Deixa eu me apresentar. Me chamo Diana Alves de Aquino, tenho 21 anos, namoro com Bruno desde os 17, praticamente acabei de sair do ensino médio. Bem, na real foi há três anos, mas parece que foi ontem. Ainda lembro quando meu pai me acordava as 06h pra ir à escola... Bons tempos aqueles.

 

              Tudo era simples e perfeito. Eu tinha tudo que precisava. Ou pelo menos o mais importante: meu pai! Não gosto muito de tocar nesse assunto. Ainda me dói como se tivesse sido hoje. Naquele momento em que atendi o telefone e me informaram que ele havia passado mal e tinha sido levado para o hospital, eu pressenti que não mas o veria com vida. E assim foi.

 

 

 

 

 

 

 

- Alô? - Atendo no segundo toque.

 

- Oi amiga, tudo bem?- Carol me cumprimenta.

 

- Tudo bem magrela, e você? Depois que começou a trabalhar, esqueceu-se dos pobres, né?! - Digo sorrindo.

 

- Para de drama, dona Diana. Até parece que estamos um século sem nos ver, quando na verdade não faz nem quatro dias - Comenta ela sorrindo.

 

- Ok, sua desnaturada. Está ligando pra dizer o que vamos fazer no final de semana? Estou disponível para você, gostosa! 

 

- Fiquei mega tentada agora, delícia, mas esse não foi o motivo da minha ligação. Estou ligando pra dizer que vai pintar umas vagas no setor onde trabalho e, pensei em você e na Bianca. O que acha?

 

- Super topo, quando, o que tenho que fazer? Aliás, qual setor você trabalha mesmo? 

 

- Ai ai, viu? Trabalho no monitoramento de transportes. De ônibus, pra ser mais exata - Carol responde rindo da minha cara de desinformada.

 

- Goxxto. Quando tenho que comparecer? – Pergunto animada.

 

- Amanhã, te espero no ponto do ônibus perto da minha casa às 6h, beleza?

 

-Belezaa!

 

 

 

 

 

              Aquela foi a noite mais longa de toda minha vida. Acho que nunca estive tão ansiosa, e eu nem entendia o porquê, afinal, se tudo desse certo, a partir daquele dia passaria acordar as 05:15h, o que na minha percepção, não era uma coisa muito agradável, considerando o fato que esse horário era o que estava acostumada a dormir.

 

              Então lá estava eu, às 05: 55h esperando minha amiga. Cinco minutos depois ela chega acompanhada de Bianca que também vai tentar uma das vagas.

 

- Bom dia! Olha quem madrugou gente – Aff, já vão começar.

 

- Nem vem, eu tenho responsabilidade ok? Como podem ver fui a primeira a chegar - digo orgulhosa - Ah, bom dia pra vocês também, malas.

 

- Carol, explica como é isso direito. Vai ser uma entrevista coletiva, individual? Sabe que não temos experiência, né? Diana menos ainda - Bianca faz as perguntas que estavam em minha cabeça e pra não perder o costume, me alfineta no final.

 

- Sai dae que estamos no mesmo barco, ou seja, duas fazem nada de plantão. Está aí! Temos experiência de fiscais da natureza, acrescentarei isso no meu currículo - gracejo.

 

- Só vocês, cara. Então, não precisa ter experiência, quem passar terá treinamento. Ficará ao lado de uma funcionária antiga vendo como se faz o relatório e tals. Não é nada complicado, o que pega um pouco são os carros que temos que ler por dia, mas isso vocês vão ver depois. E sobre a entrevista, acredito que seja individual. Só não sei quem fará, se uns dos encarregados ou a chefe - Carol nos explica pacientemente.

 

- Então está mole pra gente. Agora, quantos encarregados são? E essa chefe é de boa? - Pergunto preocupada.

 

- São dois encarregados, e bem ... a chefe éee, nada de boa! Mas ela fica o tempo todo no escritório, só desce em caso de não conseguirmos bater nossa meta. Ou seja, desce, porque todas tem medo dela e com ela no mesmo local que nós, as coisas são magicamente agilizadas. E vamos torcer para que não seja ela a entrevistá-las - Carol diz e me deixa com uma mistura de ansiedade e apreensão.

 

- Se ela não mexer comigo já está de bom tamanho! – Se manifesta Bianca.

 

- Aaaai gente, medo como assim? Porque vocês tem medo dela? – Pergunto preocupada.

 

- Bem, comigo nunca aconteceu, contudo, ela tem a péssima mania de querer menosprezar as pessoas, na real, humilhar mesmo. Já vi várias meninas descerem do escritório chorando depois de conversarem com ela - Só pode ser brincadeira, a mim ninguém humilha não. Ah não mesmo.

 

- Eita, que mulherzinha hein? E suponho que as garotas se submetam a isso, com medo de perderem o emprego - Bianca fala entre indignada e penalizada.

 

- Sim, a maioria tem filhos e precisam realmente do emprego -  Carol confirma.

 

- Cara, só digo uma coisa, se essa mulher está acostumada a abaixarem a cabeça pra ela, vai se dar muito mal comigo. E que fique no canto dela e não venha tentar me humilhar... – Digo revoltada.

 

- Calma, meninas! Não vamos nos preocupar e nos estressar antes da hora né? – Carol tenta ponderar a situação.

 

- Eu não estou preocupada. Queremos trabalhar sim, pra ganhar nossa grana e não precisar ficar pedindo sempre que quisermos comprar algo, ou sair, porém, não temos filhos pra criar, então, ela que fique na dela e seguimos sem problemas – Bianca fala tirando as palavras de minha boca.

 

- Isso! – Concordo.

 

- Claro, meninas. Estão certas, também não aceitaria e não fico nada feliz quando acontece com uma de minhas colegas. Só que aquele diabo de saia é assim - acrescenta Carol.

 

 

 

              Depois daquela conversa sobre a terrível chefe, eu queria ainda mais passar nessa bendita entrevista e ficar de cara com ela. Tenho certeza que com nossa presença, aquela lugar, nunca mais será a mesmo.

 

              Chegamos à empresa 06h30m, Carol nos levou ao local que deveríamos esperar e foi ao vestiário. Bianca e eu nos juntamos a mais ou menos umas 10 mulheres e ficamos aguardando apreensivas o momento da tal entrevista.  Aproximadamente 10 minutos depois de nossa chegada, uma moça simpática aparece, se apresenta como Joyce, nos organizando por ordem de chegada e nos avisa que a entrevista será feita pela Juh. Sim, foi exatamente assim que Joyce se referiu a quem nos entrevistaria, ou seja, se ela está chamando- a, por um apelido, com toda certeza, não é a representante do mal, vulgo, chefe, quem nos entrevistará. Isso me fez ficar levemente menos tensa. 

 

              As meninas começaram a entrar no local indicado pela moça simpática e algumas, depois que saíam, eram encaminhadas para uma sala, enquanto outras se despediam e iam embora. Eu era a número 9, já estava me preparando, pois seria a próxima. A garota que entrou antes de mim saiu cabisbaixa, mais uma que não ficaria. Eu não entendia, se não era necessária experiência para exercer a função, qual era o critério de eliminação?! Bem, eu nunca saberia.

 

- Pode entrar a próxima! – Joyce fala me tirando de minhas divagações.

 

 

 

               Caminhei por um corredor estreito e encontrei uma porta no final do mesmo. 

 

- Com licença! – Digo após bater na porta.

 

- Entre e feche a porta, por favor. – Fiz o que me foi pedido .

 

 

 

              Ao entrar me deparo com uma mulher, dê aproximadamente uns 35 anos, morena clara, magra, altura intermédia, cabelos um pouco abaixo dos ombros, olhos castanhos eee... linda. Simplesmente linda. Maravilhosa! Eu nunca fui de reparar em mulher, mas ela não tinha como ser diferente, reparei cada traço.

 

- Vai ficar parada ai mesmo? – Ela pergunta e só então percebo que estou parada a examinado. Mas que droga, se for verdade que a primeira impressão é a que fica, já comecei com menos um ponto!

 

- Éee, não. Me desculpa - Eu sei que foi tipo, nada a ver, contudo, foram as únicas palavras que consegui pronunciar .

 

-Sente-se, por favor! – Ela fala com uma pose de intimidação. E digo que funcionou, pois neste momento, estou bem intimidada.

 

 

 

              Sento-me, ela fica me encarando por alguns instantes, depois pede pra que eu fale sobre mim. 

 

 

 

- Bem, me chamo Diana Aves de Aquino, tenho 21 anos, moro com minha mãe e meu irmão. Adoro ler, assistir séries, tenho um cachorro chamado Simba, nunca trabalhei, mas sou muito esforçada e aprendo tudo bem rápido - digo e torço pra ter colado.

 

 

 

              Péssimo Diana, péssimo! Ah cara, a verdade é que eu não sabia o que falar. Essa é minha primeira entrevista. E no momento não conseguir pensar em nada melhor.

 

 

 

- Por que nunca trabalhou? – Jura? Ai senhor, achei que só aquilo seria o suficiente.

 

- Bem, a verdade é que... Não sei, têm três anos que minha mãe luta tentando me convencer a entrar em alguma faculdade, e tipo, não tem nada que me agrade, então, já que não me decidi acho que já passou dá hora de arrumar um trabalho. E bem, estou aqui - resolvo mandar logo a real. Ai Diana, as coisas só pioram!

 

- Hum, e seus pais em que trabalham?- Aff, só me falta ela ter interpretado mal o que eu disse. Pelo amor. Coitada de mim.

 

- Bem, minha mãe é dona de casa. E meu pai era segundo sargento - digo e me bate uma saudade.

 

- Era? – Ela me pergunta parecendo realmente interessada.

 

- Sim, era. Ele faleceu há dois anos – falo e um nó aperta minha garganta.

 

- Eu sinto muito.

 

- Tudo bem! – Digo conformada.

 

- Mas então Diana, Por que eu deveria te contratar?

 

- Bem, como tinha dito, eu numa trabalhei, porém, sou esforçada, organizada, tenho disponibilidade para a empresa e aprendo tudo muito rápido. – Aff, Por que deve me contratar? Porque a empresa também está precisando, oras. Se situa, Diana. Foco mulher!

 

- Ok, Diana... – ela começa a dizer, mas eu a interrompo.

 

- E você? – Pergunto e ela me olha com uma expressão de desacreditada.

 

- Eu o que? 

 

- Por que te contrataram? Qual seu diferencial? Suponho que no dia da sua entrevista também havia várias outras concorrentes.

 

- Acredite, nenhuma tinha o meu currículo – ela diz e gargalha.

 

- Isso não tem como eu saber. Aposto que se tivesse falando com uma delas, ouviria o mesmo - digo a provocando.

 

-Você é mesmo uma figura, Diana. Quem sabe um dia não te mostre minhas inúmeras qualidades ...  – Ela disse abrindo o mais lindo dos sorrisos. Inúmeras qualidades, o que será que ela quis dizer com isso?!

 

 

 

               A entrevista segue por mais ou menos uns 30 minutos, não entendo porque de ter demorado esse tempo todo, se as outras não ficaram nem 10minutos. Porém, a espera valeu a pena. Eu não sei quais os critérios usados para aprovação, mas parece que eu me enquadro. Estou dentro! Uhuuul!

Fim do capítulo