Melissa

Vinicius nos olhava como se houvesse nos encontrado em uma situação complicada. Certo que estava estranho sim, mas não era para tanto. Ok, eu estou querendo enganar a quem? Ela parecia sem saber o que dizer, então resolvi tomar as rédeas. Pegando ela de surpresa, a abracei forte.

- Eu quero falar com você mais tarde...  – sussurrei em seu ouvido e me afastei, sorrindo eu disse: - Obrigada pelo apoio, Mila... É importante ter você como amiga.

Ela ficou visivelmente surpresa.

- Você também... Mel. – já posso receber o meu Oscar?

- Até mais tarde...

- Até mais tarde...

Passei por Vinicius, que parecia estar sem entender nada. Quando coloquei meu pé no degrau da escada, percebi o quanto minhas mãos suavam e o meu coração batia descompassado. Em imediato, amarrei meu cabelo em um coque e desci os degraus.

- Ei, vem aqui! – Sam me chamou, sentada no sofá.

- Eu tô... – respirei fundo.

- Me conta... Quero saber o que aconteceu? – me joguei ao seu lado, tentando ordenar a minha cabeça.

Era coisa demais...

- Ela disse que não quis dizer aquelas coisas... Eu deveria ser mais firme, mas não consigo. Você me acha uma trouxa por isso? – Samantha coçou a cabeça.

- Acho que você tem um coração bom e pelo que vi, tem chances... – franzi o cenho.

- Tá querendo me iludir? – perguntei, sem levar a sério o que ela me disse.

- Sabe quantas vezes a Cami que eu conheço já pediu desculpas? Acorda, Mel. Eu sei que agora há pouco, quis matar a minha prima, mas foi antes de ver com os meus próprios olhos ela indo atrás de você...

Levei as mãos a cabeça.

- Olha, eu...

A campainha soou, cortando o que Sam iria dizer. Levantei, indo até a porta e dando de cara com Angélica. A morena sorriu, me puxando para um abraço que eu correspondi, pois adorava a sua companhia.

- Estava com saudade. Vamos dar uma volta? – ela sorriu, brincando com as pontas do meu cabelo.

Notei que era uma mania sua.

- Claro... Vamos sim. – acho que ela chegou em um momento perfeito. – Vou apenas... – mordi meu lábio ao perceber que teria de subir para trocar de roupa. – Nada, vamos...

- Eu vou com vocês... – Samantha se intrometeu. Olhei para ela, estranhando a sua atitude.

O que deu nela?

- Por mim tudo bem... – Angélica parecia não se incomodar.

- Então vamos! Tô louca pra tomar água de coco. – ela simplesmente passou por Angélica e se colocou ao lado de seu carro.

- Então tá... – fechei a porta.

- Tá tudo bem, Mel? – a morena acariciou o meu braço.

- Tá sim... Não se preocupe. – sorri para dar veracidade aos meus dizeres.

Entramos em seu carro.

- Desculpa a curiosidade, Angélica, mas o que faz da vida? – Sam perguntou, assim que Angélica colocou o veiculo em movimento.

O que estava acontecendo com essa loira? Estava parecendo até mesmo com a dona Sofia.

Angélica apenas gargalhou, porque viu a forma que olhei para Samantha, que apenas deu de ombros.

- Muitas coisas, Samantha. Tenho vários pequenos negócios. – a loira não parecia satisfeita.

- Já foi casada ou algo parecido? – ergui a sobrancelha.

Onde ela queria chegar com aquilo?

- Para com esse interrogatório, Sam. Angélica, não precisa responder... – olhei para Sam, que não se acanhou com o meu olhar assassino.

- Vocês são engraçadas... – foi somente o que a morena falou.

- Ela não se importa, Mel. Você tem filhos?  - aquilo estava ficando ridículo.

- Não... Me considero nova demais para ter uma criança e com a vida agitada que levo, acho que não seria uma mãe muito presente. – ela olhava fixamente para frente.

- Você gosta da Mel? Já trans*ram?

- Samantha! – quase gritei.

- O que?

Angélica gargalhou.

Acho melhor você ficar quieta, loira... Pelo amor de Deus... – a minha face esquentou.

- Ok, ok... Eu hein! – ela fez um bico enorme.

Passei a mão sobre o meu rosto, não querendo acreditar que estava passando por aquela saia justa.

Depois de alguns minutos, chegamos a um pequeno quiosque. Havia algumas pessoas jogando conversa fora. Uma televisão pequena passava um dvd de uma banda de pagode. Escolhemos uma mesa e pedimos coco gelado. A conversa girava em torno de coisas amenas. Sam não deixava de encarar Angélica. Quando voltássemos, eu iria querer saber o que se passava com ela.

De repente pensei em Camila.

Mesmo não sendo certo, eu gostei da nossa aproximação mais cedo. Se não fossemos interrompidas, acredito que teríamos nos beijado. A minha boca ainda queimava e o sabor da boca de Camila ainda estava presente.

Ela sente algo por mim? Será que o beijo cheio de voracidade que trocamos naquele banheiro, significou alguma coisa para ela?

- O que aconteceu naquele banheiro? Você e a sua amada Camila se beijaram certo? – aquela pergunta me pegou de surpresa. Samantha ficou com a boca levemente aberta.

- Sim... – admiti.

- Você contou pra ela sobre a Camila? – Sam me questionou.

- Ela me contou muitas coisas... – Angélica não parecia estar chateada. – Naquele dia, no bar...

- E sóbria também... – completei. Sam ergueu as sobrancelhas.

- Não acho que a Camila deixaria sua vida de hétero. – franzi o cenho.

- E o que você acha? – Samantha pareceu ficar inquieta.

- Acho que a Melissa deveria dar espaço para uma mulher que a queira, sem dramas ou chiliques de menina indecisa... Ela precisa de uma mulher de verdade e que não colocaria nenhuma barreira para faze-la feliz. – ela me olhava e parecia sincera em cada palavra sua.

Eu teria capacidade de deixar o que sinto por Camila e seguir em frente?

- Então é aqui que você tá... – voltei da minha pequena viagem.

Um homem careca, de traços envelhecidos encarava Angélica com um sorriso que me arrepiou a espinha. Ao seu lado, havia dois armários com expressões dura. Olhei para a morena e pude perceber o quanto ela estava surpresa e até mesmo com medo.

Quem é ele?

 

Sam

Empalideci quando vi aqueles homens. O velhote, o reconheci imediatamente. Era ele que estava nas fotos do Facebook de Angélica com ela.

- O que esta fazendo aqui, Carlos? - Angélica perguntou com um olhar desafiador.

- Queria conhecer o motivo dos seus sumiços nesses últimos dias. - ele olhava de Mel para mim.

Eu senti um frio na espinha.

Comecei a rezar um pai nosso.

- Espera aí! Quem é esse cara Angélica? - Melissa perguntou encarando-a.

- Sou o marido dela e você deve ser o novo casinho da minha mulher. - ele nos olhou. - Ou seria as duas? Ao menos minha mulher tem um bom gosto. Não planeja dividir? Está ficando muito egoísta, Angel.

O velhote nos olhou com uma malicia que me deu ânsia de vomito. Tive vontade de soca-lo.

- Deixe as meninas em paz! Elas não tem nada haver com isso! - Angélica falou, se levantando. 

- Isso quem decide sou eu. - ele a segurou pelo braço. - Agora vamos pra casa.

- Você não manda em mim. - ela se desfez do contato.

- Velhote, você não tem direito de trata-la assim! – por que eu abri a minha boca?

Larga ela, seu brutamontes! – Melissa disse entre dentes.

- Olha, docinho... Acho melhor ficar caladinha, se não vai ficar sem língua em um instante.

Engoli em seco.

- Você escolhe, querida. Vem por bem ou por mal. – ele realmente não estava brincando. Melissa parecia em outra galáxia.

Os dois brutamontes que estavam com ele se aproximaram de Angélica.

- Meninas, eu preciso ir. - ela pegou sua bolsa que estava em cima da mesa e olhou diretamente para Melissa.  - Desculpa por isso. Prometo que nos falamos mais tarde...

E saiu acompanhando-os.

Ficamos olhando Angélica entrar no carro com o marido e um dos capangas, enquanto o outro entrava em um veiculo ao lado da saveiro rebaixada.

- Era isso que eu queria te falar sobre a Angélica. - falei depois de algum tempo de total silêncio.

- Como assim? Você já sabia? - ela me olhou incrédula. - E por que não me contou nada?

Ergui as sobrancelhas.

- Eu tentei, mas a Camila me interrompeu, lembra? - ela franziu o cenho.

- E como descobriu? – Mel parecia totalmente abobalhada.

Comecei a narrar para ela.

- E foi isso... Havia várias fotos deles dois. Eu tive a confirmação agora. – Mel suspirou.

- Eu vou esperar e saber o que ela tem a me dizer... - ela falou se levantando. – Essa manhã já deu pra mim, Sam... Sinto que vou estourar!

- Espera que eu vou pagar a conta. – levantei, dando algum dinheiro para a moça do lugar e corri para alcança-la. 

- Não estou afim de voltar pra casa agora, aposto que aquele tal de Vinícius ainda está por lá. Mel falou assim que entramos no táxi. – Como foi a sua noite?

Torci o beiço.

- Até agora eu estou me perguntando o que aconteceu. – bufei. – Você acredita que acordei praticamente nua no quarto da tal Ana Clara? – Mel ergueu as sobrancelhas.

- Que história é essa, Sam? – sorri sem humor.

- Isso não é nada. A Lívia fez um vídeo em que Ana Clara e eu... – rolei os olhos. – A gente se beijou...

Mel abriu a boca.

- Preciso ver esse vídeo... – ela parecia surpresa.

- Não queira isso... – lamentei. - Vamos almoçar na praia, tomar uma cerveja, olhar mulher bonita. Não aguento te ver com essa cara de cão sem dono.

 Ela sorriu.

- Espertinha! Quero saber dessa história e nem adianta querer me enrolar. Vocês estavam louconas na boate e ficavam berrando que eram o Batman! – bati na minha testa e ainda tive de ouvir a risada do motorista.

Mereço!

Meia hora depois, estávamos sentadas em uma churrascaria na beira da praia. Um ritmo agitado tocava. Melissa brincava com a salada em seu prato. Observava a morena, que estava com a cabeça longe. Talvez, ela e eu tivéssemos azar quando o assunto era apaixonar-se.

Eu também tive algumas decepções e amores não correspondidos, mas no caso de Mel, acredito mesmo que a tonta da Camila está sentindo algo por ela. Iria perguntar a ela e eu sei que Cami não seria capaz de mentir.

- Olá meninas!

Me virei e dei de cara com quem não queria ver tão cedo. Ana Clara estava acompanhada de uma garota loira e muito bonita. Mesmo sem querer, aquilo mexeu comigo. Olhei para Mel e ela ostentava um sorriso ordinário na face.

 

Nick

Não cansava de ficar olhando Isa dormir, pois ela parecia um anjo de tão linda. Às vezes é repetitivo, eu sei, mas é impossível não admirar essa mulher. Até um ato tão simples a deixava a beira da perfeição.

- Vai ficar só olhando? – ela abriu os olhos e deu um sorriso maravilhoso.

- Estava aqui te admirando e pensando como pode existir um ser tão lindo como você. - beijei seus lábios delicadamente.

- A noite foi maravilhosa. - ela falou, acariciando o meu rosto e me olhando fixamente, me fazendo perder as palavras.

- Maravilhosa é você. - amava aquela mulher a cada dia mais. - Temos que tomar café para irmos para casa.  Alisava seus cabelos castanhos e sedosos.

- Que horas? - peguei meu celular que estava em cima da cabeceira da cama e lhe mostrei. – Nossa! Já tá tarde, vamos chegar na hora do almoço.

Ela levantou desesperada, me fazendo ri. Mesmo a contra gosto, fiz Isabela tomar café antes de sairmos da pousada.

À noite e parte da madrugada não saía da minha cabeça, me fazendo sorrir a toa.

Ao entrarmos na sala, pudemos ouvir a voz de Paloma e Flávia.

Everybody needs inspiration 
Everybody needs a song
A beautiful melody 
When the night's so long 
'Cause there's no guarantee 
That this life is easy 

Yeah

When my world is falling apart 
When there's no light to break up the dark 
That's when I 
I... I look at you 
When the waves are flooding the shore 
And I can't find my way home anymore 
That's when I,
I... I look at you 

When I look at you.. 
I see forgiveness 
I see the truth 
You love me for who I am 
Like the stars hold the moon 
Right there where they belong 
And I know I'm not alone 

Yeah 

When my world is falling apart 
When there's no light to break up the dark 
That's when I,
I... I look at you 
When the waves are flooding the shore 
And I can't find my way home anymore 
That's when I,
I... I look at you 

You appear just like a dream to me 
Just like Kaleydoscope colors 
That prove to me 
All I need 
Every breath that I breathe 
Dontcha know? 
You're beautiful 

Yeah yeah.. 

When the waves are flooding the shore 
And I can't find my way home anymore 
That's when I,
I... I look at you 
I look at you 

Yeah yeah...
Oh oh...
You appear just like a dream to me...

 

 

Todo mundo precisa de inspiração

Todo mundo precisa de uma música

Uma linda melodia

Quando a noite é tão longa

Porque não há garantia

De que essa vida é fácil

Yeah

Quando o meu mundo está desmoronando

Quando não há nenhuma luz para quebrar a escuridão

É aí quando eu

Eu... eu olho para você

Quando as ondas inundam a costa

E não consigo mais encontrar o meu caminho para casa

É aí quando eu

Eu... eu olho para você

Quando eu olho para você

Eu vejo perdão

Eu vejo a verdade

Você me ama por quem eu sou

Como as estrelas abraçam a lua

Bem ali onde elas devem estar

E eu sei que não estou sozinha

Yeah

Quando o meu mundo está desmoronando

Quando não há nenhuma luz para quebrar a escuridão

É aí quando eu

Eu... eu olho para você

Quando as ondas inundam a costa

E não consigo mais encontrar o meu caminho para casa

É aí quando eu

Eu... eu olho para você

Você aparece como um sonho para mim

Como as cores de um caleidoscópio

Que provam para mim

Que tudo de que preciso

Cada suspiro que eu dou

Você não sabe

Que você é maravilhoso

Yeah yeah

Quando as ondas inundam a costa

E não consigo mais encontrar o meu caminho para casa

É aí quando eu

Eu... eu olho para você

Eu olho para você

Yeah yeah

OH oh

Você aparece como um sonho para mim

---

 

 

- Já estávamos quase chamando a polícia para ir atrás de vocês. - Cássia falou assim que nos viu.

- Engraçadinha. – falei, afastando as pernas dela que estava deitada no sofá e tomando conta dele todo.

- Sua mãe ligou olhos bonitos. Ela disse que não conseguiu falar com você no celular. - Flávia falou, mexendo nas cordas do violão.

- Nossa, é porque ele está descarregado, vou ligar pra ela. Isa pegou seu celular, me deu um selinho e saiu.

- Fecha a boca pra baba não escorrer. - fuzilei a Cássia, mas confesso que sempre ficava com cara de boba olhando para Isa.

- Vou subir para trocar de roupa. - peguei minha bolsa que estava no sofá e alcancei o primeiro degrau.

- A noite foi boa... Mais tarde quero conversar com esse seu amiguinho... – olhei para Nick, que passou a gargalhar, acompanhada das outras retardadas.

Subi a escada.

- Eu só queria que você falasse o que aconteceu. Por que está tão estranha? - ia passando pelo quarto, onde Vinícius falava com Camila.

- Não está acontecendo nada! Eu só preciso ficar um pouco sozinha. - Camila respondeu. – Por favor, eu só estou pedindo isso!

- Tudo bem, Camila. Eu vou indo, me liga quando estiver melhor. - ele saiu do quarto passando por mim com uma cara nada satisfeita.

Resolvi falar um pouco com minha prima.

Havia algo que eu queria dizer à ela.

- Posso falar com você um pouquinho? - perguntei da porta.

- Claro! - ela estava sentada na cama. Seus olhos estavam húmidos e a face entristecida.

- Você sabe que eu quero muito o seu bem, não sabe? - ela confirmou com a cabeça. - Eu sei que algumas decisões são difíceis de serem tomadas, mas às vezes, Cami, para sermos felizes, temos que enfrentar até nossos próprios medos. - segurei suas mãos. - Olha para dentro de você é lá que estão as verdadeiras respostas.

Já ia levantando, quando ela segurou em minha mão.

- Foi difícil assumir seu amor pela Isa? – sorri e olhei em seus olhos.

- Foi a melhor coisa que fiz em minha vida...

Beijei o topo de sua cabeça e saí.

 

 

Fim do capítulo