*A autora agora te convida para mergulhar na narração dos pensamentos e nas visões das personagens*

 

 

Camila

 

    Estávamos no portão do prédio que eu morava. Minha vontade é de ficar ali no carro da Laura apreciando mais um pouco de sua companhia.

    - Obrigada pelo jantar, Laura - por fim resolvi dizer após um período de conversa.

    - Obrigada você por tudo o que estou sentindo.

    Não esperava por esse clima. Eu olhava todo o seu rosto, mas o que mais chamava a minha atenção eram seus olhos que estavam brilhando como jamais vi iguais. Em um dado momento, pude notar que ela fazia o movimento de olhar dos meus olhos e para a minha boca. Ela se aproximou e senti sua respiração ansiosa. Fechei os meus olhos, quero e serei beijada. Esperei o momento que poderá ser um grande passo para um caminho ainda desconhecido, mas com esperança de ser amor.

    O beijo aconteceu de forma lenta no primeiro momento. Nossas bocas ansiosamente pediam para serem exploradas, mas a forma mágica e lenta de como acontecia estava bom. Até que ela decidiu avançar mais e nossas línguas dançavam com sede uma da outra e de um jeito veloz. Nossas bocas se encaixavam de forma assustadoramente perfeita. Sinto-me nas nuvens.

    Se não precisássemos respirar, ficaríamos naquela sintonia por horas. A separação de nossas bocas foi inevitável. Ficamos um tempo apenas olhando uma para outra e seus dedos circulavam pelo meu rosto, fazendo carinho.

    - Seu beijo é muito bom - Laura quebrou o silêncio - Posso repetir?

    Disse que sim balançando a cabeça sorrindo.

    Ficamos trocando carinho e beijos por um tempo. Foram bons minutos de amassos. Me perdi no tempo, quando saí da bolha me dei conta de que já era bem tarde e disse:

    - Eu tenho que ir.

    Laura fez uma careta engraçada.

    - Mas já? - fez beicinho no final.

    - Sim. Amanhã é sábado, mas eu trabalho.

    - Eu também. - sorriu sincera.

    - Então nos vemos amanhã.

    Dei um último beijo e sai do carro. Passei pela portaria e antes de entrar no prédio vi seu carro dar a partida e ir.

 

Laura

 

    Dirigir com esse sorriso é normal? Talvez seja. Ainda sinto o gosto dos lábios de Camila. Que beijo diferente. Defino como delicado e caliente. Depois da noite de hoje só tenho certeza de duas coisas: Camila é sim a mulher mais linda do mundo e seu beijo é o melhor que já provei. E olha que não foram poucas bocas que beijei. Com certeza o sex* deveria ser maravilhoso também.

    Eu ainda não acredito que estou voltando para casa depois de um encontro sem sex*. Quando eu estava me empolgando percebi que a Camila cortou minhas asas, não queria uma noite quente como eu planejava. Mesmo assim, estou nas nuvens. Nunca me senti tão bem, ninguém nunca me fez tão bem como ela está fazendo. Eu estava ansiosa para reencontrá-la amanhã.

 

 

Camila

 

    Cheguei em casa e fui direto para o quarto da minha irmã. Eu preciso contar para alguém.

    Bati na sua porta e entrei. Verônica estava assistindo alguma coisa na tv quando falei:

    - Eu estou apaixonada.

    Vero olhou para a minha cara assustada, sentou-se na cama indagou:

    - Apaixonada pela bonitona da redação? Assim, do nada?

    - Exatamente. Simplesmente apaixonada não, completamente apaixonada. Eu estou de quatro pela Laura.

    - E isso é bom ou ruim?

    - Eu não sei - mordi meu lábio inferior acusando minha ansiedade.

    - Vocês ficaram?

    - Sim, foi maravilhoso. Ela é maravilhosa.

    - Você é muito confusa, Camila. Se foi maravilhoso, não tem nada de ruim.

    - Eu estou apaixonada por ela... mas e ela?

    - Parte para o ataque! Não fique para e esperando que ela se declare.

    - Somos tão diferentes - reclamei desanimada.

    - Diferentes?

    - É. Ela é agitada, eu sou mais calma. Ela é certinha, eu sou desastrada. Ela prefere Londres, eu Paris. Ela gosta de salgado, eu de doce. Ela prefere filme de aventura, eu romance. Ela detesta comida japonesa, eu amo. A escola de samba dela é Tijuca, a minha é Portela... e tantas outras coisas. Nossas visões de mundo e de futuro parece que não se encaixam.

    - Não vejo problema nenhum. Para de procurar desculpa para seguir em frente! Entre na vida dela, tente um relacionamento. Se der certo bem, se não der bola para frente. Você não precisa casar-se.

    - Mas eu quero me casar com ela. - sorri imaginando a cena.

    Vero suspirou fundo e me abraçou.

    - Eu sei disso, você está muito apaixonada e eu temo por isso. Não me impressiono que as coisas com você acontecem rápido demais. Sempre foi assim. Mas te dou todo apoio que precisar. Se der errado estou aqui.

    - Obrigada Vero, eu te amo.

    - Eu também te amo, sua idiota. Não se esqueça que eu preciso conhecer essa Laura e aprovar.

    - Claro, se depender de mim você vai conhecê-la em breve.

     Fui dormir aquela noite disposta conquistar a minha já querida Laura.

 

 

Laura

 

    Faz duas semanas que eu e a Camila estamos saindo. Eu estou curtindo essa espécie de namoro de adolescentes. Nunca tinha ficado com uma mulher apenas indo a jantares, cinema e teatro. Não passávamos dos beijos e sempre que eu avançava um pouco mais, era cortada.

    Depois que eu a convidei para passar o feriado em Angra dos Reis e ela recusou, resolvi dar um tempo para mim naquela sexta-feira. Precisava refletir sobre o que estava acontecendo comigo nos últimos dias e tomei a decisão de que não ligaria para ela.

    Estou sentada na beira da piscina da minha casa, apenas observando e pensando nos últimos dias.

    - Que cara é essa? Brigou com a namorada? - Ouvi meu pai dizer e sentar-se ao meu lado.

    - Que namorada? Eu não tenho namorada - meu olhar continuou longe.

    - Camila não é sua namorada?

    - Não.

    - Ela não quer?

     Finalmente olhei para o meu pai. Que tipo de pergunta era aquela?

    - Não estou entendendo.

    - Você sai com ela todos os dias. Vão ao cinema, teatro e sempre almoçam juntas. Isso não é namoro?

    - Não! Ela é uma amiga.

    - O que está acontecendo? Eu vejo seu olhar para ela na redação, o jeito apaixonado de vocês. Percebo a troca de carinho discreta. Além disso, você está até sorrindo pela casa.

    - Eu não sei o que eu sinto - confessei confusa.

    - O que você sente quando está com ela?

    Suspirei.

    - Eu sinto meu coração disparar quando ela chega na redação. Eu fico ansiosa pelo seu beijo e quando a beijo é tudo tão bom. Quando estamos juntas é diferente, é mágico.

    - Sintomas de paixão. Você está apaixonada, qual é o problema disso, Laura? Se entrega!

    Fiquei pensando em suas palavras. Eu estou apaixonada.

    - E o sex*?

    - PAI!  - gritei em advertência.

    - O quê? - ele riu do meu escândalo.

    - Chega dessa conversa.

    Dei por encerrada a conversa e fui morrer de tédio no meu quarto.

 

 

Camila

 

    - Ela não me ligou o dia todo - reclamei com a Vero.

    - Pudera, você recusou o convite para passar o feriado com ela em Angra. Eu pensaria logo que a garota não estava a fim de mim e desencanava.

    Fiquei em silêncio. Será que ela já desistiu de mim? Eu só rejeitei um convite dela.

    - Eu não queria ser fácil, só isso.

    - Está fazendo papel de menina boba. Liga logo para ela e diz que você pensou melhor e quer ir.

    - Mas e se ela não atender?

    - Você não vai saber se não tentar ligar.

    - É melhor não, já perdemos a sexta-feira e ela já deve ter outros compromissos.

    Minha irmã revirou os olhos e depois sorriu sapeca.

    - Está com medo? Então pode deixar que eu ligo. Temos a mesma voz e eu sei te imitar toda boba apaixonada. Anda, dá o número dela. Ou você prefere que eu descubra?

    Saltei do sofá assustada.

    - Nem pensar! Não e não, Verônica!

    - Se você não ligar agora eu vou fazer isso sim, é ligar ou ligar! Deixa de ser boba.

    Peguei o telefone e liguei. Era melhor não contrariar a Vero e eu estava doida para fazer isso.

 

 

Laura

 

    Fiz um aceno para o porteiro e o ouvi comunicando a minha presença para a Camila. Ela tinha aceitado o meu convite para Angra na noite passada e eu não poderia estar mais feliz. Se eu falar que não estou pensando em sex*, mentirei. Mas de certa forma não é só isso, quero conhecê-la melhor e passar mais tempo desfrutando de sua companhia. Meu pai falou para fazer um pedido de namoro, mas acho isso tão cafona. Querendo ou não aquela viagem era para selar um compromisso. Para que dar nome aos sentimentos?

    Ela desceu com uma mala média na mão direita e sorriu. Entramos no carro e partimos.

    No meio de tanta conversa, já estávamos quase chegando na casa dos meus pais em Angra dos Reis.

    - Vai ter sol o feriado inteiro, vai dar muita praia e você vai poder tomar um bronze - Camila disse sorrindo.

    - E quem te iludiu que eu quero me bronzear? - Falei em tom sério.

    - Branquela! - Gargalhou. Foi música para os meus ouvidos

    - Sou mesmo. Mas só para deixar bem claro, eu odeio praia.

    A boca da Camila fez um a letra o do alfabeto.

    - Estamos indo para Angra dos Reis mesmo?

    - Sim! Já chegamos.

    Parei o carro em frente à casa dos meus pais que me emprestaram a chave para passar o feriado, era de frente para o mar.

    Descemos juntas e Camila olhou para mim desconfiada.

    - Mas se você não gosta de praia, por que viemos para cá? - Ela cruzou os braços enquanto perguntava.

    - Porque eu gosto de uma certa garota que me disse que gosta muito de praia. - Respondi alisando seu rosto.

    Camila beijou-me com vontade.

    Entramos na casa que estava toda arrumada. Sempre bem cuidada para os caprichos da dona Andreia.

    - Nossa, que linda casa. Bem espaçosa - Camila admirou o lugar.

    - É. A da Serra é muito mais bonita, na próxima vez vamos para lá. Mas por agora vou te mostrar que Angra é mais que praia, tem lugares ótimos para conhecer. Quando for final da tarde, quase noite, prometo que vou com você na praia.

    - Você é maravilhosa sabia?

    - Você me faz ser assim.

 

 

Camila

 

    Conheci uma Laura diferente, ela estava muito à vontade, fazendo diferentes brincadeiras. Estávamos parecendo um verdadeiro casal passeando pelos pontos turísticos de Angra.

    Depois dela cumprir a promessa e ir comigo para a praia admirar o pôr do sol, chegamos na sua casa cansadas. Laura preparou um lanche leve e esse foi o nosso jantar.

     Enquanto eu fui tomar banho no banheiro do meu quarto, Laura foi tomar o banho dela no seu quarto. Na verdade, não falamos nada de quartos separados, ela colocou suas malas em um quarto e as minhas neste.

    Para minha surpresa, quando sai do quarto Laura estava sentada na minha cama.

    - Oi. - sorriu correndo os olhos pelo meu corpo mesmo eu estando de roupão.

    - Oi. Que surpresa boa.

    - Eu trouxe um filme para assistirmos - Laura mostrou a capa e pude ver que era "...E o tempo levou"

    - É, estou quase acreditando que você gosta mesmo da garota que gosta de praia e que prefere filme de romance.

    - Muito. Você não imagina o quanto.

    Deitamo-nos na cama abraçadas e logo percebi que sua intenção não era assistir ao filme que estava passando. Ela sabia tocar, beijava o meu pescoço com leves mordidas e nossos beijos se tornaram mais urgentes.

    - Camila, você quer tanto quanto eu?

    Tentando controlar a minha respiração, consegui responder com um sim e ela desligou a televisão partindo para cima de mim. Em meio aos beijos, tiramos nossas roupas e aos poucos fomos explorando o corpo uma da outra. Nossas mãos ganharam vida e o toque passava de carinhosos a exorbitante em segundos.

    Seu jeito de amar era intenso e fizemos uma sintonia perfeita, os orgasmos vinham com intensidade jamais sentido antes, sempre chegando ao ápice do prazer. Fui dormir com uma certeza: Laura é a mulher da minha vida. Exagerado para alguns, sentindo intensamente por mim.

 

Laura

 

    Acordei e senti os braços da Camila envolvendo-me. Girei o meu corpo e fiquei de frente para ela. Estou cada dia mais apaixonada por ela. Não admitia para os outros, mas sei que ela é diferente. Eu queria ter aquela mulher para mim e ela está aqui dormindo relaxada. Tive o melhor sex* da minha vida, uma entrega total. Eu nunca tinha me entregado dessa forma para ninguém. Isso é amor, tenho certeza.

    Não resisti ficar apenas olhando aquela boca carnuda, dei um selinho e esperei ela acordar. Camila não se mexeu, ela dormia como uma pedra. Fiz carinho em seu rosto e dei um selinho mais demorado. Finalmente acordou.

    - Bom dia, dorminhoca!

    Ela abriu os olhos lentamente e sorriu. Eu só conseguia pensar na sorte que eu tenho de poder vê-la tão linda acordando nos meus braços.

    - Bom dia! Que horas são? - Sua voz saiu arrastada.

    - Passam das 10 horas. Ainda dá tempo de namorar mais um pouquinho...

    E foi isso que fizemos por aquela manhã, muito amor.

...

    Após o almoço, Camila começou a ficar mais calada. A convidei para dar uma volta e comprar alguns ingredientes que faltavam para o jantar, mas estranhamente preferiu ficar em casa.

    Fiz a compra o mais rápido que pude para não deixá-la sozinha muito tempo e quando cheguei em casa percebi que ela estava falando com alguém no telefone. Minha curiosidade foi maior e ouvi um pedaço da conversa. Ela falava com a irmã, sorri quando disse que tinha tido a melhor noite da sua vida, mas meu sorriso foi desfeito quando a ouvi dizer que estava angustiada porque pensou que seria pedida em namoro. Foi quando caiu a minha ficha de que ela poderia achar que eu estava brincando com ela. Entrei falando:

    - Cheguei, minha gostosa - o sorriso dela foi de orelha a orelha. - Espero que a minha namorada tenha descansado. 

    - Namorada?

    - Sim, a namorada mais linda do mundo. Você, por acaso, não quer?

  Foi quase um pedido, eu nunca fui romântica.

    - Isso é um pedido? - ela levantou-se do sofá e pediu com a boca a centímetros da minha - Faça o pedido. Eu sou romântica, meu bem.

    Fiquei desconcerta, mas fiz:

    - Camila, você quer ser minha namorada?

    - É tudo que eu mais quero na vida. - Respondeu ao meu pedido sorrindo e com um brilho inenarrável no olhar.

    Beijei a sua boca carnuda na medida certa que se encaixa perfeitamente na minha. Eu posso beijar esses lábios pelo resto da minha vida. Para sempre.

 

Fim do capítulo