Capítulo 42
-- Cristina, eu estou muito preocupada com Daniel.
-- Mamãe, quando saí ontem ele estava com você, trancada no quarto. – amarrou o cabelo que lhe caía pela face. - Achei melhor não incomodá-lo, afinal eu que havia pisado na bola. – disse assumindo toda a culpa e com um tom de dor.
-- Ele saiu horas depois, ainda discutiu com seu avô que estava com uma bolsa de gelo na boca... – pensou um pouco - Cristina você...
-- Não mamãe... – quase gritou - Eu não fiz nada, mas por respeito a papai. O Júnior quem lhe deu um soco. – sorriu.
-- Sendo assim, bem feito! – Ester falou com um ar de vitória e vingança.
-- Mamãe! – sorriu com o jeito de Ester – Agora quero saber como papai ficou.
-- Conversamos muito, e mesmo assim, ele ficou arrasado.
-- Mãe, ele ficou com raiva de mim, mas não quero isso eu...
-- Cris, seu pai a ama além do que você possa imaginar.
-- Não age assim muitas vezes. – não acreditava muito naquilo.
-- Ele age como um pai, para você aprender. Ele nunca lhe dá muitas chances aparentes, mas isso é para fazê-la crescer. – sorriu com tristeza – Ele sempre disse que você vai ser melhor empresária do que ele, por isso nem sempre concorda com suas ações, para que você busque os argumentos, e assim fique mais embasada nos negócios. – pegou nas mãos da morena. - Quando ele colocou Joaquim lá dentro, a pedido do seu avô, viu que seria uma excelente forma de lhe provocar.
-- Provocar?
-- Joaquim tem um ego imenso, logo ele iria querer passar por cima da sua autoridade, isso exigiria muito mais de você.
-- Não brinca que papai pensou nisso tudo?
-- Pensou filha, você é o maior orgulho dele.
-- Sou mamãe? Acho que eu era. – perguntou e ela mesma respondeu. – Eu magoei, joguei baixo... – olhou para mãe – Estraguei tudo.
-- Não estragou não. – passou a mão pelo cabelo negro – Minha filha, isso vai passar, essa dor vai amenizando com o tempo. – viu que Melissa iria falar alguma coisa e colocou um dedo em seus lábios – A dor vai sempre existir Cris, não vou mentir para você – sorriu – nosso acordo de sermos sinceras uma com a outra ainda está dentro da validade. Essa dor só vai amenizar, e quando alguma coisa lembrar Isadora, ela vai aumentar, latejar e seu coração vai sofrer novamente como se acabasse de acontecer tudo isso.
-- Mamãe, por que ela me deixou? Chantagem ou não, ela deveria ter conversado comigo. – abraçou-se a mãe chorando – Ela me deixou, isso dói muito... Muito mais do que eu consigo suportar. – Ester nunca tinha visto a filha desta forma, e aquilo cortava seu coração, e pela primeira vez, sentiu um misto de ódio e pena por Isadora.
-- Filha aconteceu alguma coisa, fato. Nós não podemos julgá-la por não ter sido forte o suficiente para enfrentar a situação ao seu lado. Em compartilhar com você. – ergueu a cabeça da filha e a olhou nos olhos – Seu pai quer que eu a leve para casa, quando tudo isso passar, você volta a seu ritmo normal de vida.
-- Não mãe, eu prefiro...
-- Shiii... Não estou convidando ou pedindo, estou cumprindo o desejo do seu pai, ele nos quer juntos neste momento, e ninguém melhor para apoiá-la do que ele, e o contrário.
-- Eu tenho os melhores pais do mundo. – permaneceu abraçada a mãe.
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-- Isadora? – perguntou o velho Eliezer com as mãos tremendo ao receber o telefonema da neta, quase três semanas após sua partida – Estamos morrendo de preocupação com você.
-- Não precisa vô, estou bem, infelizmente. – desabafou.
-- Por que infelizmente? Para onde você foi?
-- Vô, eu estou morando em Nova Iorque, consegui um bom emprego e no final do mês começa minha pós-graduação.
-- Como assim em Nova Iorque? Pós-graduação? Estou falando com a minha neta? Isadora?
-- Vovô, não torne as coisas mais difíceis. – lamentou segurando o choro.
-- Isadora que consideração você teve comigo? Com Melissa? Sabia que ela está em uma depressão profunda?
-- Vovô, por favor, não me julgue. – pediu começando a chorar.
-- Como posso não julgá-la quando você jogou tudo para o alto e abandonou sua vida, sua família e sua esposa? – demonstrou irritação na voz, era a primeira vez que ele gritava com a neta.
-- Não posso explicar, mas para mim não está sendo fácil vô, principalmente por não ter Melissa ao meu lado, ela deve me odiar. – lamentou novamente.
-- Odiar? Ela só faz chorar e pedir que você retorne. – tentou ser mais cauteloso – Isadora, por favor, retorne, eu temo o pior com Melissa.
-- Não fala isso vô, eu não posso... – decidiu demonstrar indiferença e forçar uma segurança inexistente, não podia falar a verdade para o avô, ele odiava seu pai e certamente o entregaria em troca da sua felicidade com Melissa. – Estou em um bom emprego, conhecendo gente que pode me ajudar na minha carreira... – segurou o choro – Vô se estivesse com Mel, continuaria a ser sua sombra.
-- Sombra? Do que está falando?
-- Preciso me fazer vô. Estou com a oportunidade de...
-- O amor que você sentia era uma mentira? Apenas a usou para morar em São Paulo e fazer sua faculdade?
-- Não faz assim vovô... – começou a chorar novamente.
-- Responda apenas isso e não lhe pedirei mais nada.
-- Vô...
-- Você a ama Isadora, por que minha filha? Por quê?
-- Não posso falar.
-- Ligue para Melissa, dê-lhe a opção de seguir ou não com você.
-- Não posso.
-- Minha filha, eu não poderei negar notícias suas para Melissa, o estado dela me dói muito, preciso dizer que você ligou e não mentirei se ela perguntar alguma coisa.
-- Não vovô, ela vai querer vir aqui.
-- Estou lhe dando a opção que você negou. – fez silêncio – Eu não prometi meu amor eterno a ela, mas me sinto no dever de lhe oferecer uma saída para o que está lhe matando.
-- Vovô me desculpe. – soluçou – Sei que não estou sendo a pessoa que o senhor espera, mas faço isso por uma boa causa.
-- Boa causa? Espero que Deus lhe dê um sinal de lucidez, sua boa causa está em uma depressão profunda, uma sombra de quem era.
-- Desculpe vô!
-- Ligue para me dar notícias, ou também deverei sofrer por conta desta “boa causa”?
-- Ligarei vovô. – ignorou a ironia. Isadora desligou e saiu sem rumo, pelas ruas da cidade que agora seria sua morada. Estava sozinha, sem apoio, sem esperança, mas o que lhe doía mais era não ter Melissa ao seu lado, e saber que estava lhe causando tanto sofrimento.
“Por que eu simplesmente não morro? Até para isso sou covarde!” – pensou sentando-se em um banco, coberto de neve.
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Eliezer cumpriu a promessa, e avisou a Melissa sobre o telefonema da loirinha. Ele chegou a pensar que a morena pegaria o primeiro voo para tentar persuadir sua neta a voltar, mas, ao contrário do que todos pensaram, ela se ergueu com a notícia, e no mesmo dia voltou a trabalhar, mesmo com o braço imobilizado. Enrico a levava e a pegava na empresa todos os dias. Era bem mais que um simples motorista, era seu melhor amigo. Ajudava-a até mesmo em decisões complicadas da empresa. A vida da morena, aos poucos, retornou sua rotina, e com ajuda de Júnior que permaneceu morando em seu apartamento, seu tempo era quase todo preenchido, somente à noite, quando se deitava na cama que dividia com Isadora, sentia a dor latejar, como Ester havia lhe explicado. Adormecia abraçada ao travesseiro da loirinha, era inevitável o choro que insistia em lembrara-la do quanto havia sido feliz, e que agora, era apenas uma sombra de si mesma.
Em uma dessas noites, em que era atormentada pela dor das lembranças, ouviu uma batida na porta e permitiu a entrada de Júnior.
-- “Tá foda né”? – perguntou sem jeito, encostado à porta. Melissa limpou o rosto e sentou na cama.
-- Eu não entendo o motivo, parece que ela tinha tudo premeditado.
-- Oh Mel, isso é coisa de cheque. – Melissa até esboçou um sorriso com a confusão do amigo entre “premeditado” e “pré-datado”. – Mas a Isa é superamiga, “tá ligada”? “Ela nunca que ia” deixar a gente assim, sem ter um motivo. Fica experta que nesse “iglu” tem caroço, semente, pedra e tudo mais. – a morena abriu os braços e chamou o jovem loiro até ela. Júnior se aproximou desconfiado, preparado para sair correndo caso ela resolvesse fazer algo.
-- Você é um irmão. – abraçou e depois lhe beijou. Ele ficou emocionado, e retornou o abraço.
-- E você é uma deusa! – afastaram-se e Melissa sorriu. – Quando menos pensar, isso vai ser que nem “lêndea” de Papai Noel, coisa de “adormecente”, tá ligada?
-- Estou sim. – sorriu. Júnior tomou coragem e deu um beijo no rosto da morena que retribuiu com um afago em seu rosto. – Agora vamos dormir. – colocou-o para fora, mas, antes ele parou segurando a porta e a olhou.
-- Posso lhe chamar de Mel, né? – estava receoso.
-- Pode Júnior. – esboçou um sorriso.
-- Posso chamar de meu potinho de mel, também? – a morena o olhou séria e ergueu uma sobrancelha, permaneceu com a mesma expressão de antes. – E se você deixar queria continuar com os sonhos exóticos e...
-- Júnior, melhor você ir dormir. – foi quase uma ordem, e o jovem entendeu, saiu apressado se atrapalhando para fechar a porta. Melissa deitou olhando para o teto e pensou na loirinha. – Sua herança atrapalhada é o que me faz ter momentos rápidos de alegria nos meus dias. – voltou a sentir a lágrimas molharem seu rosto. – Eu não consigo mais sentir alegria permanente.
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Isadora era uma pessoa agradável e fácil de conviver, sempre prestativa, cativou o coração de todos os seus novos colegas de trabalho, que admirava a forma doce e ética de conduzir todas as situações que lhe eram apresentadas. O seu editor chefe, um homem muito bonito, simpático e extremamente profissional ficou impressionado com todas as qualidades da loirinha, e logo demonstrou interesse em conhecê-la melhor.
-- Estou falando Isadora, tenho certeza que Adam está lhe paquerando.
-- Fran, primeiro, eu sou lésbica. Segundo, eu amo loucamente uma mulher, e sempre vou amá-la. Terceiro, meu avô me ensinou que de onde se tira o pão, não se come a carne.
-- Que coisa clichê, uai! – balançou a cabeça de forma afetada. - Tudo bem, mas tenha a certeza que ele “tá” caidinho por vossa excelentíssima alteza. – constatou de forma dramática.
-- Não Fran, por favor, não aguento ficar longe da minha família e da minha Melissa, agora você vem com mais coisa para minha cabeça?
-- Por falar em sua Melissa, você disse que seu avô contou para ela aonde vossa alteza veio morar, pensei que ela apareceria nesta porta no outro dia.
-- Sabe que também pensei isso? – respondeu surpresa. – “Estou aliviada ou triste por ela não ter vindo?” – pensou enquanto terminava seu chocolate quente.
-- Queria vê-la de perto, imaginei uma cena quente de cinema... – pulou do sofá para encenar - Ela chegando aqui, tomando-lhe nos braços e enchendo-a de beijos. – voltou a falar e fazer gestos teatrais, neste mesmo instante, a campainha tocou e os dois se olharam – Será que é ela?
-- Bobo! – Isadora respondeu com um sorriso nervoso – Vai lá abrir.
-- Sou o bobo e você quem morre de medo de abrir e vê-la aqui. – disse enquanto caminhava em direção à porta – Juro que viro hétero se ela me der bola. – abriu a porta e deu de cara com Adam.
-- Desculpe a hora Francisco. – falou o nome do rapaz de forma engraçada por causa do sotaque. – Posso falar com Isadora?
-- Cla...claro – olhou para a amiga, voltou a olhar para o editor a sua frente – Licença, já estava indo dormir. Boa noite.
-- Boa noite. – caminhou em direção a loirinha que lhe sorriu e fez um sinal com a cabeça para que se aproximasse. – Isadora, desculpe a hora, mas estava em casa e não conseguia dormir.
-- Insônia? Muitas preocupações? – sabia o rumo que aquela conversa tomaria.
-- Não... Quer dizer, sim... Na verdade os dois. – olhou os lindos olhos . – Na verdade estava pensando em você.
-- Em mim? Fiz alguma coisa de errado no jornal? – perguntou endireitando-se no sofá.
-- Não. Não mesmo, você para uma recém-formada e com o emprego conquistado por uma indicação é excelente profissional.
-- Desculpe Adam, mas me esforço ao máximo. – sentou-se ereta no sofá - Caso não esteja de acordo por ter conseguido o emprego através do conhecimento ou indicação de terceiros, sinta-se a vontade em me demitir. – estava com medo que isso acontecesse, afinal, como se manteria?
-- Não. – ficou confuso com suas próprias palavras – Não queria ser rude, foi indelicado de minha parte falar assim. – baixou a cabeça e levantou, voltando a fitar os olhos verdes – Na verdade, eu vim aqui para o contrário.
“Ah não! Penso em uma morena alta de olhos azuis e aparece um moreno alto de olhos azuis. Alarme Isadora, corte este assunto agora”.
-- Contrário? Quer me admitir em outro local? – sorriu com a única pergunta que veio em sua mente.
-- Infelizmente não tenho como. – sorriu – Isadora, o que me traz aqui é... Vim aqui para... – pausa para efeito e fechou os olhos - Para dizer que não paro de pensar em você.
-- Adam... – foi simpática segurando as mãos do homem, e, imediatamente pensou em uma saída para o momento. – “O que faço? Falo que não curto homem? Falo que sou apaixonada por Melissa? Droga! Como vou sair desta?” – neste instante, ouviram a porta do quarto de Francisco abrir e ele sair em socorro da amiga.
-- Isadora, ligação para você. – sorriu para o editor – É o amor da vida dela. – disse sorrindo com simpatia.
-- Meu amor? – perguntou atordoada.
-- Querida, corra logo, é do Brasil, Cristiano. – a loirinha entendeu e correu para o quarto do rapaz.
-- Ela é muito desligada! – brincou.
-- Engraçado, não ouvi o telefone tocar. – disse olhando o aparelho na mesa de canto.
-- Outra linha a do meu quarto... – explicou com um falso sorriso.
-- Por que outra linha e mesmo assim ele liga para seu quarto?
-- Antes era o quarto de Isadora, mas como vim morar aqui, e ela tem mais coisas do que eu fiquei com o menor, mas a linha permaneceu lá. – “Ótima saída, Francisco!” – pensou – “O almoço amanhã é por sua conta Isadora”. – Isadora ouvia a tudo do quarto e agradeceu pelo instinto de presença e agilidade do amigo.
“Fran, fico lhe devendo todas!” – pensou sorrindo.
-- Este Cris... Cris... – o sotaque o fazia enrolar um pouco a língua.
-- Cristiano. – auxiliou.
-- Sim, Cristiano é namorado dela?
-- Oh não, em absoluto. – “Eu mato Francisco” – pensou a loirinha estreitando os olhos enquanto ouvia escondida atrás da porta do quarto – Ele é o noivo dela.
-- Ele a deixou vir morar aqui tão longe, sozinha?
-- Ele é empresário, e sempre aparece, mas, infelizmente, por enquanto não pode ficar por muito tempo.
-- Não tem ciúme de você aqui, sozinho com ela? – tentava ler as atitudes do jovem jornalista.
-- Não. Cris é um cara muito legal, cabeça aberta e seguro de si.
-- Francisco você é gay? – perguntou, mas tinha certeza da resposta.
“Danou-se! Tento salvar uma e acabo eu mesmo me lascando!”
-- Será que sou tão óbvio? – recebeu um sim com a cabeça – Tem algum problema para você?
-- Não. – gesticulou com as mãos – Têm outros colegas de trabalho que também são gays lá no jornal. – sorriu – Não se preocupe. Eu só fico meio estranho quando são lésbicas.
-- Lésbicas? – demonstrou surpresa.
-- Sim, sei que soa preconceituoso, mas não consigo imaginar duas mulheres juntas.
-- Rapaz, certamente é um pouco de preconceito com um tico de machismo. – “abrasileirou” a frase para expressar o que realmente sentia, e foi à vez de Isadora sair e encerrar aquela conversa.
-- Voltei! Onde estávamos Adam? – olhou o amigo – Fran, que tal um chocolate quente?
-- Não precisa Isadora. – Adam dispensou. – Amanhã conversamos melhor.
-- Tudo bem com você? – fingiu não ter entendido – Nem conversamos.
-- Tudo bem, amanhã nós conversamos melhor. – olhou Francisco – Boa noite. – saiu. Assim que fechou a porta, a loirinha olhou o amigo e agradeceu.
-- Fran, eu fico devendo a você. – Isadora concluiu se abraçando ao amigo.
-- Ah, certamente, e vamos começar agora: massagem e depois cafuné.
-- Não explora! – sorriu.
-- Isa... – fez uma expressão séria - você ouviu o lance de ser lésbica?
-- Acha que saí por quê?
-- Ouviu todo o sinal de alerta amiga? – estava realmente preocupado - Ouviu toda a conversa?
-- Ouvi e agora sou noiva de Cristiano. – afirmou pensativa - Meu amigo de onde você tirou isso? – sorriu.
-- Queria ser noiva de Melisso? – sorriu, despertando gargalhadas na amiga que se deixou cair no sofá com a mão sobre o abdômen.
-- Figura! – jogou uma almofada no jovem e permaneceu sorrindo.
-- E se fosse ela que tivesse aparecido? – Isadora parou de rir e avaliou a questão por alguns segundos e fechou os olhos.
-- Eu me sentiria a pessoa mais feliz do mundo. – os olhos se encheram d´água - Ela nunca mais vai me procurar.
-- Como pode ter certeza disso?
-- Esqueceu que éramos melhores amigas antes de ficarmos juntas?
-- Ainda descubro o que lhe fez deixa-la, e acredite: neste dia eu mesmo resolvo essa história.
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-- Cristina, eu trouxe estes contratos para discuti-los com você. – falou ao entrar na sala da morena.
-- Discutir comigo? – estava surpresa – Desde quando você discute comigo suas decisões, papai?
-- Desde o dia em que os contratos se referem à compra de alguns cavalos para um haras que está abandonado.
-- Papai...
-- Não Cristina. Eu acho que terras sem utilidade só gera prejuízo, sendo terrenos, lotes, tudo bem, mas terras assim... – sentou-se na cadeira em frente à mesa da filha – Adiei esta conversa porque você não podia montar, mas agora que retirou aquela coisa... – fez careta ao lembrar o gesso – Podemos levar Imperador para lá e mais umas duas éguas. Quero montar com você e conhecer melhor aquela propriedade, decidiremos juntos sobre as raças que vamos criar. – sorriu – Então? Aceita a proposta de um velho pai?
-- Daniel, você sabia que é o melhor pai do mundo? – perguntou ao se levantar da cadeira e sentar no colo do homem mais velho.
-- Preferia que dissesse: “Pai você é um gatão, podemos sair juntos e eu lhe apresentar como meu irmão mais velho?”. - brincou.
-- Poderia, – respondeu com os olhos estreitos e com um sorriso de lado – mas dona Ester me mataria e depois lhe mataria, ou seja, estou fora! – brincou.
-- Esqueci-me deste pequeno detalhe. – respondeu fingindo esquecimento.
-- Pois trate de se lembrar, além do “pequeno” detalhe com ela – referia-se a altura da mãe – existe um “grande” detalhe comigo, e não deixo mulher nenhuma chegar perto do meu pai gatão.
-- Filhas, blargh! – fingiu contrariedade e os dois sorriram.
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-- O que você acha Ester? – perguntou espionando pelo canto da porta a filha deitada no sofá da sala lendo uma revista sobre cavalos.
-- Acredito que ela está bem melhor, graças a Deus! – levantou as mãos ao céu e olhou para cima em agradecimento – A fase ruim parece que está indo embora.
-- Dois meses e ela não toca no assunto, desde o dia que o senhor Eliezer avisou sobre o telefonema.
-- Eu fico me perguntando: será que realmente aquela menina foi chantageada ou ela se aproveitou da situação para cair fora? – olhou para o marido - Ela amava nossa filha, não há dúvidas sobre isso, mas o que motivou essa fuga?
-- Não sei Ester, ela amava, mas abandonou. – sentou-se em uma poltrona com um copo de uísque na mão – Elas eram melhores amigas, depois se descobriram apaixonadas, tiveram um tempo difícil para assumirem isso, depois que assumiram, viveram intensamente. Para quem via de fora, elas pareciam duas em uma, e de repente Isadora faz uma dessas, não sei. Onde ficou a confiança em Cristina? No poder de resolução dela nos problemas que surgiam? Simplista a garota. – desviou o olhar da esposa e olhou em um ponto qualquer da biblioteca – Cristina estava disposta a romper comigo por causa dela. – voltou a fitar a mulher nos olhos – Isadora não reconheceu isso?
-- Querido, entendo todas as suas colocações, mas não nos cabe julgar ou adivinhar as atitudes de Isadora, vamos apenas aguardar.
-- Acha que elas ainda voltam? – perguntou surpreso.
-- Não sei. – ficou pensativa – Não vejo ninguém feliz ou tudo resolvido.
-- O que quer dizer?
-- Que faço minhas as palavras de Fernando Sabino: “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”. – respondeu pensativa.
-- Pedi a Enrico que a leve para sair.
-- Daniel, você pensou na possibilidade de nossa filha namorar só com mulheres agora?
-- Hum... – refletiu sobre a questão bebendo um pouco do conteúdo do copo – Querida, isso lhe incomoda?
-- Não. – olhou o marido e voltou a espionar a filha pela porta entreaberta – Quero a felicidade dela, acima de tudo, esteja com quem estiver.
-- Joaquim tem sido presença constante na sala dela. – sorriu – Parece mosca no pão doce.
-- Não gosto deste rapaz.
-- Ele fez algo que eu não saiba? – ergueu uma das sobrancelhas, e Ester achou que a filha era uma cópia do pai, e se fossem da mesma idade, poderiam passar por irmãos gêmeos.
-- Desde o dia que ouvi falar com seu... – pensou que iria tocar em assunto proibido – enfim, desde aquele dia não consegui mais suportar a presença dele. Eu nunca senti boas energias por parte dele.
-- Cristina é mais esperta do que imaginamos Ester, ela tem uma visão ampla e prática das coisas.
-- Esperta, prática, objetiva, mas não deixa de ser uma mulher fragilizada, com seu coração partido e orgulho ferido.
-- Ela não é uma mulherzinha que chora com qualquer coisa, aliás, estive pensando sobre isso quando tudo aconteceu. – voltou a olhar em algum ponto – Não me lembro de ter visto Melissa Cristina chorar, mesmo bebê ela era quieta, essa foi à primeira vez.
-- Desta vez chorou mais que um bebê, por isso eu tenho medo que essas moscas varejeiras pousem no meu pão doce. – constatou olhando o marido nos olhos.
-- Ficarei de olho nessa história, não quero ninguém se aproveitando da minha menina.
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-- Essa ideia do meu pai em lhe fazer sair comigo foi péssima! – reclamou dentro do carro – Vamos encontrar uma boa saída. – olhou o amigo e sorriu. - Você me deixa no apartamento e vai sozinho para noitada atrás de gatinhos, e eu vou dormir na minha caminha.
-- Cris, não adianta. – olhou rapidamente para ela - Hoje você não vai ficar chorando abraçada ao travesseiro.
-- Como sabe que faço isso? – perguntou surpresa após pular no banco do carro.
-- Não sabia, mas depois desta, tenho certeza. – sorriu – Vamos lá, reclame menos e beije mais, ouça meu lema.
-- Blargh! – virou-se irritada olhando para rua.
-- Combinei com Haidê, Ulisses e Roberto. Sabia que sua amiga tem uma novidade para lhe contar?
-- Mariana e Stefany já me falaram.
-- E você não se anima com isso? Por favor, quando ela falar da gravidez, demonstre mais empolgação e felicidade, sabe o quanto ela sofreu quando abortou naquela época.
-- Claro que ficarei empolgada, só penso que Roberto não é um cara para ela. Haidê é uma pessoa tão boa que merecia coisa melhor. Aquele cara é mulherengo, um cafajeste.
-- Deixe-a descobrir sozinha, não adianta falarmos nada.
-- Enrico...
-- Eu...
-- José Alcântara me procurou hoje. – confessou falando baixinho.
-- Na empresa? E não viu seu pai?
-- Não. Estávamos fora, ele me levou para escolher as éguas, e depois fomos para casa. – deu de ombros – Dona Ada que me informou quando liguei.
-- O que irá fazer se ele voltar a procura-la?
-- Chamar o Júnior e terminar de quebrar o queixo dele. – respondeu encerrando o assunto. Enrico sabia que estava magoada com o avô, mas o respeitava e amava, mesmo assim.
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-- Boate gay? O que faço aqui? – perguntou irritada
-- Tudo o que não fará comigo. – respondeu sorrindo e percebeu a irritação da morena – Cris, qual é? Esqueceu que você é lésbica? Precisa mesmo que lhe compre um manual de como ser lésbica?
-- Não sou lésbica. – constatou fazendo um bico.
-- Ahãm? Não ouvi bem. – colocou a mão no ouvido e se aproximou da morena.
-- Ouviu sim.
-- Namorou por mais de dois anos uma mulher, ressaltando que foi o relacionamento mais longo da sua vida, e mesmo assim não é lésbica?
-- Eu namorei Isadora, nunca... – não sabia como falar – Nunca me imaginei com outra mulher, é uma coisa íntima demais, entendeu?
-- Entendi e concordo que sex* oral é íntimo, mas você só vai conseguir intimidade se tentar. Olha envolta, veja quantas mulheres já lhe olharam das cabeças aos pés desde que entramos.
-- Mas não rola química. – jogou os braços de forma vencida sobre o balcão do bar e pediu uma cerveja.
-- Primeiro passo: tire esta aliança. – apontou o dedo esquerdo da amiga.
-- Para que? Ela é tão bonitinha. – respondeu com pesar admirando a joia.
-- Para demonstrar que você está solta na pista e, porque você não tem motivos para usar algo que não significa mais nada.
-- Por que você não me joga logo na água com um fio energizado?
-- Vamos lá Cris, isso não é terapia de choque, apenas a ressocialização de uma linda mulher.
-- Depois do magnífico jantar aturando Roberto e seus sonhos de grandeza, Ulisses e sua trilha de filme policial, nós poderíamos ter voltado para casa.
-- Não reclame, passou metade do tempo rindo com Haidê.
-- Claro. – sorriu - Quem aguenta as histórias da avó dela?
-- Por falar nisso, tem uma morena lhe olhando. – Melissa olhou em direção a mulher, mas foi outra, que estava sentada em uma mesa atrás dela que lhe chamou atenção. Era uma loira sorridente, que lhe olhava insistentemente, mas, sem aquele desejo que a outra morena demonstrava.
-- Acho que prefiro conversar com a loira. – pensou alto e pediu duas canecas de Chopp. – Fica bem sem mim? – perguntou ao amigo.
-- Viemos aqui para caça, cada um para seu lado e depois nos reunimos. – sorriu e lhe piscou. Melissa foi em direção à loira.
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-- Isadora, bebê, vamos cair na noitada hoje? – Francisco perguntou de forma afetada.
-- Não estou com vontade. – respondeu com uma voz triste, deitada na cama, fingindo ler um livro.
-- Não adianta ficar aí fingindo ler um livro, quando na verdade, fica com a foto de Melissa escondida. Vai furar de tanto olhar.
-- Como sabe que estou fazendo isso? – estava surpresa por ser pega em seu pequeno segredo.
-- Não sabia, mas desconfiava. – sentou na cama alisando a perna da amiga – Desde que viemos para cá, você vem para este quarto após o jantar, abre esse livro e fica perdida, com o olhar distante, e não progride nunca na leitura. – apontou para o dedo marcando as páginas.
-- Sou uma idiota! – desabafou jogando a cabeça para o lado e revirando os olhos
-- Idiota? Essa palavra é muito forte, mas acredito, melhor, peço a Deus que algum dia você possa desabafar com alguém e aliviar essa dor daí de dentro. – apontou o coração da amiga.
-- Obrigado pela compreensão.
-- Estou sempre aqui, basta chamar. – beijou a cabeça loira ao se levantar – Mas não desisti, agora vá vestir sua melhor roupa lésbica e vamos à caça em algum bom bar, próprio para nossa espécie.
-- Nossa espécie? – franziu a testa – Não sou ET.
-- Somos seres “purpurinados”, divinos e lindos. – saiu cantando I Will Survive. – Isadora sorriu com o jeito do amigo e achou melhor seguir seu conselho. Ela olhou sua aliança, e a beijou – “Eu te amo Mel, mas preciso sair para não enlouquecer.” – pensou com os olhos úmidos – “Não posso pensar em vê-la fazendo a mesma coisa, sinto vontade de morrer”.
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-- Oi – disse ao se aproximar, estava um pouco alta com as cervejas que havia consumido.
-- Oi – respondeu a loirinha sorrindo simpaticamente.
-- Quer dançar? – sem apresentações, a loira aceitou o convite, e mal começaram Melissa a envolveu entre os longos braços, beijando-a ferozmente, puxando-a contra seu corpo.
-- Você dança bem. – a loirinha constatou após um beijo que quase a fez perder o fôlego.
-- Shiii... Não quer dançar? – os corpos estavam tão colados que pareciam se fundir. Melissa acariciava o corpo menor, e lhe beijava com fome.
“… say baby (baby), baby (baby) /wooooooh (wooooooh) baby (baby) / I need your love (I need your love) / I need your love (I need your love) /I need your love now (I need your love)/ I need your love (I need your love). / Come on, bring it on back (bring it on back), bring it on home (bring it on home) / Bring it on back now (bring it on back), bring it on back (bring it on back) / Oh bring back that lovin' feeling /Whoa, that lovin' feeling / I need that lovin' feeling / Girl it's gone...gone...gone and I / can't go on, woooooah / Woooooah…”
O beijo foi cada vez mais se aprofundando, até o momento em que a loirinha forçou a separação dos lábios, olhou bem a mulher a sua frente e acariciou seu rosto. Melissa estava de olhos fechados, e ao abri-lo viu a imagem de Isadora, duas lágrimas saíram dos lindos olhos azuis e ela voltou a se aproximar da mulher mais baixa e falou – Por que Isadora? Eu te amo tanto, por que você me deixou? Por quê? – perguntava entre lágrimas e apertando mais o abraço, colando os dois corpos.
-- Espera! – gritou empurrando-a – Meu nome é Aline, não sou essa daí. – falou com sarcasmo – Mas com certeza, eu nunca lhe deixaria. – disse em um tom de malícia. – Essa tal Isadora é uma burra.
Melissa a olhou nos olhos, e retirou os braços que a envolviam e saiu em direção à porta, chorando, sentindo-se a pior pessoa do mundo. – “A quem quero enganar? Isadora está cada vez mais impregnada em mim”. – pensou ao sair, mas, logo sentiu uma mão lhe puxando, quando se virou viu Enrico e se abraçou ao amigo.
-- Eu não posso... Desculpa... Mas não posso. – falou entre soluços.
-- Vamos para sua casa, eu me esforço em dormir com uma mulher uma vez na vida. – disse abraçando-a.
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-- Isadora, minha mona asteca, tem uma rainha do Nilo lhe observando há... – olhou o relógio e voltou a olhar para a amiga – cinco minutos – a loirinha começou a rir e olhou em volta procurando a tal “rainha”. Era uma mulher alta, morena, cabelos negros, mas as semelhanças com sua Melissa ficavam por ai. Ela tinha olhos castanhos e não tinha o corpo tão perfeito quanto ao da sua amada. Viu a mulher lhe sorrir e se aproximar, engoliu seco quando ouviu a saudação.
-- Hi!
-- Hi! – estava com os olhos ágeis, procurando uma porta de saída.
-- Jennie Fergunson. – estendeu a mão.
-- Isadora Marcondes. – recebeu a mão da morena.
-- Isa... – tentava compreender a pronúncia do nome.
-- Isadora. – pronunciou pausadamente.
-- Você é de onde? – perguntou com um lindo sorriso, mas que não afetou em nada a loirinha.
-- Brasil.
-- Brasil... Sim Amazônia. – afirmou sorrindo. – Samba.
-- Não. Brasil é Brasil. – respondeu com ironia. – “Quero saber por que ainda existem pessoas tão insipientes que teimam em achar que Brasil se resume a Amazônia ou samba.” – disse a si mesma.
-- Amazônia fica lá? – esforçava-se em ser simpática e buscar algo para conversar, e achou que a loirinha iria explicar a diferença entre Brasil e Amazônia.
-- Fica na lua, ali, bem próximo a Netuno. – respondeu em português. Francisco quase engasgou com seu coquetel ao ouvir a resposta, olhou para a amiga, e ela estava com uma expressão irritada, e com os olhos verdes estreitos, sinal de que a qualquer momento estouraria.
-- Amazônia fica no Brasil. – Francisco respondeu se intrometendo.
-- Fran, chá de burrice definitivamente não cura dor de cotovelo. – desabafou. Ele olhou para a morena, e depois para a loirinha.
-- Ela quase não fala inglês... – viu a expressão de Isadora suavizar e mudar para uma de moleca – Ela pediu para lhe dizer que aprecia muito seu País, ainda mais por causa das belas mulheres. – a morena sorriu para a loirinha.
-- Francisco pode me livrar deste encosto? – pediu a gentiliza ao amigo - Depois falam que nós loiras somos as burras.
-- Ela até é engraçadinha.
-- Fica com ela. – conversavam em português e a morena olhava de um para outro, e a cada vez que o homem gargalhava com as colocações da amiga, ela também o acompanhava, achando que era algo engraçado.
-- Minha querida Isadora, você sabe que só me torno hetero quando aquela deusa entrar no nosso “apertamento”. – percebeu a bobagem que havia falado, tentou se consertar – Isa, por que não dá uns beijinhos? Não diz nada, ela pensa que você não fala inglês, vai lá dançar um pouco, relaxa, faz isso por mim.
-- Só por você, porque essa coisa grande ai não me atraiu em nada, pelo contrário, despertou minha curiosidade.
-- Curiosidade? Qual? – perguntou surpreso.
-- Como o ser humano pode andar sem cérebro? Nem o Jú era assim. – lamentou.
-- Como é seu nome mesmo?
-- Jennie Fergunson. – respondeu sorrindo com uma olhar guloso para cima de Isadora.
-- Jennie, Isadora quer dançar, você aceita? – recebeu um sim acompanhado com um imenso sorriso.
-- Fran, diz para ela tirar esse sorrisinho... – pediu estreitando os olhos.
-- Bobagem! Beijo na boca é bom, experimenta um desses internacionais, pode ser melhor do que você pensa.
-- Francisco, eu não estou preparada.
-- Bobagem! – empurrou a amiga para pista – Dança com ela Jennie. – a morena foi com um sorriso, colocando uma mão na cintura da loirinha.
As duas começaram a dançar uma música lenta, a morena a acolheu entre seus braços. Isadora se sentiu em outra época, na presença de Melissa, e por um instante fechou os olhos, havia resolvido se deixar levar pelo momento.
****************************************
-- Não adianta Cristina, isso só vai acontecer quando você se deixar envolver... – sentou no sofá com um copo de uísque na mão – Porr* Cris! Tente se deixar levar e se entregue ao momento ou nunca vai esquecer Isadora.
-- Eu não sei se quero me entregar a alguém agora.
-- Então não vai esquecer Isadora. – concluiu.
-- Eu não sei se consigo esquecer Isadora... – constatou se levantando do sofá e caminhando até a sacada. – E nem sei se quero. – confessou baixinho.
-- Consegue sim. Só deixar. – afirmou com veemência - Agora isso não vai acontecer se continuar chamando as meninas com quem sai de Isadora. – Melissa ficou em silêncio por alguns instantes.
-- Rico, agradeço pelo carinho e companhia, mas preciso ficar sozinha.
-- Sozinha nada, eu vou dormir com você.
-- Tudo bem Rico, mas eu prefiro ficar um pouco sozinha. – fez um olhar de súplica que deixou o amigo triste – Por favor?
-- Certo, eu saio, mas qualquer coisa você telefona?
-- Prometo.
-- Confio em você. – beijaram-se e ele saiu
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A dança prosseguia, Jennie envolveu o corpo de Isadora em seus braços, apertando-a mais. A loirinha permaneceu com os olhos fechados, lembrando-se da última vez que havia dançado com Melissa. Estava completamente entregue as suas lembranças e só percebeu Jennie avançar o sinal quando forçou um beijo. Isadora a empurrou e saiu correndo, sem dar tempo de Francisco lhe alcançar.
Ela pegou um táxi e desceu bem antes de casa, queria caminhar um pouco para espairecer e deixar a sua adrenalina baixar. Sua mente estava focada em suas lembranças com Melissa, e assim que passou por um telefone público, parou, respirou fundo, na tentativa de adquirir a coragem que lhe faltava.
*******************************************
Melissa estava deitada na cama, segurando em uma mão a foto dela e de Isadora no dia que ficaram noivas, e na outra, uma garrafa de vinho que bebia sem a menor cerimônia, na garrafa mesmo. Estava, novamente, perdida em seus pensamentos quando o telefone tocou.
-- Alô – silêncio total. – Alô! – permanecia o silêncio – Olha você ligou uma hora dessas só para ouvir minha voz? – perguntou irritada e com a voz enrolada, estava bêbada. Pensou em desligar, mas uma luz ascendeu em sua cabeça. – Isadora? – silêncio. – Isadora, por favor, se for você deixe ao menos ouvir um “oi”, um simples e mísero “oi” para que eu consiga voltar viver... – começou a chorar e ouviu um choro do outro lado – Um “oi” apenas Isa, por favor, eu não consigo mais viver sem você... Minha vida virou um faz de conta... Todo dia chego aqui e faz de conta que vou encontrar você me esperando... Faz de conta que seu lindo sorriso me acorda no meio da noite me procurando... – soluçava sem conseguir pronunciar bem as palavras - Fala comigo, por favor, amor... – no outro lado, a pessoa também chorava.
-- Oi – disse com um fio de voz.
-- P... p...por q... que? – não conseguia mais falar.
-- Você bebeu? – perguntou, estranhando a fragilidade da mulher que sempre havia sido forte e confiante.
-- Vo... volta... – pediu entre soluços.
-- N.. não – tentou engolir o choro e ser forte.
-- Esquece tudo e lembra só que lhe amo.... – disse entre soluços.
-- Mel...
-- Volta pra mim... – ouviu o telefone ser desligado.
Isadora havia desligado o telefone antes de ouvir outra súplica de Melissa pedindo que ela retornasse, e perdesse suas forças. Queria retornar para os braços da mulher que amava e esquecer tudo e todos.
Melissa permaneceu chorando por algum tempo, até perder a paciência e jogar o aparelho de telefone contra a parede, espatifando-o em pedacinhos, tamanho a força empregada. Ela abriu a porta do closet e as poucas roupas que restavam de Isadora foram jogadas no chão, assim como suas coisas de uso pessoal. Saiu pela casa, e tudo que pertencia à loirinha, como livros e fotos foram atirados ao chão. Após destruir quase todo apartamento, viu um porta retrato de vidro, todo espatifado, e por trás do vidro quebrado, uma foto de Isadora com os braços envolvidos em sua cintura. Ambas estavam sorrindo para câmera, felizes com o momento. Melissa pegou a foto, cortando não só a mão, como, também, a ponta de um dos dedos. Sacudiu a mão, espalhando sangue pela casa e neste momento fez um juramento.
“Eu não vou mais sofrer por você Isadora... Você fez sua escolha, nossas vidas a partir de hoje estão separadas em definitivo”.
********************************
Isadora não suportou a dor em ouvir o estado em que Melissa estava. Uma mulher triste, humilhando-se por um simples “oi”.
“Estraguei tudo Mel, fui uma covarde, mas agora é tarde, eu não posso mais voltar atrás.” – pensou enquanto voltava para casa, e sentia as lágrimas caírem. – “Tenho certeza que você não vai me perdoar, não depois de hoje”.
Fim do capítulo
Boa noite meninas! Tentarei responder aos comentários hoje e amanhã, novamente sem tempo. E o que estão achando das mudanças? Isadora merece ou não o perdão? Deixo penar ou arrumo outro amor para Mel? Comentários já! KKKKKKKK.... Olha que tô afim de mudar umas coisinhas.... hehehehehe. Beijos
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Suzi
Em: 20/07/2017
Rafa!!
Não diz uma coisa dessas, fiquei sem comentar desde o capitulo 38 porquê não conseguia tinha como fiquei sem palavras, vendo o sofrimento de Isa, sei que foi fraca deveria ter confiado em Mel, mas tem a falta de maturidade não dá pra esquecer que elas são jovens e tem muito para aprender.
Tudo o que Mel está passando é horrível, ela não merece nada assim. Tô morrendo de dó!!!
Mel ama demais Isa para não perdoa-la, nem que faça Isa sofrer um pouquinho mais por não ter confiado e conversado com ela.
Por favor!!! Se queres mesmo mudar algumas coisinhas :) :) :) please!!! Não faça Mel casar com aquele imbecil do Joaquim, ela não merece isso.
Morrendo de vontade que tudo volte ao normal.
bjss
Resposta do autor:
Mas comente, mesmo triste, passe por aqui e deixe uma ideia. Ela não casou. E as duas ainda sofrerão um tantão. Vai ter muita coisa ainda, e estou modificando um monte de coisas. Beijos e boa semana
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lay colombo
Em: 18/07/2017
Pqp eu odeio ver elas separadas e sofrendo desse jeito.
Resposta do autor:
Mas faz parte, vai ver como valerá a pena. Beijos
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Deeh23
Em: 15/07/2017
É a primeira vez que comento, Rafa és uma ótima escritora a estória é muito boa, porém estais me matando, já chorei muito com essa separação, estou muito penalizada com Mel, e Isa não merece ser julgada, até pq ela fez isso também por Mel e está sofrendo também.
Não consigo imaginar Mel casada com outra pessoa e principalmente ser for Joaquim, mas acredito que seja com ele que ela irá se casar(ainda bem que existe divórcio).
Estou ansiosa com o próximo capítulo, por favor não faça a gente sofrer muito e publique o próximo capítulo. Beijos Rafa!
Resposta do autor:
Seja bem vida Deeh! Obrigada, fico feliz que esteja gostando das confusões de Mel e Isa. Desculpe! Estava tão cansada que fiquei longe do computador, ainda mais que estes próximos capítulos são inéditos. Mas vou tentar ser mais assídua. Beijos
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naybs
Em: 14/07/2017
Mulheeeeeeeeeeeeeer você quer matar a gente do coração? Não aguento mais isso! kkkkkkkk
Pera aí, eu lembro de ter lido em um capítulo anterior que a Isadora estava olhando uma foto de uma capa de revista, a qual Mel estava casada com um homem no futuro.
E a Isadora estava namorando com uma italiana eu acho. Eu estou louca gente?
Não quero a Mel casada nem com um homem, nem com ninguém além da Isa e vice-versa!
Eu estava pensando aqui com meus botões que o Francisco vai resolver esse impasse quando Isadora tiver coragem de contar para ele essa história e também acho que seria legal o Francisco e o Enrico ficarem juntos no futuro! Super combinam! ;)
E pelo amor, a Mel casar com o Joaquim defitivamente não! Seria muito ruim, concordo com as colegas.
Não acho também que, considerando o teor das ameaças do homem que ameçou Isa (acho que é o Joaquim), a Isa é a mau dessa história. Ela está sofrendo muito também!
Só queria que a Isa tomasse coragem logo e fosse atrás da Mel.
Só mais uma coisa: que horas saí o capítulo de amanhã? hahahaha
Resposta do autor:
Claro que quero todas vocês bem vivas... kkkkkkk..... De hoje já saiu, amanhã, caso consiga escrever durante o dia, no início da tarde. Esses proximos capítulos serão inéditos como o de hoje. Quanto aos romances, calma, logo elas voltam. beijos
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Mille
Em: 14/07/2017
Kkkk comecei a escrever o comentário no início da manhã e agora que vou terminar.
Ambas forçadas pelos amigos a tentar superar se divertindo com outras e encontrando nas outras a falta da outra, uma aparência do que que faltando na vida de ambas.
E esse telefonema para a Melissa será uma transformação e espero para melhor se aparecer um novo amor que possa curar as feridas deixada pela Isa e quem sabe ela possa fazer a Mel adurecer.
Só não quero ela com o Joaquim acho que é um desejo de todas.
Bjus e até o próximo capítulo, um ótimo final de semana
Resposta do autor:
Então vamos lá...
Acho que sua hipótese é provável. Elas terão que aprender a conviver separadas, por enquanto. Muitas surpresas ainda, e para quem já leu: novidades, capítulos inéditos. Beijos
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ik felix
Em: 14/07/2017
Cara a Isa pisou feio na bola, mas acredito que ela não fez nada imperdoável. E acredito que não tem como ambas arrumar um novo amor no máximo elas se envolvem com alguém mais sem importância. Mas não aceito o fato de a Mel ter casado, logo com esse Joaquim (é esse o nome dele, né? Rsrsrs)! Cara por quê?
Até o próximo, beijos!
Resposta do autor:
Será que Melissa pensa como você? Mas arrumar "um certo alguém", isso pode. Elas precisarão de beijos e cositas mais. Mais respostas, só lendo. Beijos
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Sam Sampaio
Em: 14/07/2017
Como assim... Nada de seperações permanentes!!! kkkkkkk
Vou adorar vê-las juntas no final.
Tenho uma dúvida. A Isa, nessa última parte da estória, está com os cabelos curtos? Pergunto isso pois adorei quando a personagem, gabriela, cortou o cabelo na série Xena. E como tem a foto de ambas juntas no poster da estória, fiquei me perguntando.
Resposta do autor:
Não! Ai perde a graça...kkkkkk.... Não, ainda compridos, na segunda fase ela aparecerá com eles curtos. E sim, ela vai ficar mais "arretada". Será que troco a foto quando chegar na segunda fase? Beijos
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Monique
Em: 14/07/2017
Tadinha da Mel.....Isa pisando na bola áff....Poxa autora da essa moral e mata o Joaquim logo assim n corremos o risco dele ficar com a Melissa.
Resposta do autor:
KKKKKKKKKKKKKK....... Assim não tem história. Só amor fica sem graça... kkkk Beijos
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juno2018
Em: 13/07/2017
Quando esse tormento acaba? Kkkkkk
Isadora com certeza pisou na bola. Mas o amor delas é capaz de superar tudo. Tadinha da Mel????
Resposta do autor:
Falta pouco. São 56 capítulos na original, como estamos com 42... Pouquissimos! kkkk Meu potinho de mel.
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AureaAA
Em: 13/07/2017
Boa noite autora!
Por favor não arranje outro amor para a Mel...rsrsrsrs uma coisa que eu mudaria na história era a gravidez da Mel,mas como sou só mais uma leitora encantada com essa maravilha de história me contentarei a passar por esse martírio novamente que sofrimento dessas duas meu pai!
Resposta do autor:
KKKKKKKKKKK......... Aos poucos estou modificando algumas coisas, e não sei como farei quanto a isso, deixa chegar lá, porque estou relendo com vocês, também. Beijos
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