CAPÍTULO 54: De quem menos se espera.

 

 

 

 

 

 

 

Desde que Pauline tinha ido embora o mau humor de Rebecca se fez presente de uma maneira quase insuportável.

 

Deu a ordem de que se o fisioterapeuta aparecesse era para dispensá-lo, pois não precisaria dos serviços dele até segunda ordem.

 

Deixou avisado já que o rapaz tinha saído para esfriar a cabeça e era possível que voltasse.

 

Resolveu ficar o dia todo de repouso com medo das dores voltar, e foi rude com os empregados como sempre.

 

 

 

Bryan chegou na mansão por volta das 15:00 horas da tarde e se dirigiu para o quarto de sua irmã quando ouviu comentários dos empregados que hoje ela estaria mais impossível do que nunca.

 

Bateu na porta e abriu em seguida quando sua passagem foi liberada pela voz de Rebecca.

 

 

 

-- Posso entrar? – perguntou pondo a cabeça para dentro.

 

-- Entra Bryan.

 

 

 

Caminhou até onde a irmã estava deitada sentando-se na beira da cama onde ela estava.

 

 

 

-- O que aconteceu, me disseram que você estava exaltada?

 

-- Nada.

 

-- ii essa carinha não me engana, o que foi? Sua medica gostosa não veio?

 

-- Sai Bryan! – exclamou arremessando um travesseiro na direção de seu rosto e sendo segurado por ele.

 

-- Aii sua agressiva!

 

-- Cala a boca!

 

-- Credo Becca, conta logo o que aconteceu e desfaz essa tromba antes que fique com um monte de rugas nesse rosto lindo!

 

 

 

Rebecca bufou revirando os olhos e começou a narrar todo seu dia para Bryan, inclusive as partes entre John e Pauline, vendo seu irmão fazer caras e bocas para a sua narração, até chegar na parte em que a medica foi embora.

 

 

 

-- Mas ele avançou mesmo para cima da sua medica gata? – perguntou chocado com as informações – Como ele pode pensar em macular aquele rosto lindo? Alias sua pele inteira, pois pelo que você falou na certa ela ficou marcada pelas mãos daquele troglodita!

 

 

 

Rebecca suspirou fundo passando uma mão no rosto de forma cansada.

 

 

 

-- Eu nem sei, confesso que não entendi ao certo o que houve aqui e por que dessa rincha toda entre eles, porem eu não gostei da atitude dele.

 

-- Eu também não gostaria, se eu estivesse aqui teria dado uma lição nele – falou agora ficando serio e ajeitando sua postura.

 

-- Nem parece gay agindo dessa forma tão seria e engrossando essa voz.

 

 

 

Bryan olhou para a irmã erguendo as duas sobrancelhas de forma incrédula, estava decidindo se ficava ofendido ou não pela colocação de suas palavras.

 

 

 

-- Eu não consigo acreditar que essa frase tão cheia de preconceito saiu da sua boca.

 

 

 

Rebecca fez menção em dizer algo porem não achou palavras, abriu e fechou a boca algumas vezes até decidir não dizer nada engolindo em seco.

 

 

 

-- Não julgue as pessoas Rebecca, falar coisas desse tipo chega até ser ofensivo, não é porque o cara que é gay tem que ser menos másculo que um hetero, nem todo gay é afeminado, e eu mesmo até você bancar a encheria e descobrir sempre fui discreto, estou errado?

 

-- Não.

 

-- Eu ser gay não me faz menos homem que qualquer um outro, posso gostar de futebol, luta e qualquer coisa que as pessoas pensam que apenas homens que gostam de mulher podem gostar, do mesmo jeito que uma lésbica não precisa gostar de coisas masculinas, veja nossa irmã por exemplo, quando ela quer sabe se portar como uma lady, vestidos, saltos, sempre maquiada.

 

-- Eu me expressei mal Bryan – falou envergonhada.

 

-- Sim eu sei, apenas tente não repetir isso outra vez – deu-lhe um olhar compreensivo – Sei que parece tudo meio novo pra você esse mundo, e se eu brinco com você e me abro é porque você já sabe e eu confio em ti.

 

-- Sim eu sei, me desculpe.

 

-- Esta desculpada – piscou-lhe o olho e sorriu em seguida arrancando-lhe um sorriso também – Agora me conta, então a medica foi embora te deixando sozinha?

 

-- Ela falou que tinha um compromisso, com a tal de Eve – falou com desgosto revirando os olhos.

 

 

 

Bryan segurou um riso e disfarçou passando a mão no rosto.

 

 

 

-- Eve? E quem é Eve, um casinho da doutora gostosa? – provocou e viu o olhar irritado da irmã.

 

-- Ela não é um casinho!

 

-- Como pode ter certeza?

 

-- Eu... eu não sei, ela só não parece gostar dessas coisas

 

-- Ah não! – exclamou revoltando-se e levantando da cama – de novo isso de julgar as pessoas pelo que parece ou não Rebecca?

 

-- Eu só...

 

-- Eu só nada! Se você acha que ela não parece eu digo que pra mim parece, meu gaydar apitou de longe quando vi ela, e essa tal de Eve deve ser a mesma da ligação no hospital não?

 

-- Acho que é ela mesma.

 

-- E se eu bem me lembro Pauline foi um amor com ela no telefone, alias ela a chamou de meu amor, meu bem – começou a enumerar nos dedos provocando mais a irmã – E o que mais? Ah disse também que quando chegasse não faria barulho... esqueci de mais alguma coisa?

 

-- Bryan para de ser idiota

 

-- Ué mas o que eu estou fazendo? – riu da expressão da irmã que não parecia nada contente – O que ela falou que faria hoje mesmo com a Eve?

 

-- Um jantar.

 

-- Aii vai ter sex*! – exclamou batendo palminhas e viu sua irmã fechar mais a expressão e arremessar outro travesseiro mais forte dessa vez.

 

-- Cala a boca!

 

-- Qual o problema Rebecca? As pessoas trans*m sabia? E por falar nisso você esta precisando muito disso! Seu humor esta horrível, credo!

 

-- Bryan!

 

-- O que, estou mentindo? Quanto tempo faz que você não da uma boa foda maninha?

 

-- Bryan deixa de ser baixo!

 

-- Ai lá vem a puritana – revirou os olhos e sorriu escapando de mais um travesseiro – que eu me lembre a ultima vez que te vi com alguém foi com aquele embuste daquele carinha engomadinho que adorava um ibope das câmeras.

 

-- O Steve.

 

-- Esse mesmo! E deve fazer o que, uns 5 meses?

 

-- Quatro.

 

-- Então pronto, ta na hora né.

 

-- Para, eu nem estou pensando nisso, a única coisa que eu penso é em poder me recuperar direito e nunca mais sentir essas dores que eu senti hoje.

 

-- Pega a doutora então maninha! – piscou e logo em seguida gargalhou da face de sua irmã – Ela pelo menos faz passar suas dores, e aquele jeito durão dela? Da até calor gente, imagina essa mulher na cama! Jesus quero um homem com o jeito dela pra mim!

 

-- Eu juro que não estou ouvindo isso

 

-- Sim você esta – riu com gosto e a viu cruzar os braços – Olha eu não sou chegado, mas posso experimentar a doutora, vai que ambos gostamos, a pegada dela deve ser sensacional!

 

-- Ah vai fazer a passiva?

 

-- Com ela eu faria tudo minha linda! – gargalhou levantando-se – se você não quiser eu quero!

 

-- Bryan sai!

 

--Ta bom, eu to indo, mas já sabe né – piscou irritando-a mais – aaah e uma dica! Talvez você deva aparecer no meio do jantar das duas se queixando de uma possível dor nas pernas, sabe como que é né? O que os San’Germanys querem, eles conseguem, tchau.

 

 

 

Se retirou fechando a porta e deixando sua irmã pensar em tudo o que falaram.

 

 

 

 

 

 

 

...  ...  ...  ...  ...

 

 

 

 

 

Rachel teve dificuldades para se arrumar e fez tudo em uma lentidão irritante para ela mesma a fazendo ficar com um humor pior do que o que já estava antes.

 

Assim que vestiu sua calça e uma camisa confortável pensou em como faria para calçar seus sapatos.

 

Poderia usar uma sandália porem queria esta mais confortável sem falar que naquele clima frio queria seus pés quentinhos.

 

Sentou-se devagar entre gemidos na beira da cama perto de onde estava seu celular que carregava e o ligou enquanto pensava como vestir suas meias e depois seu tênis sem se machucar ainda mais.

 

Assim que ligou o aparelho foi bombardeada de mensagens.

 

Sua atenção foi atraída para batidas na porta.

 

 

 

-- Entra.

 

-- Oi? – uma cabeleira loira surgiu pondo a cabeça para dentro.

 

-- Oi Júlia.

 

-- Você vai mesmo embora? – disse entrando e observando-a

 

-- Eu vou Júlia, eu não agüento mais aqui, sem ofensas.

 

-- Claro – riu balançando a cabeça – Se até eu não agüento.

 

-- Consigo te entender um pouco – devolveu um sorriso.

 

-- Olha – se aproximou mais para o lado da cama onde Rachel estava e ficou de frente a ela – Por que você não conversa com a Amanda antes de ir embora?

 

-- Eu não vi sua ruiva ainda, onde ela está?

 

-- Eu também não a vi.

 

-- Estranho – juntou as sobrancelhas – Ela na certa não deve saber o que nos aconteceu.

 

-- Acho que não – Júlia rebateu baixo sem animo.

 

-- Eu vou falar com ela, mas queria te pedir um favor – falou sem jeito atraindo o olhar curioso da loira.

 

-- O que é?

 

-- Será que você pode me... – respirou fundo logo soltando o ar em seguida – pode me ajuda a calçar minhas meias e meu tênis? É que eu não consigo me abaixar direito, dói...

 

-- Claro, eu ajudo.

 

 

 

Abaixou-se devagar por causa da perna e pegou uma meia calçando um pé da garota de cabelos castanhos, enquanto ela começou a mexer no celular afim de falar com Amanda, queria avisar que estava indo.

 

Assim que abriu suas mensagens se deparou com uma da ruiva e o que tinha ali a deixou sem reação com as expressões da face como se estivesse em choque, boca levemente aberta e olhos um tanto quanto arregalados junto de suas sobrancelhas erguidas.

 

Era serio aquilo?

 

 

 

Teve sua atenção atraída quando Júlia começou a calçar a meia em seu outro pé.

 

 

 

-- Júlia – chamou baixo sem saber o que falar ou por onde começar.

 

-- Oi

 

--Você... é...

 

-- Que foi Rachel? – perguntou subindo os olhos e vendo a expressão da garota – Ta se sentindo bem?

 

-- Eu to – disse mais baixo de forma quase inaudível.

 

-- O que houve? Você ta passando mal Rachel? – levantou-se preocupada.

 

-- Eu to bem Júlia, é só que...

 

-- Fala, você esta me deixando preocupada.

 

-- Senta Júlia.

 

-- Eu não quero sentar, fala logo Rachel

 

-- Júlia... – respirou fundo encarando a loira e a viu impaciente, era melhor despejar de uma vez – A Amanda foi embora.

 

-- Que? – foi a única coisa que saiu da boca da loira antes de paralisar.

 

 

 

Não era verdade, sem condições.

 

Amanda não podia ter fugido daquela maneira, sem nem dizer adeus.

 

Não se despediu, nem avisou muito menos deixou ao menos um bilhete para si explicando ou simplesmente comunicando sua decisão.

 

Ela não podia ter fugido.

 

 

 

-- Júlia? – Rachel chamou um pouco mais alto pois a garota não a escutou nas duas ultimas vezes – Ei Júlia? – levantou-se e tocou-lhe o braço delicadamente – Está me ouvindo?

 

-- Eu, é... ela fugiu Rachel? – juntou as sobrancelhas como quem esta prestes a chorar, já sentindo seus olhos arderem e a outra garota percebeu, ainda mais pelo seu tom que ficou embargado – Ela... foi embora, sem nem me avisar

 

-- Ei Júlia, não fique assim – pediu sem saber o que fazer e viu os olhos verdes a sua frente ficarem rasos.

 

 

 

Júlia se sentou tentando entender tudo aquilo, levou suas mãos até o rosto como quem tampa parcialmente olhos, boca e nariz. Respirou fundo soltando a respiração do mesmo jeito.

 

Queria se controlar, mas aquela ardência nos olhos e o nó na garganta se fizeram presente de forma mais forte na qual não pode controlar duas lagrimas que despencaram de seus olhos, que agora estavam em uma imensidão verde, o que lembrou Rachel as águas do mar por algum motivo.

 

 

 

-- Júlia – chamou baixo buscando o que dizer – Tente entende-la, é muita pressão e ela esta confusa

 

-- Entende-la? – perguntou encarando a outra e olhando dentro dos olhos, nem percebendo que mais algumas lagrimas escapavam – Ela fugiu, me deixou sozinha aqui sem entender nada pois ela nem se deu ao trabalho de conversar direito comigo com mais calma, ela terminou comigo e foi embora simples assim! – exclamou um pouco mais alto se levantando e tentando conter o embargo de sua voz – Não se dignou nem a se despedir e você ainda me pede para entende-la?

 

-- Júlia...

 

-- Não Rachel! – pediu dessa vez dando liberdade ao choro sem se importar que quem estava ali em sua frente era a garota que até pouco tempo atrás não suportava.

 

-- Júlia não chore, as coisas vão se resolver – aproximou-se tocando seu braço.

 

-- Não vão, não vão por que ela me deixou, me deixou aqui sozinha como se isso tudo não estivesse sendo confuso pra mim também, se ela sente medo eu também sinto! Por que eu não sei se você percebeu, mas a minha família é uma merd*, e justo quando eu acho um lugar onde eu posso ter um pouco de paz e até um esboço de família eu me apaixono pela enteada do meu pai, como você acha que eu estou me sentindo? É menos pesado pra mim do que pra ela? É justo isso Rachel?

 

-- Não é – disse baixo sentindo vontade de chorar com a loira.

 

 

 

Realmente não era justo, Rachel sabia.

 

Era egoísmo de sua amiga não conseguir se por um pouquinho no lugar da loira e lutar pelo que realmente dizia sentir.

 

Não era justo desistir quando a outra estava se mantendo firme apesar de todo o medo que carregava dentro de si, pois tinha plena certeza que Júlia tinha medo de ser rejeitada.

 

Pelo que pode perceber a garota dos olhos verdes fora rejeitada durante toda sua pouca vida e aquele parecia um de seus maiores medos, então agora Amanda a abandonava deixando-a encarar os Lancaster sozinha.

 

Claro que a ruiva iria encará-los em outro momento, sabia disso porem no momento da raiva, Júlia teria que encará-los sozinha.

 

 

 

-- Ela fugiu, e ela nem teve coragem de me avisar, não quis olhar que fosse uma ultima vez em meus olhos para me falar que realmente tudo não passou de um erro, então eu idiota – fungou um riso diante o choro – eu pensei que poderíamos nos resolver, mas vejo que não, sua amiga é uma covarde.

 

-- Júlia não diga coisas que vai se arrepender...

 

-- Eu vou, eu sei que vou, do mesmo jeito que estou me arrependendo de tê-la conhecido, de tê-la deixado entrar na minha vida, porque ela não teve nem a consideração de me deixar no mínimo um bilhete.

 

-- Você esta magoada Júlia

 

-- Se você não tivesse me avisado eu descobriria como Rachel? Quando um dos Lancaster avisasse de repente que Amanda tinha voltado, enquanto eu estava aqui aguardando seu tempo para conversamos, pensando que ela estaria talvez no hotel junto deles, ou sei lá, então quando me avisassem eu ficaria com que cara?

 

-- Eu sei que ela errou, mas não alimente mais esses sentimentos ruins dentro de você, não te fará bem, você a ama e agora esta machucada e tem todo direito e razão, mas esfrie a cabeça.

 

 

 

A intensidade das lagrimas que saiam dos olhos verdes aumentaram junto delas alguns soluços audíveis, sofríveis.

 

Rachel não entendia mas as vezes ela era tão manteiga, e esse era um momento. Via tanto sofrimento naquela cena que seu coração se comprimiu e começou a crescer uma vontade de acompanhá-la no choro, mas não podia, Júlia estava destruída para sofrer sozinha.

 

A puxou com delicadeza pelo mesmo braço que tinha tocado instantes anterior e a envolveu em um abraço que a outra retribuiu aconchegando-se e apertando-a forte.

 

 

 

-- Vai ficar tudo bem – sussurrou tentando consolá-la diante daquele abraço forte e das lagrimas da outra que parecia aumentar – Parece que não, mas vai ficar tudo bem, confia em mim...

 

 

 

Cada soluço rasgado que saia da garganta da outra que estava em seus braços a fazia sentir vontade de chorar a acompanhando.

 

Era triste.

 

 

 

-- Eu sei que não sou a melhor pessoa para estar aqui nesse papel, e nem a mais indicada, mas eu to aqui por você Júlia, shii, vai ficar tudo bem – acariciou seus cabelos ainda sustentando o abraço e sentindo a outra a apertar mais.

 

 

 

Engoliu um gemido que quis lhe escapar pelo aperto mais forte que recebeu, tinha certeza que Júlia precisava daquilo, era um desabafo.

 

Há quanto tempo ela não se permitia chorar assim?

 

 

 

Andou devagar com ela em seus braços ainda presa no choro, sentou-se com cuidado trazendo-a junto de si.

 

 

 

-- Fica aqui – pediu baixo quando a loirinha tentou se afastar, não deixando.

 

 

 

Júlia não queria, mas estava frágil.

 

Deixou-se abraçar por Rachel e ser guiada para sentarem ainda naquele abraço apertado.

 

Era diferente.

 

Aquela situação toda era diferente.

 

Mas era bom, uma boa sensação. O abraço de Rachel era acolhedor, jamais imaginou uma situação assim.

 

Ela lhe confortou e as lagrimas pareciam não querer diminuir.

 

 

 

Rachel então se ajeitou um pouco na cama esticando suas pernas nela e encostando suas costas na cabeceira afastando-se assim um pouco de Júlia.

 

E a loira a olhou com aqueles olhos molhados como se a vergonha tivesse a tomando pelo momento.

 

Via ainda lagrimas pesadas despencarem daqueles verdes que agora estavam mais verdes ainda.

 

 

 

-- Vem aqui – chamou de uma forma que expressou carinho.

 

 

 

E Júlia precisava tanto de carinho.

 

Estava cansada de ser forte, cansada de tentar ser forte.

 

Decidiu que agora, só agora queria ser fraca, queria ser acolhida.

 

Seguiu pela voz carinhosa que lhe chamou e deixou-se envolver novamente nos braços de Rachel.

 

 

 

-- Ai – resmungou Rachel fazendo-a se afastar – é que ainda dói, vem aqui devagar.

 

-- Desculpa – disse diante do nó na garganta que queria impedir sua voz de sair.

 

-- Shii, vem cá – puxou-a novamente dessa vez a confortando de forma que não lhe machucasse.

 

 

 

Então Júlia se permitiu ficar ali, precisava estar ali.

 

As lagrimas que saiam molhavam a pele e roupa de Rachel, e esta acariciava seus cabelos com uma de suas mãos enquanto o outro braço estava envolta de suas costas a segurando firme, como se mostrasse que não a deixaria cair.

 

Júlia precisava disso, pois se fosse ela no lugar da loira precisaria.

 

 

 

Não soube dizer quanto tempo ficaram ali daquela forma, só sentiu aos poucos o choro de Júlia diminuindo e mesmo assim manteve o aperto do abraço e os carinhos que lhe eram feitos nos fios loiros, as palavras carinhosas de que daria tudo certo também continuavam a ser sussurradas, até que a garota de cabelos castanhos percebeu que a outra não chorava mais, pois tinha adormecido em seus braços.

 

Resolveu deixá-la assim, quando olhou para porta e viu Manuela entrando e as encarando com um olhar que não encarou nada bem.

 

Antes mesmo que a garota falasse algo fez sinal de silencio levando o dedo na boca da mão que acariciava os cabelos de Júlia.

 

 

 

 

 

 

 

...   ...   ...   ...   ...

 

 

 

 

 

Manuela quando enfim tinha acalmado seus sentimentos que gritavam dentro de si de forma desordenada resolveu por fim retornar ao quarto e tentar conversar de forma calma com Rachel, destinada a fazê-la lhe ouvir, mas assim que entrou no quarto vendo a cena de Rachel com Júlia nos braços , sentiu seus planos de tentar se acertar com a garota de cabelos castanhos indo por água a baixo.

 

Seria possível?

 

Preparou-se para soltar um desaforo que cresceu dentro de sua garganta quando teve um sinal de silencio sendo pedido por Rachel, e antes que pudesse mandá-la pro inferno a viu chamando com um gesto de mão para que se aproximasse.

 

Engoliu aquela vontade de explodir com aquilo que via e se aproximou em passos duros, sabia que sua cara não era uma das melhores, e que nem poderia ter esse tipo de crise, porem perdeu o controle de seus sentimentos em algum momento naquela viagem.

 

Já nem se entendia mais.

 

 

 

-- O que esta acontecendo? – perguntou em um tom seco.

 

-- Fala baixo – Rachel pediu ainda segurando Júlia da mesma forma – Júlia? Júlia? – chamou baixinho para ver se a garota acordava, mas não teve nem reação – Ela dorme feito pedra – continuou falando baixo deixando um sorriso a mostra.

 

 

 

Manuela estava cada vez mais enfurecida, tinha vontade de gritar com as duas.

 

 

 

-- Manu, pega meu celular por favor – mantinha a voz baixa.

 

 

 

Manuela respirou fundo e engoliu ser nervoso mais uma vez fazendo o que a outra pediu.

 

Assim que entregou o objeto para a outra a viu desbloqueá-lo e vira-lo para si.

 

 

 

-- O que é isso?

 

-- Leia que você vai entender o que esta acontecendo aqui.

 

 

 

Manuela então tomou-lhe o celular de sua mão sem paciência alguma, o que provocou um sorriso no rosto da outra que tentou disfarçar.

 

Ela estava com ciúmes.

 

Era claro que estava, até ela estaria se as visse assim e com toda certeza não teria feito silencio coisa alguma nem que ela lhe implorasse, sabia que chegaria já fazendo escândalo. Porque Rachel era assim, ao mesmo tempo que calmaria era tormenta.

 

Poderia ser leve uma hora e intensa no segundo seguinte.

 

 

 

-- O que isso? – Manuela perguntou apenas para ver se entendeu bem.

 

-- Amanda foi embora e Júlia se desfez – disse mais baixo ainda.

 

-- Como ela foi embora? Eu não estou entendendo – perguntou também com a voz baixa.

 

-- Saberia de tudo se não estivesse se agarrando com aquela garota ontem – respondeu com desgosto e Manuela balançou a cabeça negativa, não queria aquele clima de novo, Caroline de novo não, precisavam esclarecer as coisas.

 

-- Rachel...

 

-- Amanda terminou com Júlia ontem, e eu não vou te contar mais do que isso pois quem tem que te dizer isso é ela, agora Amanda foi embora e sua amiga esta despedaçada.

 

-- Eu não estou entendendo, como isso aconteceu?

 

-- Vai ter que perguntar isso a Júlia quando ela estiver melhor, mas no momento ela esta bem frágil, então apenas não insinue nada que a machuque mais – pediu seria e a viu mudar a expressão para de culpada.

 

 

 

Rachel tinha captado seu descontrole em um ciúmes realmente infundado como Júlia lhe falará mais cedo.

 

Nem soube como pode pensar tal coisa, sentiu-se culpada por estar pensando coisa errada tanto de Rachel como de sua amiga, culpada de nem poder ter ajudado a loirinha, pois realmente como Rachel jogou em sua cara, estava ocupada com Caroline ao invés de estar junto de sua amiga como foi o objetivo de terem acompanhado a loira até ali naquela viagem. Era para estar apoiando-a.

 

 

 

-- Me desculpe – pediu baixo encarando o lençol.

 

-- Por mim esta desculpada pela insinuação, agora peça isso depois para ela.

 

-- E como isso aconteceu? – Manuela perguntou apontando para as duas abraçadas.

 

 

 

Sua curiosidade se fez presente, pois nunca imaginaria uma cena como aquela.

 

 

 

-- Por isso – afastou de leve os cabelos da loira que estavam em seu rosto onde ainda havia um caminho molhado pelas lagrimas. Manuela também pode ver a camisa de Rachel molhada.

 

-- Mas o que...! – exclamou baixinho se aproximando das duas e tocando o cabelo de Júlia com carinho.

 

-- Manu – pediu mais baixo vendo a garota se aproximar para ouvir então ergueu um pouco o rosto quase encostando a boca no ouvido dela – Ela vai precisar de você, quando te explicar tudo, você vai entender que as coisas estão pesadas demais para ela.

 

 

 

Manuela concordou em um acenar de cabeça e sentou-se do outro lado da cama.

 

 

 

 

 

...  ...   ...  ...   ...

 

 

 

 

 

Rachel adormeceu naquela posição onde os braços relaxaram e já não estavam mais envolta da loirinha e um pouco tempo depois Júlia despertou.

 

Olhou para o lado e viu Manuela, piscou algumas vezes e olhou sua posição assustando-se pois dormira junto de Rachel.

 

Afastou-se de pressa e encarou Manuela que a olhava.

 

 

 

-- Manu eu posso explicar...

 

-- Explicar o que Júlia se eu já estou vendo tudo? – não podia perder a oportunidade e escondeu o riso com a feição assustada da loira.

 

-- Não é o que você ta pensando Manu, eu nunca... não!

 

-- Então o que? Vai dizer que não estava dormindo nos braços dela?

 

-- Manuela não! Estava...

 

-- Estava ou não?

 

-- Estava mas não desse jeito, não!

 

 

 

Manuela deixou escapar o riso começando uma leve gargalhada fazendo Júlia encará-la confusa.

 

 

 

-- Por que esta rindo? Olha a Rachel só me ajudou, não esta acontecendo nada entre nós...

 

-- Eu sei Júlia – continuou rindo e fazendo a loirinha encará-la confusa – Rachel me conto por alto que você precisou dela, você quer me contar tudo certo?

 

 

 

Júlia respirou com alivio

 

 

 

-- Por que fez isso?

 

-- Você devia ter visto sua cara – riu mais um pouco pra depois ficar seria – o que aconteceu gatinha?

 

 

 

Júlia preparou-se para contar quando ouviram outra voz.

 

 

 

-- Vocês falam alto demais – Rachel resmungou já acordada e se ajeitando devagar.

 

 

 

As duas se desculparam e Júlia começou a contar agora já mais calma o que tinha acontecido desde a festa até ali.

 

Manuela ouvia tudo e pensou que sua amiga choraria novamente, porem ela não fez e mesmo assim Manu sentiu vontade de esganar a ruiva.

 

 

 

-- Eu te falei pra não se envolver com ela Júlia – Manuela começou e Rachel logo a interrompeu intercedendo por sua amiga.

 

-- Não vamos chutar cachorro morto esta bem Manu? Júlia não ta bem com tudo isso, não precisa jogar na cara dela o que deveria ou não ter feito e nem que você avisou, e muito menos nesse tom pois Amanda não esta aqui para se defender.

 

-- Mas tem você para defende-la pelo visto – respondeu contrariada e irritada com a ruiva. Rachel decidiu não responder o que realmente queria.

 

-- Estou do lado da sua amiga se ainda não percebeu, por que eu sei bem me posicionar do lado que me parece mais correto, porem nem por isso preciso crucificar o outro lado, estamos de fora podemos entender ambos os lados.

 

 

 

Júlia se mantinha calada, as palavras de Rachel soavam para si tão erradas e ao mesmo tempo tão certas.

 

No momento estava machucada e sentia vontade de ver apenas o seu lado, mas sabia muito bem que a outra tinha razão.

 

 

 

-- Me desculpem meninas – Manuela pediu se aproximando de Júlia – Vem aqui, vai ficar tudo bem, eu to com você – a abraçou puxando-a para si da mesma forma que Rachel tinha feito.

 

-- Eu sei – Júlia respondeu um pouco contente, gostava do cuidado que a amiga sempre demonstrou ter consigo, era recíproco.

 

 

 

Não entendia, mas viu em Manu uma parte de sua família, era como uma irmã, aquele carinho e cuidado que nunca teve com nenhuma de suas irmãs, a não ser Paul.

 

 

 

Rcahel achava bonito aquele carinho.

 

Se antes existiu ciúmes, hoje enxergava um carinho bonito entre as duas.

 

Sabia que as coisas iriam se acertar.

 

Precisava falar de forma seria com Amanda.

 

 

Fim do capítulo