A fortiori por Bastiat
Capítulo 6 - Um filho? Duas filhas
Camila
- Um filho? - Eu repeti a pergunta.
A Laura só pode estar louca! Depois da briga que tivemos, falar em um bebê, uma criança, uma responsabilidade.
- Sim, um filho. Por que a surpresa? Você não quer?
É claro que eu quero, sempre quis ser mãe e com a Laura empolgada daquele jeito o meu lado racional praticamente parou de funcionar. Mesmo assim, recuperei o controle e tentei ponderar:
- Você só está dizendo isso porque brigamos feio. Mas estamos bem, eu já te desculpei. Vamos curtir mais o nosso casamento, afinal nós temos um pouco mais de um ano de casadas. Além disso, o momento da nossa carreira não vai nos permitir aproveitar a maternidade, educar, estar presente.
- Amor, nós nos casamos há pouco, mas estamos juntas há cinco anos! Além disso, eu não estou falando isso só para abafar uma briga. Um filho não salva casamento, não une duas pessoas e eu sei bem disso, meu pai de sangue nunca se casou com a minha mãe. Enfim, o que quero dizer é que nós nos conhecemos muito bem e podemos dar esse passo.
Mordi meu lábio inferior em puro nervosismo, eu tinha que escolher as palavras para não ofender.
- É justamente por nos conhecermos muito bem que eu acho melhor esperar mais um pouco.
Laura desmanchou o sorriso que tinha até aquele momento e eu me arrependi um segundo depois do que eu falei. Parece que meu subconsciente saiu pela minha boca. Eu estava tentada demais a dizer que quero sim ter um filho, entretanto estava com medo também.
- Eu entendi - Laura sorriu sem graça. - Tudo bem, você deve estar certa. Acho que podemos escolher outro momento para ter essa conversa porque não quero que pareça que eu só quero um filho porque por causa de uma briga que você mesma disse estar resolvida. Mas deixo bem claro que eu ia falar com você antes disso. Eu realmente quero ter um filho nosso e vou esperar o seu tempo. Quem sabe quando você estiver mais segura quanto ao nosso futuro.
Olhar naqueles castanhos âmbar e me deixar aprofundar fez o meu coração se encher de amor como não aconteceu nas últimas semanas. Peguei a mão esquerda da Laura e coloquei na minha barriga.
- Eu quero ter um bebê, eu quero muito aumentar a nossa família. Se você está certa do que quer, eu vou adorar gerar a nossa criança.
- Eu fui sincera com você quando te disse que nunca pensei em ser mãe. Foi só quando você tocou no assunto e depois do nosso casamento que eu senti esse desejo. Se você também quiser e ter a certeza de que eu tenho, vou adorar te ver gerando um filho nosso.
- Então vamos começar a pesquisar mais sobre o assunto e começar a planejar tudo. Vamos ter um filho.
Unimos as nossas mãos e a boca da Laura veio de encontro com a minha. Sua boca sugava a meus lábios e ela, que ainda estava sentada no meu quadril, começou a rebol*r do jeito que eu gostava.
- Para ter um bebê teremos que praticar, não é? Estou gostando ainda mais dessa ideia.
Dei risada, só a Laura mesmo para falar aquele tipo de besteira. Desci com a minhas mãos e apertei a sua bunda.
- Vamos aproveitar que ainda não tenho um barrigão e fazer todas as posições que não faremos por meses.
Foi a vez da Laura rir e depois nos entregarmos ao prazer.
...
Três meses depois eu entrava no consultório da doutora de mão dada com a Laura. É o dia que, se der tudo certo, engravidarei. Eu e a Laura optamos pelo método ROPA, o que a Laura achou um máximo, já que ela também queria uma participação maior.
Embora o clima fosse de nervosismo, a doutora era ótima e nos deu todo apoio e confiança a todo momento. Tudo transcorreu muito bem e fui para casa tentando conter a ansiedade minha e da Laura até o dia que pudéssemos fazer o exame.
Os dias passaram e 12 deles depois, mais uma vez eu e a Laura entramos juntas no consultório da doutora que fez a inseminação. Fiz um exame rápido de sangue e não contive a emoção ao escutar a doutora dizer:
- Parabéns Camila e Laura, vocês serão mamães.
Para a nossa sorte e felicidade, eu engravidei de primeira. Nos abraçamos e vi Laura soltar algumas lágrimas de emoção. A doutora fez mais algumas recomendações e dali três dias eu teria retorno para uma ecografia.
- Hoje eu sou a pessoa mais feliz do mundo! Não vejo a hora de te ver de barrigão - Laura disse quando saímos da sala da doutora.
- Espero que continue dando tudo certo e que eu não perca o bebê, ainda é tudo muito cedo.
- Vai dar tudo certo, eu tenho certeza. Não pense nisso.
...
Três dias depois, ouviu-se o batimento cardíaco na minha ecografia e era a certeza de que eu estava grávida.
Uma Laura atenciosa estava me surpreendendo positivamente em tudo. Ela passou a ir à todas as consultas comigo e na que descobriu que seriam duas meninas, derreteu-se toda. Como se fosse possível, conseguiu ficar mais feliz ainda.
Tenho certeza de que a Laura será uma mãe incrível. Ela escolhia as roupas e adorava comprar brinquedos mesmo sabendo que demoraria um bom tempo para elas começarem a interagir com eles. Na montagem do quartinho, Laura tinha mais cuidado do que eu na segurança e nos detalhes mínimos para o conforto das nossas meninas.
Comigo Laura era até chata nos cuidados. Chegava em casa e já fazia massagem nos meus pés. Até mesmo se esforçou e aprender a cozinhar além do básico para que eu não fizesse nenhum grande esforço. Além de amorosa, fazia todas as minhas vontades e isso me deixava ainda mais apaixonada por ela.
A reportagem que quase nos separou antes da gravidez terminou um tempo atrás. Embora a minha mulher já tenha diminuído o ritmo de trabalho antes, depois que foi ao ar, Laura foi obrigada ficar um pouco afastada da redação. Ela fez um ótimo trabalho expondo a corrupção na prefeitura, o que acabou afastando o prefeito do cargo. Era disso que ela gostava, ajudar a população com seu jornalismo investigativo.
Eu já estou com quase oito meses e a minha barriga está enorme. Esta noite estou sendo paparicada pela minha irmã com um jantar que prepara pelo desejo que tive mais cedo.
- Eu serei a melhor madrinha e tia do mundo - Verônica disse enquanto colocava a tampa em uma panela cheia de molho pronto para ser colocado no macarrão.
- Eu imagino! Mal se aguenta de ansiedade para o nascimento delas - dei risada.
- Eu amei essa ideia de uma madrinha e um padrinho para as duas.
- Foi ideia da Laura. Prática como sempre.
- A última reportagem dela está dando o que falar até hoje. Eu que a xingo por trabalhar demais, tive que tirar o chapéu para ela dessa vez.
- Minha mulher é fantástica, está pensando o quê? Tem um faro para essas coisas que dá até medo. Expor o prefeito assim não é para qualquer um.
Olhei para o relógio e notei que estava passando da hora dela chegar. O jantar já está quase pronto. Ela não avisou se ia chegar tarde, só que irá trazer o Sérgio.
- A Laura está atrasada.
- Ei, está com ciúmes do Sérgio? - Vero sorriu sacana.
- Claro que não!
- Liga para ela, ué. Vai ficar nessa agonia à toa?
- É isso mesmo que eu vou fazer.
Assim que eu peguei o meu celular a campainha tocou.
- Deixa que eu atendo. Vai ver a doida da sua mulher esqueceu a chave.
Senti um aperto, alisei a minha barriga tentando passar tranquilidade para mim e para as meninas que hoje estão especialmente agitadas.
Levantei-me devagar da cadeira e caminhei pensativa até a sala. Para a minha surpresa os meus sogros estão parados no meio do local amplo e minimalista.
Sorri cumprimentando-os.
- Que surpresa boa vocês aqui! A Vero está preparando um jantar divino, parece até que vocês adivinharam.
Eles se entreolharam e permaneceram em silêncio. Só então percebi que eles não estavam compartilhando da minha alegria. A minha sogra estava até com os olhos marejados.
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei sentindo meu coração apertar cada vez mais.
- Vamos nos sentar - finalmente o senhor Carlos disse alguma coisa.
- Não, eu não quero sentar-me. Está acontecendo alguma coisa e eu quero saber o que é - não escondi meu nervosismo.
- Cah, sente-se. - Vero veio para perto de mim e me conduziu até o sofá.
Tentando entender o que aquele cuidado todo significava, obedeci a ordem proferida pelos dois.
- Camila, a Laura sofreu um pequeno acidente - meu sogro disse.
- O quê? Ela está bem? Como foi isso? Eu preciso vê-la.
- Eu não posso mentir para você - prendi a minha respiração - Laura sofreu um atentado. Ela está passando por uma cirurgia delicada agor...
Eu não ouvi e nem vi mais nada. Não sei por quantos minutos desmaiei, só sei que minutos depois passei a ouvir ao fundo vozes que sugeriam me levar ao hospital. Recobrei a consciência, com esforço chamei pelo nome da minha sogra, sei que ela é mãe e vai entender o meu desespero.
- A Camila acordou gente!
Minha irmã sentou-se perto de mim no sofá e fez carinho em meu rosto.
- Como você está se sentindo, meu bem? - Dona Andreia perguntou preocupada.
- Eu quero saber da Laura.
- Você está sentindo alguma coisa? As meninas estão bem? - Perguntou o senhor Carlos.
Por que eles estavam mudando de assunto? A Laura precisa de mim.
- Vocês estão me escondendo alguma coisa, não é? A Laura não está morta, está?
- Não, claro que não - meu sogro prontamente me respondeu.
- Então o que aconteceu? Vocês falaram em acidente, depois atentado. Ela bateu o carro?
Houve um silêncio.
- Meu bem, - minha sogra começou a falar - tentaram matar a Laura. Ela levou dois tiros nas costas e um no abdômen.
Comecei a chorar de desespero. Depois de beber um copo d'água que a minha irmã trouxe, me recuperei e perguntei:
- Como vocês sabem que foi atentado?
- O Sérgio ouviu o bandido dizer que... - sua voz embargou e pude ver que as lágrimas rolavam pelo rosto da Dona Andreia.
- "Vai denunciar prefeito no inferno agora sua jornalistazinha de merd*", foi isso que o bandido disse. Eles estavam em um posto de gasolina e o Sérgio estava voltando da lojinha de conveniência quando tudo aconteceu.
- Quantas vezes eu avisei a Laura que isso poderia acontecer? Eu sabia que ela tinha se metido com um bandido! Esse prefeito é um bandido. Ela nunca me deu ouvidos, cabeça dura - desabafei.
Ela sabia que corria risco e agora eu estava correndo o risco de ficar sem ela.
- O que estamos fazendo aqui? Vamos para o hospital! - Disse levantando-me. De repente eu juntei uma força que não sei de onde veio.
- Ela está passando por uma cirurgia demorada. Achamos melhor dar a notícia pessoalmente, mas já estamos voltando para lá, o Sérgio qualquer coisa liga. - O senhor Carlos respondeu.
- Vamos, só preciso da minha bolsa. Vero, pega para mim lá no quarto por favor?
- Camila, não é melhor ficar aqui? Nesse estado você precisa descansar - Minha irmã ponderou.
- Vocês estão loucos se estão pensando que eu ficarei aguardando notícias aqui deitada. Eu estou bem, nós estamos bem - acariciei minha barriga volumosa - A Laura é quem precisa de nós agora. Eu e as minhas filhas queremos estar ao lado dela quando acordar.
Ninguém questionou mais nada e partimos para o hospital.
O caminho foi mais longo do que imaginei. Talvez o meu desespero tenha ajudado para essa percepção.
Chegamos no hospital e a cirurgia ainda estava em andamento. Como era complexa minha preocupação só aumentava. Eu rezava a todo instante pela vida da Laura. A cada minuto que se passava parceria uma eternidade.
- Vocês são os familiares de Laura Neves Dopollus?
Vi o médico e me aproximei dele.
Todos respondemos que sim e segurei a mão da minha irmã pedindo força.
- A cirurgia foi um sucesso! É realmente um milagre não ter atingido o coração. O mais importante é que as balas já foram retiradas e ela não corre nenhum risco de morte.
Abracei a minha irmã aliviada.
- Ela ainda está na UTI e precisa descansar. Com os remédios que tomou, só acordará amanhã à tarde. Se tudo correr bem, amanhã estará no quarto e então a entrada de vocês estará liberadas. Desejo a todos uma boa noite.
Eu estava tão feliz e aliviada, só faltava ouvir a voz dela para passar realmente o susto. Fui para casa a contragosto, mas como não poderia vê-la, resolvi descansar.
...
No dia seguinte, tomei café da manhã e fui direto para o hospital. Quero estar lá quando o meu amor acordar. Mas apenas depois do almoço tiraram os aparelhos pesados de hospital, levaram ela para o quarto e pude entrar.
Fiquei observando seu rosto pálido, segurei a sua mão. Eu quase perdi a mulher da minha vida.
Seu despertar foi comemorado com um sorriso emocionado e logo em seguida Laura abriu os olhos.
- Oi, meu amor, minha vida - eu disse.
- Camila - sua voz saiu fraca, mas sorriu. - Onde estou?
- Você está no hospital, vida.
Percebi que seu olhar mudou, talvez ela estivesse se lembrando de tudo.
- Tentaram me matar. Eles me chamaram de jornalistazinha de merd* - agitou-se.
- Ei, ei, passou, já passou. Você sobreviveu e está tudo bem agora.
...
Duas semanas depois, Laura recebeu alta do hospital, mas teve que ficar de molho por mais um tempo em casa.
Enquanto ela lia um livro deitada na nossa cama, resolvi iniciar a conversa que estava adiando. A certeza de que ela está bem me deu coragem:
- Vida - chamei a sua atenção sentando-me ao seu lado - Eu quero falar... é um assunto chato, mas necessário. Precisamos conversar agora pois sinto que se não resolvermos agora será pior.
- Eu já até sei o assunto, meu amor. Estava esperando por isso, pode falar.
- Você sabe que você sofreu um atentado contra a sua vida, não é?
Vi ela balançando a cabeça em afirmação, então prossegui:
- E sabe que foi o prefeito que por causa da reportagem mandou matar você, não é?
- Eu sei de tudo isso. Todo mundo sabe. Sou eu, a sua mulher aqui, estou bem e você pode ser mais direta - bufou abafando uma risada curta.
- Eu sempre te avisei que você corria sérios riscos por escolher um lado arriscado da profissão. - Seu silêncio fez com que eu continuasse. - Você foi brilhante durante todo esse tempo, mas acho que chegou a hora de ir para um lado mais seguro e tranquilo da profissão. Nossas filhas não merecem crescer sem uma das mães. Sei que pedir por você, por mim, pelo nosso casamento, infelizmente não adiantará. Sinto-me cansada, sabe?! Então, pelas nossas filhas, Laura, eu te peço para largar as reportagens de denúncias graves.
Laura permaneceu em silêncio por mais tempo que previ. Eu sei que é um duro golpe deixar de fazer aquilo que ela ama. Para o meu alívio, a sua resposta foi a por mim esperava:
- Você está certa. Não posso arriscar mais. Por elas e ainda por você, eu vou parar com isso. Eu sempre soube dos riscos, mas viver tudo foi o meu limite.
- Você me promete, Laura? Me promete que nunca mais vai mexer com jornalismo investigativo?
Ela agitou-se na cama e depois de respirar fundo, respondeu:
- Sim, te prometo.
- Você tem certeza? Não está dizendo isso para encerrar o assunto ou da boca para fora? É uma promessa que está disposta a cumprir por mais que fique tentada a quebrá-la?
- Eu sei que minha palavra sobre o trabalho não tem valido de muita coisa, mas dessa vez é diferente. Agora sim é uma promessa. É inquebrável.
Senti algumas pontadas fortes na barriga e mordi os meus lábios para conter um grito.
- O que foi? - Laura percebeu que tinha alguma coisa de estranho.
- Acho que elas vão nascer.
A bolsa estourou. Chegou a hora de trazer ao mundo duas meninas que serão os nossos laços eternos.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 06/03/2019
Argumentos Laura tinha de aobra em relação a ter filhos.
Camila como esposa apaixonada .....e desejosa de ser mãe aceitou.....e mudanças positivas aconteceram......
Aí vem o atentado.....um alerta para o casamento. ....e a vida delas......será que Laura conseguirá em definitivo ficar longe do jornalismo investigativo? ?????
Rhina
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