Despedida por Lily Porto
Capítulo 61 - Anna
Mais uma noite que eu não durmo, com essa já são duas, ou seriam três?! São três anos com o Beto, dois que carrego essa aliança dourada no dedo e um aperto no coração.
Talvez o certo fosse não ter aceitado o pedido de noivado do Beto, já que eu estava numa fase meio perdida. Mas poxa, ele estava ali, ele sempre esteve ali, e por mais que nós estivéssemos afastados, eu devia isso a ele. Por mais que eu não tivesse mais tanta certeza de que o amava como ele merecia ser amado, eu tinha que tentar.
Depois que a mãe Bah casou, muita coisa mudou aqui em casa. A rotina, o barulho, as confusões. Quando nos mudamos era eu e a mamãe, somente. Daí veio o Lourenço, depois o Ju e a Cléo e também os agregados, o Beto e a Dona, com o detalhe de que quando um estava aqui o outro não estava.
Destas mudanças todas, a que foi mais difícil de acostumar foi ter que conviver com a Donatella sempre por aqui. O namoro dela com o Lourenço fez com que eu me afastasse muito dela, eu tinha que fazer isso. Eu estava apaixonada por ela, mas eu entendi que naquele momento o Lourenço precisava mais dela do que eu.
Ele precisava de alguém que cuidasse dele, protegesse ele de pertinho, fizesse ele sorrir, ajudasse a melhorar a sua autoestima e definitivamente a Dona era muito boa em tudo aquilo. E foi, ele era um cara muito melhor depois que ela passou a fazer parte da vida dele.
Era visível como o mano mudou depois que começou a namorar com ela. Ele amadureceu muito e eles pareciam tão felizes juntos. Teria sido muito egoísmo da minha parte ter tentado alguma coisa com ela a dois anos atrás. Acho que foi melhor pra todo mundo guardar aquela minha paixão pôr ela numa caixinha, muito bem escondida.
Mas justamente por manter essa paixão guardada que eu tinha que me manter longe dela, foi meio que o fim daquela amizade que me fazia tão bem. Eu evitava ficar no mesmo ambiente que ela, evitava até olhar pra ela, parece besteira né, mas é que eu me entrego muito no olhar.
Estou no final do semestre da faculdade, mais da metade do curso já passou. Depois das férias começo a estagiar num restaurante bacana aqui da região.
Meu namoro andava calmo, até o Beto me chamar pra jantar fora e no meio do jantar me lançar a bomba:
– Aninha, olha? – ele disse tirando um molho de chaves do bolso. – Entregaram hoje a chave do meu apartamento. Eu estou tão feliz, era só esse detalhe que faltava pra marcamos a data do nosso casamento. Amor, você acha que em 6 meses a gente consegue programar tudo, buffet, convites, lua de mel? Meus pais fazem questão de uma festa grande pra 400 convidados. Pensando assim, melhor 1 ano né, amor? Mas assim, você não precisa esperar esse 1 ano pra se mudar para o apartamento comigo. Acho que só uns 3 meses até eu conseguir mobilhar tudo e pronto, você já pode vir morar comigo. Que tal? Em 3 meses você vem morar comigo e em 1 ano a gente casa com tudo que a gente tem direito. Eu estou tão feliz, me diz alguma coisa amor, por favor?
Ele mal respirava entre uma frase e outra. E eu queria estar em qualquer lugar menos ali.
Ele falou tudo aquilo com tanta empolgação, os olhos dele brilhavam tanto. Eu queria sentir tudo aquilo que ele estava sentindo, estar tão segura e confiante quanto ele. E, principalmente, estar tão apaixonada quanto ele estava. Mas não eu não estava tão mergulhada assim naquela história toda.
Tomei um gole de vinho pra ganhar tempo e pensar em alguma coisa boa pra responder. Lembram que eu me entrego no olhar? Então, agradeci por estarmos à meia luz e disse:
– Caramba, Beto. Que legal! Você esperou tanto pelo ap., e agora está com as chaves nas mãos. Nossa! Que coisa boa, temos que brindar! – ergui minha taça e encostei na dele. – Sobre o lance de casarmos e morarmos junto, olha... é melhor você me perguntar quando eu estiver sóbria, rs... ah e jamais a mãe Bah vai me deixar sair de casa antes do casamento.
Tá, eu sei que foi uma merd* de resposta, mas foi a primeira coisa que me veio na cabeça. Mesmo à meia luz, eu conseguia ver o quanto o Beto ficou decepcionado. Não era a primeira vez que ele falava em casar e que eu me esquivava de responder. Mas eu também sabia que com as chaves do apartamento nas mãos dele eu não ia conseguir fugir desse assunto por muito mais tempo.
A gente terminou a noite num motel, a ideia era “comemorar” essa grande conquista do Beto. E ali, nos braços daquele homem que jurava me amar, eu me senti suja por não conseguir retribuir a altura aquele sentimento. A pior traição, é quando a gente trai o sentimento. Noite longa, acompanhada de uma bela dor de cabeça que veio pela manhã e desde então as noites sem dormir têm sido frequentes.
Eu precisava conversar com a mamãe Bah ou com a Cléo, acho que era hora de dar fim ao meu noivado. Eu só não sabia como, eu não sou muito boa com finais.
Já estava tudo bagunçado até que numa manhã dessas eu estava sem aula na faculdade e acordei com Lourenço todo enrolado. Ele tinha um trabalho importante pra entregar na faculdade, mas a namorada estava com crise de enxaqueca e ele havia prometido levar o remédio pra ela.
Eu não pensei duas vezes e me ofereci pra comprar o remédio e levar até Dona. Não era sacrifício nenhum, a farmácia era ali perto e Dona era nossa vizinha de condomínio. Eu e Lourenço vivíamos fazendo esse tipo de favores um pro outro, chamávamos de “o poder dos gêmeos”.
Lá fora só garoava e eu detesto guarda-chuva, então não vi problema de ir até a farmácia a pé, e do jeito que estava, a roupa do corpo e o dinheiro do remédio no bolso. Era jogo rápido, em pouco tempo eu resolveria essa questão e logo estaria de volta em casa.
Tudo tranquilo no caminho até a farmácia, mas na volta a chuva apertou e com ela um vendaval que eu nunca vi igual. Resultado? Fiquei ensopada em menos de 10 minutos de chuva.
Mas sabe que eu nem achei tão ruim, apesar do vento forte, a chuva fria lavou um pouco do peso que eu carregava na alma. Era como se eu estivesse voltando a respirar.
Donatella deve ter levado mais ou menos uns 7 minutos para notar a presença de alguém em sua porta e nesse meio tempo o frio se fez presente no meu corpo.
Falando em frio, eu senti um puta frio na barriga quando adentrei sua casa e a vi daquele jeito, tão vulnerável. A carinha de sono misturada com dor, a pouca roupa, a reação de susto ao se deparar comigo e não com Lourenço.
E lá foi meu olhar me entregar novamente. Eu olhava pra ela e me perdia, em pensamentos, em palavras, em tudo. Eu estava perdida. Se a minha mente já não estava raciocinando bem longe dela, que dirá ali, ensopando a sua sala a 1 metro de distância.
Tá, eu sei que eu tinha que ir embora. Mas eu realmente estava com frio e tinha um clima no ar que me fez ficar. Eu já tinha fugido muito das coisas boas que sentia, a Dona me pediu pra ficar, e eu não estava avançando em nada, eu só ia me secar, trocar de roupa e ir embora.
A vontade era de ficar, fazer companhia pra ela até ela ficar boa, recordar os bons tempos de amizade. Eu sentia tanta falta dela, falta da gente juntas! Mas eu tinha plena consciência de que não tinha controle dos meus atos se estivesse perto demais daquela mulher.
Merda... e não deu outra, eu fiquei perto demais daquela mulher e a vontade dela de me ter era tão grande quanto a minha.
E, posso dizer que eu tive nos braços dela o momento de prazer mais incrível de toda a minha vida. Nos braços dela eu senti o que nunca havia sentido.
Caramba, o jeito dela de me olhar, de me tocar, de beijar, ch*par, morder, apertar, nossa. Foi como se meu corpo todo estivesse hipnotizado e respondesse de maneira obediente aos estímulos que ela dava. Era como se nossos corpos já se conhecessem a muito tempo e só estivessem matando as saudades.
Eu não consegui agir muito depois que ela me jogou na cama e começou a me beijar, eu sonhava com aquilo, mas na hora que rolou eu praticamente travei. Não sabia o que fazer, meu corpo só fazia sentir e estava adorando cada segundo.
Mas quando ela se posicionou entre as minhas pernas, eu não sei o que me deu, eu só sabia que queria fazer aquilo com ela também, ao mesmo tempo, do mesmo jeito. E, puta que pariu.
Que mulher, minha nossa, que mulher. Como era bom estar ali com ela, como a gente se encaixava bem, como eu queria mais, como eu queria tudo com ela.
Minhas pernas amoleceram depois que Dona me fez goz*r e, pra finalizar da melhor maneira, ela gozou praticamente junto comigo também.
Ah... como era bom sentir o gosto dela, como era bom estar assim junto dela. Como era bom sentir que ela também me queria, que não era uma loucura minha. Mas um desejo compartilhado por ambas.
Só que quando Dona adormeceu em meus braços, todo o peso da minha alma voltou. Porr*, eu tinha acabado de fazer amor com a namorada do meu irmão, eu definitivamente tinha tirado a minha paixão da caixinha e deixado ela tomar conta de mim. Já não bastava estar na merd*, tinha que sair por ai espalhando a merd* toda.
Eu fiquei ali por mais alguns minutos, olhando ela dormir, matando mais um pouco da saudade, agradecendo, me despedindo e depois parti. Qualquer bilhete que eu deixasse, qualquer satisfação que eu tentasse dar, só iria piorar as coisas, por isso resolvi me isolar.
Eu sei que a Dona não ia entender, mas eu não poderia brigar por ela, não com Lourenço. O certo era colocar a paixão que só aumentou, de volta dentro da caixinha.
Se mesmo antes de dormir com a Dona eu já tinha certeza que deveria terminar com o Beto, agora a minha certeza só havia ganhado força. Eu não iria fazê-lo feliz, não como ele merecia. E ele não me completava, não como eu precisava. E por mais decepcionado que ele fosse ficar comigo e com a minha atitude, era o melhor a se fazer.
Consegui conversar um pouco com a mãe Bah, na verdade, chorei um bocado no colo dela e ela me deu a força final que precisava para dar fim ao meu noivado.
Como disse, não sou muito boa com finais. Assim que decidi sobre o término, eu mudei muito o tratamento com o Beto e ele percebeu. Logo me questionou e eu o chamei pra caminhar comigo na praia. Achei que fosse um bom lugar para ter esse tipo de conversa.
Foi horrível, ele me acusou de um monte de coisas, gritou, chorou, se ajoelhou e pediu para que eu não desistisse de nós. Ele me fez lembrar de todos os planos que tínhamos feito para o nosso futuro, dos momentos bons que passamos e dos ruins que havíamos superado juntos. Falou também do quanto gostava da minha família e do quão difícil seria viver a vida sem mim.
Eu também chorei, muito. Mas não cedi, eu não podia. Eu tinha que seguir em frente.
Como eu estou me sentindo? A pior pessoa do mundo. Ele não quer mais falar comigo, nem ser meu amigo, nem nada. Eu queria que fosse diferente, mas entendo e respeito. Cada um reage de um jeito no final, mas definitivamente, todo final é péssimo.
Fim do capítulo
Olá meninas, as coisas estão tomando novos rumos por aqui...
Uma ótima semana.
Bjs.
Comentar este capítulo:
patty-321
Em: 28/06/2017
Doeu, mas foi o melhor. Viver se enganando e enganando o outro não é o certo. Vamos ver se elas conseguem se encontrar e serem felizes. Se for amor mesmo, vai dar certo. Acredito nisso. Bjs
Resposta do autor:
Pois é Patty, foi uma boa decisão, viver se enganando não é nada bom. Agora, como você disse, vamos ver se elas se encontram novamente.
Bjs querida, se cuida.
[Faça o login para poder comentar]
julia28
Em: 27/06/2017
huhu..Agora autora por favor,faz essas duas se encontrarem logo antes que eu dê um troço....rrss
To falando serio..
Resposta do autor:
Ei, nada de dar um troço não. Assim vou acabar me sentindo culpada. Oxente. Segura esse coração ai e vamos que vamos.
Bjs querida, se cuida.
[Faça o login para poder comentar]
Bia Ramos
Em: 27/06/2017
Ola.. Eu de novo... rs
Cara... Eu entendo você Ana, nossos olhos são mesmo o espelho da alma... Tudo se reflete neles e com isso ficamos entregues... Verdades ou mentiras...
Mas na realidade é tudo diferente... A verdade vem a tona.. Lágrimas aparecem... Corações partidos e muitas outras coisas...
Enfim... A vida não é fácil ja começa por aí... rs
Agora resta esperar para ver qual será a reação desse quarteto... E que nada mais de desagradável venha atrapalhar essa felicidade...
Estamos nos aguardo... ;)
Bjs autora!!
Bia
Resposta do autor:
É Bia, os olhos são realmente o espelho da alma, e transimite o que nos vai ao coração.
Entre as verdades e as mentiras depende de como se conta, quem conta e porque se conta. Claro que a verdade é sempre o melhor a se dizer, mas em muitas vezes elas nos machucam muito. E foi basicamente isso que deixou a Anna da forma que ela ficou.
A vida é fácil, nós é que de vez em quando temos a "mania" de deixa-la mais "agitada", rs'.
Logo saberemos mais noticias do quarteto, acho que nem tudo será fácil como parece, mas vamos que vamos.
Bjs querida, se cuida!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]