Capítulo 7
Finalmente estava tendo um momento relaxante nesse dia tão exaustivo, o perfume dos sais de banho invadiam o ambiente de forma muito agradável, a temperatura da água estava perfeita fazendo com que alguns músculos tensos em seu corpo relaxassem um pouco, adorava esses banhos demorados na banheira. Viu seu celular tocando e pensou se valia a pena o esforço em tentar alcança-lo na outra ponta, respirou fundo e inclinou seu corpo o máximo que conseguiu mantendo o braço esticado até finalmente conseguir pegá-lo, viu através do identificador do aparelho quem era e sorriu ao atender. – Se soubesse que era você nem teria me dado ao trabalho de atender, acabou de interromper um banho maravilhoso – suspirou.
- Se ao menos estivesse acompanhada eu fingiria que me importo – sorriu.
- Quem disse que não estou?
- Hum então resolveu dar uma chance para aquela estudante bonitinha que está afim de você?
- Claro que não, estou sozinha.
Tudo oque Afonso mais queria era ver a amiga feliz outra vez, depois que Masha se foi, desaparecendo no mar junto com a filha, Daniela nunca mais foi a mesma, como se tivesse se fechado para o mundo e o seu coração para o amor, porém oque havia descoberto recentemente talvez trouxesse um pouco de paz e alegria a sua vida, respirou fundo criando coragem para tocar no assunto. - Preciso conversar sério com você.
- A Larissa está grávida?
- Não, claro que não... – afastou logo esse pensamento, amava a namorada, só não estava pronto para ser pai tão cedo, apesar de não ser mais tão jovem assim, voltou a se concentrar outra vez – é sobre a sua filha.
Ao ouvir aquelas palavras sentiu seu corpo ficar tenso outra vez. – Afonso – fez uma pequena pausa – sabe que não gosto de ficar tocando nesse assunto.
- Eu sei, mas não posso deixar isso de lado, eu tenho quase certeza de que a encontrei Dani, encontrei a Yeva – suspirou.
- Como assim a encontrou?
- Bom começou quando vi uma reportagem esses dias sobre uma jovem surfista brasileira que sofreu um acidente, quando mostraram a foto, eu congelei Dani, ela lembra muito a Masha.
- Isso não quer dizer nada, existem muitas garotas por ai parecidas com ela – por várias vezes tinha se animado imaginando que havia encontrado finalmente sua filha, mas sempre acabava se decepcionando, e essa sensação voltava a florescer, não queria alimentar novas esperanças com essa história de Afonso.
- Eu sei, então fui procurar saber mais sobre essa garota, e foi então que eu cheguei ao pai dela, acontece que no dia em que a Masha sumiu, ele estava aqui no México passando férias com a família, e nesse mesmo dia ele deu entrada no hospital com a filha dele que na época era um bebê e havia caído no mar acidentalmente enquanto passeavam de barco.
- Deve ser apenas coincidência – ainda não queria acreditar nas palavras do amigo, apesar de estar ficando cada vez mais intrigada com essa história.
- Acontece que eu não acredito em coincidências, então conversei com um amigo que trabalha nesse hospital e ele investigou pra mim e o que ele descobriu finalmente fez com que as peças se encaixassem.
- O que ele descobriu? – Daniela não estava mais aguentando aquele suspense todo.
- A esposa desse homem, faleceu nesse mesmo dia devido a complicações no parto.
- Isso só indica que esse homem perdeu a esposa e ainda quase perdeu a filha.
- Sim seria, se ele não tivesse descoberto uma declaração de óbito da criança também, declaração essa que não estava junto do arquivo da paciente, muito conveniente não acha?
- Agora você me deixou confusa, a filha dele morreu?
- Ao que tudo indica sim, porém ele deu um jeito de encobrir isso, e registrou a menina depois no Brasil.
- Essa história é muito doida para ser verdade.
- Eu sei, mas se você visse a foto dela, tenho certeza que é ela Dani.
Fechou os olhos por alguns segundos, ainda se lembrava daquela cena na Playa Escondida, onde viu seu amor partindo naquele barco pela última vez, de alguma forma que não sabia explicar sabia que sua esposa não havia sobrevivido, mas algo dentro dela insistia para que continuasse procurando pela sua filha, por mais absurdo que fosse acreditar que tivesse sobrevivido ainda sendo apenas um bebê. – Você disse que ela sofreu um acidente, ela está bem?
- Infelizmente não consegui descobrir muita coisa, só sei o hospital que ela está internada no Rio de Janeiro.
Daniela pegou as informações com o amigo antes de terminar a ligação, será que essa garota poderia ser realmente sua pequena Yeva, era a pergunta que não saia da sua cabeça. Só havia um jeito de descobrir, respirou fundo e tentou aproveitar mais alguns minutos.
******
Luísa abriu os olhos tentando se situar onde estava, parecia um quarto de hospital, foi tentar se levantar e sentiu uma forte pontada na cabeça, soltou um gemido de dor, ouviu um barulho, a porta estava se abrindo e alguém entrando, não demorou muito para reconhecê-la.
- Você deve descansar – se aproximou, ajudando Luísa a deitar-se novamente.
Luísa sentiu um toque muito delicado em sua testa e magicamente sua dor sumiu, agora já respirava mais aliviada e voltou a encará-la novamente. – Tive um sonho estranho, você estava nele – a mulher sorriu encarando-a de volta – meu pai também estava – suspirou.
- Não foi um sonho – sentou-se na beirada da cama de frente para ela, segurando sua mão entre as suas – foram lembranças, minhas e sua.
- Lembranças?
- Sim minha criança.
- Quem é você?
- Você sabe quem eu sou – sorriu.
- Masha?
- Sim, e você é minha pequena Yeva – fez um carinho de leve em seu rosto.
- Se isso tudo realmente aconteceu, então você não sobreviveu?
- Não, mas o importante é que você conseguiu, seu pai apareceu no momento certo e te salvou.
- Porque ele nunca me contou sobre isso?
- Não sei dizer – suspirou – é um assunto muito delicado, foi um dia muito difícil para todos nós.
- Se estou aqui com você, quer dizer que eu também... eu... – não conseguia completar a frase.
- Não, sua condição é diferente da minha.
- Onde estou então? Diria que parece um hospital, mas já não tenho tanta certeza disso.
- Seria uma boa forma de definir – sorriu – digamos que seu espírito está se recuperando enquanto seu corpo físico também se recupera.
- Por quanto tempo vou ficar aqui?
- O tempo aqui é relativo, quando estiver pronta, sua transição será natural.
- Estou com medo.
- Não fique – depositou um beijo em seu rosto enquanto se levantava – você esta cercada por pessoas que te amam, estamos cuidando muito bem de você – sorriu – agora descanse um pouco.
Luísa já iria protestar que não queria descansar, porém novamente seus olhos foram ficando pesados demais para continuarem abertos e um sono profundo tomou conta outra vez.
******
Manuela havia conseguido uma folga no restaurante e combinado com Rodrigo para que pudesse ficar com Luísa um pouco, já havia se passado dez dias desde o acidente e até agora nada de ela acordar, os médicos disseram que ela estava estável, porém com a pancada que levou na cabeça era difícil dizer quando ela acordaria, poderia ser em alguns minutos, meses ou anos, sentiu seu corpo ficar tenso com esse ultimo pensamento, ela tinha que acordar, e logo, não conseguiria ficar sem ela.
Para sua felicidade não havia ninguém no quarto, não queria encontrar Carol nem Courtney, não se sentia bem perto delas, e mesmo Rodrigo garantindo que não havia ninguém com ela no momento, só suspirou aliviada quando finalmente abriu a porta e viu apenas Luísa deitada. Sentou-se ao seu lado, olhava para ela, os machucados do rosto tinham melhorado um pouco, sua respiração era tão calma e cadenciada, se não fosse por todos aqueles aparelhos e fios espalhados pelo seu corpo, diria que estava dormindo tranquilamente, segurou sua mão, não estava fria como em outros dias, podia sentir o calor que emanava do seu corpo, não sabia exatamente como agir, tinha ouvido tantas histórias sobre pessoas em coma, que podiam ouvir tudo oque diziam, mas não sabia se realmente acreditava nisso, porém queria acreditar, que de alguma forma Luísa soubesse que estava ali, que podia senti-la, suspirou e sentiu uma lágrima insistente querendo sair, não queria chorar, já havia chorado tanto nos outros dias que foi vê-la.
- Lembra-se daqueles dias que passamos na Bahia? – sorriu com esse pensamento – Acho que não fazia nem uma semana que estávamos saindo e você me convidou para viajar com você, pois iria ter que participar de uma competição que iria ter lá. Confesso que te achei maluca no começo, mas ainda bem que acabei aceitando – fez uma pausa – foram os melhores dias da minha vida, ficar naquele paraíso com você. – Foi quando te vi surfar pela primeira vez – sorriu um pouco emocionada – lembro como se fosse ontem, seus movimentos perfeitos, a prancha parecia uma extensão do seu corpo e o mar sua sinfonia que você tocava com maestria, era lindo te ver assim – sua voz já estava embargada a essa altura e saía com dificuldade – é lindo te ver assim, pois sei que logo vai voltar para sua segunda casa, o mar, ele deve estar sentindo sua falta, assim como eu – sorriu enquanto fazia carinho em seus cabelos.
- Engraçado como a vida te surpreende às vezes, eu finalmente tinha criado coragem, iria conversar com você, quem sabe a gente teria se entendido, ou não. – sorriu – Foi muito difícil pra mim, a forma como as coisas acabaram entre a gente, ainda continua sendo, aquela conversa que tivemos naquele hotel na Austrália – suspirou - esse dia acabou comigo, foi como se tivessem pegado todos meus sonhos e jogado fora, ouvir você falando que tinha passado a noite com outra, ainda dói aqui dentro – apontou para o próprio peito.
- Queria ter sido suficiente pra você, às vezes fico pensando se talvez tivesse ido com você, teria sido tudo diferente, não tem como saber agora, são apenas suposições, seria tão mais fácil simplesmente deixar de te amar, juro que tentei, quis ter raiva de você, mas isso não durou nem uma semana – acabou rindo.
Carol observava aquela cena permanecendo calada, já estava no quarto há algum tempo, assim que entrou e viu Manuela, já iria sair, porém não conseguiu se mexer conforme foi ouvindo o monólogo da ruiva. Como estava de costa para porta, Manuela não percebeu a presença da morena, na verdade estava tão absorta em seus pensamentos e de fato sendo um grande alívio poder descarregar tudo que estava sentindo, como se tirasse um peso do peito, que nem ouviu quando a porta se abriu.
Por mais que quisesse sentir raiva, não conseguiu, era visível o quanto aquela mulher amava Luísa, sentiu uma espécie de compaixão por ela, agora as coisas começavam a se encaixar melhor, de fato tinha sido como Luísa havia contado sobre a fatídica cena do beijo quando tinha ido vê-la aquele dia, ainda sentia o sangue ferver quando se lembrava, então entendia muito bem o que a ruiva sentia, e o quanto machucava ter a pessoa que você ama com outra. Onde foi se meter? Era a pergunta que não saia da cabeça, nesse triângulo amoroso que acabou se envolvendo, onde realmente se encaixava? Só podia esperar que Luísa acordasse logo e juntas resolvessem essa situação toda, pois agora além de se preocupar com Courtney, sabia que a ruiva não iria ficar de lado. Saiu do quarto procurando não fazer muito barulho, Manuela até se virou assim que a porta se fechou, mas não conseguiu identificar quem era talvez alguma enfermeira, pensou.
******
Courtney acompanhava a bateria de Matt, o campeonato no rio havia começado no dia anterior, mas seus pensamentos estavam bem longe, nunca havia se sentido tão perdida como estava agora, Luísa não acordava e isso a deixava sem rumo pensava que aquilo tudo só podia ser carma, havia feito aquela burrada e agora estava pagando o preço por isso. Tudo o que mais queria era que ela acordasse e pudessem se entender, não iria esconder o fato de ter ficado com outra mulher, não queria mentiras no seu relacionamento, queria poder fazer tudo certo pela primeira vez, tinha esperanças que Luísa entendesse e a perdoasse, acabou nem percebendo quando alguém se aproximou.
- Não esperava te ver por aqui.
Courtney acabou levando um susto e logo sentiu seu corpo ficar tenso ao reconhecer Sara. – Posso dizer o mesmo – seu tom não foi nada cordial.
Sara havia gostado de ficar com Courtney, ou pelo menos era essa a sensação que ficou, já que depois de tantas doses de tequila, não lembrava-se tão perfeitamente daquela noite. – Sua namorada está melhor?
- Creio que isso não é do seu interesse.
Sara ficou observando enquanto a morena se afastava, pelo jeito não iria conseguir repetir aquela noite, sorriu com esse pensamento e voltou a se concentrar nas manobras que estavam se desenvolvendo no mar.
Matt havia acabado de sair do mar, sabia que tinha feito o suficiente para se classificar, mas estava bem longe do seu melhor, tinha dificuldades em se concentrar, sentia um enorme vazio, sem Luísa ali não era a mesma coisa, viu Courtney se aproximando, sabia o quanto estava sendo difícil para ela também. – Ei gata, tudo bem? – percebeu que ela parecia um pouco alterada.
- Tudo. – tentou afastar dos pensamentos o encontro que acabara de ter – Estou indo ver a Lu, você vem?
- Claro, só me da um tempinho e já te encontro.
- Ok, não demora, e se enroscar em alguma garota eu te deixo aqui.
Matt deu seu melhor sorriso e seguiu sendo observado pela amiga.
******
- Como está se sentindo?
- Bem, eu acho – suspirou.
Masha se aproximou, sentando-se ao lado da filha. – Pode conversar comigo, sei que algo lhe aflige.
- Quero voltar.
- Isso só depende de você – fez um carinho em seu cabelo.
- Como?
- Seu coração – tocou em seu peito – é quem decide, e se ainda está aqui é porque deseja estar.
- Acho que estou com medo.
- É natural sentir medo, porém se seguir seu coração, sempre estará no caminho certo.
- Irei me lembrar de você?
Masha balançou a cabeça negativamente – Mas estarei sempre com você.
- Acho que estou pronta então.
Masha abriu um enorme sorriso – Lembre-se, siga seu coração sempre.
Carol estava sentada, com o livro Alice no país das maravilhas nas mãos, nos últimos dias, sempre que conseguia uma folga no hospital, passava no quarto de Luísa e lia para ela. – Você me lembra um pouco a Alice – sorriu – vivendo apenas no seu mundinho – fez um carinho em seu rosto, já haviam se passado vinte e cinco dias, então as marcas do acidente estavam mais amenas agora. – Você é tão linda.
Estava segurando sua mão, e por alguns segundos podia jurar que sentiu ela se mexendo, olhou novamente, nenhum movimento. – Acho que estou imaginando coisas já – suspirou. Foi então que percebeu um pequeno movimento, seus olhos ainda fechados pareciam estar se mexendo, se aproximou para encará-los e então se deparou com aquele tom esverdeado fitando-a.
Luísa abriu os olhos, porém não conseguia ver nada, tudo estava tão claro, teve que piscar por alguns segundos até conseguir ajustar o foco em algo, foi então que a viu, uma bela moça a encarando, seu corpo todo doía, sua cabeça parecia que ia explodir e sua garganta estava tão seca – Água – sua voz saiu tão fina e fraca.
Carol que até então estava em transe, mal conseguia acreditar no que via, Luísa havia acordado finalmente, rapidamente pegou um copo de água, apertou um dos botões do controle da cama para que ficasse mais inclinada, então com calma ajudou Luísa a beber um pouco de água.
- Você está bem?
Luísa ainda se sentia desorientada, como se tivesse despertado de um sono longo, olhou ao redor, sabia que estava em um hospital, imaginou que aquela moça deveria ser uma das enfermeiras. – Acho que sim.
Carol percebeu a confusão nos olhos da loira – Vou chamar o médico.
Rapidamente voltou para o quarto com Gustavo e já foi pegando o celular, precisava compartilhar essa boa noticia.
Gustavo foi se aproximando abrindo um sorriso acolhedor que foi deixando Luísa um pouco mais calma – Então como está se sentindo?
- Meu corpo todo dói, sinto como se estivesse muito cansada, mas acho que estou bem.
Gustavo fez um exame inicial, verificou suas pupilas, fez com que acompanhasse o movimento do seu dedo, ficou satisfeito com o resultado. – Sabe onde está?
Luísa pensou por alguns segundos – No hospital?
- Sim, pode me dizer o seu nome?
Luísa iria responder, mas então se deu conta que não tinha a resposta para aquela pergunta, até então não tinha pensado nisso, seu rosto deixou transparecer uma leve pontada de pânico – Eu... não me lembro – suspirou.
Nesse instante Carol já havia terminando a ligação, se aproximando dos dois – Luísa – sentou-se ao seu lado, pegando sua mão – não se lembra de mim?
Luísa a encarou por um breve segundo, então afastou sua mão daquele contato, apesar de ter gostado do calor que emanava do seu toque – Desculpe, não sei quem é você.
Um tapa na cara teria doído menos, pensou. Tentou recompor-se, precisava reorganizar as ideias, ela havia acabado de despertar, sua mente devia estar muito confusa no momento, precisava dar um tempo para ela, se afastou rapidamente e saiu da sala, sendo acompanhada pelo olhar atento de Luísa.
- Qual a última coisa que se lembra?
Luísa se esforçou, vasculhou em sua mente qualquer vestígio de alguma lembrança qualquer, mas não vinha nada, era como se suas memórias fossem uma tela em branco. – Só me lembro de acordar aqui com aquela moça me encarando – suspirou.
- Tudo bem, não se preocupe com isso agora – Gustavo tentou transparecer o mais calmo possível, porém estava começando a ficar preocupado – tente descansar um pouco está bem? – fez um carinho de leve em seu ombro.
Luísa concordou se esforçando para esboçar um sorriso.
- Vou pedir que as enfermeiras cuidem de você e depois volto para conversarmos mais um pouco, se precisar de qualquer coisa, só apertar esse botão aqui – indicou onde ficava o botão que acionava os enfermeiros.
- Obrigada. – voltou a se ajeitar na cama, o que estava sendo um pouco difícil já que não conseguia se mexer muito devido ao gesso no braço esquerdo e na perna direita.
Assim que saiu do quarto já foi surpreendido por Carol – O que foi isso?
Gustavo não podia dar um diagnóstico assim sem fazer mais exames e entender a real gravidade do problema – Ela está um pouco confusa.
- Pouco confusa? – Carol explodiu – Ela não se lembra nem do próprio nome.
- Não sabemos qual área do cérebro pode ter sido afetada com a pancada – respirou fundo tentando manter a calma – ela passou vários dias em coma, é normal acordar assim desorientada.
- Quer dizer que ela vai voltar ao normal? Vai se lembrar de tudo? – Carol nem tentava disfarçar seu desespero.
- Precisamos fazer mais alguns exames e vou precisar de um neurologista para fazer uma análise mais detalhada, por sorte uma especialista começou no hospital essa semana, vou falar com ela. Tente ficar calma, ok?
- Tudo bem, me mantenha informada, por favor.
- Claro – sorriu.
******
Rodrigo chegou o mais rápido que pode, estava em São Paulo, mas largou tudo lá quando ficou sabendo que a irmã havia acordado, mal podia esconder sua felicidade, estava louco para vê-la outra vez, só que dessa vez acordada, sorriu com esse pensamento enquanto desembarcava no aeroporto.
Courtney já estava a caminho do hospital com Matt quando Carol ligou, suspirou tão aliviada com a notícia, apesar de ter achado um pouco estranha à forma como Carol falava, parecia estar preocupada com algo, ficou pensando mil coisas, mas seja o que for não importava, desde que Luísa estivesse acordada.
Assim que chegaram ao hospital já foram se direcionando para o quarto e não foi difícil avistar Carol sentada na sala de espera.
- Oi amiga, como ela está? – foi se aproximando, dando um abraço carinhoso na amiga.
- Está bem – encarou Courtney por alguns segundos – só está um pouco confusa.
- Confusa?
- Ela não se lembra de nada.
- Do acidente você diz?
- Não, de tudo, nem sabe dizer quem é – suspirou demostrando toda sua frustração.
- Ela perdeu a memória de vez? – Matt que até então estava só ouvindo a conversa das duas, não conseguiu manter-se calado.
- Não sei dizer, eles vão fazer alguns exames para ter certeza.
- Preciso vê-la.
- Vai lá, vou ficar aqui com a Carol e vou depois, se ela está confusa, melhor não sobrecarrega-la.
Courtney entrou no quarto bem devagar, logo avistou Luísa na cama olhando atentamente para a TV que estava ligada mal notando sua presença até finalmente sentar ao seu lado, olhos curiosos a fitavam agora.
- Oi – disse timidamente – como você está?
Luísa permaneceu encarando-a, estranhamente conseguia entender o que aquela estranha dizia, mas não sabia dizer em que momento havia aprendido inglês.
- Estou bem.
Courtney suspirou aliviada, pelo menos ela conseguia entendê-la, estava se esforçando para aprender português, mas ainda falava muito pouco. – Sabe quem eu sou?
- Não – Luísa viu aqueles olhos verdes cheios de esperança perder o brilho com essa resposta.
- Tudo bem – suspirou – não tem problema – forçou um sorriso.
- Desculpe, sei que deve ser decepcionante pra você.
- Não precisa se desculpar – fez um carinho de leve em seu cabelo e Luísa pode sentir o cheiro adocicado que exalava do perfume dela – o que importa agora é você ficar bem.
Luísa estava apreciando esse contato, passou a reparar um pouco e teve que admitir que era uma mulher muito linda. – Nós somos amigas?
- Mais que isso – sorriu, queria tanto beijá-la, não parava de admirar seus lábios que agora haviam recuperado um pouco o tom avermelhado natural.
Luísa percebeu os olhares e sentiu seu rosto ferver – Irmãs?
- Você é minha namorada.
- Namorada? – Afastou-se instintivamente do contato, não por repulsa, apenas ficou surpresa.
Courtney tentou conter a decepção e tristeza, não queria sobrecarrega-la, mas intimamente começou a ficar preocupada, e se ela não lembrar-se mais, o que iria acontecer? – Eu sei que deve estar sendo tudo muito confuso pra você nesse momento.
Luísa logo se arrependeu da sua reação, não quis magoá-la – Não foi minha intenção te chatear, só fiquei surpresa, mas acho que posso dizer que pelo menos bom gosto eu tenho, você é muito linda – o sorriso que deu foi sincero fazendo Courtney se animar no mesmo instante.
- Vejo que não perdeu seu charme também – sorriu.
- Me conta mais sobre a gente, como nos conhecemos?
Courtney pegou sua mão, colocando-a entre as suas, e para sua alegria Luísa não se afastou, talvez nem tudo estivesse perdido, sorriu e começou a contar sobre a festa no apartamento de Matt na Austrália.
******
Rodrigo estava desolado, tinha ficado tão ansioso para ver a irmã, mas ela nem o reconheceu, sabia quem era porque Courtney havia contado, e apesar de reconhecer todo seu esforço sabia que para ela não se passava de um estranho, e isso o atingia mais do que gostaria de admitir. – Quando vai ter os resultados?
Gustavo encarava o amigo que no momento estava apoiado sob o balcão da recepção, cabeça baixa, sabia que estava arrasado – Estou esperando pela neurologista, ela deve estar chegando.
- A conhece? – Voltou a encarar o amigo.
- Conheço seu trabalho, é uma das melhores que existe.
- Que bom – suspirou um pouco mais aliviado.
- Me avise quando tiver notícias.
- Claro. – apoiou a mão no ombro do amigo – Tenta descansar um pouco, acabou de chegar de viagem, ela vai precisar de você com as forças renovadas.
- Obrigado.
******
- Isso tudo é muito estranho.
- Imagino gata.
Matt havia deitado ao seu lado na cama, ignorando qualquer tipo de protocolo, e por algum motivo que não soube explicar Luísa gostava disso, se deu bem com ele logo no início.
- Então quer dizer que sou boa surfista? – sorriu. Os dois assistiam a reprise do campeonato do rio no qual Matt conseguiu sair vencedor.
- A melhor que conheço.
- Não consigo me imaginar fazendo essas coisas – reparava em uma manobra aera de Matt, perfeita.
- Se imagina fazendo o que?
- Não sei – suspirou – no momento estou tentando aceitar o fato que tenho uma namorada.
- Courtney é muito gata, não reclama da sorte não – deu um tapinha de leve em seu ombro.
- Eu sei, ela é linda, mas – fez uma pausa fazendo com que Matt a encarasse – nem sei se gosto de mulher.
Matt começou a rir e teve que se esforçar muito para recuperar o controle – Só tem uma forma de saber – por um instante Luísa pareceu levar o amigo a sério – me beija, se gostar é porque trocou de lado – sorriu.
- Essa é a ideia mais idiota que já ouvi.
Logo tiveram a atenção roubada com a porta se abrindo, outra mulher, que não conseguia reconhecer entrava em passos tímidos, forçando um sorriso no rosto.
- Falando em namoradas – Matt abriu um largo sorriso. Luísa o encarou sem entender muito bem.
- É sua namorada?
- Quem me dera – sorriu – essa gostosa é sua ex – sussurrou em seu ouvido e foi se levantando, deixando Luísa com o olhar ainda mais perdido.
Manuela acenou para Matt enquanto ele saia, e foi se aproximando aos poucos até sentar-se ao seu lado, era tão bom vê-la acordada outra vez.
- Oi, imagino que está se perguntando quem eu sou – sorriu.
Luísa estava encantada, aquela ruiva sentada a sua frente era simplesmente linda, não conseguia deixar de encará-la.
- Me chamo Manuela, acho que posso dizer que éramos amigas – sorriu.
- Ah sim, é um prazer – sorriu.
Manuela percebeu os olhares da loira, e pela primeira vez pensou que talvez a vida estivesse lhe dando uma chance de recomeçar.
******
Assim que abriu a porta do quarto, e viu aquela menina rindo, sentiu seu coração disparar no mesmo instante, ela conversava animadamente com uma bela mulher ruiva, e quando aqueles olhos tão familiares a encararam, não teve mais dúvidas, tentou disfarçar um pouco a emoção que estava sentindo, respirou fundo e se aproximou.
- Boa noite – sorriu – me chamo Daniela Pontes, estarei cuidando do seu caso de agora em diante.
Aquele rosto lhe parecia tão familiar, como se a conhecesse de algum lugar, tentou forçar a memória e lembrar-se de algo, mas nada vinha. – Boa noite doutora – sorriu.
- Bom vou deixar vocês duas a sós, depois conversamos mais – se aproximou depositando um beijo em seu rosto deixando Luísa visivelmente corada.
- Estarei esperando – ansiosamente pensou.
Daniela reparou na cena e sorriu, finalmente havia encontrado sua pequena Yeva, tinha certeza disso.
- E então doutora – sorriu – quando vou começar a me lembrar de tudo?
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 04/06/2017
Oi Ju
Luisa voltou e sem memória kkkk primeiro achou que não gostasse de mulher mais se encantou ou seria reencantou pela Manuela?
Daniele enfim chegou até sua filha querida tem alguma chances de Dimitri aparecer ou a mãe da Mascha?
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Olá..
Essa nova fase da Luísa vai ser interessante rsrs... acho que se encantar pela Manu é inveitável, quem não se encantaria por ela?
Nos próximos capítulos Dimitri vai aparecer sim e já adianto que vai dar muito trabalho..
Obg pelos comentários sempre e por estar acompanhando desde o início..
Bjss.. até o próximo!!
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