Fui tentar me aproximar novamente, mas a fera colocou sua mão para eu não chegar perto.

 

-- Fala Bruna! -- pedi já sem paciência.

 

-- A cachorra da sua ex foi ao teatro, chegou armando barraco -- falava gritando --  Entrou me xingando diante de todos meu colegas e ainda atrapalhou o ensaio.

 

-- Juliana?!

 

-- Você tem mais?

 

-- Calma, Bruna! Vou pegar água para você.

 

-- Não quero água, vim só te dar um aviso! Se ela se aproximar de mim mais uma vez, ela vai ficará pior do que eu a deixei.

 

-- Vem cá! -- puxei-a, mesmo ela resistindo aceitou sentar em meu colo, ficamos na minha cadeira -- Começa a contar de novo e com calma -- pedi.

 

-- Estávamos ensaiando e ela chegou, aproximou-se já gritando. Desci do palco e pedi para ela parar, coisa que só fez ela aumentar ainda mais o tom, falou que eu roubei você dela, que eu sou uma aproveitadora, coisas desse tipo -- alisava seus cabelos nervosa -- As coisas pioram quando ela começou me chamar de puta e avançou sobre mim, aproveitei a pose dela e bati muito mesmo, dei uma surra mesmo para ela nunca mais esquecer, só não bati mais porque nos separaram, mas agora ela vai pensar duas vezes para vir atrás de mim novamente -- respirou -- Sério Lívia, se ela chegar perto de você... Nem sei o que mais faço com ela.

 

-- Calma, Bruna! -- peguei uma água, fiz um carinho para ela se acalmar -- Você está melhor?

 

-- Estou, mas ela não ficou. O pessoal da produção a levaram para o hospital! Ela sabia que havia morado na rua, mas não imaginava que eu havia aprendido a me defende muito bem.

 

-- Bru! -- dava para sentir sua respiração acelerada, encostei sua cabeça em meu ombro.

 

-- Se atenção dela era me tirar da peça, fazer com que me afastassem se deu mal, porque minha diretora e a equipe entenderam o jogo dela.

 

-- Ainda bem que ela não causou o que queria Bruna, agora não, mas depois vou procurá-la, quero ter uma conversa definitiva com a Juliana.

 

-- Para quê? Para ela se jogar sobre você?

 

-- Como é ciumenta!

 

-- Não estou brincando!

 

-- Desculpa, minha linda! -- beijei-a, mas não aprofundamos -- Vamos almoçar? --mudei o assunto, do jeito que ela estava era melhor.

 

-- Vamos, mas não garanto comer.

 

-- Vai comer sim -- ela fez uma cara que me deu medo -- Acho que você tinha chance no UFC, bate bem e só com esse carão que fez a adversaria sairia correndo -- agora ganhei um sorriso.

 

-- Só você mesmo!

 

Saímos para almoçar, demorei bem mais que o previsto. Conversamos, contei sobre Gabi, mudamos o assunto para meus avós e outras amenidades.

 

-- Vamos ficar com eles até o dia do nosso casamento, o que acha? -- perguntei.

 

-- Pode ser, eles ficarão felizes!

 

-- O que acha de ficarmos um final de semana em algum lugar depois do casamento?

 

-- Tipo lua de mel?

 

-- Sim.

 

-- Seria ótimo, mas tenho a peça e você a empresa.

 

-- Pela peça complica mesmo, a empresa Gabi se virava.

 

-- Coitada da Gabi, você vai explorá-la.

 

-- Claro que não, vou pagar é muito bem, isso sim!

 

-- Sei que sim, seu celular está tocando -- estava sobre a mesa e se não fosse Bruna eu não notaria, já que estava no silencioso -- De quem é esse numero?

 

-- Não sei Bruna.

 

-- Não vai atender? -- ela perguntou ansiosa.

 

-- Vou claro! -- atendi para ela não desconfiar, pois se ela não estive, não iria atender -- Alô!

 

-- Lívia é sua mãe! -- ela foi logo falando.

 

-- Oi, mãe! -- respondi, Bruna arregalou os olhos -- Aconteceu alguma coisa?

 

-- Aconteceu sim, quero que venha aqui agora, agora mesmo, porque as duas horas tenho voo e não quero perde-lo.

 

-- Certo, estou indo... -- ela desligou nem me deixando terminar.

 

-- O que ela queria?

 

-- Não falou, pediu... Na verdade me intimou a ir lá agora.

 

-- Você vai?

 

-- Claro, se ela queria me deixar curiosa conseguiu!

 

-- Então vou voltar para o teatro, você me deixa lá?

 

-- Claro que sim, mas não prefere descansar o resto da tarde?

 

-- Depois do barraco, não posso faltar por querer, ainda irei pedir desculpas ao pessoal mais uma vez.

 

Paguei a conta e deixei Bruna no teatro.

 

Não estava nervosa, apenas curiosíssima para saber o que era.

 

 

****

 

 

Aquele prédio imponente era uma atração para quem passava na rua, mas para mim nunca foi nada além de um lugar chato. Depois de deixar Bruna no teatro fiquei quase meia hora tentando entrar no estacionamento do prédio, já que não ia lá com frequência e os seguranças não me conhecia.

 

-- Pode entrar senhorita!

 

-- Obrigada! -- entrei.

 

Deixei o carro e segui para a cobertura, algumas pessoas eu falava, outras cumprimentava com beijos, outros só olhava, aquele ambiente me lembra demais meu pai. Todas as vezes que frequentava a empresa era nas minhas férias, mas não ficava muito tempo.

 

Pedi para a secretaria avisar da minha chegada e logo a morena me pediu para entrar.

 

Ao entrar fiquei logo surpresa, por que quem estava lá era Juliana.

 

-- A July já está de saída né querida?!

 

-- Estou, sim! -- olhou-me, seu rosto estava muito machucado -- Está vendo o que ela ogra fez comigo? Ela é um monstro!

 

-- July, deixe isso para depois, ok?!

 

-- Tudo bem, estou de saída.

 

Apenas fiquei a olhando ir embora, mesmo machucada ainda estava na pose habitual e saltos.

 

-- Não entendo como você deixa a July por aquela selvagem lá, péssima escolha!

 

-- Se não lembra, sua querida “July” que me deixou!

 

-- Vamos ao que interessa! -- levantou-se, seu vestido vermelho parecia que ia a um jantar de gala -- A empresa foi vendida, na verdade vendi a sua parte.

 

-- Como?

-- Simples querida! Temos um comprador, tudo está sendo encaminhado! Resta apenas você casar para ficar com sua parte, não é uma ótima notícia? Temos até champanhe para comemorar! -- mostrou-me um balde escondido mais ao lado da sala.

 

-- Isso era tudo? O advogado poderia me informar.

 

-- Parece tão descontente, aconteceu algo meu amor?

 

-- Ah não, tirando o fato do meu pai ter morrido e minha mãe ter me abandonado, minha vida é perfeita.

 

-- Lívia, você sabe que foi necessário eu deixar você com seus avós para podermos ter o que você terá agora.

 

-- Mãe, já tínhamos isso antes. Só que para você nunca o dinheiro será suficiente.

 

-- Não seja injusta comigo -- senti ironia -- Te chamei também para dar uns conselhos, posso até ser sua consultora financeira.

 

-- Acha mesmo que ainda sou criança? Para você ter ideia de quanto evoluí, vovô me deu carta branca para comandar as lojas, todo o negócio agora é minha responsabilidade, acha que eu não sei o que fazer com minha herança? Então verá --  dei a volta para sair.

 

-- Não vai me convidar para seu casamento? -- ela falou e me virei, resolvi me aproximar e olhar em seu olhos.

 

-- Você quer mesmo ir? Quer olhar sua filha se casando com “aquela lá”? Não se preocupe, pela educação que recebi dos meus avós eu mandaria o convite de qualquer forma. Apesar de não conviver com você eu sei o significado do seu olhar! Sim, sua filha cresceu e só você não percebeu! Ah... Chama outra pessoa para estourar o champanhe e continuar comemorando a morte do meu pai, porque eu não vou participar -- deixei-a atônica e sai.

 

Não estava com cabeça para trabalhar, resolvi ir para meu apartamento. Recebi ligação do advogado da família informando a venda, avisei que já estava ciente do acontecido e teríamos que esperar mais umas duas semanas para meu casamento.

 

Com Neide pude conversar mais relaxada e ouvir a opinião dela sobre o acontecido, já que conhecia Bruna muito bem, ela fez umas piadas e conversamos sobre o casamento, bebi um taça de vinho e liguei chamando os meninos que logo chegaram, Gabi chegou mais tarde e Bruna também, não era uma comemoração, era mais uma necessidade que eu tinha de me distrair naquele momento que estava sendo mais difícil do que imaginava, estava com uma angustia até.

 

-- Minha mãe vai vender e logo comprar a sua própria parte ao mesmo tempo -- expliquei a Júlio.

 

-- Já posso pedir emprestado? -- Marcelo brincou.

 

-- Besta, só depois do casamento? -- brinquei.

 

-- Então vamos deixar a herança de lado, vamos focar na festa do casamento -- quase que Marcelo me entrega.

 

-- Esqueceu que não faremos festa? -- Bruna falou.

 

-- Verdade gata, vocês são muito sem graça! Mas terá no mínimo uma bebedeira né?

 

-- Mesmo se não tivesse nós faríamos  -- Gabi falou -- Amiga vamos escolher outro vinho?

 

Apesar de achar estranho fui com Gabi na nossa pequena adega, ela conhecia mais do que eu quando o assunto era vinhos, ela que selecionava para comprarmos.

 

-- Fala Gabi!

 

-- Conta como foi lá!

 

-- Foi diferente, não fui preparada, mas enfrentei minha mãe, não falei tudo que eu queria, apenas dei umas alfinetadas. Acredita que ela praticamente pediu para administrar meu dinheiro?

 

-- Que safada, o que você falou?

 

-- Que eu cresci, que até vovô confiou em mim para comandar a empresa dele.

 

-- Nossa, e a cara dela?

 

-- Foi indescritível -- ri -- Parecia que eu era outra pessoa na cabeça dela.

 

-- Bem feito, acha que vai conseguir tudo que quer sempre, uma hora aparece alguém para enfrentá-la.

 

-- Sim, e como foi quando você chegou lá, o que ela disse?

 

-- Falou logo sobre a venda, mas sabe o que achei entranho? A Juliana estava lá!

 

-- Como é que é? Você encontrou a juliana? -- era a voz de Bruna.

 

-- Encontrei Bruna, mas foi por acaso -- falei.

 

-- Como por acaso?

 

-- Ela estava na sala da minha mãe quando cheguei, mas logo saiu!

 

-- Conversamos depois -- saiu me deixando olhando a porta.

 

-- Sua morena é ciumenta demais!

 

-- Mais do que deveria viu Gabi! Já estou me chateando!

 

-- Calma! Ela tá insegura!

 

-- Com o quê? Não dei nenhum motivo ainda!

 

-- Se você não tiver paciência não vai dar certo, você conhece o temperamento dela!

 

-- Mas ela tem que mudar isso! Não sei como vai ser.

 

-- Calma, relaxa! Depois explica como foi com calma! Mas me conta, como estava Juliana?

 

-- Toda roxa, Bruna bateu muito nela! Até achei que o pessoa da peça separou bem tarde.

 

-- Você tem alguma suspeita por que ela não fez boletim de ocorrência?

 

-- Acho que o fato de tê-la encontrado lá com minha mãe explica tudo!

 

-- Elas devem está armando alguma coisa, e agora que você não aceitou o que ela queria ainda mais.

 

-- Pois é, tenho que ficar atenta.

 

 

 

Demoramos tanto que Júlio veio nos chamar e avisar que Bruna tinha saído, mas discreto não perguntou se tinha acontecido alguma coisa.

 

Fim do capítulo