Leiam as notas antes do capítulo
-- Salvo pelo filhinho, vovô. – sorriu com ironia.
-- Cristina, eu nunca bati em você, não me obrigue a fazer isso agora. – gritou.
-- Pois se você bater nela terá de bater em mim – Ester gritou, protegendo a filha.
-- Não se meta nisso Ester.
-- Sim, eu me meto porque ela é minha filha e está desesperada com o que fizeram com a sua namorada.
-- Namorada? Aquela lésbica só colocou minha neta no mau caminho. – foi à vez de José se intrometer.
-- Qual seria o bom caminho, vovô? Roubar a namorada do melhor amigo? – perguntou encarando-o - Estuprar a namorada do melhor amigo? Esconder isso da família e vestir uma pele de cordeiro fingindo o papel de bom pai e avô? – José ficou branco com a revelação.
-- Do que você está falando? – perguntou com os olhos arregalados. Estava surpreso com a descoberta da neta.
-- Das várias cartas que Cristina, sua amada esposa, escreveu falando do nojo que sentia pelo homem que a estuprou... – explicou com sarcasmo - O seu próprio marido... E não venha chamar a minha pequena de lésbica em tom de ofensas, porque ela nunca ofendeu ninguém, pelo contrário, o seu coração é tão imenso que vocês se aproveitaram dele.
-- Mentira!
-- Certeza? Tenho provas quanto a isso. – ela falava completamente alheia da presença do pai.
-- Estupro? Minha mãe? – a morena lembrou a presença de Daniel. Melissa viu que não podia mais recuar e resolveu falar sobre as cartas. Ela se sentiu mal por revelar tudo àquilo, de forma fria para Daniel.
-- Sou fruto de um estupro. – olhou em volta e caiu sentado, apoiando a cabeça entre as mãos – Quem mais sabia disso? – todos permaneceram em silêncio – Fui o único idiota. – concluiu após observar cada um.
-- Não seu Daniel, eu também não sabia desse “bafão”, e nem por isso sou idiota. – Júnior interrompeu, tentando ser solidário.
-- Meu filho, eu errei com sua mãe, mas quando você nasceu eu o amei e seria capaz de qualquer coisa por sua felicidade... – confessou emocionado. – Infelizmente não mudei de atitude, continuei sendo o homem frio e vingativo, no entanto, quando Cristina nasceu, percebi o quanto ela parecia com a minha Cristina, e a amei muito mais. Aquele era o sinal de que precisava me redimir, mas esse é um processo difícil para um homem como eu. – olhou para neta – Tudo o que tenho e construí foi para você, e confesso que passei estes últimos dois anos tentando várias maneiras de lhe separar daquela menina, mas seu pai me fez jurar que não faria mais nada e desde então, estou cumprindo o acordo.
-- Não foi o senhor, foi quem? Eu? Aquele homem? – apontou Timóteo – Ele não tem cérebro e nem dinheiro para fazer alguma coisa, só pensa em poder.
-- Juro que não fui eu... – tentou se aproximar do filho – As duas pessoas mais importantes no mundo são vocês dois. – quando colocou a mão na cabeça de Daniel, sentiu a mão mais forte segura-lo firmemente.
-- Nunca mais chegue perto de mim... – cuspiu segurando a raiva que sentia. – Tenho nojo de você, e do que fez a minha mãe.
-- Daniel...
-- Não pronuncie meu nome. – saiu da sala em disparada sendo seguido por Ester. Melissa permaneceu no mesmo local, observando o avô.
-- O que ele veio fazer aqui? – apontou Timóteo que começava a se levantar.
-- Não sei, no momento que ele começava a falar você invadiu.
-- Seu mentiroso... – encostou-se ao rosto do avô, encarando-o. – Para sua sorte, seu filho é meu pai, e para não magoa-lo mais, não farei nada contra você, apesar da vontade ser imensa. – quando ela se retirava da sala ouviu Júnior.
-- Ela é filha do seu filho, e nem sei o que isso quer dizer, mas deve ser pecado. – sorriu com malícia - Eu não sou nada seu, mas sou o irmão da Isadora, menos filho do cara ali. E, também, sempre tive desejo exótico com Mel, então eu posso fazer alguma coisa com você por ela. – concluiu o raciocínio deixando o velho completamente confuso e caído, no chão após um soco que deixou sua boca sangrando – Não adianta mandar me matar, meu pai também é como o senhor, tem uma “listra” grande “no papo”, se mandar me matar, ele manda lhe matar e ai o senhor vai para o inferno e eu para o céu e vou rir da sua cara. – ele nunca teve orgulho de falar isso sobre seu pai, mas, pela primeira vez, agradeceu ser filho de quem era. Enrico e Melissa ficaram surpresos com a reação e prova de lealdade do amigo.
************************************************
Naquela noite, Melissa ficou novamente sozinha em seu apartamento, após muita insistência de Enrico, ela havia tomado uma xícara de chá com torradas.
-- Quer que eu fique?
-- Não. Prefiro ficar sozinha.
-- Júnior vai ficar com Bruna, tem certeza que não quer companhia?
-- Prefiro ficar sozinha. – forçou o sorriso. O telefone de Enrico tocou, quando ele atendeu e Melissa ouviu a conversa, seus pensamentos se embaralharam. Sua cabeça ficou leve, e ela não sabia mais o que imaginar. - Então ela tinha tudo planejado? – perguntou com um fio de voz.
-- Ulisses pegou todas as informações na empresa aérea. A passagem para Nova Iorque foi comprada com um mês de antecedência e de última hora, antecipada. – Melissa se lembrou do último dia das duas juntas. – Ficarei com você. – afirmou decidido.
-- Prefiro ficar sozinha. – Enrico entendeu que ali não havia abertura para uma negociação. Beijou-lhe e saiu, deixando-a com seus fantasmas.
Melissa encostou-se ao vidro da varanda, lembrando-se dos momentos vividos ali, com Isadora. Continuou a observar a chuva que caia e uma dor forte voltou a lhe corroer, fazendo com que as lágrimas voltassem a rolar.
“Nova Iorque... Sempre sonhou com uma carreira internacional... Eu não posso acreditar!” – ela se encolheu no canto da porta de vidro, deixou seu corpo chegar ao chão, e como em um filme, a vida entre as duas passou a sua frente.
Em Nova Iorque, neste mesmo momento, Isadora via a neve cair, encostada a janela da sala do apartamento que estava morando. Apoiada ao vidro, com uma xícara de chocolate quente, uma canção lhe fez reviver todos os momentos com sua morena, uma estranha coincidência, mas era o mesmo filme que passava na cabeça de Melissa. À medida que música prosseguia suas lágrimas aumentavam.
[1]I'm so tired of being here
Estou tão cansada de estar aqui
Suppressed by all my childish fears
Reprimida por todos os meus medos infantis
And if you have to leave
E se você tiver que ir
I wish that you would just leave
Eu desejo que vá logo
'Cause your presence still lingers here
Porque sua presença ainda permanece aqui
And it won't leave me alone
E isso não vai me deixar sozinha
These wounds won't seem to heal
Essas feridas parecem não cicatrizar
This pain is just too real
Essa dor é tão real
There's just too much that time cannot erase…
Há tantas coisas que o tempo não pode apagar...
Em sua memória, Isadora reviveu cada momento entre as duas: o dia em que Melissa lhe ensinou a cavalgar em Marlon, e a segurança em ter aqueles longos braços envolta ao seu corpo, protegendo-a, e incentivando a segurar as rédeas. Anos depois, a mesma cena, mas agora, cada uma em seu próprio cavalo. Uma chuva inesperada, e a queda que deixou Melissa desesperada de preocupação. A morena não a deixou sozinha, usou seu corpo, inutilmente, para protegê-la da chuva. Sentia o cheiro da advogada impregnado em seu corpo, as lágrimas rolavam pela sua face, e o sorriso carregado de tristeza foi inevitável com as lembranças do mau humor de Melissa ao acordar pela manhã. Ela havia aprendido a driblar, enchendo-a de beijos. Às noites deitadas sob o céu estrelado imaginando formatos para as estrelas, e muitas vezes as gargalhadas com as esquisitas opiniões que inventava. – “Seu rosto ficava tão lindo quando me olhava com aquela sobrancelha elevada, duvidando das formas que eu inventava.” – confessou olhando a neve que caía.
Melissa sentia o corpo doer, e se permitiu chorar como uma criança que havia sido pega em seu maior delito. Passou a mão pelo vidro, e escreveu as iniciais do seu nome e do nome da loirinha, repetindo o gesto feito anos antes em uma árvore no sítio de Eliezer. – “Sempre fui a mais alta, forte e era a mais velha, mas você tinha o dom de me deixar com as pernas bambas”. – sorriu com tristeza com seus pensamentos, os mesmo que passavam pela cabeça loira no outro lado do Continente.
-- Mel, aquele beijo que roubei foi tão gostoso... – limpou os olhos – Sentirei falta dos nossos banhos de rio, do seu cinismo, objetividade e até mesmo do seu jeito explosivo. – confessou como se Melissa a ouvisse, vendo-a a sua frente, sorrindo com aqueles dentes brancos, pele bronzeada e os olhos extremamente azuis. O último carnaval em que Melissa não parava de reclamar declarando quanto odiava samba, pagode e similares, e que aquele “sacrifício” era por sua causa e certamente, depois de tudo isto, iria para o céu.
Meses antes...
-- Meu Deus Isadora, mas o que é isso? – perguntou assustada vendo aquela multidão de gente andando de lado a outro, bebendo, pulando e dançando.
-- Sorria, pois isso é carnaval! – respondeu sorrindo com ironia.
-- Isso é coisa de doido, isso sim.
-- Mel seja mais aberta a diversão.
-- Diversão? – olhou ao redor – Aqueles homens lá fazendo xixi nos muros das casas é muito divertido! E aqueles lá virando a lata de cerveja em um só gole, muito mais divertido. – Isadora olhava ao redor tentando argumentar, mas, ao ouvir o último comentário, a empurrou para longe. – E aquilo ali... – estreitou os olhos – Eles estão trans*ndo no meio da rua? – esticou-se para ter mais visão – Isa são duas mulheres e um homem. – revelou empolgada.
-- Vem Mel! Você já viu coisa demais. – a empurrou.
-- No melhor você corta o barato. – saiu resmungando, e quando pararam em uma praça, os amigos de Isadora se aproximaram suados e bêbados.
-- Isadora, vamos sair com as pipocas, vocês não querem nos acompanhar? – a loirinha olhou para morena que perguntou confusa.
-- Pipoca? Isso quer dizer que vamos pular feito milho? Ter contato com gente suada e fedida? Isso pode ser contagioso. Trouxe o álcool gel? – Isadora revirou os olhos e saiu empurrando-a novamente, e quando chegaram ao meio da multidão, várias mulheres passavam soltando cantadas para Melissa, e alguns homens, mais ousados cheiravam ou, somente, alisavam o cabelo preto. Isadora se irritou e decretou o fim do carnaval para as duas. – Se eu soubesse que conseguiria retirar essa ideia da sua cabeça com tanta facilidade, teria me jogado no meio desse povo antes.
-- Cala a boca Melissa Cristina! – respondeu irritada.
Surgiu um sorriso triste no rosto de Isadora, ela baixou a cabeça e enxugou seus olhos com a manga do moletom, e quando voltou a abri-los, viu sua morena entrar e atravessar a sala em sua direção, abaixando-se em seguida para beijá-la, quando estendeu a mão para tocar no rosto moreno, a imagem desapareceu.
When you cried I'd wipe away all of your tears
Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
When you'd scream I'd fight away all of your fears
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
And I held your hand through all of these years
E eu segurei sua mão por todos estes anos
But you still have all of me
Mas você ainda tem tudo de mim
You used to captivate me
Você costumava me cativar
By your resonating light
Com a sua luz ressonante
Now I'm bound by the life you've left behind
Agora sou limitada pela vida que você deixou para trás
Your face it haunts my once pleasant dreams
Seu rosto assombra todos os meus sonhos que já foram agradáveis
Your voice it chased away all the sanity in me
Sua voz expulsou toda a sanidade em mim
These wounds won't seem to heal
Essas feridas parecem não cicatrizar
This pain is just too real
Essa dor é tão real
There's just too much that time cannot erase
Há tantas coisas que o tempo não pode apagar
Melissa permanecia encolhida no chão da sala, pensando na sua loirinha pequena – “Pequena... como ela odiava ser chamada assim...” – pensou e um sorriso fraco apareceu. A dor persistia, e as imagens de momentos íntimos entre as duas permaneciam passando como trailer de um filme. O dia em que estava tomando sol na piscina da casa dos seus pais, e, Isadora chegou sorrateiramente, enchendo-a de beijos, a surpresa ao abrir os olhos e se deparar com aquelas esmeraldas brilhando intensamente, vibrando com o ato perigoso que acabava de cometer. O cheiro dos sedosos cabelos loiros que lhe cobria à noite, quando o corpo menor se aconchegava ao seu. As reclamações pela manhã por querer dormir mais um pouco, ou por fome. O olhar moleque quando sobrava comida em seu prato e a loirinha dizia que teria de realizar “a operação resgate”, comendo tudo o que havia de sobras. As ameaças de dormir no sofá ou não ter requeijão nas refeições quando ela infringia algumas das “R.I.”, Regras de Isadora ou não satisfazia a sua imensa curiosidade. O choro retornou, e entre soluços ela se perguntava onde a sua loirinha estava e pedia que voltasse. –“Volta Isa... volta meu amor...”- pediu olhando a chuva cair abaixou a cabeça e ao levantá-la, viu Isadora sair do quarto e caminhar em sua direção. Ela permanecia com um forte brilho nos olhos verdes, e um sorriso que fazia seu nariz franzir, quando Melissa esticou a mão para tocar seu rosto, a imagem sumiu.
When you cried I'd wipe away all of your tears…
Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas...
When you'd scream I'd fight away all of your fears
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
And I held your hand through all of these years
E eu segurei sua mão por todos estes anos
But you still have all of me
Mas você ainda tem tudo de mim
I've tried so hard to tell myself that you're gone
Eu tentei tanto dizer à mim mesma que você se foi
But though you're still with me
E embora você ainda esteja comigo
I've been alone all along
Eu tenho estado sozinha por todo esse tempo
When you cried I'd wipe away all of your tears
Quando você chorou, eu enxuguei todas as suas lágrimas
When you'd scream I'd fight away all of your fears
Quando você gritou, eu lutei contra todos os seus medos
And I held your hand through all of these years
E eu segurei sua mão por todos estes anos
But you still have all of me
Mas você ainda tem tudo de mim
[1] My Immortal – Evanescence
Fim do capítulo
Meninas, eu sugiro que leiam a parte das lembranças (logo após Enrico deixar Melissa sozinha) ouvindo esta música, uma forma de entrar no clima e na dor delas. Acessem o link https://www.youtube.com/watch?v=5anLPw0Efmo.
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lay colombo
Em: 17/07/2017
Um hino da minha adolescência igual esse nem foi preciso colocar no YouTube pra tocar, minha mente reproduziu sozinha. Puta capítulo triste bicho, é muito foda qnd duas pessoas q se amam são obrigadas a se separar, Ainda mais um amor tão intenso igual o delas.
patty-321
Em: 14/07/2017
Oh meu potinho de mel, venha para os meus braços sou pequena. Tb.kkk. isa terá q ralar muito para merecer o perdão da mel. Ela teria q ser mais inteligente e madura para vencer o famigerado chantagista
Resposta do autor:
KKKKKKKKKKKKKK...... Se eu não fosse casada, também estaria querendo mel deste pote. KKKKKKKKKKK
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naybs
Em: 13/07/2017
Rafaaa amo sua história! Estou muito ansiosa pelo encontro dessas duas novamente! Ai que angústia essa capítulo! Júnior é um dos personagens mais fofos que já li! :)
Beijinhooos!
Resposta do autor:
Júnior é muito carinhos, e quanto ao reencontro, ele está bem próximo. Obrigada, muito bom em ler isso, Beijos
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Dessinha
Em: 13/07/2017
Esse foi foda... amor dos grandes esse, deu pra sebtir a emoção e as imagens.. como num filme mesmo. Parabens, Rafa. Voce sabe o que ta fazendo mesmo... abração!!
Resposta do autor:
Obrigada Dessinha! Fico muito feliz com isso. Quando escrevo, gosto de pensar vivendo a cena e acho que colocar uma música como em filmes é indispensável em algumas partes, por isso o conselho nos comentários. Beijos
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Milales
Em: 13/07/2017
Esses últimos capítulos foram tensos, estou triste pelas meninas.
Mas não pude deixar de dar uma gaita da com o discurso de Júnior, gente, ele é demais! #Jréocara.
Parabéns autora maravilhosa, vc consegue nos dar momentos cômicos e trágicos no msm capítulo. Adoro suas as histórias.
Até o próximo.
Resposta do autor:
Então olha a conversa que ele tem com Mel no início do capítulo. Obrigada, querida. Beijos
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