Another Beautiful Mistake
POV-Cosima
Minha garganta está tão seca, que sinto todo o sabor das bebidas de ontem. É um misto de doce com amargo e citros.
Ah! E uma pitada de framboesa.
A luz do sol vespertino paira pelo quarto. Tenho a noção de que a manhã se foi, mas não faço a mínima ideia das horas.
Talvez seja umas 14:00 ou 15:00. Sinto isso porque meu estomago ronca alto de fome. Necessito de algo gorduroso e uns três litros de água.
O vazio da minha cama me traz alivio e solidão. Não transei com Hannah e Delphine não está ao meu lado.
Cara, o que aconteceu ontem?
Como vim parar aqui?
Tais perguntas, eu respondo depois.
Procuro por meu celular entre os lençóis e almofadas. O cheiro de minha chefe permanece intacto.
Tomei coragem e levantei. A tontura e ressaca são donas de meu ser.
Felix não está em casa, isso significa menos um problema por enquanto.
A geladeira carece de alimento, mas é farta em cevada.
Essa vida de universitária um dia me mataria. Sorte a minha que em uma semana tudo isso acaba.
Os burritos congelados saciaram minha fome, mas não confortaram minha dor de cabeça.
Ao caminhar pela sala encontrei um bilhete sobre a mesinha.
"Obrigada pela noite, foi incrível! Te vejo mais tarde na festa!
Beijos na sua boquinha descontrolada,
H."
PUTA MERDA!
Hannah dormiu aqui? Transamos e eu não tô sabendo?
Delphine vai me matar! Quer dizer, ela não pode me matar, até porque sou solteira e livre de qualquer culpa. Se bem que tá rolando um pequeno arrependimento aqui dentro.
Vaguei pelo loft até encontrar meu celular. A bateria quase acabando, porém consegui checar as 27 ligações de minha ex "namorada", as mensagens de Scott falando sobre a festa à noite, e as de Felix pedindo para ligar quando eu acordasse.
Olhei para o relógio e quase caí pra trás, 17:00! Um recorde pessoal!
"Felix, tudo certo?" Perguntei ao ser atendida.
"Piranha, você só acordou agora?" Questionou com tom de espanto.
"Sim! Deixa eu te fazer uma perguntinha..." Respirei fundo, "Por um acaso, alguém dormiu aqui comigo?"
"Você tá brincando, né? Não lembra que você e a Emma Stone chegaram bem loucas e trans*ram igual duas cadelas no cio?"
SANTA MERDA DO CÉU!
"Jura?" Meu timbre duvidoso evidenciou meu desespero.
"Claro que não! Vocês não dormiram juntas, agora se trans*ram é outra história! Vocês chegaram fazendo barulho pra caralh*, ela te deixou no quarto e dormiu no sofá. Você é uma piranha, Cosima!" Eu deveria ter ficado magoada com tanta ironia, mas o alivio de não ter dormido com Hannah foi maior do que qualquer sentimento ruim.
"Cara, não brinca mais assim comigo! Quase morri!" Expulsei a tensão de meus pulmões.
"Enfim, tô aqui no Paul com o Donnie! E sua mãe ligou e pediu pra falar que ela chega quinta à noite."
CARALHO! Como fui esquecer disso? Minha mãe vem para minha colação de grau, que merd*!
Amo minha senhora, mas odeio os julgamentos e sermões que ela sempre me dá.
"Beleza, vou pra festa da turma, então só te vejo amanhã!" Informei preparada para encerrar a conversa.
"Tranquilo, miga! Fico feliz por você ter largado aquela confusão de lado! Fica com a ruivinha que é melhor! Beijo" Despediu-se sem o menor eufemismo.
Felix deve estar amando meu término com Delphine.
O que me faz pensar...
Retorno a ligação ou sigo em frente?
Droga! Odeio ama-la tanto assim!
Tomei mais uns três copos de água e dei umas tragadas no baseado, se eu realmente for pra festa, essa é a hora de começar a me arrumar.
Nada melhor do que uma ducha gelada para tirar toda a sujeira de uma noite repleta de álcool e erros.
Quase perdi a noção do tempo no chuveiro. Fui retirada de meus devaneios pelas batidas na porta.
Por favor, não seja Delphine!
Encarei aquele pedaço de metal industrial, todo pichado por alguns segundos. Horas como essa, gostaria que houvesse um olho mágico para acabar com o mistério.
"Hey! Parceira, pronta pra bailar?" Scott e seu sorriso largo alegraram minha alma.
"AH! Nunca fiquei tão feliz em te ver, cara!" Abracei seu corpo desajeitado e baguncei toda sua estrutura. Eu ainda estava um pouco molhada e vestindo uma toalha. Não precisei me esforçar pra compreender que aquele abraço foi a materialização de seus sonhos mais selvagens.
"Você não vai pra festa? Pensei que já estivesse pronta para ir!" Seus olhinhos aparentavam tristes pela ideia de não me ter no evento.
"Vou sim! Me dá dez minutos! Enquanto isso vai bolando um beck pra viagem." Saí disparada para meu quarto e encarei minhas roupas por um tempinho.
Selecionei um vestido curto nas cores preto e cinza. Fiz minha maquiagem usual e passei um perfuminho. Prendi meus dreads em um coque e coloquei meus brincos de coquinho.
Outro recorde pessoal!
"Partiu?" Perguntei com um sorriso torto no rosto.
Meu amigo ficou admirando minha rapidez e anatomia. Sua boca aberta o fez babar um pouco.
Clássico!
"Si-sim" Gaguejou e voltou ao normal, se é que existe um "normal" para Scott.
Nossa turma planejou a festa durante duas semanas. Seria apenas para os formandos de 2017, sem convidados. Você pode até pensar que a galera de Biologia Evolutiva do Desenvolvimento não curte beber ou ficar chapado, bom, você está enganado.
O pessoal na área biológica adora umas bebidas baratas e drogas recreativas. Eu apenas curto ver os mais nerds perderem a linha. É simplesmente hilário!
Ao chegarmos, Scott e eu cumprimentamos nossos colegas e buscamos cerveja perto da piscina.
"Essa é casa do Mark?" Questionei maravilhada com os arredores.
O local era grande e muito elegante. A piscina era longa e funda. Havia luzes coloridas, um DJ, dois bares, bexigas e muita comida.
"Sim! Os pais deles são cientistas no exército." Respondeu animado demais. Acho que alguém também quer ser um cientista militar.
Bebemos e dançamos durante um tempo. É incrível como as pessoas ficam mais legais nas festas. Eu jamais havia trocado uma só palavra com a metade de minha sala, entretanto, lá estava eu, toda amistosa e sorridente.
Joguei Beer-Pong, Flip Cup e Twister.
As horas foram passando e nada da Hannah aparecer. Tenho certeza de que o álcool influenciou a saudade que bateu naquele instante.
"Hey! Tá tudo bem?" Scott se aproximou ao sentir meu incomodo.
"Não! Cara, eu preciso te contar uma coisa!" Cosima, você não vai contar sobre a Delphine.
"O que aconteceu?" Cosima, conta o que está acontecendo, mas não menciona a Delphine.
"Eu fiz merd*, Scott!" PUTA QUE PARIU, NÃO ABRE O BICO!
Abre sim, você vai se sentir melhor depois que confessar seus erros. Até porque Delphine foi seu maior erro, Cosima!
NÃO FOI NÃO!
FOI SIM!
"Cosima você está começando a me preocupar. O que você fez?" A voz suave de meu amigo era como um abraço quentinho.
Eu tô muito bêbada!
"Então..." Inalei o ar e relaxei meus músculos, "Me apaixonei por alguém comprometido. E pra piorar você conhece essa pessoa." Sorri em desespero.
"Quem? É do nosso grupo?" Seu tom não era mais acolhedor, dessa vez, era castigador.
"Sim!" Eu não fazia ideia do que estava pretendendo com aquela conversa.
"Pera, é a Alison?" Perguntou não tão chocado.
"Não!" Respondi certa de que a próxima pergunta me entregaria à punição de perder meu amigo.
"A Delphine eu sei que não é. Só pode ser o Donnie ou Paul!" Incrível como Scott não duvidou da sexualidade de nossa chefe, mas cogitou a ideia de que eu fosse capaz de me relacionar com homens feito Paul e Donnie.
"Não importa quem foi! Já terminei o que tínhamos!" Suavizei a intensidade da conversa na esperança de encerrarmos aquele papo.
"Estou puto com você! Pensei que quando fosse se relacionar com homens, eu seria o primeiro na lista." Essa era a preocupação de Scott?
"Foi mal, cara!" Dei uns tapinhas em suas costas e me retirei.
Tá feliz agora, Cosima?
Sua idiota!
Busquei por mais cerveja no barril e me derreti ao respirar uma essência familiar.
"Bebendo de novo, Lindinha?" Eu adoro o timbre daquela voz.
"Hannah! Hey! Pensei que não fosse aparecer." Declarei ao exibir minha bagunça interna.
"Atrasei um pouquinho porque estava terminando meu projeto." Informou ao se aproximar provocativamente.
"As apresentações são essa semana, né?" Perguntei já sabendo a resposta. Era claro meu nervosismo.
"Sim." Sorriu e pegou uma bebida no bar "E você, dormiu bem?"
"Opa! Feito um neném." Menti "Curtimos muito, né? Tipo, bebemos e dançamos depois dormimos, né?" Minha desordem revelou o conflito de minhas dúvidas.
"Você não se lembra de muita coisa, certo? O que você quer saber?" Riu de minha angustia ao saborear sua bebida "Quer saber se trans*mos?"
Engasguei ao tentar aparentar tranquila.
Ela é ousada.
"Transamos?" Questionei baixinho, temendo o resultado da noite passada.
"Não!" Mordeu os lábios e segurou em minha cintura para me aproximar um pouco mais "Infelizmente não. Você estava muito alterada."
O calor consumiu a atmosfera.
Concentra! Respira! Tá tudo bem!
"Entendi." Sorri torto e aliviada.
"Mas podemos mudar isso hoje. É só você parar de beber tanto." Comunicou suas intenções com palavras e um olhar convidativo.
"E-Eu..." Gaguejei em tormento.
"Você ainda não está disponível, né?" Afastou-se de mim, sem hesitação.
COSIMA, VOCÊ NÃO ESTÁ DISPONÍVEL!
"Eu tenho muitos problemas no momento." Confessei.
"Talvez eu seja a solução." Analisou meus traços faciais com desejo e ansiedade.
"Quem sabe, um dia." Engoli minha cerveja após disfarçar o tesão.
----------------------------------------------------------------------------------------------
Livre! Leve! Solta!
É assim que me sinto após receber minhas notas finais! Adeus, vida universitária!
Cara, a primeira coisa que farei com meu diploma será enrolar ele em um baseado.
Tá bom, não vou fazer isso, mas dá vontade.
Que loucura, que delícia! Apresentar meu trabalho com Scott foi tranquilo, porém evitar certos olhos redondos e esconder a saudade...Ah! Isso foi desumano.
Dra. Cormier não merecia minha carência ou afeto, mas era dela todo meu amor.
Não trocamos uma palavra amiga ou carinhosa durante quase uma semana. Apenas no final de meu último expediente no lab, Delphine reuniu os cientistas formandos para agradecer o árduo trabalho e dedicação. Por mais que sempre a pegasse olhando para mim, ela teve a decência de não me procurar. Entretanto, não poder encostar em sua pele ou beijar seus lábios foi um pesadelo decadente de ternura.
Me esforcei para não me deixar cair em depressão. A formatura é amanhã cedinho. Minha mãe está aqui comigo. Tudo está bem. Quer dizer, quase tudo.
FOCO, MULHER!
Era sexta-feira à noite e eu estava em casa. Não tive coragem de abandonar minha mãe, então passamos metade do tempo discutindo e assistindo "Keeping up with the Kardashians."
"Essas meninas são lindas, não acha?" Ela adora mencionar minha sexualidade.
"São, mas não fazem meu tipo." E eu adoro mostrar que não me incomodo.
"Qual é o seu tipo?" Questionou, curiosa.
"Hum! Eu gosto de mulheres que me respeitam, que tenham um bom papo." Uma mulher Francesa de cabelos loiros, ora lisos ora encaracolados.
"Você não liga para aparência?" Senti a ironia pairando.
"Não muito, o importante é ser gente boa." Quebrei a tensão.
"E você está namorando alguém?" Olhou pra mim, temendo minha resposta.
"Mãe, você quer mesmo falar disso? Sabe que vai se irritar no final, é sempre assim." Soei desapontada, mas juro que não tive a intenção de transparecer tal sentimento.
"Filha, eu só quero tentar te entender melhor. Essa coisa de se relacionar com mulheres é errada demais para mim." Informou o que eu já sabia.
"Não precisa me entender, apenas me aceite como sou. Pra mim, estar em um relacionamento abusivo, onde não há amor ou respeito, é errado. Não importa o gênero! Ás vezes não compreendo como minha felicidade pode ser sua infelicidade." Já tivemos essa mesma conversa mil vezes, nunca chegamos a um acordo.
"Eu só quero o melhor pra você, Cosima." Declarou sua mentira disfarçada de verdade.
"Não, mãe! Você quer o melhor pra você! Olha pra mim, me formo amanhã, tenho grandes chances de ganhar um estágio no Canadá, sou uma pessoa responsável e nunca te dei trabalho algum. Sou mesmo uma decepção pra você?" Segurei minhas lágrimas e engoli minha tristeza. Eu não queria parecer fraca.
"Filha, eu tenho muito orgulho de suas conquistas, apenas não entendo onde errei." Ela só podia ser cega ou algo do tipo.
"Então me aceita, mãe! Sou a mesma, minha sexualidade não altera meu caráter." Supliquei, desalenta.
"Estou tentando, filha. Mas você não me respondeu..." Tirou as almofadas que nos separavam e se aproximou de mim, "Você está namorando?"
"Não! Quer dizer, acho que não. Mas estou apaixonada de verdade, mãe." Confessei minha bagunça à alguém que mal conhecia meu desespero.
"E você está feliz?" Perguntou ao tocar meu queixo caído.
"Estava. Eu e ela não podemos ficar juntas." Declarei ao falhar em segurar minhas lágrimas.
"Por que não podem?" Não entendi a insistência, mas gostei da preocupação, até parecia real.
"É complicado, mãe." Suspirei e deixei que rio corresse por minha face.
"Olha! Eu posso não entender muito sobre o amor, ou até mesmo sobre relação entre mulheres, mas se você ama essa menina, não desista por conta dos desafios, não se arrependa das coisas que fez, apenas das que não fez." Confortou minha fragilidade em seu colo materno e pousou carícias em minhas bochechas.
Minha mãe e eu nunca tivemos muito em comum, nunca conversamos sobre o amor ou conflitos internos. Nossa comunicação era banal e vazia, mas dessa vez, pude sentir algo diferente, pude me sentir segura naqueles braços cansados. Era como se nada ruim fosse capaz de me acontecer.
Desisti de tentar odiar a mulher que me deu a vida e me entreguei ao seu carinho.
Pov- Delphine
Vivendo em uma dieta baseada em cigarros, café e whisky.
Como pude deixa-la partir?
Como fui capaz de escolher machuca-la ao invés de optar por não ferir Paul?
A culpa me consome sem piedade, e como punição por ser tão estupida, sofro gritando no silêncio de minha solidão.
Manter minha pose indestrutível nunca foi tão fatigoso. Na faculdade, doía-me ver Cosima tão alegre sem mim. No laboratório, exaustava-me a observar tão tranquila.
Sinto ciúme da maneira como sua felicidade não depende de minha presença e afeto. Entendo que talvez estivesse apenas disfarçando sua infelicidade, porém não ter a certeza de seu sofrimento era punidor.
Não a desejo miserável, apenas esperei que minha ausência lhe causasse saudade.
Talvez eu não seja merecedora de tal, entretanto, a abstinência de seu amor puro causou-me carência profunda e muitas noites mal dormidas.
Quinta-feira pela manhã, minha classe apresentou os projetos. Cosima e Scott foram os cientistas mais ousados, e donos do melhor projeto. Passei a tarde em conferencia com Dr. Leekie e outros colegas do instituto. Após horas debatendo, escolhemos os vencedores e anunciarei o resultado amanhã na colação de grau da turma.
Ansiosamente espero pelo momento no qual terei a total atenção de minha amada.
Entre pesadelos em momentos despertos e lembranças doces, trago meu cigarro observando o respirar conturbado da cidade nessa noite escura de sexta-feira. Há estrelas pelo céu, mas nenhuma delas brilha tanto quanto o sorriso torto em minha memória nostálgica.
Estou levemente atrasada para encontrar Alison, Donnie, Felix e Paul. Reunião que acontece no salão de meu antigo prédio, onde prepararemos a festa surpresa para Cosima e Scott. Apenas o orgulho que sentimos de nossos amigos é capaz de nos unir em um clima amistoso. Entretanto a ideia de encarar Felix após nossa discussão maléfica não me soa agradável, e a consciência de reencontrar Paul depois de um mês sem vê-lo é assustadoramente boa.
Espero manter o equilíbrio e a administração de meus sentimentos.
Ao chegar no salão, deparei com rostos familiares porém distantes. Havia alguns balões, cadeiras e mesas, fitas coloridas, bebidas estocadas e muita tensão no ar.
"Amiga, você chegou!" Alison correu até meus braços em alivio por não estar mais sozinha.
Contribuí com o abraço apertado e encontrei coragem para cumprimentar os rapazes. Segui caminho até o encontro de Donnie que sorridente abrigou-me, depois caminhei até Felix quem disfarçou a raiva com seus dentes perfeitos. Por fim, andei até Paul. O cheiro dele permanecia o mesmo, e toca-lo foi revigorante.
Não sei ao certo se o que senti foi saudade ou apenas carência. De qualquer forma, agradeço por Ally ter trazido vinho e licor, meus melhores amigos.
Enquanto conversarmos de maneira estranha, também preparamos as mesas com as toalhas, os cartazes e balões nas paredes, os pratos e copos sobre o buffet. Cinco garrafas foram bebidas e a playlist de Felix já estava no final.
Todo o peso de meus ombros pareceu desaparecer.
Alison e Donnie passaram a trocar olhares saudosos e flertes carinhosos. O amor entre eles era tão lindo, mesmo que às vezes fosse um tanto tóxico, ainda assim era belo. Os defeitos foram amenizados pela qualidade de seus sentimentos, e por um breve segundo os invejei.
Servi-me mais uma taça e notei a silhueta de Felix se aproximando.
"Delphine, como vai?" Levantou as grossas sobrancelhas de maneira dominante.
"Não muito bem, e você?" Não interessava-me saber sobre ele, mas por cordialidade, perguntei.
"Muitíssimo bem, obrigado. Mais aliviado que você finalmente deixou minha amiga em paz, e ela agora segue com outra pessoa. Uma aluna sua também, até dormiu lá em casa semana passada." Não entendo ao certo o que havia feito para merecer ser tratada com tanta crueldade, entretanto, o zelo de Felix pela amiga era formidável. E suas palavras acertaram-me como flechas flambadas em ciúme e desilusão.
"Passar bem, Felix." Retirei-me após pegar a garrafa que limparia minhas feridas recentes.
Bebi cada gole amargo e seco daquele Edetària encorpado. Percebi minha embriaguez ao partir de meu mais novo inimigo. Ficamos apenas Alison, Donnie, Paul e eu.
Enquanto minha amiga e seu namorado beijavam-se no sofá espaçoso ao canto. Paul aproximou-se de minha dançante estrutura.
"Você vai precisar de carona para voltar?" Preocupado perguntou-me ao analisar meu rebol*do.
"Ou eu poderia dormir aqui." Sem refletir ou estudar, minhas palavras rapidamente sobressaíram meu intelecto.
"Acho que você irá se arrepender, Delphine." Avisou amigavelmente.
"Você não me deseja mais?" Trouxe seu corpo musculoso até meus machucados ossos.
Uma noite de prazer não soa tão ruim.
Careço do mínimo toque singelo em meus poros solitários.
Cosima distribui seus beijos pela madrugada, sinto-me no direito de fazer o mesmo.
"Del, cuidado! Você realmente quer isso?" Questionou minha falta de sensatez com as grossas mãos segurando minha face.
"Quero, Paul. Preciso sentir qualquer coisa que seja." Beijei os lábios finos que tanto saboreei durante nosso defectivo namoro.
Ally ficou responsável por fechar o salão.
Paul e eu subimos até o apartamento.
Tudo parecia trivial e natural. A sala continuava a mesma, a cozinha sempre uma bagunça, a cama aconchegante e a vista da varanda encantadora. Até a maneira com a qual Paul pressionava-me contra sua pele aparentou fâmula e habituável. Tocava-me como vontade e desejo. Lambia-me a carne com fome e bebia de minha saliva com sede por algo além.
Senti-me suja porém leve. A textura da língua é tão diferente. A pressão do contato carnal é maciça e impolida, entretanto amenizavam minha dor e falecimento.
Descontrolada e entregue ao deleitamento, uivei e suei. O roçar de nossa epiderme era ultrajoso, nostálgico e aprazível. A penetração era turbulenta, dinâmica e profunda. A algia causada pelo enraizar de seu p*nis em meu interior foi uma punição ao meu delito de omissão racional. O sex* é faccioso, o amor é arbitrário e o regozijo, como ele, foi desprovido de honestidade.
Derramou seu liquido em meu íntimo e deitou-se ao lado meu. Seu corpo lutava pela recomposição física e o meu penava pela mental.
Por que permito minha vagarosa decadência?
Como ser forte o suficiente para gladiar minhas incertezas?
As perguntas são labirínticas e as respostas frugais. Entretanto, não senti-me sozinha no repouso noturno de minhas sensações conflituosas.
Despertei ao impacto de meus sonhos com minha realidade.
Estava cedo demais para levantar, porém tarde para continuar sonhando.
Sem olhar para a bagunça encima da cama, vesti minha culpa e abandonei meus arrependimentos naquele apartamento. Segui caminho até o hotel, onde lavei a sujeira de meus poros, digeri um expresso, traguei cigarros e me aprontei lentamente para entregar à Cosima seu diploma.
O relógio exibia 11:00. O sol no início do verão já era marcante e flamante.
Entre as diversas faces desconhecidas, avistei meus amigos e Paul. Ao centro de muitos rostos emocionados e ansiosos, os graduandos com seus corações acelerados vestiam becas pretas em detalhes lilás. Havia uma figura de aparência entusiasmada, olhos vermelhos e alegres. O sorriso desenhado naquela fisionomia tão amada por mim, era lindo e orgulhoso.
Eu a amo tanto que permito-me aprecia-la comungada de saudade e fome.
A cerimônia foi longa como deveria, alinhada e primorosa.
Cosima buscou seu certificado em minhas mãos e segurou seu impulso para demonstrar-me afeto e carência. A confirmação de sua conturbação suavizou minha liquidada estrutura.
Ao final da entrega de diplomas, fui à frente do púlpito para anunciar os vencedores.
Os olhares que antes eram alegres, tornaram-se apreensivos e perturbados.
"Os alunos e agora cientistas da turma de 2017, foram dedicados ao trabalho e responsáveis por projetos incríveis e audaciosos. O destemor e a bravura caminham ao lado da ciência, sempre foi assim. Os grandes matemáticos, físicos e biólogos não deixaram a insegurança impedi-los de experimentar. Aos alunos que tentaram, não deixem o desconsolo lhes tirar o entusiasmo pela ciência. Lembrem-se que nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Aos alunos vencedores, tenham em mente que a jornada não começa aqui. O caminho iniciou-se há anos, quando a curiosidade infantil despertou o interesse maduro." Observei o público aflito e angustiado. Sorri, e humedeci meus lábios.
"Em nome de Dr. Aldous Leekie e em honra ao Instituto Dyad juntamente com a Universidade Brown e o Departamento de Pesquisas Cientificas, tenho o enorme prazer em anunciar os cientistas donos do melhor projeto: Dra. Cosima Niehaus e Dr. Scott Smith."
Aplausos e gritos foliosos preencheram a atmosfera e trouxeram uma tempestade de lágrimas. Cosima e Scott abraçaram-se por longos segundos. Os colegas não envaidecidos, sorriam e congratulavam os jovens vencedores. Entendi que fiz a escolha certa, e meu peito fulminava de satisfação.
O termino da colação de grau liderou o começo da festa surpresa. Alison e Felix ficaram encarregados de convidar os amigos próximos de nossos formandos. Donnie e Paul foram os responsáveis pela administração do buffet e das bebidas. E eu? Bom, fui designada à admirar minha amada, ela distribuía abraços e sorrisos. Bebia champanhe e esquecia de minha presença.
Importei-me, porém compreendi sua falta de sensibilidade a mim. Era muito informação a ser digerida por aquela distraída e desastrada menina.
Alison sugeriu um brinde e todos participamos. O cheiro da bebida não agradou meu estomago, senti um incomodo embaraço. Entretanto, rendi-me ao luxo de experimentar um único gole.
A música era amistosa e barulhenta. Os rebol*dos de Cosima e seus amigos eram libertadores.
Avistei uma figura formosa com cabelos ruivos. Neguei-me ao castigo de assisti-la dançar com minha amada, então saí em busca por um canto solitário onde pudesse expelir em nicotina todo meu ciúme mortífero.
Céus! Como o cigarro alivia esse meu sofrer.
Após necessitadas tragadas, virei-me à civilização já embriagada. Notei que Paul conversa feliz com Cosima. Ela aparentou decepcionada e olhou em minha direção.
Rezei para que meus atos erráticos da noite passada não tivessem sido relevados à minha ex-aluna. Em desespero e pavor, retirei-me do salão e segui caminho até o lobby do prédio. Em poucos minutos, senti a gravidade pesar em tensão e desconforto.
"Você é baixa e egoísta! Mas pelo menos abriu meus olhos!" Uma voz não tão doce penetrou meus tímpanos violentamente.
"Cosima, você é tão egoísta quanto eu! Felix contou sobre sua noite com a ruivinha vulgar." Retruquei sem a menor formalidade.
"Hannah e eu nunca trans*mos, apenas ficamos uma noite." Suas palavra não suavizaram minha raiva, mesmo que tivessem a intenção, não conseguiram amenizar a perturbadora ira em mim.
"Você foi embora e logo correu para os braços de outra. O que você esperava de mim?" Questionei ao aproximar-me.
"Eu apenas esperei que você resolvesse seus problemas com Paul para que pudéssemos ficar juntas. Você sempre prioriza ele e me deixa pra trás. Delphine, você foi o pior de meus erros." O calor de sua fúria era aterrorizante.
"Eu não sabia o que estava fazendo." Menti, "Sinto muito."
"Sinto muito também. Agora você vai me assistir cometer outro erro com Hannah! Posso até ir para o Canada com você e brincar de revolucionar a ciência, mas eu te garanto que nunca mais você vai me ter. Nunca mais cairei no seu papo vazio e amor plástico!" Com lágrimas em seus olhos e dor em seus músculos, Cosima socou a parede com agressividade.
"Cos, tá tudo bem?" A ruiva desprezível apareceu como uma praga bíblica.
"Tá tudo ótimo! Estou disponível agora, vamos sair daqui?" Cosima a olhou com vontade e más intenções.
"Vamos sim!" Com as mãos entrelaçadas e passos ligeiros, as meninas desapareceram feito minha esperança desfalecida.
Deixei-me levar ao esgotamento de meus ossos.
Sentirei a doce vingança de Cosima. Serei punida pelas repercussões e pagarei por meus crimes e pecados.
Ela não é merecedora de tanto conflito e decepção.
E eu não sou merecedora de sua paixão e devoção.
Senti meu estomago embrulhar. A ânsia elevar. A tontura invadir meu cerne. E o vômito tomar conta de expulsar as toxinas de um amor perdido em um labirinto sem saída.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: