Out Of The Woods
Out Of The Woods
POV-Delphine
O aroma era cativante, o âmbito era acolhedor, entretanto, eu não pertencia mais àquele universo.
O homem que me trouxe tanta alegria e paz, curou as feridas deixadas por outros amantes leigos do assunto amor. O rapaz sagaz e inteligente que cuidou e encantou meu coração duro e frio, vestia seu melhor terno e sorriso. A música era lenta, enquanto meu pulso era veloz. Havia flores espalhadas sobre o chão, sobre a mesa, sofá e balcão.
"Bem-vinda, meu amor!" Aproximou-se de mim, pousando beijos em meus lábios.
"Paul! O que é isso?" Ainda espantada com a surpresa indesejada, questionei.
"Isso é uma pequena demonstração do meu amor por você." Removeu meu casado e bolsa, "Vem, senta aqui."
As luzes estavam baixas e as velas queimavam em sintonia.
"Tudo está lindo, mas talvez eu não mereça nada disso." Engoli o vinho servido à mim.
"Claro que merece, amor! Entendo que você esteja conturbada e estressada com o trabalho e tudo mais. Só quis te agradecer por ainda estar comigo." Meu pobre namorado não sabia sobre metade de minhas intenções ou planos.
Saboreou-se com gosto da refeição e de minha presença, enquanto eu empurrava cada garfada para meu estômago repulsivo. Ao final do jantar, supliquei em segredo para que Paul não procurasse meu corpo como gula pós sobremesa.
"Dança comigo?" Estendeu o braço sem tirar o sorriso do rosto.
Respondi com os olhos e deixei que guiasse-me em uma dança casta e pudica. Até o modo com o qual suas mãos grossas seguravam minha fina estrutura, pareceu-me cru e errado. Ardia e queimava-me por dentro o sentimento de não ama-lo mais, de não quere-lo por perto. A ânsia invadia-me sem perdão.
Fugi de seu contato como um ladrão em Alcatraz.
"Del! O que foi?" Seu timbre era inofensivo e digno de pena.
"Aaah!" Suspirei alto o suficiente para denunciar meu incômodo, "Eu não sei, Paul! Eu ando confusa e não me reconheço mais. Nada parece certo ou racional."
"Foi algo que fiz?" Aproximou-se franzindo a testa.
"Não." Respondi com a certeza de que ele não era o culpado de tanta confusão.
"Foi algo que não fiz?" Insistiu em respostas que, nem ao menos eu, conhecia.
"Não!" Seu olhar era desesperador e seu medo ecoava aos cantos.
"Delphine, o que houve? Estávamos tão bem e agora você diz que nada faz sentido? Eu não faço mais sentido pra você?" Perguntou já irritado com a falta de informação.
Meu silêncio gritava tanto por dentro quanto por fora.
"Delphine! Fala comigo!" Submersa na imensidão daqueles olhos tristonhos, pude perceber que não era com Paul com quem queria estar. Não era o jantar caro ou a joia extravagante que impressionavam-me. A única coisa que eu desejava era a palidez de uma certa pele com espessura suave. Queria estar navegando no infinito oceano dos olhos de Cosima. Careço de seu sabor e afeto. Nada parecia correto, porém estar com Paul era o mais claro de meus erros.
"Eu preciso ir. Me desculpe." Escapei da conversa, peguei minha bolsa e me dirigi à porta.
"Ir pra onde? Delphine, para e me escuta." O robusto e enorme corpo de meu namorado impediu minha saída.
"Paul, me deixe ir!" Requisitei raivosa.
"Não! Você vai ficar aqui." Abusivamente, ditou meu destino.
"Eu não quero estar aqui com você! Saia de meu caminho, agora!" Arquitetei um diálogo decisivo e destruí um coração inofensivo.
"Se você quer ir, vá! Eu estarei aqui quando voltar." Deu-me passagem e observou-me desaparecer em meio as lágrimas que ofuscavam sua visão.
Eu não sabia ao certo onde poderia encontrar Cosima. Não imaginava seu paradeiro, entretanto, meu GPS biológico levou-me ao pequeno projeto de estacionamento em frente ao seu loft.
Esperei por muitos minutos até que avistei duas mulheres sob uma moto aventurosa.
Reconheci a dona de meus olhos e odiei a ladra que tentava rouba-la de mim.
A ruiva era uma de minhas alunas mais brilhantes e educadas. Vestia uma calça apertada e uma jaqueta de couro semiaberta. Removeu seu capacete e ajudou Cosima com o dela.
A tensão sexual entre as meninas era um pesadelo real. Elas sorriam e se continham. Assisti o furto do beijo e a entrega súbita de minha amada.
Facadas densas em meu coração. A náusea visitava-me e as malditas lágrimas caiam sem permissão.
Você não me vê, Cosima?
Estou bem aqui!
Repare em mim!
Fechei os olhos e esperei que parassem em breve. Ao abri-los novamente, a ruiva já estava preparada para partir e o fez rapidamente, após abandonar minha funcionária à porta.
Senti a dor em meus lábios, violentei-os com meus dentes afiados em punição por ser tão facilmente afetada por uma menina. Dra. Niehaus é apenas uma menina. E estou tão entregue à sua infantil maneira de amar.
Enxuguei as partículas molhadas e engoli o choro com força. Logo, segui caminho até o loft. Mesmo que ainda estivesse abalada, eu precisava saber o que a ruivinha significava.
Bati na porta e preparei-me para o pior.
Olhos de espanto recepcionaram-me.
O fervor do ódio corrente em meu sangue cegou-me de ciúme.
"Delphine?" Seu tom de surpresa incomodou-me verdadeiramente.
"Esperava outra pessoa? Uma ruiva, talvez?" Não era dona de minhas ações.
Entrei sem ser convidada e encarei sua face desconexa.
"Não esperava ninguém, muito menos você. O que faz aqui?" Questionou ainda parada no mesmo lugar.
"É por isso que está distante? Está se apaixonando por ela?" Aproximei-me furiosamente.
Estávamos tão perto, porém tão longe.
"Você é louca? Tá me seguindo agora? Você namora, Delphine, eu não!" Ela foi ousada e imprudente, entretanto, estava certa.
Meu corpo respondia ao peso de suas palavras e às lembranças daquele beijo roubado.
"Você ainda não me viu louca, Cosima!" Encostei minha face à dela.
"Acalmem as pepecas, suas doidas!" Felix apareceu de repente "Sentem-se, vamos conversar!"
Cosima e eu nos olhamos, sentamos e cruzamos os braços feito crianças.
"Não quero ouvir explicações de nenhuma das duas! Vocês estão erradas de tantas maneiras, não tem como defender. Onde vocês acham que vão chegar assim? O relacionamento de vocês mal começou e olha quando drama desnecessário! Não conseguem ver?" Felix posicionou a razão em nós.
"Ela não tem o direito de me brecar, sendo que quem namora é ela!" Cosima declarou sem olhar em minha direção.
"Não, ela não tem! Mas se você não passar confiança pra ela, como que ela vai largar um relacionamento seguro para ficar com você?" Fe, mais uma vez, raciocinou por nós.
"Não é fácil aturar um novo caso toda semana, Cosima." Nossos olhos encontram-se e já não havia mais raiva entre eles, apenas saudade.
"Olha!" Felix levantou-se "Tô de saída! Vou beber com Donnie, outro que não sabe o que faz da vida. Não se matem ou transem na sala. Volto mais tarde e espero não encontrar resquícios do crime ou do sex*." Foi claro e tentou ser engraçado. Logo, estávamos apenas nós duas, e o clima começava a esquentar.
"O que você faz aqui, Delphine?" Ainda de braços cruzados, Cosima perguntou ao virar-se pra mim.
"Eu não aguentava mais estar com Paul. Queria estar aqui, com você. Então, imagina minha decepção quando venho à sua procura e te encontro com outra." Expliquei saboreando o amargo efeito paranoico do ciúme.
"Não estava com outra, apenas aceitei a carona!" Disse ao desviar seu olhar culposo.
"E o beijo?" Questionei em tom de voz baixo, talvez por medo da resposta que receberia.
"O beijo foi um erro e não significou nada." Seus dedos buscaram meu queixo.
"Como terei certeza disso?" Mordi meu lábio ao tornar-me vulnerável àquela doce criatura.
"Ninguém jamais vai ter os beijos que guardo pra você. Ninguém jamais vai ser capaz de me enlouquecer como você, Delphine. Eu te amo!" Suas palavras derreteram-me, e antes que pudesse perceber, já estava liquefeita em seus braços.
Seu pequeno grande corpo debruçou-se em mim, com uma de suas mãos segurando minha cabeça, posicionou-me contra às almofadas do sofá.
Seus quadris remexiam-se e guiavam meu rebol*do desvairado. Sua língua traçava rastros em minha pele enquanto o calor de seus lábios aqueciam minha insanidade. Eu amo a forma com a qual Cosima maneja e controla meu corpo. É como se ela conhecesse cada centímetro meu. Minha aluna sabia onde e quando pressionar e apertar. Como tocar, lamber, morder e acariciar. Estar junto à ela era feito voar próximo ao sol: quente, fulminante, insensato, e perigoso.
Quando alcancei o zíper de sua calça rasgada, ouvimos batidas à porta.
Meu coração disparou, roubando oxigênio de meu cérebro e fazendo-me imaginar a figura de meu namorado do outro lado, daquela rabiscada e confusa porta.
"Se enconde!" Cosima demandou, mas desobedeci.
"Chega de mentiras, vou enfrenta-lo!" Corajosa e destemida, levantei e arrumei a bagunça minha.
O som do deslizar metálico estremeceu minhas estruturas, entretanto, ao avistar uma figura arruinada e solitária, respirei aliviada.
Era Alison e toda sua desordem.
"Meninas, que bom encontrar as duas aqui!" Apossou-se da atmosfera derramando sua aflição.
"Ally, tá tudo bem?" Cosima soou tão preocupada quanto seu olhar.
"Não! Eu não sei o que fazer! Donnie e eu estamos na pior." Desabafou ao desabar no sofá.
Acredite, cara amiga, todas estamos na pior.
"O que está acontecendo?" Questionei e sentei ao lado dela.
"Estou tentando lutar por meu relacionamento, mas falho toda vez. Não me sinto mais a mesma quando estou com Donnie, não tenho mais paciência para aturar ele e vejo que isso acaba conosco. Preciso beber!" Declarou escondendo com as mãos, a vergonha em sua face.
Cosima buscou três copos e uma garrafa de tequila. Serviu as doses e bebemos juntas.
Uma, duas, três, quatro.
O ácido sabor azedo amenizou a dor e desfreou a fala.
Estávamos distribuídas no tapete amarelo e felpudo. Minha aluna sentava ao lado meu, opostas à nossa tristonha e embriagada amiga.
"Não sei como você consegue, Cos! Seu relacionamento com Shay é perfeito, vocês são lindas juntas e se dão tão bem." Alison não fazia ideia do que estava falando.
"Elas terminaram, Ally." Informei com gosto em meu paladar.
"Não acredito!" Serviu-se mais uma dose "Ela era tão bacana!"
"Sempre a achei falsa." Minha língua era venenosa como uma Cascavel.
"Ah! Del, só resta você e Paul! Que relacionamento lindo vocês têm. Cheio de amor e carinho! Que inveja!" Alison, realmente, não fazia ideia do que estava falando.
"Eles também não estão lá essas coisas, Ally." Cosima empatou o placar respondendo por mim.
"Aí, Minha Santa não aguenta. A bruxa está solta, meninas. Vamos sair amanhã então, depois que a Cos sair do Leda. Vamos beber até cair!" A ideia não pareceu ruim.
"Fechado!" Minha aluna e eu concordamos em sincronia.
Ela me sorria e eu disponibilizava todo meu afeto em retorno.
"Vocês querem fumar um? Shay me deu uma erva das boas, e ainda sobrou um montão." Cos sugeriu esperançosa.
"Ah! Amiga, não fumo desde que me formei, nem sei se lembro como funciona." Alison hesitou ao beber mais tequila.
"Não imagino que há como esquecer, Ally." Surpreendi às duas com um sorriso malicioso.
"Isso aí, Delphine!" A maconheirinha foi até seu quarto para pegar a arma do crime. Ao retornar, enrolou o fumo e o ascendeu com classe e propriedade.
A maneira como expulsava a densa fumaça de seu pulmão era graciosa mesmo sendo mortífera. Brincava com a emanação, soltava lentamente pela boca e inalava rapidamente com as narinas. Era sensual demais para minha saúde.
Não precisou de muito para que Alison ficasse fora de si. Deu uma tragada e logo desmaiou no sofá. O sono causado pela erva era eficaz e tranquilo.
"Ela apagou?" Cosima perguntou ao passar-me o cigarro,
"Com rapidez." Retruquei e a provoquei ao tragar.
"Você é linda, Delphine!" Elogiou-me com sinceridade despertando-me riso.
"Deixarei Paul pela manhã!" Seus pequenos olhos avermelhados expandiram-se.
"O que? Tá louca? Como assim?" O elevo causado pela erva desajeitava-a muito mais.
"Cosima, eu não sei ao certo como fazer isso, mas quero tentar acertar." Pude sentir nitidamente que a minhas palavras alegraram seu coração e estimularam suas más intenções.
"Se não fosse por Alison, eu acabaria com você agora." Declarou mordendo os lábios e ensopando meu órgão sensível.
Obviamente não nos tocamos ou expressamos nossa vontade pela outra. Apenas ajeitamos os colchões, deitamos lado a lado e aguardamos o sono nos levar para longe de nossa realidade, em sonhos deliciosos e não tão fantasiados assim.
Ao amanhecer, despertamos com ressaca no corpo e aridez na garganta. Felix fez questão de nos acordar colocando alguma cantora pop para gritar em sua caixa de som.
"Bom dia, vagabundas! Vamos acordando, vamos levantando!" A indelicadeza de sua personalidade era marcante e às vezes um pouco cômica.
"Piranha Roots e Piranha Neurótica, vocês buscam o café e os pães! Piranha Francesa você me ajuda a arrumar essa bagunça!" Eu sabia que ele planejava algo, não quis pagar pra ver ou esperar uma possível intervenção.
"Porr* Felix, eu odeio você!" Cosima exclamou ao colocar os óculos.
"Amiga, quantas vezes vou ter que te falar que mocinhas de boca suja são feias." Alison era antiquada e hipócrita. Ela era a dona dos palavrões suavizados.
Wilma e Betty partiram em seu melhor estilo Flintstones à busca por uma refeição gordurosa e revigorante.
"Diga, Felix!" Ao fechar da porta, encarei-o já preparada para o sermão.
"Delphine, eu não tenho nada contra você. Muito pelo contrário, eu admiro você. Sei que ama Cosima e sei também que você largou Paul ou irá largar. Ele apareceu na boate ontem, tive que ficar ouvindo suas lamentações. Onde você acha que isso vai dar? Quais são seus planos?" Sua sinceridade comoveu-me de maneira espantadora.
"Bom, eu estou tentando ao máximo amenizar os problemas. Não sei até onde vou com tudo isso, mas tomei uma decisão." Expliquei ao analisar a grossura e perfeição daquelas sobrancelhas.
"E qual decisão você tomou?" Evidenciou interesse e curiosidade.
"Vou embora de casa e dar um tempo ao tempo." Clarifiquei, destemida.
"Não vai terminar com ele agora? Vai dar uma chance para Cosima mostrar o que realmente quer?" Indagou, ainda tentando raciocinar minhas últimas palavras.
"Você terminaria? Abandonaria um homem que te ama e te passa segurança por uma menina bela e conturbada que te ama, mas não te passa segurança alguma?" Não tive a intenção de soar autocentrada, entretanto, percebi a irritação em Felix.
"Você é egoísta, Delphine." Denunciou um defeito meu, o qual tento mudar.
"O amor às vezes te faz coisas inimagináveis, tira sua razão, suas qualidades e destrói seus ossos. Eu não quero ser assim, Felix, estou apenas me esforçando para fazer do errado o certo." Entendi que a conversa não estenderia por mais tempo, e compreendi que era hora de partir.
"Boa sorte, Delphine. Só, por favor, não acabe com a amizade de Paul e Cosima. Eles estão juntos desde o comecinho, e tenho certeza que quando chegar a hora da decisão, Cosima escolherá manter Paul por perto e você bem longe. Mas isso irá matar a bichinha."
Mesmo com o som ligado e o foco no caminho, ainda era capaz de ouvir os ecos produzidos pelo peso das palavras de Felix. Se corrigir um erro é começar com outro, estou disposta acabar com tudo de uma só vez.
Chegar em casa teve um sabor peculiar. Vivi tantos momentos de felicidade e aflição. Cada canto era uma lembrança diferente. As flores estavam murchas e louça ainda no mesmo lugar.
Paul não estava lá, o que facilitou para arrumar minhas malas. Separei minhas roupas de trabalho e lazer, tudo o que realmente precisava, foi distribuído em duas malas enormes. Pensei em escrever um bilhete, mas não tive tempo, logo meu namorado apareceu na sala.
"Então é isso?" Perguntou, observando minha bagagem.
"Paul, sinto muito. Você foi maravilhoso pra mim, porém não sinto mais o mesmo." Com sinceridade, declarei.
"Não fui maravilhoso. Se tivesse sido, você não estaria indo embora. O que fiz, Delphine? Onde errei?" Avistei lágrimas escorrendo naquela pele bronzeada.
"Não foi você, Paul. Eu mudei, estou com tantas coisas na cabeça. Ficar com você é injusto e egoísta. Você não merece isso!" Seus olhos clareavam ainda mais.
"Você tem outra pessoa? Algum cara do trabalho? Algum professor boa pinta?" Absorveu a coriza e engoliu o desespero.
"Não é nada disso. Eu apenas mudei, Paul." Contar que havia me apaixonado novamente apenas iria destruí-lo outra vez.
"Eu te amo, Delphine. Amo como nunca amei ninguém, e quando você quiser voltar, eu ainda estarei aqui pra você." Pensei em abraça-lo, porém estava certa de que tal ação faria com que ele não me soltasse.
"Adeus, Paul." Virei-me, peguei minhas coisas e parti. Parti para um lugar onde finalmente encontrei paz. Minha solidão.
Havia esquecido o quanto gosto de ficar sozinha.
Dirigi em carro por quase quinze minutos até decidir onde ir. Escolhi um hotel famoso e luxuoso, que fica há três blocos da Universidade. O Renaissance Providence Downtown Hotel.
Deixei minha BMW com o Valet enquanto um rapaz retirava minha bagagem. A recepção era enorme e muito elegante. Havia muitas mulheres e homens bem vestidos, de aparência importante. Eu não fazia ideia de quanto tempo seria minha estadia, então optei por uma suíte simples, entretanto, todas estavam ocupadas. A única disponível era a presidencial. A diária era um tanto quanto custosa, mas não importei-me. Meu salário era alto e nunca conseguia gastar a metade ao final do mês.
O quarto ocupava um andar inteiro. Fiquei impressionada com tamanha beleza e delicadeza.
Ao entrar observei a imensidão de uma sala colossal. Havia três sofás na cor branca com detalhes em verde. Duas poltronas de almofadas aparentemente confortáveis. Tapetes vastos e detalhados também na cor verde. As espaçosas janelas permitiam uma vista esplendida. Ao lado direito, havia uma cozinha toda em inox, uma mesa longa e oito cadeiras transparentes com almofadas brancas com costuras em musgo. Os quadros pendurados nas paredes eram dignos de aplausos e contemplação, eram lindos, mas não podiam ser comparados com o ambiente ao lado de fora. Uma grande porta de vidro levou-me para conhecer uma piscina retangular, uma jacuzzi, um pequeno bar e muitas espreguiçadeiras.
Será que terei tempo de aproveitar tudo?
Seguindo à frente, ao lado esquerdo, havia outra porta de vidro que dava passagem para a suíte. Uma cama imensa e repleta de travesseiros. O quarto tinha um misto de cores primarias, uma grande televisão e atrás dela, estava o banheiro, o qual, com certeza, é o maior que já vi. Banheira redonda com hidromassagem. Duas pias, um espelho enorme, um vaso sanitário que comportava até duas pessoas (este fato foi perturbador), e um chuveiro espaçoso.
Ao sair pela porta da frente do quarto, observei uma estante com livros jamais lidos, uma mesa de trabalho com um notebook e um telefone ao lado. Seguindo novamente ao início de tudo, havia outro bar, outra televisão e mais obras de arte.
Não sabia, ao certo, como me senti diante à tanto luxo. Aquela atmosfera era sofisticada, porém não tão aconchegante. Mesmo com tanta riqueza ao meu redor, uma eternidade milionária não proporcionaria o que quinze minutos ao lado de Cosima são capazes de proporcionar.
Cosima Niehaus, finalmente estamos fora de perigo.
Por fim, poderei ama-la como merece e cuida-la com toda dedicação e zelo. Ao notar a serenidade e o aroma de lavanda daquele custoso quarto, sorri. Mas não foi um sorriso qualquer, daqueles que forçamos em fotos plásticas. Foi um sorriso verdadeiro, puro e despido de culpa.
A única coisa que faltava para complementar meu sublime estado mental, era o amor de minha vida.
Demorei alguns minutos perdida e encontrada em meio àquela colossal esfera. Bebi alguns copos de Whisky e deixe-me levar pelo som do Jazz que soava das longas e finas caixas de som.
Após devaneios aliviados, reavaliei minha situação.
Terminei com Paul.
Acabou.
Nossa!
Um suspiro apreensivo seguido de lágrimas libertadoras de um sentimento sufocante.
Sinto muito por não estar apaixonada por ele.
Ele não merecia.
Sempre o guardarei em meu coração com carinho e admiração.
Entretanto, quando o amor acaba e a paixão fragmenta-se em lembranças distantes, não há mais como lutar ou mudar essa condição. Manter-se em um relacionamento por comodidade é injusto, porém manter-se nele por dó, pena ou misericórdia é lastimável, diabólico, infesto e tóxico ao espirito.
Meu ato de egoísmo foi duro e impiedoso, mas foi a coisa certa a se fazer.
Despertei de meus pensamentos com o alarmante toque de meu celular.
Era Alison.
"Delphine Cormier, você largou Paul?" Estava demorando para algo acontecer e tirar-me a paz.
"Alison Hendrix, larguei sim. Estou bem, por sinal." Respondi ardida em sarcasmo.
"Amiga, você tem certeza de que é isso o que você quer?" Compreendo sua preocupação, mas não sou merecedora de seu zelo materno.
"Sim! Estou bem, Ally." Adicionei esperançosa por uma mudança no assunto.
"Onde você está, sua louca? Vamos sair mais tarde mesmo?" Sorri com sua breve confusão.
"Ally, estou no melhor quarto de hotel do mundo, sério. Você vai amar quando vir me visitar. Estou hospedada no Renaissance, pertinho do Leda. E sim, vamos sair mais tarde." Respondi às suas perguntas saboreando minha liberdade.
"Ah! Então tá bom. Qual é o número do quarto?" Questionou, inocentemente.
"É suíte presidencial, amiga!". Poderia ter ouvido seu histérico grito há quilômetros de distância.
"Até mais tarde então, poderosa!" Desligou a ligação e trouxe-me alegria com seu suporte e apoio em resposta ao meu término.
Ao cair da noite, a vista ficava ainda mais bela. As luzes da cidade, o colorido dos neons e o som abafado das buzinas, davam ainda mais elegância ao ambiente.
O relógio marcava 22:00 quando o interfone tocou.
"Sra. Cormier, posso autorizar a entrada de Alison Hendrix e Cosima Niehaus?" A voz da recepcionista era suave e tranquila.
"Pode sim, por favor." Confirmei a autorização e apressei-me para preparar alguns drinks.
Ao som de "Why Don't You Do Right" por Peggy Lee, recepcionei minhas convidadas.
Os olhos deslumbrados de Ally analisavam a atmosfera de meu quarto. Os olhos entorpecidos de Cosima observavam atentamente cada fragmento de minha anatomia. Escolhi um vestido longo preto com brilhantes. Era aberto nas costas e proporcionava uma voluptuosa vista de meus seios semiescondidos atrás de um decote amistoso.
As expressões manifestadas naquela face angelical não eram discretas ou ponderadas. Cosima me desejou loucamente e tenho certeza que de sua sensível carne escorria lubrificação.
"Amiga! Tô chocadíssima!" Alison declarou ainda boquiaberta.
"Eu também!" Aqueles óculos não desviavam sua atenção de mim.
"Gin com Cranberry?" Entreguei os copos e brindamos ao ar.
A cada gole era uma tensão diferente.
"Para onde iremos?" Questionei ansiosa.
"Van Gogh Lounge!" Ally respondeu, sem hesitação.
"Meninas, lá é muito caro, não acham?" Cos, por outro lado, recuou embaraçada.
"Cosima, não importe-se com nada! Hoje a noite é nossa!" Suavizei sua complicação.
Dirigimos em meu carro. Já estava certa que Alison acabaria muito embriagada, então preferi que ela deixasse seu automóvel com o Valet.
O clube noturno estava muito bem habitável. O preço dispendioso selecionava o público e assustava um pouco, porém após o terceiro Martini e a viagem em meio as luzes coloridas e brilhantes, qualquer pessoa seria capaz de perde-se em diversão.
Os rapazes ao nosso redor olhavam-nos com diferentes intenções. Alison era a chamativa, rebol*va e sorria, longe da sobriedade. Cosima remexia-se com vontade, porém a direcionava apenas para mim. E eu, bom, não me importei com mais ninguém além da linda moça dançante em minha frente.
Nunca aproveitei tanto quanto o fiz naquela noite. Tudo parecia surreal. Estar com as meninas foi revigorante e extremamente divertido. Após horas na pista de dança e no balcão do bar, decidimos ir embora.
Como previsto, Ally estava absolutamente fora de controle, plenamente bêbada. Sra. Hendrix a esperava à porta, e tenho certeza que minha amiga, beirando os trinta e um anos, levaria um argumentativo sermão pela manhã.
Não incomodei-me em perguntar se Cosima gostaria de passar a noite comigo, pois ao distanciarmos da civilização, seus dedos acariciavam meu pescoço com sutileza e saudade.
Entramos no quarto e não desperdiçamos um só segundo. A música ainda tocava, dessa vez "Ghost Of Love" por Marie Fisker.
Lancei aquele frágil corpo brutalmente à cama. Removi meu vestido lentamente e observei aqueles olhos famintos devorarem cada centímetro meu. Eu amo a forma com a qual Cosima me deseja e suplica pelo meu toque.
"Vem! Vem pra mim" Implorou com o rouco de sua voz.
Deitei sobre sua anatomia e disponibilizei meus pequenos seios em sua boca. Seus dentes pontiagudos e carnívoros mordiscavam meus mamilos com vontade e cautela. Os lábios percorriam em minha epiderme, transmitindo calor e frio. Os toques causavam choque, decodificando cada movimento meu. Os gemidos eram altos e eufóricos, loucos por uma libertação espiritual e inefável. Os beijos...Bom, descreve-los causa-me um riso apaixonado. Eles eram certeiros e cuidadosos, posicionados em cada canto meu. As unhas arranhavam-me e os bíceps forçavam uma pressão absurdamente prazerosa.
A saliva molhava-me de forma incontrolável. Meu umbigo e barriga foram beneficiados com a atenção daquela língua macia. De vez em quando, meus olhos a assistiam deliciar-se com o corpo meu. Cosima desceu levemente e lambeu-me a carne, tomou de minha água e penetrou-me repetidamente oscilando na força e movimento. As frequências de meus gritos e uivos instigaram o rebol*do de minha amante. Ela sentia prazer em esfregar-se contra o colchão. Houve um breve momento o qual nos encontramos em uma competição acirrada para definir quem regalaria primeiro. Eu, obviamente, a venci. Escorri, como escorri!
Cosima ainda remexia-se contra o atrito, e ao dar-me a última lambida, estremeceu, gritou e perdeu completamente o controle sob seu sistema nervoso. Espasmos, falhas respiratórias e corações acelerados definiam-nos.
Com o rosto apoiado em meu estômago, mãos cansadas sob minhas coxas, e um sorriso no rosto, eu observei o brilho em seus olhos.
"Você é minha! Só minha." Sorriu, alegre e satisfeita.
"Sou sua! Somente sua." Respondi, certa de que não haveria algo capaz de tirar-nos o direito de termos um final feliz.
Fim do capítulo
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