A fortiori por Bastiat
Capítulo 12 - Patrícia
Patrícia
Doeu.
Doeu muito ouvir aquilo. Só existe um significado: eu não faço parte dessa família. A Laura não me quer ao seu lado, ela me quer apenas na sua cama.
Eu pensei que conquistando a Marina como estava acontecendo, a minha entrada na vida da Laura seria definitiva.
De coração partido, juntei todas as minhas forças e consegui dizer:
- Desculpe-me, eu não queria me meter na vida de vocês. Melhor, não se preocupe que a partir de agora eu jamais farei. Estou fora.
Eu queria mesmo era gritar, falar tudo que estava sentindo, perguntar se ela não me achava ser suficiente para a vida dela. Onde eu errei?
Pensei diversas frases para serem ditas, porém a única coisa que eu consegui fazer foi andar até a porta e sair.
Laura
O que eu fiz? Patrícia está terminando o namoro? Mais uma vez eu estraguei tudo? Onde eu estava com a cabeça? A Patrícia só fazia me amar e eu só a machucava. Eu a amo? Amor mesmo? Sou capaz disso um dia? Não sei. Mas eu gosto dela. Me sinto bem ao seu lado. A gente se dá tão bem!
Assim que caiu a ficha do que estava acontecendo, olhei para a sala me vi sozinha. Subi as escadas correndo, bati na porta do quarto da minha filha e entrei logo em seguida.
Além de ter sido uma idiota com a Patrícia, gritei e perdi o controla com a Marina. Isso nunca pode acontecer! Nunca! Eu prometi que cuidaria dela.
- Meu bem, desculpa. Eu não deveria ter gritado com você, muito menos ter desconfiado.
Ela permaneceu muda.
- Você realmente gosta da Patrícia, não é? Eu sei que gosta agora. Agradeço tanto por ter mudado de atitude. Viu como sua mãe pode ser boba às vezes?
- A Pati é legal.
- Então me desculpa? Eu prometo que trago a Patrícia de volta. Desculpa a sua mãe?
- Está tudo bem.
Corri para o meu quarto e fiquei ligando para o celular da Patrícia. Ela não atendia. Não desistirei tão facilmente, não mesmo. Não vou cometer os mesmos erros novamente.
Patrícia
Cheguei na minha casa arrasada pois não queria terminar com a Laura. Entretanto, para mim já está bem claro: não faço parte da vida da Laura como eu imaginava. Nunca fiz e nunca farei. Quando eu pedi para viajar com elas para Londres, Laura não quis de jeito nenhum e nem se deu o trabalho de dar uma desculpa. Fiquei chateada, mas deixei passar já que a Marina não gostava muito de mim.
Em meio ao choque de realidade, lembrei-me do dia em que eu achei que tinha conquistado o seu coração:
" - Me dá uma chance de te amar? Vamos oficializar um namoro.
- Patrícia... não estamos bem assim? Você vem aqui, nossa conversa é boa, nosso sex* é maravilhoso.
- Eu não quero só sex*! Por que você não permite ser amada?
- Eu não sou amável.
- Você é maravilhosa.
- Você não entende.
- Esquece se alguém te machucou. Eu não sei o que aconteceu para você se fechar assim e não quero que você se sinta obrigada a me contar por agora. Um dia, quando quiser, estarei ao seu lado para te escutar. Só quero que você entenda que eu sou diferente. Se você me entregar o seu coração, cuidarei com carinho. Não tenha medo. Pode não durar uma vida toda, mas que sejam 2 meses ou anos que façam marcar a vida uma da outra.
- Sem cobranças e pressão?
- Sem cobranças e pressão.
- Então eu aceito ser sua namorada."
Fico agora me perguntando o que fizera com que a Laura fosse assim. As únicas coisas que eu sei sobre ela é o seu nome, que ela é natural do Rio de Janeiro. Sei também coisas óbvias, como antes de se mudar para São Paulo morava em Paris, é jornalista, tem uma filha e um amigo.
Não importa. Não importa mais.
"Eu não sou amável", a frase ficou na minha cabeça. Como alguém pode não ser amável? Aquela mulher não pode ter feito nada de errado. Só existe esse coração machucado está exposto no fundo dos seus olhos que aparece em seus momentos de introspecção.
Ah, Laura! Tínhamos tudo para dar certo.
" - Eu trabalho demais, não é mesmo?! Você nem reclama, Patrícia.
- Vou reclamar por quê? Eu também trabalho pra caramba e ainda por cima viajo. É natural isso, somos mulheres workaholic e isso não é nem nunca será incômodo para mim."
E não era mesmo! Parecíamos ser feitas uma para a outra.
Peguei meu celular, olhei as várias chamadas perdidas, notei que tinha mensagens de texto e voz dela. Ignorei todas.
Cliquei na galeria de fotos e contemplei as nossas fotos. Entonei uma canção:
- Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós, gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém...
Enxuguei as lágrimas. Meu celular voltou a tocar e atendi.
Laura
Eu já perdi a Camila e agora estou perdendo a Patrícia.
Não posso comparar as duas. A Camila é o amor da minha vida. A Patrícia é uma pessoa incrível que eu dei a sorte de encontrar mesmo depois de tudo. A vida parece me dar uma segunda chance e de novo estou desperdiçando.
Eu quero amar a Patrícia como amei a Camila. Às vezes chego a pensar que combino muito mais com ela. Era bom chegar em casa, ouvir ela falando do seu trabalho e eu falar do meu. Ela raramente faz alguma cobrança, nosso relacionamento é tão leve. Pelo menos foi até hoje.
Abri a gaveta, afastei as minhas roupas e peguei uma foto do meu casamento com a Camila. Era a mesma que estava no porta-retratos que joguei no fatídico dia em que minha vida virou o que é hoje.
Peguei o maço de cigarros, o isqueiro e a foto. Levantei-me sentindo o peso de anos de culpa nas minhas costas. Cheguei na varanda, coloquei o maço de cigarro sobre uma mesinha e só fiquei com a foto e o isqueiro nas mãos.
- Eu estou deixando você de vez, Camila. Não tenho mais esperança de te reencontrar. Também não tenho coragem de voltar. Desculpe-me, mas vou seguir a minha vida, construir um novo amor.
O isqueiro aceso encostou na foto, Aos poucos a foto foi se desfazendo. É hora de seguir em frente.
Acendi um cigarro e liguei para a Patrícia.
- Oi - sua voz é de choro e cansaço.
- Patrícia, não desliga.
- Não vou desligar.
- Desculpe-me pelo que eu disse. Você pode vir aqui para conversar?
- Acho que não é uma boa hora, estou chateada. Deixa as explicações para lá, você nunca me prometeu nada. Eu... eu entendi perfeitamente o que você disse.
- Não. Você entendeu tudo errado. Por favor, só uma chance, só uma conversa.
- Outro dia eu passo aí e conversamos. Boa noite, Laura.
Ela desligou o celular.
Olhei para as cinzas da foto, limpei rápido como se isso fosse me fazer apagar o passado, Sei que não posso. No momento o poder que tenho é viajar para o Rio de Janeiro, encarar o meu passado e acabar com o que resta da minha vida ou finalmente seguir em frente. A primeira opção está mais perto da minha covardia e a segunda próxima a minha coragem.
Peguei as chaves do carro, caminhei até o quarto da minha filha.
- Marina, meu amor, vamos sair.
- Mas está tarde e eu já vesti o pijama.
- Vai de pijama mesmo. A felicidade nos espera.
Não dei mais tempo para as argumentações da Marina e seguimos em direção ao apartamento da Patrícia.
O sono da pequena a fez dormir no meio do caminho. Tive que a carregar no colo quando estacionei o meu carro na frente do apartamento e isso ajudou na hora de implorar para o porteiro que me deixasse subir sem avisar.
Toquei a campainha com certo desespero e aguardei por ela.
Sua cara de surpresa boa fez com que eu tivesse a certeza de que fiz o certo.
- Ela está pesada Patrícia - apontei com a cabeça para a Marina no meu colo.
Assim que ela me deu passagem, corri na direção do quarto dela e acomodei minha filha lá.
- Você é uma irresponsável, uma louca! - Patrícia disse quando eu voltei para a sala.
- Eu não podia deixá-la sozinha.
- Eu não disse que eu conversaria com você outro dia?
- Desculpa, mas eu não posso arriscar te perder para sempre. Foi uma burrice, Patrícia. Eu nunca deveria ter dito aquilo. Você faz parte das nossas vidas, faz parte da minha vida. Você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos.
- Mas não sou a dona do seu coração.
Não, ela não é a dona. Mas eu faria de tudo a partir de hoje para ser.
- Eu te amo.
Patrícia ficou surpresa com as palavras. É a primeira vez que digo isso para ela. Mordeu o canto do lábio inferior e suspirou.
- Sim, eu amo você, Patrícia.
Não é verdade e nem mentira. Amo sim, como amiga e companheira. Não é o maior amor do mundo, mas é amor.
Seu sorriso alargado no seu rosto não deixou por menos. O beijo que consegui logo em seguida pareceu ter selado a paz.
- Eu também te amo, muito. O que eu faço com você, hein?! Por que te perdoo tão fácil assim?
Juntei as nossas mãos e beijei cada uma dela antes de dizer:
- Tenho uma proposta para te fazer.
- Diga Laura.
- Você quer morar comigo e com a Marina?
- Laura?
- "Pode não durar uma vida toda, mas que sejam 2 meses ou anos que façam marcar a vida uma da outra" lembra? Não sabemos se vai durar, mas podemos tentar. Eu estou disposta a tentar e você?
- Quem é Laura?
- Como assim? - Dei um sorriso sem graça.
- Eu não sei quem é você. Quem é você, Laura? Enquanto pensava no que aconteceu, me dei conta de que não sei quase nada sobre você, sobre o seu passado. Nada. Namorar com você parece ser meu destino porque te amo, mas morar não me parece certo. Não sem saber com quem estou juntando a minha escova de dentes.
- Achei que isso não importasse. Deixa meu passado lá onde está. Bem lá atrás.
- Você nasceu no Rio de Janeiro, certo?
- Sim, isso você já sabe.
- Você tem família lá? Parentes?
- Patrícia...
- Você tem mãe? Pai? Eles estão vivos? Uma irmã ou um irmão? Talvez irmãos? Vários? Uma família grande?
E agora? Se eu falar quem são os meus pais, ela vai descobrir quem eu sou.
- Tenho.
- Tem o quê?
- Tudo.
- Pais e irmãos?
- Sim.
- E eles moram no Rio ou na França?
- Laura... - minha voz falhou.
- O que tem o seu nome?
Respirei fundo e ao soltar o ar o que eu queria falar veio de uma só vez:
- Laura Neves Dopollus.
- O que isso tem... - ela arregalou os olhos entendendo o que significava aqueles sobrenomes - Dopollus? Neves Dopollus?
- É.
- Você então é parente...
A morena logo entendeu.
- Sim.
- Sim?
- Sim. Sou filha dos jornalistas Andreia Neves e Carlos Dopollus - confirmei de vez.
- Caramba - foi a única coisa que ela conseguiu falar.
Dei um tempo para ver se ela falaria alguma coisa e nada. Ela parecia não acreditar ou não querer acreditar.
- Pois é... - Comecei tentando quebrar o meu silêncio.
- Por que você esconde isso? - Ela perguntou depois de despertar do susto. - É por isso que todas as notas fiscais foram no nome do Sérgio? Os e-mails? Tudo?
- É complicado, Patrícia.
- Vocês são brigados? Você e seus pais, no caso.
- Sim. Mas eu não me sinto preparada para contar isso...ainda.
Ficou um silêncio para a compreensão.
- Laura, é por isso que eu tenho essa sensação de que te conheço. Você foi repórter? Eu lembro de você. Sim, você era repórter. Laura, as suas marcas pelo corpo são daquele famoso atentado, não são? Se não me engano, um prefeito mandou te matar. Eu tenho uma vaga lembrança da época. Você está diferente, mas reparando bem, não tenho dúvidas.
Fiquei em silêncio. Até onde minha vida estava exposta? Será que ela sabia da Camila? Não, impossível, minha vida pessoal sempre foi segredo.
- Tem alguma ligação o seu atual anonimato, o atentado, a sua ida para a França e a briga com os seus pais? - Ela perguntou tentando ligar os pontos para saber mais sobre mim.
E agora? Eu poderia falar que não, mas um dia ela teria que saber a verdade.
- Sim, de certa forma. Mas não é só isso - fiz um carinho no rosto dela. - Um dia eu vou contar tudo para você, mas não hoje, não agora. Você me entende, não é?
- Acho que sim. Eu acredito que suas razões foram fortes o suficiente para as coisas serem como são hoje.
Patrícia
Laura se encontrava sentada no sofá com a cabeça baixa tentando segurar as lágrimas. Acolhi o seu corpo em meus braços numa tentativa de amenizar a dor que ela estava sentindo. O que ela fez foi desabar e chorar.
Seja lá o que tenha acontecido, notei que isso a machucava. Eu nunca tinha estado com uma Laura tão vulnerável. Acho que consegui quebrar uma espécie de barreira.
Estou sentida por ela e ao mesmo tempo radiante pela oportunidade construir uma vida ao lado dela.
- Ei, não chora. Está tudo bem. Eu estou do seu lado e tudo se resolverá com o tempo.
- Eu não mereço você.
- Não diga isso, não se puna mais pelo passado - sorri e levantei a cabeça dela para olhar nos teus. - Ainda temos algumas malas para arrumar já que vamos morar juntas.
- Então você aceita?
- Mas é claro! Eu tenho passado tanto tempo na sua casa que já até considero a minha casa também.
Amar é uma coisa esquisita, até duas horas atrás estava tudo acabado, agora eu vou morar com a Laura.
Peguei sua mão direita e juntas entramos no meu quarto.
Uma hora e meia foi o tempo que gastamos para colocar absolutamente todas as roupas em grandes malas. É, de fato, uma mudança.
- Nossa, quanta roupa! Pensei que não íamos terminar hoje - Laura disse fechando a última mala.
- Eu te falei que podíamos pegar tudo amanhã - balancei a cabeça rindo e olhando a minha cama. - A Marina dorme como uma pedra, mesmo com barulho não acordou.
- Essa é a última mala mesmo? Desce com ela que eu vou com a Marina no colo.
- Está bem.
Enquanto Laura partia com a filha nos braços, despedi-me do meu apartamento. Me jogar assim em uma mudança radical pode parecer loucura. Algo me diz que é a coisa certa a se fazer. Algo que se chama amor.
...
Chegamos na, agora, minha casa e já passava da meia noite.
- Vamos arrumar todas essas coisas amanhã, estou cansada - Laura aproveitou a minha distração para atacar o meu pescoço.
- Cansada para umas coisas, mas pelo visto para outras não.
Nos amamos no que para mim seria o primeiro de muitos dias de casadas.
Verônica
Repentinamente a babá da minha irmã pediu demissão. Para mim ela tinha uma paixão incubada pela Camila. Há dias eu percebia que ela já não trabalhava mais com alegria e tentava se aproximar da patroa tentando flertar. Como viu que não teria a menor chance, caiu fora.
Agora eu tenho que trabalhar em casa para cuidar da minha sobrinha, enquanto a minha irmã está trabalhando fora. Eu não reclamo porque adoro cuidar da Diana que é como uma filha para mim.
Olhei para a folha na minha mão e não gostei do modelo de roupa que eu tinha acabado de desenhar. Logo amassei, fiz uma pequena bola com o papel e deixei de lado.
Sou uma estilista renomada e tenho minha própria marca, a 'Vero S'. Lutei muito para ser reconhecida e hoje sou realizada na minha profissão. Podia me dar ao luxo de trabalhar em casa como hoje. Considero até uma miniférias e preparativos para o carnaval que estava quase batendo na porta. Tão bela, minha Portela. Sempre ajudo nos desenhos, mas nunca me dediquei ao desfile em si. A famosa falta de tempo do mundo dos negócios.
Eu, particularmente, não gosto de saudar o passado. Mas hoje especificamente lembrei dos momentos difíceis que a minha irmã passou.
Ser deixada para trás pelo amor da sua vida e ela ainda sumir com uma de suas filhas não deve ser fácil. Ainda bem que nunca amei. Até tento, sempre quis me apaixonar, mas nunca consegui. Vai ver o amor não é para mim. Pensando bem, era até bom, a Camila parece sofrer até hoje. Daquela Camila brincalhona, alegre, de bem com a vida e divertida, só sobrou uma mãe zelosa e 100% dedicada a casa. Sua vida é da casa para o trabalho, do trabalho para casa. Ela não sai, não tem amigos, apenas os colegas de trabalho. Sua aparência se tornou séria e suas palavras eram sempre carregadas de sofrimento. O tempo tornou a minha irmã uma pessoa amarga.
Assim que toda a situação estava consolidada, quando nos demos conta de que a minha ex-cunhada não retornaria, vim morar com a Camila para acudi-la em tudo que precisasse. Enxugava as suas lágrimas, fazia carinho até ela pegar no sono e conseguir dormir, e praticamente estou ajudando na criação a minha sobrinha querida. Confesso que não me vejo mais morando longe delas.
Pensei agora no quanto minha irmã é forte. Acho até que ela consegue lidar muito bem com tudo que passou. As suas atitudes de revolta e os choros foram normais perante a tragédia de ter uma filha perdida no mundo. Eu no lugar dela já teria sucumbido à tristeza profunda. A Camila não. Ela sempre chorava à noite e no outro dia estava linda apresentando o jornal ou cuidando da Diana com carinho. Depois de três anos vendo aquela rotina parada dela, coloquei na cabeça que ela tinha que continuar a vida e apresentei uma modelo amiga minha. Uma péssima ideia. Acho que ainda estava muito cedo para um envolvimento. Ela não é igual a mim que olha uma bela garota e só pensa em sex*. Camila conhece a pessoa, apaixona-se e casa. Só espero que ela conheça alguém que a tire dessa solidão.
Olhei para o relógio e estava tarde, resolvi acordar a minha sobrinha.
Marina
Enquanto eu saía do quarto da Diana, não contive a curiosidade ao passar em frente a porta do quarto da Camila e entrei.
O quarto é enorme, fiquei admirando os detalhes até os meus olhos caírem sobre um porta-retratos. Era uma foto da Camila grávida. Sua barriga estava enorme, suas mãos pousavam sobre ela e ostentava um sorriso que parecia mais um riso.
Outro porta-retratos era ela e a Diana bebê. Do lado tinha outro retrato dela com a mesma bebê, porém notei que a minha cópia estava com outra roupinha, embora a sua mãe estivesse com o mesmo vestido.
Peguei o porta-retratos da Camila grávida e tentei forçar minha mente para me lembrar se minha mãe tem uma foto assim.
Minha mãe não tem uma foto minha na barriga dela! Não que ela tenha me mostrado.
- Ufa, achei você.
Pulei de susto, como se tivesse sido pega em flagrante comendo doce escondida.
- Eu que levei um susto.
Fiquei na dúvida se era Camila ou a tia Vero.
- Está fazendo o que aqui?
- Nada.
- E esse retrato da sua mãe grávida na sua mão?
É a Vero, sorri.
- Estava apenas olhando.
- Sua mãe ficou tão linda grávida.
Olhei para a foto e concordei com ela. Camila realmente é muito bonita.
- Tia Vero, tem uma amiga que a mãe dela nunca mostrou uma foto dela grávida. Não é estranho?
- É. Na verdade, nem tanto. Não sei. Talvez a mãe dela não quis tirar foto, ou talvez ela seja adotada.
- Adotada?
- É. Só não vá contar isso para ela, vai que ela não sabe ainda. Esse assunto pode ser delicado em alguns casos.
Será que eu sou adotada? Agora mais do que nunca eu preciso que descobrir.
- Di, tenho uma notícia chata para te dar.
- Fala.
- Sua babá pediu demissão, ela não vai cuidar de você mais.
- Uou, que bom.
- Bom?
- Eu estava enjoada daquela babá.
Ela deu risada e eu acompanhei.
- Eu pensei que você ia chorar.
- Ah não, tudo bem.
- Surpreendente essa sua reação. Mas o mais legal disso tudo é que até o fim do Carnaval quem vai cuidar de você sou eu. Só depois vamos correr atrás de outra babá.
- Que maneiro, tia!
- Só que eu vou trabalhar também. Peço um pouquinho da sua colaboração.
- Tudo bem, tia Vero.
- Sobrinha mais fofa que eu tenho! - Ela apertou a minha bochecha. - Vamos descer para você comer alguma coisa.
Deixei o porta-retratos no lugar e segui com a irmã da Camila.
Laura
Acordei procurando o corpo da Patrícia na cama e não encontrei. Abri os olhos e ela estava quase pronta para sair.
- Bom dia.
- Bom dia, amor.
- Vai sair?
- Sim, estou indo para o escritório e de lá vou para Curitiba. Business, my love.
- Volta hoje ainda?
- Pretendo, mas vou chegar bem tarde. Você vai para a redação hoje?
- Não, prometi à Marina que ficaria com ela até o final das férias.
- Ué, mas ontem você foi trabalhar. Voltou mais cedo, mas foi.
- Sim, mas ela não sabe.
- Amor, eu contei para ela.
- Patrícia, eu não acredito! É por isso que ela não está falando comigo, deve estar chateada.
- Amor, perdão. Eu não sabia dessa promessa. Mas ela é uma criança, é só compensá-la pelo dia furado.
- Como assim?
- Faça o que ela quiser hoje, passear, assistir TV, sei lá.
- Sim, claro! Já sei o que ela vai gostar de fazer.
- Ótimo. Ninguém a conhece mais do que você. Agora eu tenho que correr. Estou bonita?
- Você é e está maravilhosa!
- Obrigada.
Trocamos um beijo profundo e ela partiu.
Tomei um banho longo, fui até o quarto da Marina e não a encontrei por lá.
Desci as escadas e mais uma vez ela estava sentada no sofá com um olhar perdido.
- Bom dia, filha.
- Bom dia.
- Dormiu bem?
- Sim.
- Tenho novidades, vem ajudar no café da manhã que eu vou te contando.
O que era para ser um café da manhã normal, logo dei de cara com uma Marina que parecia perdida na cozinha. Eu pedia para ela pegar alguma coisa no armário e ela sempre perguntava em seguida onde estava o que eu pedi.
Balancei a cabeça para dissipar os pensamentos esquisitos que tentaram entrar e resolvi introduzir a conversa que quero ter:
- A Patrícia vai morar aqui em casa.
- Que legal!
- Sério? Tudo bem para você?
- Uhum.
- Que ótimo meu amor. Fico tão feliz com a amizade de vocês.
- Vocês vão se casar?
- Nos casar? Em que sentido, filha?
- Vestido, festa, trocar alianças. Como nos filmes.
- Não! - Eu já tinha feito isso e me arrepiei toda com a lembrança. - Vamos ter uma vida de casadas, mas não vamos oficializar. Vai continuar sendo como é, mas agora essa é a casa dela também.
- Entendi. Mas como as pessoas vão saber que vocês são casadas? Não tem que usar aliança?
Minha filha quer que eu use aliança?
- Quem vai se casar? - Sérgio adentrou a minha cozinha sorrindo.
- Que invasão é essa?
- A porta estava aberta.
Abracei o meu amigo com carinho.
- Até parece que você não tem a chave da porta.
- Então, não é invasão - ele olhou para a Marina. - Qual é? Não ganho um abraço?
A minha filha olhou o Sérgio de lado e não se movei no primeiro momento. No mínimo ela já estaria no colo dele, mas como ela está estranha, não me admirei com a atitude.
O que vi foi um abraço morno e um sorriso. Até o Sérgio estranhou.
- Ninguém respondeu. Quem vai se casar? - Ele voltou a perguntar.
- A Patrícia com a Laura. A Pati está morando aqui agora.
- Ah é, a Pati? Que novidade é essa?
- Pois é, surpresa!
- Surpresa mesmo.
Sérgio fez uma cara de que depois teríamos uma conversa.
Diana
Eu estava quase contando tudo. Quero voltar para casa. Quero a minha mãe, minha tia, minha babá, minha vida. Por mais que goste da Laura, tudo é muito esquisito aqui.
Aproveitei o final do café da manhã e deixei a Laura conversando com um cara que parecia ser muito amigo dela para em seguida subir para meu quarto.
Um tempo depois, após explorar o quarto da Marina mais uma vez, Laura bateu na porta e entrou.
- Marina, telefone.
- Quem é?
- Uma amiga sua. Acho que é Mariana.
Quem é Mariana? Quase pedi para não atender, mas a Laura desconfiaria.
- Alô?
- Diana, sou eu, a Marina.
- Ah, oi Mariana - sorri para a Laura enquanto ela se retirava.
- Pensei que seria descoberta, tive que mudar a voz.
- Pensei que você não ia me ligar mais.
- Desculpa, é que não tive como ligar. Alguma novidade?
- Sim, a Patrícia está morando aqui. É tipo uma espécie de casamento.
- O QUÊ? Diana, não! Não pode!
- Eu não pude fazer nada, ué. Marina, a Patrícia é legal!
- Ela não é legal. Mas quando eu chegar aí, resolvo! Você não podia ter deixado isso acontecer.
- Desculpa.
- Eu também tenho novidade. Você não tem mais babá, ela saiu.
- O que aconteceu?
Fiquei triste, eu gostava tanto da Bia.
- Eu não sei, a sua tia só disse que ela não trabalhava mais aqui.
Fiquei em silêncio pensando.
- Marina...
- Oi.
- Eu quero voltar para casa.
- Não, Diana. Temos que descobrir tudo.
- Marina, não tem nada de estranho. Só somos muito parecidas.
- Diana, nós somos iguais. As nossas mães ainda não notaram nada de diferente com a gente. Estamos enganando as nossas próprias mães!
- Eu tenho a impressão de que a sua vai descobrir.
- Sinal de que você não está fazendo um bom trabalho! Olha, vamos resolver isso até o fim do carnaval.
- Certo. Se você não descobrirmos nada, contamos.
- Fechado. Tem uma pergunta que você tem que fazer para a minha mãe.
- Qual?
- Se ela tem foto grávida.
- Por quê?
- Só pergunta e assim que tiver a resposta me liga.
- Está bem.
- Ótimo. Agora vou desligar, tchau.
- Tchau.
Como vou conseguir perguntar algo para a Laura sem que ela desconfie? Essa aventura está saindo de controle.
Fim do capítulo
É, Laura parece estar disposta a esquecer a Camila. Será que a Patrícia vai fazer com que a Laura se apaixone verdadeiramente por ela?
Marina é esperta e está achando pistas, será que ela descobre tudo antes de contar para a Camila depois do Carnaval?
Comentar este capítulo:
rhina
Em: 06/03/2019
O Amor.é um sentimento que nunca vou entender
Gostar .....vc gosta.....curte a pessoa
Amar.....vc.gosta.....Mas.este sentindo que dizem.chama Amor faz vc.diferente. ....faz.vc.acreditar.que tudo.é possível. ....faz.vc.vibrar....faz vc ter uma energia que não se explica.....faz.vc sonhar.....faz vc viver.....um.sentimento que não se explca ....ele.nasce e vc nem percebe. ....ele.toma posse.de vc é vc não entende que sentimento é este.....que em um.dia horrível basta uma simples mensagem da pessoa e tudo se transforma.....o.soorriso sai ....Largo. ....a.toa.....que puta de.sentimento é este.....Mas vc não entende este sentimento então preferi não acreditar que seja amor porque afinal a pessoa não acredita que vc possa ama lá. ....vc não tem.como provar pois nem vc se permite acreditar. ....e acreditar para quê, não é recíproco mesmo. ....vc.não é amada de volta.....a.saída é continuar acreditando que tudo foi um.engano.....talvez o.Ego se manifestando......
Rhina
mtereza
Em: 30/07/2017
A Diana não conhecia o Sérgio nunca viu ele que estranho pensei que a Laura de certa forma ia usar ele para pelo menos ter notícias da outra filha mais é como se Diana não existisse incompreensível isso
Resposta do autor:
A Laura tinha sim notícias da Diana, mas o Sérgio sabia de notícias dela através da Camila. Ele não chegava a ver a Diana. Em alguns capítulos ele falar mais sobre isso.
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 17/07/2017
Marina é inteligente e logo suas respostas será esclarecidas nao pelas mães mais acho que a Camila vai deixar o baú de fotos para uma garotinha muito curiosa pegar.
Espero que Patrícia não sofra com a Laura, ela parece ser uma ótima pessoa.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Sim, sim. Você acertou haha.
Sim, Patrícia é uma ótima pessoa e ao longo da história acho que você vai torcer muito para ela ser feliz.
Beijos.
[Faça o login para poder comentar]
Bia08
Em: 17/07/2017
Bom dia...
Eu conheci sua história ontem e não consegui parar de ler até não ter mais capítulos kkk
Situação muito difícil essa, pq tem muita coisa não dita e muitas atitudes que deixaram marcas doloridas. Eu até gosto um pouco da, Laura, mas até aqui ela se mostrou muito egoísta. E eu espero o melhor pra Camila ( pode ser até a Laura, mas ela vai ter melhorar muito, muito mesmo ).
Bjs e ansiosa demais já
Resposta do autor:
Olá! Isso é bom, fico contente hahahahaha.
Pelo menos você gosta um pouco dela hahahaha. Egoísta e de um passado bem complicado né? Olha como ela cresceu. Não estou tentando justificá-la, deixo isso para a continuação da história, ainda teremos vários capítulos para gostar ou não dela definitivamente.
Beijos, aguarde.
[Faça o login para poder comentar]
NovaAqui
Em: 16/07/2017
Marina é danada
Espero que ela descubra mais coisas
Acho que logo que Laura colocar os olhos em Camila já era Patrícia. Achismo de leitora kkkk
Não gosto da Laura. Ela é mimada e tudo tem que ser como ela quer. Camila poderia arrumar uma namorada, se assumir e desfilar como m ela por aí. E ainda poderia ficar grávida é contar o que aconteceu com ela sem dizer que é a Laura a ladra de bebê
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
"Não gosto da Laura", eu sabia que leria isso alguma hora!
Você é criativa hein? haha. Laura é uma boa pessoa, tenha um pouco de paciência.
Abs.
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]