por seu decote.
Patrícia levantou-se bruscamente e fez menção de se retirar. Agarrei seu braço e até ela me olhar de volta.
- Não vai rolar, entendeu? Eu amo a minha mulher e não tem a mínima chance de uma traição.
- Está bem, desculpa - recuei. - Só é muito difícil acreditar que você seja casada.
- Pois eu sou.
- Ok, não está mais aqui quem deu em cima de você. Podemos ser amigas?
Tinha que mudar a minha estratégia.
- Você vai parar de tentar alguma coisa?
- Uhum.
- Promete?
- Claro, claro! Vamos pegar mais cerveja?
- Ok...
Peguei sua mão e ela prontamente soltou.
- Ei, amiga pode dar a mão uma para outra.
Segurei mais uma vez sua mão e ela aceitou. Ponto para mim.
- Duas cervejas, por favor - pedi para o barman. - Então, Patrícia, o que você faz da vida?
- Tenho uma empresa de arquitetura e decoração.
- Interessante. Qual o nome da sua empresa?
- Layola Arquitetura & Decoração - sorriu.
- Espera, você é a Patrícia Layola? Você que fez todo o projeto do meu ateliê!
- Sim - ela respondeu e as suas covinhas se acentuaram por causa do seu sorriso largo. - O destino é realmente estranho, era para eu ter te conhecido no dia da entrega, mas tive que viajar para Washington.
- Eu bem me lembro. Fiquei chateada que não conheci aquela voz tão bonita que ficava falando suas ideias pelo telefone. Parabéns pelo trabalho.
- Obrigada pelas flores e a caixa de bombom, foi muito gentil da sua parte.
- Você mereceu. Você já era casada naquela época?
- Não, nem conhecia ela.
- Que azar o meu - fiz carinho em seu rosto.
Mais uma vez ela se esquivou. Ela era muito difícil.
- Bom, obrigada pela companhia, mas eu tenho que ir encontrar as minhas amigas...
- Espera. Fica só mais um pouco, eu gostei tanto de você.
- Não dá, não quero te dar esperança.
- Eu já entendi que eu sou carta fora do baralho. Mas eu quero realmente ser sua amiga.
Quero ser amiga dela? Amiga? O que está acontecendo comigo? A garota não me quer, está claro isso. Por que eu estou insistindo? Ela é linda, gostosa, inteligente, tem um papo bom, mas eu já estou passando dos limites. Por que o meu coração não para de acelerar quando olho para ela? Eu não posso deixar ela ir embora.
- Conte-me mais sobre o seu trabalho...
Seguimos conversando até o último desfile. Enquanto assistíamos os desfiles juntas, eu aproveitava seus momentos de distração para tentar alguma coisa. Eu nunca tomei tanto fora na minha vida. Nunca!
Estava em um táxi voltando para casa, pensado se perdi a minha noite ou se valeu a pena insistir na Patrícia. Tantas mulheres na noite e meus olhos só a enxergavam.
Cheguei em casa e fui direto para o quarto. Após tomar banho, deitei-me na minha cama. Na minha mente um sorriso e um nome: Patrícia.
Laura
Que dor de cabeça horrível. Depois que minha filha foi dormir, a solidão me pegou mais uma vez. Desliguei a televisão, as luzes, permaneci em silêncio. Eu e meu passado.
Subi até meu quarto e só me recordo de antes ter passado no alto do armário da cozinha e pegado bebidas alcóolicas.
Bebi várias doses de whisky seguidamente. Pela garrafa vazia na minha cama, tinha bebido um pouco menos da metade, que era o que tinha. Há também uma garrafa de licor, mas não lembro bem se bebi, muito menos a quantidade.
Enchi a cara em casa porque vi a minha ex pela TV. Que postura ridícula!
Que inferno de musiquinha é essa? Isso que me acordou. Ah, é meu celular que está tocando. Olhei com dificuldade para o visor. Patrícia... melhor não atender. Olhei no relógio, 12:30.
Meu celular tocou novamente. Pensando bem, melhor atender.
- Oi.
- Oi, amor - Patrícia disse no outro lado da linha. - Estava dormindo?
- Sim, acabei de acordar na verdade.
Para o meu alívio, a conversa foi rápida. Foi só para saber se estou bem e ouvir minha voz.
Patrícia é maravilhosa. Como pode existir uma mulher como ela?
Peguei o maço de cigarros e só tinha um. Olhei ao redor e notei o cinzeiro cheio em cima do criado mudo. O cheiro de cigarro estava por toda cama. Ainda bem que a Patrícia não estava ali para ver toda essa bagunça. Peguei o último cigarro e acendi. Pela quantidade de bitucas no cinzeiro, só nesta madrugada fumei uns 10 ou 12. Para quem quase não fuma, é muito. Olhei na gaveta e lá está mais um maço. Suspirei aliviada não por ter, mas por não fumado tudo aquilo. Estou enlouquecendo.
Ouvi batidas na porta e o chamado de uma voz grossa:
- Laura, posso entrar?
É o meu amigo Sérgio.
- Pode.
Ele entrou e olhou assustado para o quarto todo revirado.
- O que aconteceu por aqui?
- Uma festinha particular.
- Você e mais quantas?
- Não, nada disso. Não! Não é isso que você está pensando. Foi uma festa solitária.
- Você bebeu essa garrafa de whisky e esse licor? E essas bitucas de cigarros? Fumou tudo isso?
- Pois é, acho que exagerei um pouco. Fui bebendo e fumando sem ver, errei na mão.
- Por que você fez isso?
- Porque é carnaval!
- Você só fuma quando está nervosa. E você poderia apagar esse da sua mão? Não suporto cigarro.
- Está acabando.
Sérgio balançou a cabeça em negação e aproximou-se.
- Laura, o que houve?
- Nada. Eu só queria me divertir.
- Não quer falar, não fala. - Ele foi rude. - Bom, você esqueceu da sua filha, mas eu já alimentei aquele anjinho.
- Nossa, ela já acordou?
- Não só acordou, como levantou e ficou esperando a sua boa vontade de alimentá-la.
- Aí, caramba, sou a pior mãe do mundo.
- Sem drama, Laura. Ainda bem que ela tem esse tio maravilhoso.
- Se acha! Enquanto eu arrumo essa bagunça, pega lá um remédio para minha ressaca.
Ele foi buscar o remédio e me joguei na cama.
Camila
A música 'Sorte' que entrava pelos meus ouvidos deixa uma certa melancolia no meu quarto. Deixo em um volume bem baixo, como se eu quisesse esconder. De vez em quando surgia um desejo louco de escutar essa música. Parece uma tortura, ainda mais com essas fotos que passam pelas minhas mãos.
Sorrisos aparecem em todas os retratos. Éramos tão felizes.
Desliguei o som, chega de sofrer.
Ouvi um baque longe seguido de um grito. É a Diana!
Corri para as escadas e ela estava no chão.
- Meu bem, o que aconteceu? Você está bem?
Aproximei-me e vi sangue em seu joelho.
- Eu caí.
- Caiu como? Olha este joelho, Di!
- Ele está ardendo.
- Vamos para o hospital agora! Vou trocar de roupa.
- Não! Hospital não.
- Você não caiu? Pode ter acontecido alguma coisa mais grave.
- Não aconteceu nada, só bati o joelho na queda.
- Alguém gritou? Ouvi um grito - vi a Vero descer as escadas com cara de sono.
- A Diana caiu, está com o joelho sangrando.
Vero se aproximou e agachou para ver o joelho.
- Foi só um ralado. Está sentindo dor em outro lugar, Di?
- Não, eu estou bem - minha filha respondeu tediosa.
- Ela está bem, Cah. Foi só um arranhão. Vá buscar a caixinha de primeiros socorros, por favor.
Ainda bem que a Verônica é mais prática e tranquila do que eu. Peguei a caixinha no banheiro e voltei para sala. Ela fez um rápido curativo.
- Prontinho, coisinha. Já está pronta para outra queda.
- Obrigada, tia Vero.
Diana abraçou a minha irmã com carinho. Senti uma ponta de ciúmes, minha filha está distante de mim esses dias. É um tal de "tia Vero" para cá e para lá o dia inteiro.
- Vocês já tomaram café? - Verônica perguntou.
- Já, vou começar o almoço agora - respondi sem ânimo.
- Vou brincar no meu quarto.
Diana passou correndo, já nem sentia dor no joelho.
- Sobe com cuidado, filha...
Ela nem me deu ouvidos e subiu as escadas de dois em dois degraus.
Caminhei com a minha irmã para a cozinha que sentou-se para tomar café, enquanto eu pensava no que preparar para almoçarmos.
- Que cara é essa Vero? - Perguntei ao notar sua seriedade. - Não conseguiu bater o seu recorde?
Dei risada achando um absurdo esse negócio de recorde, mas não fui acompanhada.
- Não cheguei nem perto - Vero bufou. - Perdi tempo tentando ficar com uma, resultado: tomei vários foras e não fiquei com ninguém.
- Por que você insistiu só em uma? Você não é a maior pegadora da Sapucaí?
- Sei lá. Achei ela linda, senti uma vontade louca de ficar com ela, provar do teu beijo, provar seu mel.
- Sei... - zombei dela - você não aguenta ouvir não. Garanto que quanto mais 'não' você ouvia da mulher, mais você queria ficar com ela.
- Não, não foi isso. Quando eu a vi senti uma sensação única, de querer conhecê-la. Ah, também ela não quis simplesmente não ficar comigo. O problema é outro.
- Que problema?
- Ela é casada.
- Você ficou dando em cima de uma mulher casada de novo? Verônica!
Lembrei da vez em que a Vero se envolveu com uma mulher casada e o marido da moça quase matou as duas.
- É diferente dessa vez. Ela é casada com uma mulher.
- Ela é casada! Não muda nada.
- Mas eu não fiquei com ela.
- Que bom né, sua sem juízo. Daqui a pouco a mulher dela estava aqui quebrando a sua cara. Quando é que você vai crescer, hein? Parece uma adolescente sem noção, sem compromisso com nada.
- Credo Camila, que mau humor é esse? Deixe-me ser feliz.
- Você quer ser feliz? Esquece essa mulher casada.
- Impossível - seus olhos brilharam - a Patrícia é linda, gentil, dona de um sorriso...
É impressão minha ou a minha irmã estava apaixonada? Nunca tinha visto ela com esse sorriso bobo.
- Vero, ela é casada.
- Poxa, por que não cheguei antes na vida dela? Ela me pareceu muito apaixonada pela mulher, não me deu a menor chance. Mas talvez eu possa conquistá-la com o tempo.
- Ela te deu o número dela?
- Nada - ela riu. - Mas é fácil descobrir, sei onde ela trabalha. Ela é a Patrícia Loyola, que fez meu ateliê, lembra?
- Vagamente. Mas, você vai quebrar a cara.
- Não vou. Vou pesquisar agora mesmo o telefone da empresa para conseguir o celular dela.
Vero sacou o seu celular e começou a pesquisa.
Marina
Subi as escadas correndo, meu joelho nem estava doendo mais. Passei na frente do quarto da Camila e a porta estava totalmente aberta. Me chamou a atenção um baú que estava em cima da cama. Nunca tinha visto um baú de perto, será que tinha ouro?
A minha curiosidade como sempre falou mais alto, entrei e fechei a porta. Vi uma foto virada perto do baú e peguei.
Fim do capítulo
Verônica apaixonada pela Patrícia? Hum... isso pode dar uma confusão.
Os dois próximos capítulos prometem grandes emoções.
Só digo uma coisa: Está chegando a hora!
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Allex
Em: 20/07/2017
Laura é imatura, egoísta, fraca e cruel; separar as próprias filhas foi uma atitude que mostrou sua crueldade e falta de amor, tanto para as meninas quanto para Camila. Camila merece ser feliz e não acho que Laura mereça o seu perdão depois de tudo que ela fez. Abraços autora
Resposta do autor:
Polêmica. Laura é polêmica. Talvez por trás de falta de amor esteja justamente outra falta de amor.
Obrigada pelo comentário, abs.
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NovaAqui
Em: 19/07/2017
Vixe
Eu postei o comentário desse capítulo no capítulo 13. É a minha raiva pela Laura que me fez perder o prumo kkk
Fico com pena da Laura, como disse a Paty ela precisa de tratamento psicológico urgentemente. Ela não está no seu normal não.
Se a Laura fosse real, eu dava uma surra nela kkkk
Desculpa a brincadeira com a Laura. Ela é doidinha, mas quero que ela, Camila e as meninas fiquem logo juntas
Abraços fraternos procê;
Resposta do autor:
Oi, vou responder esse e outro comentário por aqui viu?
A Marina vai descobrir, sem mais enrolação. A única que pode enrolar aqui para postar o próximo capítulo sou eu (hahahahaha brincadeira).
Calma, mulher hahahaaha. Não precisa se desculpar, adoro suas reações! Laura é complicada. Quando ela chegou na minha cabeça sabia que ia ser polêmica.
Abs.
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