Capítulo 6 - Serenata, aulas e toco
Flávia
As ruivas conversam, se enturmando. A felicidade na face da mãe de Emi era notória. Decidi não me aproximar muito. Me mantive com o meu violão, apenas observando aquele momento.
Afinei as cordas, dando atenção a função, mas me dei conta de que alguém se aproximava, então levantei a cabeça, dando de cara com uma das ruivas. A mais nova, chamada Lívia.
Ela olhava do instrumento para mim.
- Gosta? – perguntei, sorrindo.
- Sim, sempre quis aprender... – ela parecia gostar de música.
- Toca alguma coisa? – a garota acenou em positivo. – O que? Senta...
Bati no lugar ao meu lado e a menina fez o que pedi.
- Toco Sax... Meu namorado e eu nos apresentamos em bares. – a olhei surpresa. – Ele é vocal...
- Que chique... E por que ainda não aprendeu? – perguntei curiosa.
- Eu não tinha tempo... É complicado. – ela sorriu, passando a mão nos fios de cobre.
- Posso te ensinar. Você sendo musicista deve aprender rápido. – dei de ombros.
- Eu iria gostar... Sempre achei esse instrumento algo lindo. – sorri.
- Então tá combinado. – estiquei minha mão para a ruiva e rindo, selamos aquilo. – Juliana tá feliz...
Comentei, mirando do outro lado da piscina.
- Minha mãe sempre nos contou sobre seu passado. O fazia com um brilho bonito nos olhos... – encarei a ruiva. – Ela é uma mãe que muitos queriam... Nos dá a liberdade de sermos o que queremos. Temos orgulho dela e quando nos contou que seu grande amor da adolescência havia entrado em contato, ficamos muito felizes.
Mirei Juliana.
- Tenho um passado não tão agradável com ela, mas hoje vivemos em paz. Não existe nada melhor do que ficar ao lado de quem amamos... – sorri, observando Amanda vindo em nossa direção.
Mas, seu olhar estava diferente. Ela olhou para Lívia com desconfiança.
A ruiva se levantou.
- Então... Volto aqui para iniciarmos as aulas... Sua namorada é linda. – abri um sorriso.
- Ela é... Espero minha aluna. – a garota acenou com a cabeça, sorrindo e saiu caminhando de volta para a família.
Esperei que Amanda se colocasse a minha frente.
- Por que tá isolada? – ela se agachou a minha frente. Apesar do tom brando de voz, seus olhos denunciavam descontentamento.
Ciúmes.
Quis rir, mas não o fiz.
- É o momento delas... – segurei seu rosto belo, mirando os olhos azuis tão expressivos. – Eu te amo, Amanda... Você sabe, né?
Ela abriu um sorriso que fez meu coração pular em êxtase.
Cássia
A cara de idiota da Samantha estava me deixando com vontade de gargalhar. A ruiva, Ana Clara, nem sequer lhe dava confiança. Mel, Camila e Paloma pareciam ver o mesmo que eu, pois olhavam fixamente para a loira.
- Ela nem disfarça... – Cami comentou.
A outra ruiva sentou ao lado de Mel.
- Olá meninas... – a garota era muito gentil. Parecia mesmo feliz em estar aqui.
- Olá... – respondemos em coro.
- Impressão minha, ou a amiga de vocês tá interessada na minha irmã? – olhamos para Sam e depois para a ruiva.
- Sim, ela tá... – novamente, respondemos em coro, fazendo Lívia gargalhar.
- Ana é um pouco... Difícil. – franzi o cenho.
- Difícil como? – Paloma perguntou o que eu também iria perguntar.
- Ana tem uma namorada, mas as duas vivem brigando. Minha irmã tem o gênio difícil, arredio... – miramos a ruiva que estava em uma conversa com Becca, Emi, Juliana e a mãe das ruivas.
- Vou falar com a Sam... – Melissa levantou e ficamos a observar.
Ela puxou Samantha pelos braços. Saiu praticamente arrastando-a para dentro da casa.
- Me expliquem, todas vocês são casais? – Lívia franziu o cenho.
Era confuso mesmo.
- As únicas solteiras são Melissa e Samantha... Cami é uma das poucas heteros... – olhei para a garota que mantinha o pé sobre uma almofada. – Ao menos, eu acho... – ela me fuzilou e Paloma riu.
- Minha irmã Nicole namora a Isa... – Paloma apontou para as duas, que brincavam no gramado iluminado. – A minha outra irmã Flávia namora a Amanda... – olhamos para elas, que pareciam estar em outro mundo. – Emi e a Becca vocês já conhece. Jaque e Marcela são casadas... Minha tia Juliane namora a Mica... – Paloma apontou para Juliane que tentava chamar a atenção da namorada.
Fracasso total...
- E eu namoro essa coisa fofa aqui... – Paloma apertou minha bochecha, fazendo Lívia rir.
- Menos... Casal. Bem menos... – Cami reclamou.
- Caramba... Isso chega a dar um nó. – a ruiva brincou.
- Você se acostuma... – dei de ombros.
Continuamos a conversar, enchendo a ruiva de perguntas. Ela era divertida, descontraída e nos demos muito bem. Conversamos as quatro como se nos conhecêssemos desde sempre. Depois de quase uma hora, elas se despediram, prometendo voltar no dia seguinte.
Eu, que acompanhei toda a história de Flávia e Emi, me sentia feliz por Juliana. A mulher chegou a me dar medo, no passado, mas agora havia se tornado alguém gentil. O abraço que trocou com a ruiva mais velha foi demorado, cheio de sentimento.
Abracei Paloma.
Jaqueline
Já se passava da meia noite. Marcela havia colocado Fernando para dormir, mas acabou pegando no sono também, então decidi descer e me juntar a Emily, Juliane, Sam, Flávia, Cássia e Melissa, que estavam sentadas na areia da praia. Uma pequena fogueira iluminava a escuridão da noite.
O vento soprava uma brisa fresca.
- Becca me disse que vocês encontraram Danilo e o Júlio. – Flávia soltou o ar com força. Ela era uma das poucas que não bebia bebidas alcóolicas, então segurava nas mãos uma xicara com chá quente. – Amanda comentou que ficou surpresa em como você foi madura.
- Eu quis descer o cacete, mandar os dois para longe. Principalmente o imbecil do Júlio, mas eu fingi essa tal maturidade. Não quero perder a Amanda.
Franzi o cenho.
- Que besteira é essa que tá falando? – perguntei.
Flávia fitou o objeto em sua mão.
- Ultimamente, isso fica martelando em minha cabeça. A minha adorável sogra me disse que eu sou infantil e vários outros gracejos. O pior é que ela tem razão... Tenho medo de perder Amanda por não levar a vida a sério...
- Bobagem... – acreditem, aquela palavra foi dita por Juliane.
Olhamos para ela.
- Aquela mulher te ama... Não há como isso mudar. Não vê como ela te olha? Como tá sempre te mimando e preocupada. Aquela mulher é doida por ti.
Arregalei os olhos.
- Juliane tem razão... – franzi o cenho. – É estranho dizer, mas ela tem toda razão. Tira isso da sua cabeça, Flávia.
A mulher sorriu convencida.
Juliane sendo Juliane.
- Se não, digo pra Amanda e ai quero vê... – Emi ameaçou.
- Falando desse jeito. Quer saber? Vocês tem toda razão.
- Isso... Não se deixa levar... Manda tua sogra pra...
- Cássia... Entendemos... – ri. Ela piscou, enfiando marshmallow na boca.
- Agora só falta a Juliane se entender com a Micaela... – Mel cutucou.
- Isso tá tão difícil... Não sei mais o que fazer pra me desculpar... – ela fez cara de criança pidona. Deu dó da sua clara tristeza.
- Eu tive uma ideia... – Samantha, que desde cedo estava no mundo da lua, levantou.
Ela sorriu.
- Que ideia seria essa? – perguntamos juntas.
- Vamos precisar de dois violões e algumas ajudantes... – senti até medo da possível ideia de Samantha... – Venham...
Jogamos areia na fogueira para apagar o fogo e seguimos atrás da loira.
- Não sei se quero descobrir essa ideia... – Cássia falou, franzindo o cenho.
Isabela
Dormia abraçada a minha namorada, mas acordei quando Nicole tentou sair da cama.
- Não queria te acordar, amor...
Sonolenta, me coloquei sentada, mas franzi o cenho ao ouvir uma voz, um pouco distante. Nick e eu nos entreolhamos e levantamos. Mica, Amanda e Camila acordaram.
- Que é isso? – Cami perguntou, coçando os olhos.
- Ah, Mica? – Nick chamou. – Acho que é pra você...
Micaela franziu o cenho.
Saímos para a sacada.
- Oh, me ajudem aqui... Também quero ver. – Camila reclamou e Nicole a ajudou. Olhei para baixo e tive vontade de rir.
Flávia e Paloma seguravam seus violões. Minha cunhada estava de pijama e com uma cara nada boa. Juliane, que estava vestida com um vestido preto, que chegava aos pés, olhava para cima com uma flor vermelha na mão. Melissa, Samantha, Emi e Jaque seguravam uma faixa escrita:
“Volte para mim”.
- Isso é... – Nick e Cami fizeram careta.
Então a branquela e Paloma passaram a tocar o violão.
Juliane começou a cantar.
Avião sem asa,
fogueira sem brasa,
sou eu assim sem você.
Futebol sem bola,
Piu-piu sem Frajola,
sou eu assim sem você.
Por que é que tem que ser assim
se o meu desejo não tem fim.
Eu te quero a todo instante nem mil alto falantes
vão poder falar por mim.
Amor sem beijinho,
Bochecha sem Claudinho,
sou eu assim sem você.
Circo sem palhaço,
namoro sem amasso,
sou eu assim sem você
Tô louca pra te ver chegar,
Tô louca pra te ter nas mãos.
Deitar no teu abraço,
Retomar o pedaço que falta no meu coração.
Eu não existo longe de você
e a solidão é o meu pior castigo.
Eu conto as horas pra poder te ver
mas o relógio tá de mal comigo
Por quê?
Por quê?
Neném sem ch*peta,
Romeu sem Julieta,
sou eu assim sem você.
Carro sem estrada,
queijo sem goiabada,
sou eu assim sem você
Por que é que tem que ser assim
se o meu desejo não tem fim.
Eu te quero a todo instante nem mil auto falantes vão poder
falar por mim
Eu não existo longe de você
e a solidão é o meu pior castigo.
Eu conto as horas pra poder te ver
mas o relógio tá de mal comigo.
Juliane
Esperei por alguma reação de Micaela, mas ela somente me encarava da sacada. A ansiedade tomava conta, quando vi ela sumir. Olhei para as outras, que pareciam me olhar com dó. Juntei meus caquinhos, girando os calcanhares para sair dali, mas quando iria fazê-lo, senti um abraço forte me envolver.
Virei imediatamente, encarando a minha Mica.
- Isso foi lindo... – ela abraçou o meu pescoço e eu a segurei firmemente pela cintura, não quero deixa-la sair do contato.
- Amor, me perdoa... Eu sei que fui uma idiota, mas eu te amo... Eu não aguento mais ficar sem você... – abri meu coração, sentindo meus olhos arderem. – Diz que me perdoa...
Ela acabou comigo quando abriu aquele sorriso lindo.
Me senti uma manteiga no sol naquele momento.
- É claro que te perdoou, minha vida... Te amo e te amo. – meu coração disparou.
Encostei minha testa na dela, fechando meus olhos e grudando nossos lábios. A principio, ficamos apenas com elas imóveis. Apertei Micaela, querendo, necessitando de seu calor, de seu cheiro... Dela.
Não aguentei e suguei o lábio inferior, sendo correspondida logo em seguida. A língua quente procurou pela minha. O meu corpo inteiro reagiu a ela. Cada mínimo pedaço reconhecia a sua dona.
Sim, Micaela é a dona de meus pensamentos, meu coração, meu corpo... Minha alma.
- Isso é pra você, tia! – ouvi a voz de Camila.
- Corre!
Não tive tempo de pensar em nada. Quando dei por mim, estava totalmente encharcada, assim como Micaela. Nos afastamos, olhando para cima, mas não havia mais ninguém na sacada.
Melissa e Paloma também.
- Filha de uma... – Melissa tapou a boca de Paloma.
Eu estava tão feliz, que deixaria para reclamar do banho depois. Puxei Micaela novamente e mergulhei em sua boca, matando um pouco da saudade que senti da minha namorada, mas depois de um tempo passamos a gargalhar, abraçadas.
- Minha... Só minha... – falei abobalhada.
- Só sua...
Sorrimos.
...
Meia hora depois, estávamos dentro do banheiro. Micaela passava shampoo em meu cabelo, enquanto fazia o mesmo no seu. Olhava para ela, não escondendo o sorriso. Só Deus sabe o quanto aquele afastamento me deixou triste.
Sei que foram somente alguns dias, mas mesmo assim doeu. Não sou exagerada, somente amo demais a mulher de sorriso maravilhoso a minha frente. Sabe quando você sente que conhece uma pessoa há anos e anos?
Eu me sentia assim...
13 de julho.
16:00hrs.
Ana Clara
Olhava através da porta de vidro que tinha como vista o mar. Aquela tarde estava quente, mas muito bonita. O céu com poucas nuvens, a brisa fresca que beijava a pele. Pessoas correndo pela praia. Era possível ver alguns brincando com papagaios enormes.
Sentei na varanda.
Devo admitir que tinha certa visão errada daquele estado, mas me surpreendi quando desembarquei em Belém e chegamos a essa praia. O lugar era bonito e o povo alegre, hospitaleiro.
Minha mãe havia saído com Juliana.
Ela estava tão feliz e merecia, pois sofreu muito com o meu pai. Ele é um homem mesquinho, preconceituoso. Desde que me assumi, perdemos o contato. Ouvi coisas horríveis de sua boca.
Ele chegou a agredir minha mãe. Lembro como se fosse hoje, a cena foi forte e foi o gatilho para tudo que veio a seguir. Naquela noite eu perdi a cabeça e fui para cima do meu pai, arrancando ele do pescoço dela. Tiago não estava e Lívia era apenas uma criança na época.
Foi um pesadelo.
- Ana? – Lívia tocou meu ombro. Virei, para encara-la.
- Aonde vai? – ela carregava o seu inseparável sax.
- Vou na casa da Flávia. Ela irá me ensinar a tocar violão. – ela sorriu.
- Vou com você... – entrei no quarto, colocando uma blusa de mangas, soltinha.
- Vamos pela praia... Quero caminhar. – assenti.
Caminhávamos, enquanto conversávamos sobre as pessoas que conhecemos na noite anterior. Lívia havia gostado de todos, mas não parava de falar sobre Flávia. Pelo que parece, ela adorou a menina.
- Tô com ciúmes. – brinquei, passando meu braço por seus ombros.
- De que? – ela me encarou, franzindo o cenho.
- De ser trocada. Adotou uma irmã? – Lívia gargalhou.
- Acho que fiz uma amiga. Não exagera... – sorri. – Se acertou com a Tati?
Suspirei.
- Não... Tati tá me dando gelo. – rolei os olhos.
- Não entendo vocês... Juro. – mirei o mar.
- Acredite, nem eu. – soltei o ar com força.
Meu relacionamento de três anos com Tatiana era recheado de brigas, separações e até mesmo traições. Eu a amava e esse era o principal motivo para não terminar aquele relacionamento. Lívia e Tiago, meu irmão, viviam dizendo que eu deveria dar um fim de uma vez por todas. Que Tati jamais mudaria o jeito galinha. Mesmo sabendo que era verdade, eu não conseguia.
Isso ia contra a minha personalidade.
Meus amigos não suportavam a minha namorada e também me aconselhavam o termino.
- Ana, volta pra terra. Olha isso... – ela estava com uma feição irritada.
Peguei o celular que ela estendia. Olhei para a tela e senti meu coração ir a boca.
Minha respiração ficou alterada, a cabeça pesou. Meus olhos arderam, mas eu segurei a vontade de chorar. Devolvi o celular para Lívia, tentando manter a dignidade. Não deveria doer, mas doeu.
- Dessa vez vai ser diferente...
Lívia me encarou, parecendo me entender.
Melissa
- Cadê a Sam? – sentei ao lado de Flávia, que estava com Fernando.
- Ela disse que precisava ser menos sedentária... – ergui as sobrancelhas.
Olhei ao redor e estava tudo muito quieto. Minha mãe e Renato foram passear na praia. Emi e Rebecca saíram com Juliana e a namorada. Isabela e Nicole assistiam a um filme na sala. Cássia e Paloma estavam na dispensa.
Sei disso porque fui buscar pão de forma e escutei os gemidos.
Levantei, caminhando para dentro da casa. Subi as escadas, voltando para o quarto. Juliane pintava as unhas de Micaela. Desde ontem essas duas não se desgrudavam. Camila saia do banheiro, mancando, com o celular no ouvido. Ela parou de falar quando me viu.
Deve estar falando com o namorado.
Somente de pensar nisso, senti um incomodo. Desviei o olhar e peguei meu celular, indo para a sacada. Coloquei os fones e até tentei me concentrar, mas minha mente era invadida sem permissão pelas lembranças.
Eu sentia que me afundava mais a cada vez que Camila invadia meus pensamentos. O quase beijo, o pedido para que eu não fosse embora. Cada pequena coisa martelava incansavelmente em minha mente, de dando a sensação de que iria explodir.
Tirei o fone.
Passei a olhar pela sacada e vi quando as ruivas chegaram. Uma delas ficou na praia, parecia falar ao celular e a outra se aproximou de Flávia. As duas trocaram um cumprimento rápido.
- Isso não vai prestar. – levei a mão ao peito. Juliane e Micaela se aproximaram e eu nem me dei conta.
- O que não vai prestar? – Camila perguntou, se aproximando. Evitei olha-la.
- Flávia e a ruivinha. Viram a cara da Amanda ontem? – franzi o cenho.
- A Lívia tem namorado... – falei e Juliane me encarou.
- Assim como a Amanda, a Mica... A Becca. – ela abriu um sorriso. – A Camila...
- Tia, me deixa quieta... – Cami falou entre dentes.
Eu querendo evitar constrangimentos e Juliane não facilita.
- Amor, deixa a Cami em paz. – Mica pediu. As fofoqueiras continuaram a observar a aula de Flávia. Foi quando uma melodia gostosa iniciou.
Franzi o cenho e levantei, me apoiando no parapeito da sacada. Lívia tocava seu instrumento como se ele fosse a coisa mais simples do mundo. Fiquei hipnotizada com o som maravilhoso.
Fechei meus olhos e só tornei a abri-lo quando a música acabou.
- Olha que coisa fofa... – Juliane sorriu e eu não entendi. Ela apontou em uma direção e eu acompanhei.
Senti minha face arder.
Minha mão estava sobre a de Camila, que olhava fixamente para a proximidade. Muito constrangida, tirei a mão, saindo em imediato da sacada. Quase cai quando tropecei no colchão e ainda pude ouvir a risada de Juliane.
Como eu gostava de passar vergonha. Sentei na escada.
- Tá tudo bem Mel? – Jaque sentou ao meu lado.
- Tá tudo errado, Jaque... – passei a mão sobre o cabelo.
- Que conversar? – ela colocou a mão sobre a minha. Eu queria chorar, mas me controlei.
Acenei com a cabeça, dizendo o que estava entalado.
Samantha
Melissa cortou as minhas asas ontem a noite. Não que eu tivesse me apaixonado a primeira vista por Ana Clara, mas a ruiva mexeu comigo, mas ela tem namorada e eu não quero ficar correndo atrás de mulher comprometida. Não faz parte da minha personalidade.
Recuperei o fôlego e passei a correr. Não gostava de exercícios físicos, mas depois de quase ter infartado ao subir as escadas, decidi correr na praia. Ao me aproximar da casa dos meus tios, notei que a ruiva falava ao telefone. Franzi o cenho, pois a menina parecia furiosa. Sem perceber, me aproximei. A garota me olhou e o que veio a seguir foi muito rápido.
Ana Clara me puxou pela regata e me tascou um beijo. Arregalei meus olhos, não entendendo absolutamente nada.
- Ana Clara, você não devia ter feito isso... – ouvi a voz de alguém, mas não soube identificar.
A menina me soltou.
- Essa é a garota que vai me fazer feliz. Me esquece, Tati... – Ana Clara encerrou a chamada de vídeo.
- O que eu perdi? – tentei me situar. – Espera, você me usou pra fazer ciúmes pra sua namorada? – franzi o cenho. – What?
- Eu não pensei direito... Quando te vi, aconteceu... – ergui a sobrancelha. – Eu preciso ir...
- Espera... – a garota saiu correndo, me deixando com uma interrogação enorme.
- O que foi isso? – levei a mão ao peito.
- O que? Esse é o dia de assuste a Samantha? – Cássia gargalhou.
- Sem drama. Você e a ruivona se beijaram... – a ficha caiu.
- Caraca... É verdade. – passei a mão na cabeça. – Mas, eu acho que fui usada.
- Como assim? – Cássia ergueu as sobrancelhas.
- Ela estava discutindo com alguém e eu me aproximei pra saber do que se tava tudo bem, mas ela me puxou e me beijo. – Cássia parecia não acreditar.
- Sei.
- Tô falando sério. Dai, ela saiu correndo... Mulher maluca. – bufei.
Sai em direção a casa, mas dei de cara com Flávia e Lívia. Parece que elas também viram o que aconteceu. Apenas fiz um gesto com a mão e entrei. Subi as escadas, entrando no quarto.
Encarei outras quatro curiosas.
- What?
- Nada... Nada não. – Juliane fez um sinal de rendição.
Entrei no banheiro, me colocando embaixo do chuveiro sem tirar as roupas. Queria saber o motivo de estar tão chateada. Encostei a testa no azulejo, sentindo o gelado colidir com a minha pele.
- Aquela garota. Quem ela pensa que é? Ela acha que pode sair beijando os outros assim? Sem mais, nem menos...
- Tá falando sozinha... Ou é algum amiguinho imaginário? – abri o box e Camila estava apoiada a pia.
- Você viu? – ergui a sobrancelha.
- Sim... Alias, quase todo mundo. Ainda tô sem entender... – ela cruzou os braços.
- Ela me agarrou... Me usou pra fazer ciúmes pra namorada. Dá pra acreditar? – Cami cerrou os olhos.
- Que vadia...
Amanda
Tentava me concentrar na conversa da minha mãe, mas meu pensamento estava lá fora. Ouvia o som do violão e gargalhadas. A vontade de ir até lá estava me deixando louca, mas eu não queria bancar a maluca. Flávia me amava e jamais faria algo para me magoar.
Porém, ela estava estranha nos últimos dias. O seu jeito brincalhão, o sorriso fácil, a mania de implicar com a minha mãe. Tudo aquilo estava estranhamente ausente, me fazendo criar mil e uma teoria.
- Filha, tá tudo bem? – olhei para o meu pai.
- Amanda, você ouviu alguma coisa que eu disse? – sorri sem graça para a minha mãe.
- Perdão, mamãe. Eu estava longe. – admiti.
- Percebi. O que te aflige? – deveria contar que o meu ciúme bobo estava me deixando com vontade de levantar dali e ir sentar grudada a Flávia? Acho que não.
- Nada, mamãe. Estava apenas pensando na faculdade. – menti.
- Tá ansiosa pra estar na sala de aula, né filha? – meu pai sorriu.
Me deu dó em menti, mas conversar com dona Kethelen sobre a minha namorada estava totalmente fora de cogitação.
- Bastante. Vamos tomar um ar? – convidei.
- Vamos sim, filha...
Levantamos, caminhando para os fundos da casa. Sentamos na varanda, onde eu podia observar Flávia. Pelo que parecia, a aula havia chego ao fim. Elas levantaram, vindo em nossa direção. Fernando segurava a mão da minha namorada.
- Boa noite... – a menina falou, sorrindo.
- Boa noite... – respondemos.
- Amor, vou levar a Lívia no hotel. Quer vir conosco? – é claro que iria.
- Vou sim... – levantei. - Vamos amor...
Entramos em casa e Flávia subiu para deixar o Nando com Jaque, mas não demorou. Entramos no carro. Liguei o rádio uma música internacional tocava. Me culpei por estar com ciúmes bobos.
- Obrigada por hoje. – a ruiva se pronunciou.
- Obrigada você. Nossa, eu adorei ouvi-la tocar. – Flávia sorriu. – Amor, você precisa ouvi-la. Lívia é uma musicista esplêndida.
O bichinho do ciúme voltou a incomodar.
- Assim você me deixa sem graça, Flávia. Já pensou em seguir carreira? Sua voz é linda... – apertei o banco do carro.
- Quem sabe um dia... Eu amo a música, mas a biologia é algo que me satisfaz mais ainda. – senti a minha mão se aconchegada. Olhei para mulher ao meu lado. – Foi graças a ela que eu conheci a mulher da minha vida.
Senti meu coração bater tão forte, que mal podia respirar.
- É visível o amor que cerca vocês... – ouvi a ruiva comentar, mas meus olhos estavam presos em Flávia.
Ela me olhou rapidamente, piscando para mim. Foi impossível não sorri para aquela mulher.
- Amanda é o meu anjo dos olhos azuis. Acho que me entende, não é Lívia?
- Sim, também tenho a sorte de ter o homem da minha vida. – franzi o cenho.
- Ela e o namorado fazem uma dupla, amor... – me senti ainda mais tola por sentir ciúmes.
- Então, ele também é músico... – ri de mim mesma.
- Sim... E não é por ser meu amor, mas ele é muito talentoso...
Rimos.
Tive vontade de bater em minha própria testa. Olhei para Flávia.
“Eu tive sorte”. Concluí, sorrindo.
Fim do capítulo
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