Capítulo 44
O Jardim dos Anjos -- Capítulo 44
Lorraine despertou, assustada, sentando-se num impulso. Sonhara com Nádia entrando na igreja e Alisson a esperando sorridente no altar.
Um leve tremor atingiu o seu corpo. O coração bateu descompassado. Porém, sentiu um imenso alívio ao olhar para o lado e ver a sua loira dormindo tranquilamente.
-- Alisson, está dormindo? -- perguntou Lorraine, sussurrando próximo ao ouvido dela.
Lorraine estava tensa, incapaz de controlar o desejo de tocar o corpo dela. Colou a sua boca na dela suavemente. Beijou o pescoço, fechou os olhos tonta de desejo.
-- Alisson! -- murmurou seu nome mais uma vez. Ela mexeu a mão, sem abrir os olhos -- Você está acordada? -- afastou-se um pouco para observá-la.
Ela estava acordando, constatou aliviada. Andou de costas até a porta sem tirar os olhos da loira. Queria evitar estar ali quando ela despertasse por completo. A esquentadinha, com certeza, faria o maior barulho. Abriu a porta, devagar e saiu.
-- Doutora?
-- Aiii... Sua louca! Quer me matar de susto?
-- Desculpa, doutora. Só quero saber o que fazer de agora em diante? -- perguntou a jovem tatuada.
-- Providencie para que não lhe falte nada. Prometa cuidar dela da maneira que cuida de um gatinho, com todo jeitinho e carinho.
A garota franziu a testa.
-- Sou uma sequestradora perigosa e cruel e não a Madre Tereza de Calcutá -- cruzou os braços bem alto sobre o peito e fez cara feia -- Me nego a esses tipos de fofurinhas. Comigo é na porr*da!
-- Encosta um dedo nela e você vai ver quem é a perigosa e cruel -- com um semblante irritado, Lorraine girou os calcanhares e começou a caminhar pelo corredor -- Tá avisada!
Deixando a casa, Lorraine entrou no carro e consultou o relógio de pulso. Nove e dez. Precisava passar no hospital para concertar a besteira que havia feito. Quebrar o computador no momento de raiva foi uma atitude impensada que lhe custaria muito caro. Agora teria que correr contra o tempo. Tinha apenas uma semana para colocar o seu plano em ação e roubar as provas que estavam em poder de Andras.
Alisson abriu os olhos, mas não tentou falar. Parecia fraca.
A garota encarou-a por um longo tempo, esperando que ela despertasse completamente.
Alisson tentou mexer os braços rapidamente e logo percebeu que estava algemada a cama.
-- O que está acontecendo? -- puxou o braço -- Quem é você?
-- Você está algemada, meu benzinho -- ela usou o tom mais frio possível - E por quanto tempo você ficará algemada? Infelizmente, não tenho como prever.
-- Você só pode estar brincando -- Alisson franziu o cenho -- Me solta, agora!
-- Sinto muito.
-- Ótimo, você sente muito. Agora me solta -- insistiu -- Hoje é o dia do meu casamento.
-- Hum! -- A garota esticou o braço e arrastou um dedo pelo rosto dela -- Receio que você perdeu o casamento, loira.
-- SOCORRO! SOCORRO! -- Alisson berrava desesperada e sacudia os braços tentando se soltar.
A garota apenas observava em silêncio, não se importando com os berros dela.
-- Isso é um sequestro? -- olhou para a garota que se afastou dela com um andar calmo -- Se é, acho que vocês erraram de pessoa?
-- Claro que não erramos! Você não é Alisson Burnier?
-- Sim. Mas não tenho dinheiro, por qual motivo eu estou aqui?
-- Não posso dizer e nem vou lhe soltar! -- ela terminou de falar e já ia saindo do quarto.
-- Espera! -- Alisson pediu e ela se virou -- Eu preciso saber por que você me mantém presa aqui nesse lugar? -- ela pediu, esgotada de tanto fazer força para se livrar das algemas.
-- Não adianta insistir. Eu não vou falar -- a garota mal humorada saiu e fechou a porta.
O quarto era bem iluminado. Mesmo com as cortinas fechadas os raios de sol invadiam o ambiente. Chegava a estar quente.
-- Qual o motivo desse sequestro maluco? -- Ela relembrou que saiu do apartamento em direção à casa de Nádia em uma limusine. Eles fizeram com que ela bebesse champanhe... -- É isso! Perdi os sentidos após ingerir aquela porcaria.
Alisson sacudiu os braços chegando a deixar marcas nos pulsos. Quando percebeu que não conseguiria nada além de manchas roxas, parou e tentou manter a calma. Não entraria em pânico, ao menos por enquanto, pensou.
A distância entre o cativeiro e o hospital pareceu imensa. Lorraine suspirou com o olhar perdido para a porta de entrada do hospital. Com certeza o assunto do dia seria o sumiço da Alisson.
Ainda não decidira se era a mulher mais corajosa do mundo, ou se havia perdido de vez o juízo. Tudo dependeria dos próximos dias. Agiria normalmente como se não soubesse de absolutamente nada.
-- Lorraine!
Ela se virou ao ouvir Felipe chamando.
-- Alguma novidade? -- ele perguntou, parando ao lado dela.
-- Nenhuma -- ela continuou andando -- Você é quem deveria saber de alguma coisa. Anda enrabichado com o Fael.
-- Eles também não sabem de nada -- ele terminou com voz baixa.
-- Tenho duas suposições: Ou a Alisson se arrependeu do casamento, ou, a Andras a raptou -- ela sugeriu com voz mansa, demonstrando calma -- O que a dona Helena está pensando em fazer?
-- Ela prefere esperar mais um pouco. Vai que a Alisson tenha realmente fugido do casamento?
Entraram no elevador e cada um apertou o botão do seu andar.
-- Você não parece muito animada para o seu casamento -- falou bocejando -- Parece que está indo para a cadeira elétrica.
Ela fechou os olhos como se estivesse sofrendo.
-- Você conhece toda a história, mano. Como poderia estar feliz?
-- Sinto muito -- disse ele, baixando os olhos diante da infelicidade da irmã -- Mas foi você...
-- Eu sei -- interrompeu ela depressa -- Fui eu mesma quem cavou a própria sepultura. Agora aguenta! -- Lorraine ergueu as mãos -- Não precisa ficar repetindo isso o tempo inteiro.
O elevador parou no andar da sala de Lorraine e a porta se abriu, mas, antes que ela saísse, ele falou:
-- Sabe que pode contar comigo, né?
Lorraine levantou os olhos para o irmão e sorriu sem graça.
-- Eu nunca duvidei disso -- ela apertou o braço dele como se estivesse procurando proteção.
-- Não quero atrapalhar -- disse Patricia, meio sem jeito.
Nádia balançou a cabeça e olhou para ela, gentil.
-- Você não está me atrapalhando, muito pelo contrário, agradeço tudo que fez por mim. Por me ouvir, por me fazer sorrir! Por encher a cara comigo. Obrigada! -- disse calmamente.
Patricia levantou uma sobrancelha, mas não comentou nada. Seus olhos brilharam enquanto continuava a observar Nádia com um sorriso.
O celular começou a tocar e Nádia mordeu nervosamente o lábio inferior. Ficou olhando para o aparelho, sem vontade de atendê-lo.
-- É o meu pai -- disse desanimada -- Não estou com saco para ouvir críticas ou conselhos descabíveis.
Houve uma longa pausa, e ela olhou para Patricia com um olhar sério.
-- Meu pai está pouco ligando para os meus sentimentos. A preocupação dele é com a repercussão negativa do episódio, que poderá prejudicar a campanha politica dele -- Nádia colocou o celular em cima da mesa.
-- Você está bem? -- Patricia estremeceu enquanto olhava para ela com aqueles olhos lindos e tristes.
-- Estou bem. Realmente. Acho que umas boas horas de sono vão me deixar novinha.
-- Você está tentando se livrar de mim? -- os cantos de sua boca curvaram em um sorriso divertido.
Nádia corou.
-- Claro que não. Estou muito feliz com a sua companhia -- corrigiu rapidamente -- Inclusive... Que tal um café quentinho com bolo de casamento que sobrou de ontem?
Patricia dessa vez sorriu abertamente.
-- Pensei nesse bolo a noite inteira.
-- Mentirosa! -- Nádia abriu a porta da cozinha, mas não entrou. Fez um gesto com a mão para dentro -- Então siga-me. Vamos comer bolo até não aguentarmos mais.
Lorraine suspirou com impaciência.
-- Não é o que esperava -- confessou o técnico.
-- O que quer dizer? -- Lorraine sentou-se na poltrona com uma caneca de café na mão.
-- Que está melhor do que imaginei. Precisarei apenas trocar o monitor e algumas outras peças. Coisa rápida!
-- Menos mal -- ela olhou para ele aliviada, então deu um gole no café.
-- Mas a doutora, hein? Que ruindade! -- disse, de repente, mas logo se arrependeu, pois a expressão de Lorraine, o fez estremecer.
-- Quer que eu quebre tudo na sua cabeça? -- devagar ela se levantou e foi se sentar em sua cadeira -- Abusado!
-- Desculpe, doutora -- disse com o rosto muito corado.
-- Consegui uma pessoa para colocar a câmera na casa do demônio -- a respiração de Lorraine acelerou, só de pensar nos riscos que correriam -- Acho que hoje à noite poderemos chamá-la para você explicar como fazer.
-- A doutora tem certeza? Se forem pegas, já era o plano.
-- Eu sei! Por isso temos que estudar perfeitamente todos os detalhes -- Lorraine suspirou pesado, fechando os olhos e inclinando-se para a frente -- E que Deus nos ajude!
A garota empurrou um cacho do cabelo da Alisson para longe do seu rosto, e enfiou-o atrás da orelha.
-- Bom dia. Dormiu bem, loira? -- a garota cumprimentou.
-- Muito bem! Passei a noite com os braços presos sem poder me virar. Estou quase fazendo xixi na cama -- Alisson falou, brava -- Dormi como um anjinho. E você?
-- Também dormi bem, o que quer para o café da manhã? -- ela perguntou docemente -- Temos café, leite, frutas, bolo e pão.
-- Poxa! Melhor que na minha casa -- disse Alisson, desconfiada -- Não quero comer. Estou sem fome. Quero ir ao banheiro.
A garota olhou para ela hesitante. Não havia pensado nisso. Sabia que qualquer descuido que desse, a doutora a quebraria no meio com a maior facilidade.
-- Então? É pra hoje? Quero tomar banho, também.
A moça bufou.
-- Espera um pouco -- ela saiu e voltou com mais duas garotas e uma arma velha na mão. Abriu a gaveta da mesa, vasculhando por alguns segundos antes de puxar um conjunto de chaves -- Não banque a espertinha doutora. Não estamos aqui para brincadeira.
-- Ui, que medinho! -- debochou.
Uma das garotas abriu as algemas tremendo de medo.
-- Buuu... -- Alisson caiu na gargalhada com o susto da garota -- Cagona!
-- Vai logo -- apontou a arma para ela -- E deixa a porta aberta.
-- Meu medo é morrer pelada dentro do banheiro. Mó vergonha.
-- Vai -- uma das garotas empurrou ela para dentro.
-- Me respeita, garota, porque eu sou do tempo da borracha de duas cores. O lado vermelho apagava o lápis, o lado azul rasgava o caderno -- Alisson encarou ela -- Vou te chamar de Lalá, a chefona tatuada de Lelé e a tampinha de Coca Zero, de Lilí.
-- Estou perdendo a paciência -- a garota bufou e olhou pra cima.
-- Calma Lelé! -- Alisson entrou no banheiro e levantou a tampa do bacio -- Olhem para o lado. Não quero ninguém me espiando.
Elas obedeceram. Alisson aproveitou para estudar o local. Havia apenas uma janela alta e muito pequena. Seria impossível fugir por ela.
-- Está demorando -- resmungou a Lelé.
-- Quando eu era criança, eu sempre vasculhava o banheiro antes de fechar a porta, pra ver se não tinha algum monstro.
-- Eu vou entrar e te arrancar desse bacio -- berrou a Lilí.
-- Eu tinha um amigo tão inconveniente com as mulheres que era chamado de Diurético, porque todas que ele chegava pra conversar na festa diziam: Só um minutinho que eu vou ali no banheiro e já volto!
-- Toma logo esse banho, antes que eu mude de ideia.
-- Queria parabenizar quem inventou o papel higiênico com alto-relevo. Acho que ele pensou que nossas bundas deveriam saber Braile.
A garota tatuada deu um passo à frente. Alisson sorriu e começou a tirar peça por peça da roupa e jogar em cima delas.
-- Estou me sentindo como roupa em liquidação, rodeada de mulheres, todas loucas pra colocar a mão em mim -- ligou o chuveiro e começou a tomar banho -- Com licença, mas sempre canto quando estou tomando banho:
Olha que coisa mais linda. Mais cheia de graça
É ela menina. Que vem e que passa
No doce balanço, a caminho do mar
Nossa que corpo queimado, parece uma ema
Seu calcanhar rachado, não é problema
Vou fechar os meus olhos pra ela passar.
-- Só Jesus na causa -- resmungou uma das garotas -- Que criatura chata!
-- Não gosta do Tom Jobim, Lilí? Então vou cantar: O Show das poderosas:
Pré-pago, é foda
Tem hora, que eu quero falar
E acaba os créditos do meu celular
E chegam uma mensagem que me incomodam
Que está me avisando pra eu recarregá.
-- Chega! Acabou o banho! -- a líder do grupo perdeu a paciência -- Pega a toalha, se enxuga e coloca a roupa.
-- Não faça cara de inocente, Lelé. Eu sei que você toma banho sem roupa.
Em um movimento rápido, Alisson pegou a toalha e jogou em cima da arma. Deu uma rasteira com o pé dianteiro e a deixou estatelada no chão.
A segunda se aproximou e Alisson a agarrou com ambas as mãos arremessando-a por sobre os ombros.
A terceira tentou fugir, mas Alisson puxou-a pela roupa, a derrubou de costas no chão e a imobilizou.
-- IPPON! -- brincou.
-- KABOOM! -- alguém falou antes de espatifar um vaso de cerâmica na cabeça da loira -- Esse é o único golpe que eu sei dar. Sinto muito!
-- Sua louca! -- Lelé ajoelhou-se ao lado do corpo estirado no chão -- Você a matou.
-- Matei, nada -- Pâmela examinou o corte na cabeça da pediatra -- Vocês preferiam que ela fugisse?
-- A doutora Lorraine vai acabar com a gente -- disse desesperada.
Pâmela jogou uma chave na mão da garota.
-- Vai lá no carro e traz a minha maleta. Vou ter que dar uns pontos nesse corte -- a cirurgiã olhou para as garotas e disse zangada: E vocês parem de ficar babando em cima dela. Virem-se para a parede. Só quem pode olhar para esse corpo lindo e maravilhoso, sou eu.
As garotas balançaram a cabeça e viraram as costas para ela.
Lorraine entrou na cafeteria e procurou por Patricia.
-- Ei! -- a moça levantou o braço -- Aqui!
Patricia estava em uma mesa próximo a janela. Lorraine olhou em volta e foi sentar-se junto a ela.
-- Desculpa a demora. Foi difícil de fugir sem que a Andras me visse -- colocou a bolsa sobre uma cadeira vazia -- Ultimamente ela está muito desconfiada.
-- Andras é uma ave de rapina. Não subestime-a.
-- Jamais! Não se preocupe -- Lorraine pediu um cappuccino para o garçom e esperou ele sair -- Hoje vou abrir o jogo com a Alisson. Sei que ela não vai aceitar de cara. Vai ficar chateada comigo, não vai querer me perdoar, mas...
-- Mas? -- Patricia estava curiosa.
-- Tenho ela em minhas mãos. Vou torturá-la até ela implorar por mim -- deu um sorriso sacana e confiante.
-- Coitada da loira -- foi só o que Patricia conseguiu dizer.
-- Pedi para a Pâmela dar uma passadinha na casa do morro. Não confio muito naquelas garotas que ela arranjou.
Patricia fez uma careta.
-- E você confia na Pâmela? Nesse momento ela deve estar se divertindo um bocado com a Alisson -- deu de ombros -- Aquela lá é ninfomaníaca.
Lorraine arregalou os olhos e se levantou.
-- Reunião cancelada -- a médica pegou a bolsa, jogou-a sobre o ombro e saiu caminhando rápido em direção à porta.
-- Lorraine, espera! -- Patricia a chamou, mas ela já estava longe.
Fim do capítulo
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Thaci
Em: 22/06/2017
Bom dia,Vandinha!!!
Não sei quem é mais louca a Lorraine ou a Alisson. O que será que a Lo irá fazer? E a Andras,ela anda muito quieta por sinal o que esse anjo mau está aprontando? E a Alis,vai aceitar tudo de boa ou vai dar uma canseira na Lo? Estou ansiosa pelo proximo capitulo. E obrigada por escrever contos super hiper mega plus maravilhosos.

NovaAqui
Em: 21/06/2017
Corre, Lonzinha kkk que Pâmela está com sua cachinhos dourados
Ainda bem que Ali não fugiu... Espero que sua amada conte tudo
Nádia e Paty gostei muto.
Louca para ver o que Lorraine vai fazer quando chegar no cativeiro e ver Alisson peladona nas mãos de Pam... kkkk Penas vão voar rsrs
Abraços fraternos procês!
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