A fortiori por Bastiat
Capítulo 8 - Acabou, Laura
Camila
Vi a porta da sala sendo aberta cheia de pressa e quando Laura percebeu que a minha presença estava ali, titubeou e parou no meio do caminho.
- Deixe-me falar, te explicar. Vamos conversar, sim? – Laura falou passando as mãos nos cabelos.
Vi medo em seus olhos e notei que ela cruzou os braços sobre seu corpo como uma criança quando quer se proteger de algum mal que está por vir.
- Não acho que nenhuma explicação possa te salvar, Laura. O limite está nas marcas de tiros que ficaram em seu corpo. Será que você não enxerga que o risco agora é muito maior?
Tentei manter a calma. Por dentro esteva quebrada, destruída e sem vida.
- Inquebrável... – minha garganta fechou.
- Eu amo o que eu faço. A grande verdade é que eu não posso deixar aquilo que me faz feliz.
- E a sua família, Laura? Nós não somos importantes para você? Nós temos duas filhas agora, caramba! Eu já percebi que não consigo te fazer feliz, mas agora nem elas conseguem? Você ainda prefere o seu trabalho?
- É claro que vocês são importantes. Eu só gostaria de conciliar os dois, e que você me compreendesse mais. Dessa vez é diferente, eu estou tomando todos os cuidados. Além disso, não corri atrás, foram as pessoas que confiaram no meu trabalho e vieram até mim. Eu não podia dizer não.
- Você é igual a sua mãe. – Ela odiaria ouvir isso.
- COMO É?
Laura começou a sair do controle, como eu imaginei.
- VOCÊ ESTÁ AGINDO COMO ELA QUANDO ABANDONOU VOCÊ! – Também perdi o controle. - VOCÊ É DOENTE PELO TRABALHO ASSIM COMO ELA ERA.
Segundos depois te ter dito aquilo, senti o meu rosto queimar. Tinha acabado de levar um tapa que fez meu rosto virar.
Fiquei com a minha mão direita no rosto por minutos, em silêncio, tentando entender o que tinha acontecido ali. Eu fui agredida covardemente por alguém que tanto amava.
- Camila! Desculpe-me! Perdão, meu amor. O que foi que eu fiz?
Ela tentou se aproximar, mas me recuperei a tempo de não ser tocada por ela.
- Não encosta um dedo em mim – afastei-me com a mão ainda no meu rosto. – Como eu pude ser tão idiota? Você é mimada, egoísta e sem limites. Uma doente por trabalho e nunca vai deixar de ser. É da sua natureza egoísta pensar apenas em você e que se exploda o resto. Eu fui muito inocente por acreditar em você, acreditar em um amor que nunca existiu. Que merd*, todos esses anos eu tentando fazer da nossa vida um mar de rosa. Eu te dei amor, te dei um lar, fiz tudo que pude, para acabar com você me agredindo de maneira covarde.
Parecia que minha ficha tinha caído naquele momento. Eu andei fora da realidade por todo esse tempo que fiquei com ela. Eu não nasci para o amor. Quando não sou traída de forma carnal, se é que eu não fui também, sou traída de maneira talvez mais desleal por causa da mentira. É tempo de seguir um novo caminho sem volta. Aproveitei a sua perplexidade e prossegui:
- Eu achei que conhecer você foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, mas hoje sei que foi a pior coisa. Eu desisto de você, eu quero me separar de você. Também quero você longe de mim e das meninas. Vou protegê-las do que você passou quando sua mãe te deixou
Eu estou sendo cruel, mas a raiva foi tanta que não segurei. Tudo o que foi acumulado por anos veio à tona.
- O problema é a reportagem, não é? Eu não publicarei com o meu nome se é melhor assim. Só, por favor, não vamos levar a diante essa conversa de divórcio.
- O PROBLEMA FOI VOCÊ TER MENTIDO PARA MIM! Eu avisei que não aceitava mentiras. Além do mais, não é conversa, eu realmente quero o divórcio. Não temos mais volta. Eu mal consigo olhar na sua cara. Eu mal consigo lembrar do sentimento que eu chamava de amor por você.
- Amor, não fala isso - suas lágrimas retratavam o seu desespero. Laura ajoelhou-se e implorou - Por favor, não faça assim. Eu te amo.
- Ama nada. Se me amasse não mentiria para mim dessa maneira. Aliás, você só ama uma coisa na vida: o seu trabalho. Talvez você acha que me ama porque pensou ter encontrado uma mulher para cuidar de tudo a sua volta para poder trabalhar vinte e quatro horas por dia. Mas eu não sou essa mulher e isso não é amor! Foi para cama com quantas durante todo esse tempo Laura? Sim, porque se eu consigo ser tapada ao ponto de não enxergar todos esses desvios de caráter...
- Não, eu nunca te traí! - Em seguida vi um porta-retratos nosso sendo arremessado na parede e seus pedacinhos espalhados pelo chão. – Se tem alguém que pode ter traído aqui, esse alguém é você!
- O QUÊ?
- Um nome: CATARINA! E CATARINA HEIN?! A amiga modelo da sua irmã que vive para cima e para baixo com vocês. Esses dias estava até na piscina de casa brincando com as nossas filhas. Você já queria me deixar? É isso? Era um ensaio para cair fora?
- Não! Dessa vez você não vai distorcer toda a história e se fazer de vítima. Para de inventar coisa que você sabe muito bem que ela é mais uma dessas namoradinhas da Verônica! O problema aqui é sua loucura pelo trabalho!
É incrível como a Laura como me mantive cega para esse lado manipuladora da pessoa que eu jurei amar até que a morte nos separasse. Mas, dessa vez estou decidida. Não, a Laura não vai mudar e agora eu tenho certeza disso.
- Você vive bancando a profissional sem ambição, mas na primeira oportunidade que teve agarrou a bancada e parece estar gostando muito da fama que tem.
- Não quero fama! Para com essa história de fama, tira isso da sua cabeça. – Finalmente voltei a olhar para ela e seu rosto está banhado em lágrimas.
- Quer sim! Esses dias deu até entrevista para uma revista. Você contou? Contou sobre nós? Como é que estava escrito? – Laura esfregou a testa tentando lembrar. - “Camila é discreta ao falar do casamento e da recente gravidez. A dona da bancada do jornal da manhã prefere manter a sua vida pessoal longe da nossa conversa, respondendo apenas que teve uma gravidez tranquila e que é muito feliz no casamento”. Por que não contou que é casada com uma mulher? Que essa mulher é filha de Carlos e Andreia, e que talvez só por isso você tenha chegado à bancada?
- Você está sendo injusta! O nosso acordo foi manter a nossa vida pessoal longe de tudo isso. E agora eu te usei como um degrau de escada e subi na carreira porque eu estou com você? Sejamos honestas, quem chegou de São Paulo com um emprego garantido foi você, sem esforço como foi a sua vida inteira!
Dei uma pausa para respirar, cheguei à conclusão que essa conversa não chegará a lugar nenhuma. Nada do que for dito por nós será para nos unir novamente.
– Laura, o que estamos fazendo? Uma ofendendo a outra como nunca tínhamos feito antes. Estamos acabadas. Vamos encarar que o nosso casamento acabou.
Não tenho forças para pensar que o nosso amor não tenha chegado ao fim. Ainda de joelhos, as lágrimas caíam no chão. Nunca a vida tão derrotada. Como tudo continuou em silêncio, prossegui:
- Laura... chega, por favor. O risco que você se colocou e pode ter colocado as nossas filhas... - estava difícil raciocinar - Você passou de todos os limites. Acabou mesmo. Eu coloco aqui o ponto final em nosso casamento. Eu não estou disposta a perdoar mais uma.
- Camila... – ela também estava cansada. Sua voz não saía.
- Não, Laura, não. Chega. Acabou. Não adianta você fazer as promessas que já fez. Não vai adiantar a gente fazer sex* loucamente e daqui a algum tempo eu sentir esse desejo de me separar de novo. É isso, eu tenho adiado essa minha vontade.
Os lábios trêmulos de Laura tentavam balbuciar algumas palavras. Não tem mais o que ser dito, ela sabe, eu sei.
- Eu só não vou sair agora de casa porque a Diana está um pouco febril. Não sei se você lembra, mas ela passou a noite de ontem inteira no hospital. Acho até que você nem notou que ela ficou quieta nos meus braços a festa inteira. Para o me alívio, esse seu desmazelo vai acabar. Amanhã cedo eu e as meninas saímos e se depender de mim você nunca mais as verá. Você, Laura, é um perigo para elas.
Subi correndo para o quarto de hóspedes quando a vi tentar se levantar e me tranquei por lá.
- CAMILA! VOCÊ NÃO VAI TIRAR AS MINHAS FILHAS DE MIM!
A jornalista esmurrava a porta, só não tinha força para quebrá-la, mas se tivesse com certeza faria.
- NÃO FAÇA ISSO COM A GENTE, POR FAVOR. EU AMO VOCÊ. EU AMO VOCÊ. CAMILA... Camila...
Ouvi sua voz diminuindo e seus passos indo para longe.
- Eu também te amo, Laura. Eu não queria chegar a esse ponto. Não queria. Eu te amo tanto. - Confidenciei baixinho encostada à porta.
Deitei na cama e agarrei as minhas pernas, queria me proteger de tanta dor que estava sentindo. Eu estou cansada. Ao mesmo tempo que quero o divórcio e sei que é a única chance de ainda continuar a minha vida, penso no quanto amei ou ainda amo a Laura. Chorando, fechei meus olhos e coloquei na minha cabeça que eu precisava me afastar dela, com o tempo irei esquecê-la. Depois de tantos pensamentos confusos, dormi na cama de hóspede.
...
Eu escutei o barulho do portão abrindo no meio da madrugada, mas não dei importância. Seria até melhor que a Laura não estivesse em casa ao amanhecer, assim eu poderia simplesmente partir. Uma despedida poderia não ser aconselhável, Laura perdia a cabeça muito fácil, o tapa ainda dói em meu rosto. Mas nada se assemelhava a dor de um amor perdido, o buraco na minha alma.
...
Amanheceu frio, o tempo virou de repente no Rio de Janeiro, está chovendo muito. Ouvi uma de minhas filhas chorando, eu sabia que era a Diana pelo barulho mais sutil. Entrei no quarto delas e ela parou de chorar quando me viu. Sorri quando Di fez apenas ficou fazendo bico, estava com fome. Alisei a sua bochecha conferindo a sua temperatura e parei para admirar aqueles olhinhos cor âmbar idênticos aos da Laura.
Estranhei a Marina não ter acordado ainda, elas sempre acordam juntas. Cheguei perto do seu berço e só vi o que parecia uma carta. Olhei tudo em volta, algo estava errado. Tremendo, peguei a carta.
A bela caligrafia não deixava dúvida de que era da Laura. Engoli seco e comecei a leitura:
"Meu amor,
Antes de tudo: perdão.
Falhei e não consigo mais te fazer feliz. Eu, mais uma vez, optei pela minha carreira e te magoei. De maneira covarde, não consegui nem ao menos assumir os meus erros e cheguei a deferir um tapa em seu lindo rosto, peço mil desculpas por isso.
Ando tão descontrolada, eu mesma não me suporto mais. Tenho que ser desculpada por tantas coisas que não me admira você pedir a separação. Ninguém merece viver com uma pessoa que você tão bem descreveu ontem. Egoísta, mimada e sem limites.
Eu não sei se estou pronta para ver você abrir a porta da nossa casa e partir. Não suportarei ser deixada para trás. Eu reconheço que fui derrotada por mim mesma, pelas minhas escolhas e que sou eu quem devo me dirigir a porta, abrir, dizer adeus e ir embora.
Você vai tirar as meninas de mim e eu terei perdido tudo para a minha carreira. O meu futuro está traçado: eu acabarei perdendo o laço com elas por não estar por perto e as minhas filhas sentirão tudo o que eu sinto em relação a minha mãe. Elas terão o mesmo olhar de desprezo quando me dirigir a elas com apelidos carinhosos na estranha tentativa de recuperar o tempo perdido.
Sei que vai parecer loucura o que vou fazer, mas pensei por horas esta madrugada e eu preciso tentar de alguma maneira te deixar em paz e levar um pedaço de você comigo.
Eu estou levando a Marina."
Minhas mãos começaram a tremer, minhas vistas ficaram embaçadas e eu reli “Eu estou levando a Marina”. Respirei fundo até conseguir me acalmar. Se é um pesadelo, preciso acordar. Toquei o meu braço com força e cheguei a cravar minha unha. Isso não pode estar acontecendo. É um erro, devo ter entendido errado.
Continuei a leitura:
"Quero te fazer uma proposta. Sei que vai parecer um absurdo, mas farei mesmo assim.
Deixe-me ficar com a Marina. Deixe-me cuidar dela. Eu não suportarei uma separação. Imagina se a mídia marrom descobre, o escândalo que se dará em cima de nós. As nossas filhas crescendo longe de mim, sabendo que eu estraguei tudo pelas capas das revistas"
Havia borrões de lágrimas da Laura naquela parte do papel. Eu não posso acreditar no que li.
"Eu prometo cuidar bem dela. É a única coisa que eu não falharei com você.
Te amo para sempre,
Laura."
Cai de joelhos. Reli novamente a parte daquela absurda proposta e cai em mim: Laura tinha fugido com a Marina.
- NÃÃÃÃÃÃÃOOOOOO...
O grito de desespero foi ensurdecedor. Pareceu que o mundo inteiro poderia escutar. Fui jogada nas trevas e tudo ficou escuro.
Fim do capítulo
Fim da primeira parte.
A Laura merecia um novo perdão da Camila?
E agora que houve esse rompimento trágico, acabou o amor que elas sentem uma pela outra?
Será que a Laura realmente fugiu?
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CarolM4
Em: 05/05/2018
Estou adorando sua história é seu modo de escrita.
Gostei dessa primeira parte, mas acho Camila muito mais egoísta ,, a Laura sempre teve que abrir mão das coisas por ela... Acho que as duas são infantis d+ rsrs mas gosto mais da Laura.
Continuando para a segunda etapa.
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patty-321
Em: 20/07/2017
Moça, vc foi bem cruel. Chorei aqui. Caramba. Nem sei o q pensar. Laura errou demais, Camila perdeu a paciência. Não conseguiu mais perdoar e rolou descontrole, até violência, q triste. E o pior foi está atitude mais drástica tomada p Laura, não a culpo, eu tb não sei o q faria. Tô feliz de vim conferir sua estória. Tenho uma política própria de não mais ler estórias de autoras q não conheço, fico com receio q a mesma abandone, como temos tantas aqui.to com de q vc vai levar a estória até o ponto final. Bjs
Resposta do autor:
Obrigada por dar uma chance e ler, Patty.
Eu te entendo, também não gosto quando abandonam uma história. Mas pode ficar tranquila que eu só não tenho o final (na verdade tenho 3 possíveis, só falta escrever), de resto está escrita e não vou abandonar aqui haha.
Beijos.
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Mille
Em: 09/07/2017
Olá autora
Comecei a ler sua história e gostei muito, a Laura pode foi egoista e não pensou que nas filhas, mais a Camila tem sua parcela de culpa, ela perdoou muitas coisas da Laura e fez com que ela achasse que teria um novo perdão.
Acho que a Camila não vai denunciar a Laura por levar a Marina, mais vai conversar com o Carlos e Andreia para saber aonde a Laura se meteu.
Bus e até o próximo
Resposta do autor:
Hum... será que vai acontecer isso?!
Obrigada. Beijos e até o próximo.
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NovaAqui
Em: 09/07/2017
Laura fazendo merda. Levar a filha, isso é sequestro
Espero que ela volte antes de Camila por a boca no trombone
Ela não é a mãe dela. Ela é parecida, mas pode tentar mudar.
Camila sofreu muito quando ela quase foi morta.
Acho que Laura exagerou na dose de trabalhar, mas Camila precisa respeita-la e elas deveriam conversar para tentar se entenderem
Elas se amam, mas está faltando um pouco mais de diálogo franco.
Abraços fraternos procê!
Resposta do autor:
Acho que por mais que a Camila tente dialogar, a Laura sempre fugiu dessas conversas. Vamos ver no próximo capítulo se ela volta.
Abs!
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