Depois de ouvir a frase, “parabéns Diana, bem-vinda a nossa equipe”, saio feliz da vida. Enquanto sou encaminhada pela moça simpática, a tal sala onde estão as que foram aprovadas, avisto um bebedouro localizado próximo ao local que as meninas estão esperando. Disfarço, digo que vou beber água e dou uma passadinha rápida pra avisar a Bianca que eu passei.

              Quando chego a tal sala, faço uma rápida inspeção no local. É um espaço amplo, com computadores localizados em bancadas. Parecido com uma Lan House. Vejo as outras meninas que como eu, também passaram e minha amiga Carol, com uma delas ao lado.

              Que saco, eu queria que ela me ensinasse! Mas, enfim... Sou direcionada a uma moça que graças aos céus, foi super gente boa comigo. Ufa. Já estou gostando do meu novo/ primeiro trampo.

              Fico concentrada em cada movimento da moça, que na verdade se chama Jéssica, e é um amor de pessoa. Pois é, já me deixou até fica no lugar dela um pouco.

              Não vejo a hora de poder pegar o meu computador e começar fazer os relatórios. Na verdade não é nada muito complicado não. A única dificuldade aparente é a velocidade que temos que assistir aos vídeos, pra bater a meta de leitura de 9,10,11, carros por dia cada uma.

               A manhã passou rápido, meia hora depois que entrei vejo Bianca adentrando e respirei aliviada, ela tinha conseguido. Maravilha. Estava distraída que nem reparei as meninas paradas em pé, atrás de mim.

- Será que ela dormiu de olhos abertos? – Pergunta Bianca abanando a mão na frente de meus olhos .

- Nossa, muito engraçado mesmo.- Digo revirando os olhos, mas acabo sorrindo.

- Então, vamos almoçar ou não? - Carol pergunta e só ai olho para o relógio e percebo que já são 12h e eu aqui moscando.

- Boraa, nossa gente, eu juro que pensava que ainda eram umas 10h - digo me levantando.

              Caminhávamos até o refeitório e no trajeto, Carol, Jessica e Grazi, iam nos apresentando a empresa. Nos mostravam cada sala e explicavam a quem pertenciam. Eu estava bem curiosa porque até aquele momento elas não tinham mencionado nada a respeito da tal chefe, nem onde era seu escritório. Não que essa informação fosse essencial. Sei lá, só queria saber, em nível de conhecimento da empresa mesmo.

- Meninas, e onde fica o escritório dos chefes, é apenas uma, ou há mais? – pergunto despretensiosamente.

- Aqui são dois na verdade, o Sr Henrique, e a dona fera, digo, dona ... - antes que Grazi pudesse concluir, fomos empurradas por uma pequena multidão, parece que todos foram liberados ao mesmo tempo para o almoço.

              Para variar, me perco das meninas, era só o que me faltava, eu e meu péssimo senso de orientação. E agora não sei nem como retornar a nossa sala...

               Respira Diana! É só pedir informação e pronto, tudo resolvido. 

- Ei, boa tarde, você pode me informar onde fica o refeitório? Hoje é meu primeiro dia, ainda não estou familiarizada - paro uma mulher que vinha  de cabeça baixa. E quando ela me olha ...

- Boa tarde! É,eu estou sabendo que hoje é seu primeiro dia, só não estou entendendo porque ninguém a apresentou a empresa ainda. – ela diz autoritária.

- Bem, éee, na verdade, estavam me apresentando, é que, acabei me perdendo. – Pronto, falei. Essa era a vergonhosa verdade mesmo.

- Se perdeu?! Ok, eu te levarei lá. Hoje estou com um estranho bom humor – Ela diz e bem, eu não entendi muito bem que ela quis dizer com isso, afinal, só pedi uma informação, mas agradeci ainda sim.

- Obrigada. Éee, por que diz que hoje está com um estranho bom humor? Normalmente você é mal humorada? – Parabéns Diana, perdeu a oportunidade de ficar calada.

- Digamos que sim - ela responde me olhando séria, mas depois sorri.

- Nossa! Então, que bom que te peguei em um bom dia - digo feliz.

- Como disse, estranhamente, pegou sim, e digo mais, dia de entrevista, definitivamente me deixa mais estressada do que o normal. Quando sou eu a entrevistar então... – Aff, e não é que dei sorte mesmo.

- Entendi. Mas me diz, você trabalha há muito tempo aqui?

- Sim, trabalho sim – ela responde com uma expressão que diz que minha pergunta foi a mais descabida possível – chegamos, eis o refeitório – ela acrescenta quando paramos na porta.

- Eu nunca acharia! Obrigada mesmo – digo sorrindo.

- Não acredito que direi isso... Mas, disponha sempre que se perder, ops, que precisar - Juh fala e abre um lindo sorriso.

- Ai, credo. Não me perderei mais, não se preocupe. E obrigada por tudo. A gente se ver por ai?

- Acredito ! Bem, deixa eu ir, tenho uma reunião daqui a pouco. E sim, nos vemos! - Ela diz e se vai antes que eu possa perguntar qual setor que ela trabalha. Bem, provavelmente, no RH, já que ela foi a responsável pela minha entrevista.

              Entro faltando apenas 15 minutos para a hora do almoça acabar. As meninas permanecem sentadas, porém, apenas conversando. Faço meu prato e me junto a elas.

- Onde você se meteu, dona Diana, já estávamos pensando que tinha sido sequestrada. E o celular, por que não atendeu? – dispara Carol assim que eu me sento.

- Aff, estavam pensando em um possível sequestro de uma amiga, contudo, acharam melhor se preocuparem de barriga cheia, pois já almoçaram pelo que estou vendo, além de ninguém ter ido me procura. Me deixando a mercê de possíveis mal feitores ainda não me esperaram e agora terei de comer sozinha. – digo fazendo drama e me apreço em comer o mais rápido possível.

- Pois fique a senhora sabendo que fomos te procurar sim. Começamos a ligar exatamente porque não te achamos – disse Bianca.

- Sei! Por sorte eu encontrei uma boa alma para me trazer até aqui, porque se dependesse de vocês, morreria de fome – digo com a boca cheia. Aff, quanta falta de educação Diana.

              Depois que almocei, ou melhor, engoli a comida, corri para escovar os dentes e voltar para o trabalho. 

              O restante do dia seguia tranquilamente, até que o telefone da encarregada Joyce tocou e ela pediu para uma mulher chamada Rose subir ao escritório. O clima mudou de tranquilo para tenso. Eu estava me controlando para não perguntar o porquê da mudança repentina, quando Jessica se antecipa.

- Coitada da Rose!

- Coitada? – Sussurro.

- Ela precisou faltar ontem, acho que o filho não estava muito bem, contudo, não trouxe atestado. E a fera deve está querendo acabar com ela – Ela falando com um tom tão tranquilo, como se esse “fera” e acabar, fossem as palavras mais normais do mundo.

- Nossa, filho é coisa séria, ela só precisa explicar a situação e... – Jéssica me interrompe.

- Explicar a situação, Diana, você não está entendendo, aquela mulher não se importa com nada, nem ninguém! – Credo, me assustei agora.

- A Carol falou por alto sobre ela já ter feito algumas meninas chorarem. E o Porquê delas consentirem isso. Que situação cara. Essa mulher parece um monstro - digo preocupada com a pobre da Rose.

              Uns 20 minutos depois, Rose desse com o rosto vermelho. Não acredito, ela fez de novo, quem essa mulher pensa que é?!

              E se nos juntarmos, podemos chama-la para uma conversa séria. Vamos dizer que não toleraremos os excessos dela. Que merecemos e exigindo respeito. Somos seres humanos e temos dignidade. Isso, devemos nos unir e... Menos Diana, você acabou de chegar e já quer causar confusão, mulher?

              Se bem, que não seria confusão, estaríamos apenas lutando por nossos direitos, e ser respeitada é o primeiro da lista.

              Como vou fazer? Não conseguirei saber que rola injustiças e não tentar fazer nada a respeito. Contudo, não acredito que elas vão querer me apoiar nisso.

              É melhor ficar na minha, pelo menos por enquanto.

- Tá vendo Diana? Aquela mulher é um capeta de saias! – Jessica comenta revoltada.

- Estou vendo sim. É lamentável, pois todas parecem só ver mesmo, afinal, ninguém se pronuncia a respeito. 

- Não podemos fazer nada Diana, ela já deixou bem claro, quem não estiver de acordo é só pedir para sair.

- Que absurdo! 

- É sim, teve uma vez que ela nos segurou aqui até tarde, então combinamos de no outro dia não virmos, ou chegarmos mais tarde, no entanto, as que pareciam super revoltadas, foram as que chegaram primeiro. 

- Não da pra entender. Enfim, cada um sabe onde o calo aperta, né?!

- Sim, isso já me revoltou muito, no entanto agora, tento não me estressar tanto por algo que não posso resolver.

- Entendo. Espero conseguir me comportar como você. 

              E espero não cruzar o caminho dessa mulher tão cedo.

Fim do capítulo