Capítulo 6
Assim que entraram no quarto, Courtney precisou se apoiar por alguns instantes na parede, mal reconheceu Luísa naquele estado, seu rosto estava inchado e cheio de cortes, a cabeça enfaixada, saia um tubo pela sua boca e vários outros fios ligados ao seu corpo, se aproximou aos poucos sendo amparada por Carol, sentou-se ao seu lado, segurou sua mão entre as suas, estava tão fria.
- Como isso foi acontecer? – encarou a amiga por alguns segundos – Parece tão... Irreal.
- Eu sei, também não estou conseguindo acreditar. – fez um carinho de leve em seu ombro, Courtney voltou a encará-la. – Sou uma pessoa horrível – suspirou.
- Porque diz isso?
- Nós finalmente tínhamos nos entendido sabe, passamos uma noite maravilhosa juntas – deixou um sorriso escapar – eu estava tão feliz, pela primeira vez sentia como se fizesse parte de algo, que não importava o que acontecesse, se ela estivesse comigo tudo estaria bem. – suspirou. Carol ouvia calada, não soube identificar o que estava sentindo, um misto de tristeza e ciúmes, era doloroso ver o quanto sua amiga parecia gostar de Luísa. – Vai ficar tudo bem...
- Não vai, eu estraguei tudo.
- Porque fica dizendo isso?
Courtney se ajeitou na cadeira ficando de frente para a amiga, permanecia fazendo um carinho de leve na mão de Luísa. – Ontem quando ela sumiu, eu pensei em mil coisas, as piores possíveis, tinha certeza que ela estava com outra.
Carol sentiu a garganta secar e as mãos suarem frio, pensou que talvez pudesse contar para Courtney o que aconteceu entre elas, mas aquele não era o momento, Luísa precisava acordar e ficar bem primeiro. – Não tinha como você adivinhar o que tinha acontecido, não fique se punindo por isso.
- Passei a noite com outra. – Courtney estava com os olhos vermelhos e marejados nesse momento – Enquanto ela estava aqui nesse hospital, sozinha, eu estava lá com outra mulher, estava com tanta raiva dela – começou a chorar compulsivamente, Carol se aproximou abraçando a amiga – que tipo de pessoa faz isso?
- Calma... – fazia carinho em seus cabelos – esse não é o momento para você ficar assim, quando ela acordar e estiver bem vocês conversam, ficar se punindo desse jeito agora não vai adiantar nada.
- Você tem razão – respirou fundo tentando se acalmar, limpou um pouco as lágrimas do rosto – obrigada por sempre estar ao meu lado, não sei o que faria sem você – sorriu e deu um abraço apertado na amiga.
******
Courtney havia saído do quarto, Mat tinha chego e estava procurando por ela. Carol aproveitou para sentar-se na cadeira que ficava ao lado da cama, ficou olhando para Luísa por alguns segundos, segurou sua mão, estava tão fria e seu rosto estava tão machucado que não conseguia ficar encarando-a, não daquele jeito, beijou sua mão, e sussurrou mais para si: - Volta logo pra mim. Depositou um beijo em sua testa, levantou-se e ao se virar para sair deu de cara com Rodrigo que a encarava curioso. Enxugou rapidamente as lagrimas e saiu, passando pela ruiva que agora também entrava no quarto.
Manuela ficou arrasada ao ver Luísa naquele estado, sentou-se ao seu lado, fazendo carinho em seu rosto, mal conseguia tocá-la por conta dos vários machucados. – Minha linda – suspirou – como isso foi acontecer...
Rodrigo observava a cena, queria muito que a irmã voltasse a se entender com Manuela, gostava dela e sabia o quanto a ruiva se importava com ela. Agora, parando para pensar com um pouco mais de calma, estava intrigado com o comportamento de Carol, a forma como ela estava agindo, não fazia muito sentido, afinal tinha a impressão que ela nem gostava tanto de Luísa assim, em várias conversas deixou claro o quanto reprovava seu comportamento e não concordava com o envolvimento de Courtney com ela. Resolveu deixar isso pra depois, o que importava agora era a recuperação de Luísa.
******
Luísa abriu os olhos, a claridade que invadiu feria seus olhos, teve que piscar várias vezes até conseguir focar em alguma imagem. Tentou se situar onde estava não se lembrava de ter ido à praia, a verdade é que seus pensamentos estavam bem confusos. Levantou-se, olhou ao redor, não conseguiu reconhecer o lugar, caminhou por alguns minutos sentindo a areia fofa amortecendo seus passos, avistou o que parecia ser uma cabana bem rústica e simples, resolveu seguir nessa direção, estava perdida e quem sabe encontrasse alguém que pudesse lhe ajudar.
Foi se aproximando aos poucos, percebeu que a janela estava aberta parou em frente tentando ver por dentro, levou um susto quando viu uma mulher se aproximando, ela carregava um bebê no colo, cantava pacificamente para ele e parecia não notar sua presença ali observando pela janela.
A criança sorria para ela enquanto segurava seu dedo com aquelas mãos tão pequeninas, a mulher sorria de volta, havia tanto amor naquele ambiente, Luísa podia sentir isso, permaneceu ali parada admirando aquela cena. Passou a reparar na mulher, ficou com a sensação que a conhecia, sentiu seu coração disparar quando ela a encarou, aqueles olhos, era ela, a mulher dos seus sonhos, agora podia vê-la claramente, era tão linda, os cabelos bem loiros estavam soltos chegando a bater quase na cintura, a pele tão branca, parecia uma boneca de porcelana, os lábios bem desenhados estavam rosados e as maçãs bem delineadas no rosto estavam um pouco avermelhadas.
Outra mulher apareceu envolvendo a loira em um abraço carinhoso por trás, depositando um beijo em sua nuca, a loira sorriu. As duas eram bem diferentes, a outra tinha a pele mais bronzeada, cabelos escuros, olhos meigos e um sorriso cativante, fazia carinho de leve na cabeça da criança que agora parecia ainda mais animada com a presença das duas, se pudesse definir aquela cena em uma palavra, seria felicidade, pensou, então sentiu um toque em seu ombro, se assustou ao ver que a mulher que antes carregava o bebê agora a estava encarando, voltou a olhar pela janela e ficou sem entender, o lugar parecia estar abandonado há anos.
- Quem é você?
A mulher sorriu para ela – Você sabe quem eu sou.
Luísa tentou de todas as formas se lembrar, mas não conseguia, tinha certeza que se a tivesse conhecido antes se recordaria.
- Onde estou?
- Não se lembra do que aconteceu?
- Estou um pouco confusa, estava indo para algum lugar, algo aconteceu. Você pode me ajudar a sair daqui? Devem estar preocupados comigo.
- Não se preocupe com isso agora, você precisa descansar.
- Mas não estou com... – sentiu um toque em seu ombro, no mesmo instante seus olhos pesaram, não conseguiu mantê-los abertos, tudo voltou a ficar escuro e silencioso.
******
20 anos atrás...
- Masha se você sair dessa casa não ouse voltar está me ouvindo? – O homem gritava, estava fora de si.
- Não se preocupe pai, não irei voltar. – Continuava focada, arrumando suas malas, tentado ignorar ao máximo a presença do pai.
O homem andava pelo quarto de um lado para o outro, parecia um leão enjaulado. – Vai jogar sua vida fora pelo que? Aquele pé rapado não tem onde cair morto vai viver na rua pedindo esmola? – sorriu irônico.
- Não se preocupe com isso, sei muito bem me virar, posso arrumar um emprego.
- Arrumar um emprego? Você nunca fez nada a vida toda, sempre teve tudo na mão, acha que realmente vai conseguir se virar sozinha? Não dou dois dias para aparecer aqui implorando para que eu te aceite de volta.
O silêncio da filha o deixava ainda mais irritado, se aproximou tentando manter a calma, segurou nos ombros da filha fazendo com que ela o encarasse, respirou fundo. – Pense bem Masha, isso é uma loucura, não posso permitir que faça isso.
- Loucura é ficar aqui presa, não sou mais a sua menininha que sempre faz tudo que o senhor quer.
- Realmente – afastou suas mãos e voltou a encarar a filha – você se tornou uma grande decepção.
Aquelas duras palavras surtiram como facadas em seu peito, amava o pai, mas não podia mais se permitir viver daquele jeito, ter a mesma vida que a mãe sempre submissa e infeliz, tinha pena dela, pois sabia que seu pai se tornaria ainda mais insuportável assim que fosse embora, mas não podia deixar de viver pelos outros, respirou fundo, e continuou arrumando suas coisas, mais tarde iria se encontrar com Yuri seu grande amor, praticamente cresceram juntos, ele sendo filho de uma das empregadas acabou se tornando o motorista da família assim que atingiu a maioridade, sempre tão gentil, foi inevitável não se apaixonar por ele, e quando passaram a primeira noite juntos teve a certeza que não queria se entregar a outro homem que não fosse ele. Iriam tentar um novo começo nos EUA, Yuri estava tão empolgado, lógico que estava com medo, nunca havia deixado a segurança do lar, seu pai sempre fora tão rígido, nunca havia viajado para fora do país, iria sentir falta da sua amada Rússia, apesar de tudo viveu anos muito felizes ali, mas agora não podia ficar pensando nisso, precisava continuar, um novo mundo estava a sua espera. Fariam à viagem de carro, Yuri dizia que seria uma lua de mel antecipada, pois queria que ela conhecesse vários lugares pelo caminho, já que nunca havia saído do país, tive que casar escondido, só assim ele conseguiu os vistos de trabalho para ficarem nos EUA, deu sorte que sua tia o ajudou com isso, iriam ficara inicialmente na casa dela, ela era a única família que lhe restava já que sua mãe havia falecido há alguns anos.
Masha desceu com as malas, sua mãe estava sentada na sala, apenas observava calada, se aproximou e sentou-se ao seu lado. – Não vai me dizer que é uma loucura também? – sorriu.
- Acho que é mais corajosa do que eu pensava – retribuiu o sorriso.
Masha abraçou a mãe com carinho – Vou sentir sua falta.
- Também vou – fez um carinho em seus cabelos – se cuide lá fora.
- Pode deixar, assim que chegar eu dou um jeito de te avisar. – a mãe foi à única pessoa para quem havia contado aonde iriam.
- Achei que já tinha ido – uma voz ressentida cortou o ambiente roubando a atenção das duas.
- Estou indo agora. – se aproximou para dar um abraço no pai, mas ele desviou. Pegou suas malas com a ajuda de uma das empregadas, olhou para mãe com carinho, voltou seu olhar para o pai por alguns segundos, mas ele virou de costa, respirou fundo e seguiu. – Adeus, pai.
Dimitri sentiu uma lágrima insistente percorrendo sua face, não se daria ao luxo de chorar na frente da filha, amava-a de todo coração, era seu pequeno raio de sol como costumava chama-la quando ainda criança, mas não iria aceitar isso tão fácil, ou não se chamaria Dimitri Novikov, mais conhecido como “mão de ferro” apelido que acabou pegando já que era famoso em suas negociações a nunca ceder, eram sempre os seus termos, e se não fosse, ele sempre dava algum jeito.
Masha estava nervosa, suas mãos tremiam, mas assim que viu Yuri seu coração se acalmou, seu sorriso aquecia seu coração, sabia que não seria fácil, mas que independente do que acontecesse estaria feliz ao seu lado, ele se aproximou a envolvendo em um abraço apertado, segurava seu rosto entre as mãos. – Minha princesinha – colou seus lábios nos dela. – Está pronta?
- Nunca estive tão pronta – sorriu para ele e foram se encaminhando para o carro.
Masha olhou uma última vez para a casa que viveu por tantos anos, parecia um castelo, uma propriedade muito antiga herdada por várias gerações da família, por isso o apelido de princesinha, sabia que não voltaria mais, fechou os olhos e procurou gravar seus traços como um retrato em sua memória.
De acordo com o cronograma de Yuri, levariam cerca de uns dez dias para chegarem até os EUA, isso contando com as paradas previstas, porém estavam bem atrasados já que Masha mal conseguia viajar sem passar mal, andava muito enjoada e Yuri estava preocupado que ela tivesse pegado uma gripe forte, assim que chegassem à primeira coisa que iria fazer era leva-la ao hospital.
Estava tão cansado, suas pernas e braços doíam, já estava dirigindo praticamente há dois dias sem parar, olhou pelo retrovisor e Masha dormia tranquilamente, respirou um pouco mais aliviado, daria a vida por aquela mulher. Foi então que reparou em algo que lhe chamou atenção, havia um carro logo atrás, e se não estava ficando maluco já tinha visto esse carro antes, pensou que podia estar ficando paranoico. Começou então a prestar mais atenção, a cada curva às vezes demorava um pouco mais, mas sempre o carro aparecia, realmente não estava ficando louco, aquele carro estava seguindo-os.
Tudo aconteceu muito rápido, em uma das curvas Yuri perdeu o controle ao tentar despistar o carro e acabaram saindo da estrada batendo de encontro com uma árvore, Yuri morreu na hora, sendo empalado por um dos galhos da árvore, Masha foi jogada do carro para fora, ainda respirava com dificuldades.
Não demorou muito para o resgate chegar, a estrada por onde seguiam não era muito movimentada, mas por sorte uma família que seguia de férias passou e reparou no acidente ligando para a emergência no mesmo instante.
Masha abriu os olhos, ouvia as sirenes, mas estava confusa, não conseguia raciocinar direito, sentia como se seu corpo estivesse preso. Os enfermeiros foram ágeis, logo a estabilizaram a colocando na maca e levando para a ambulância, uma das moças segurava sua mão, dizendo que tudo iria ficar bem, mas ela não conseguia entender nada do que a moça falava, sentiu um líquido frio invadindo sua veia e voltou a fechar os olhos.
Daniela estava no seu primeiro ano de residência, imaginou que aquela seria mais uma noite agitada, porém normal no pronto socorro, logo foi acionada quando uma moça deu entrada, havia sofrido um acidente em uma das rodovias principais, assim que a viu, mesmo com alguns cortes e hematomas espalhados pelo rosto, achou a coisa mais linda que já tinha visto aquela pele tão branca e macia, aqueles cortes em seu corpo eram uma afronta a sua beleza, ficou realmente encantada, tanto que até ficou alguns segundos apenas parada admirando-a até ser trazida a realidade por Afonso, um dos seus colegas de trabalho.
- A bela adormecida acordou – haviam dado esse apelido à Masha, já que não conseguiram obter sua real identidade e o fato de sua pele ser tão branca que os deixava intrigados, porém ninguém negava o quanto era bela.
Daniela tentou disfarçar sua animação, mas o amigo a conhecia muito bem. – Eu sei que está doida para vê-la Dani, mas já vou te avisando que provavelmente não vai entender nada do que ela fala, parece estar falando grego.
- Ela já está consciente e falando, isso é ótimo. – sorriu.
- Vamos como minha residente você deve acompanhar o quadro dos meus pacientes – sorriu e piscou para a amiga.
Masha estava confusa, acordou em um lugar estranho, aparentemente um hospital, mas não conseguia entender nada, o que era reciproco já que ninguém conseguia entende-la também, estava preocupada com Yuri, perguntava por ele, mas era em vão, ele saberia se virar em uma situação dessas, falava inglês fluente, se arrependeu profundamente por não ter aprendido antes. Viu quando dois médicos entraram, a moça parecia estar ansiosa, como se a conhecesse, mas não se lembrava dela.
- Bom dia, como você está? – perguntou Afonso, falava pausadamente, como se falar devagar fosse facilitar sua compreensão.
Masha já havia perdido as contas com quantas pessoas diferentes já havia falado. – Como se falar desse jeito fosse ajudar alguma coisa, não sou retardada, só não entendo o que está falando – suspirou.
Afonso continuou sem entender uma palavra, porém Daniela começou a rir, ambos olharam para ela admirados.
- Ele perguntou como você está.
Masha sorriu pela primeira vez desde que acordara naquele lugar estranho, alguém finalmente a entendia. – Você fala a minha língua?
Daniela estava ainda mais encantada, seu sorriso iluminava a sala, ficava ainda mais linda sorrindo, pensou, acenou positivamente com a cabeça – Falo um pouquinho – sorriu.
Afonso voltou a encarar a amiga – Pode me explicar o que está acontecendo?
- Ela está falando em russo, por isso não estão conseguindo entender.
- E desde quando você fala russo?
Desde que namorei a Anastácia, aquela estudante linda do intercâmbio, pensou, mas guardou para si e tratou logo de mudar de assunto.
- Você está bem?
- Sim, estou, onde está Yuri?
- Yuri?
- Sim, meu marido, ele é quem estava dirigindo, onde ele está?
Daniela voltou a encarar o amigo e sussurrou baixo em seu ouvido – Ela está perguntando pelo rapaz que estava dirigindo, disse que é o seu marido.
Masha percebeu a mudança nas feições dos médicos.
- Primeiro me diga qual é o seu nome.
- Masha, pode me dizer onde ele está agora?
Que nome lindo, pensou. Se aproximou sentando-se ao seu lado na beirada da cama, respirou fundo, não soube explicar o porque mas pegou sua mão e ficou segurando-a entre as suas, Afonso apenas observava.
- Sinto muito Masha, mas ele não sobreviveu ao acidente, vocês perderam a direção do carro no meio da estrada e acabaram batendo em uma arvore, ele faleceu no mesmo instante, sinto muito mesmo.
Masha puxou sua mão de volta, levando-a ao rosto, não podia acreditar no que estava ouvindo, só podia estar tendo um pesadelo e a qualquer momento acordaria ainda no banco traseiro e veria Yuri dirigindo e sorrindo para ela, começou a dar tapas em seu rosto como se isso ajudasse a acordar, mas Daniela segurou suas mãos e voltou a encará-la. – Você precisa ser forte agora, o acidente foi muito sério, foi um milagre você e o bebê terem sobrevivido.
- Bebê?
- Sim você está grávida, de quatro semanas, não sabia?
Masha balançou a cabeça de forma negativa. – Não.
Colocou as mãos em seu ventre, a vida havia tirado o seu grande amor, mas deixou ao menos um pedaço dele, seu filho era tudo o que importava agora, precisava ser forte por ele, tratou de organizar seus pensamentos, não iria voltar para casa, iria honrar o seu amor e seguir em frente com o filho deles, voltou a encarar a bela doutora que parecia tentar decifrar o que ela estava pensando. – Onde estou doutora?
- Você está no México.
******
Os dias foram passando e logo Masha teve alta, por sorte Daniela havia se sensibilizado com a sua situação e estava ajudando-a conseguindo um emprego para ela na lanchonete do hospital e um lugar para ficar temporariamente, sua casa, pensava que apesar de toda essa tristeza que carregava no coração, a vida ainda assim estava sendo boa com ela, colocando esse anjo em seu caminho.
- Quando vai falar com ela?
Daniela estava tomando café com Afonso, e perdida como sempre admirando Masha.
- Falar o que? – encarou o amigo por alguns segundos.
- Que está completamente apaixonada pela princesinha russa – sorriu.
Daniela quase engasgou com o café, encarando o amigo com os olhos arregalados. – Está maluco?
- Eu? Maluco? Acho que não, mas você – apontou para Masha que no momento limpava a máquina de café – está completamente maluca por ela.
- Porque diz isso?
- Bom vejamos – se recostou na cadeira, cruzando as pernas, esboçando seu sorriso mais irônico – primeiro você não desvia o olhar dessa moça desde que ela chegou depois você praticamente me obriga a sair com a Maria, só para conseguir um emprego para a sua princesinha, e se tudo isso já não bastasse ainda chama a moça para morar com você.
- Você não tem coração? Fiquei com pena dela poxa, coitada em um país estranho, onde ninguém praticamente fala a sua língua, perdeu o marido em um trágico acidente e ainda descobre que está grávida e vai ter que criar essa criança sozinha.
- Ok você acabou de descrever um bom enredo para a próxima novela das oito, é claro que me sensibilizo com a situação dela, mas essa cara de besta que você fica toda vez que a vê, isso você não consegue disfarçar – sorriu.
- Tudo bem, eu confesso que posso ter me encantado por ela, mas não vai passar disso, ela já está com a vida complicada demais, acabou de perder o marido, não seria certo me aproximar dela nesse momento tão sensível.
- Se você acha – nesse momento Masha olhava para a mesa dos dois e sorria acenando para eles.
- É melhor assim – Daniela sorriu e acenou de volta.
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Masha estava tendo um pesadelo, estava no carro e Yuri pedia sua ajuda, tentava de todas as formas ajuda-lo, mas não conseguia sair do lugar. Daniela acordou com os gritos, correu assustada para o quarto ao lado, Masha estava agitada, se contorcia na cama, sentou-se ao seu lado e tentou acorda-la gentilmente fazendo um carinho em seu rosto enquanto chamava seu nome. Masha abriu os olhos e se deparou com Daniela encarando-a, sua voz saia doce e suave. – Está tudo bem?
- Está sim, só tive um pesadelo, obrigada por me acordar.
Daniela reparou em Masha por alguns instantes, a camisola agora estava colada em seu corpo devido à transpiração, queria tanto tocá-la, pensamento esse que a fazia chegar à conclusão de que era uma pessoa horrível, já que ela ainda estava sofrendo pela perda do marido, respirou fundo e foi se levantando, mas a loira a interrompeu segurando seu braço. – Dorme comigo essa noite?
Daniela sentiu a garganta secar e o ar faltar em seus pulmões, percebendo que a doutora parecia estar confusa, tentou se explicar – É que não quero dormir sozinha, esses pesadelos acabam comigo – suspirou.
- Tudo bem.
Masha abriu espaço para que Daniela se deitasse, assim que se acomodou Daniela não se mexia, parecia uma estátua, até a respiração parecia estar segurando. Masha começou a rir – Pode se mexer, não precisa ficar desse jeito toda dura.
- É que não quero te machucar. – na verdade não quero perder o controle e acabar te agarrando, suspirou.
- Relaxa, não sou assim tão frágil quanto pareço – sorriu para ela.
Daniela continuava encarando-a, pensou em talvez contar o que sentia, mas quando abria a boca, nada saia, tentou recuperar o controle, respirava pausadamente, mas logo seus olhos foram traiçoeiros parando para admirar os seios fartos que preenchiam o leve tecido da roupa, em uma respiração compassada que parecia quase hipnótica. - Quer tocar?
Daniela levou um susto, achou que tinha sido pega no flagra, mas a loira apenas sorriu, pegou sua mão e colocou em seu ventre. – Às vezes eu a sinto chutando – sorriu.
- Já pensou em um nome? – tentou recuperar o folego e se concentrar em outra coisa que não fosse sentir o calor que emanava daquele corpo ao tocá-la.
Ainda estou pensando – sorriu – gosto de Yeva.
- Tem algum significado.
- Sim – Masha virou-se para ela, encarando-a – vida.
- É lindo – assim como você pensou.
- Obrigada por tudo Dani, não sei o que faria sem você.
- Não precisa agradecer, qualquer um no meu lugar teria feito o mesmo.
- Não teria não – fez um carinho de leve em seu rosto – tenho sorte em ter você.
Aqueles lábios pareciam um convite, não conseguiu resistir, passou a mão delicadamente pela sua nuca a puxando para si, fechou os olhos e roçou delicadamente seus lábios nos dela, aproveitando que a loira parecia estar sem reação, criou coragem, capturando seu lábio, sugando-o devagar, enfiando lentamente a língua em sua boca, e para sua surpresa Masha correspondeu. Não soube definir quanto tempo durou esse beijo, estava em êxtase, Masha agora a encarava com uma expressão que não soube identificar, foi então que se tocou da burrada que tinha feito, provavelmente ela estava assustada e confusa. – Me desculpa – foi tudo o que conseguiu dizer antes de sair às pressas do quarto, deixando Masha no mínimo sem palavras.
Masha permaneceu em seu quarto, deitada, tocou seus lábios, ainda estavam quentes, pela primeira vez em meses sentiu algo que não imaginou que fosse sentir outra vez, acabou adormecendo com esse pensamento.
No dia seguinte, assim que acordou Masha decidiu que iria ter uma conversa séria com a doutora, queria entender o que foi aquele beijo, mas assim que saiu do quarto e foi procura-la o mesmo já estava vazio. Ela já havia saído, não tem problema, pensou, iria conversar com ela no hospital.
Daniela mal conseguiu dormir, assim que percebeu que o sol já havia aparecido, tomou um banho rápido e resolveu ir mais cedo para o hospital, iria tentar evitar Masha o máximo possível, quem sabe assim ela não perguntasse nem falasse nada.
Estava distraída, quase cochilando na sala de provisões, quando percebe alguém entrando, no susto acaba deixando cair à bolsa de soro que estava segurando. – Noite longa? – Afonso sorriu para ela.
- Apenas não dormi muito bem.
- Hum e por caso isso teria algo haver com a princesinha russa?
- Por quê?
- Bom, porque no espanhol bem arcaico que saiu da boca dela, a única coisa que consegui entender é que ela estava te procurando, isso ou que o prédio estava pegando fogo. Como não vi nenhum sinal de fumaça ainda, presumo então que seja a primeira opção – sorriu.
- Estou ferrada – Daniela se deixou cair sentada no chão.
- O que você fez Dani? – Afonso queria parecer sério, mas estava se segurando para não rir.
- Ontem, acabei não resistindo, e a beijei.
- Até que enfim, já estava mais que na hora disso acontecer.
- Mas o que ela deve estar pensando de mim?
- Que você é uma tarada e não conseguiu controlar o tesão e agarrou uma mulher grávida – começou a rir alto.
- Você acha?
- Claro que não sua tapada, vai levanta dai e vai logo falar com ela e se entendam de uma vez. – ajudou a amiga a se levantar.
Daniela criou coragem e foi procurar à loira. Masha estava servindo um cliente quando reparou que Dani estava vindo em sua direção, sentiu seu coração acelerar, parecia que a estava vendo pela primeira vez, nunca tinha reparado o quanto ela era linda, os cabelos pretos, lisos e soltos, seus olhos castanhos escuros eram doces e cativantes, seus lábios tão rosados e macios, respirou fundo, percebeu que a doutora pareceu mudar de ideia, pois começou a desviar, mas não iria deixa-la sair assim, logo que ela passou foi correndo atrás dela.
- Dani, espera.
A morena virou-se para encará-la.
- Precisamos conversar.
Não iria adiantar ficar fugindo, pensou. – Ok, vamos tomar um café.
Passaram-se uns 10 minutos que as duas permaneciam em silêncio, mexendo com suas bebidas, encarando-se. Masha já estava ficando doida com aquela situação. – Sobre ontem – fez uma pausa que pareceu uma eternidade para Dani – eu queria entender.
- Olha, me desculpa, não sei o que deu em mim, mas pode ficar tranquila que isso não vai se repetir.
- Mas... Você já havia feito isso antes?
- Isso o que?
- Beijado outra mulher.
- Sim.
- E porque me beijou?
Daniela respirou fundo, ou falava agora ou não falava nunca mais – A verdade é que me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi, e eu tentei ficar na minha, juro que tentei, porque sei o quanto você deve estar sofrendo e eu sou uma pessoa horrível por me aproveitar dessa situação, mas foi difícil resistir quando me chamou ontem, mesmo assim sei que foi errado, espero que um dia possa me desculpar, sei que deve estar muito irritada comigo agora. Enfim, me desculpa.
Masha ouvia tudo em silencio, ficou surpresa com a revelação que a doutora já gostava dela, pois até o dia anterior não havia percebido, até achou fofo o nervosismo da outra, sorriu para ela – Eu não estou irritada com você.
- Não?
- Não... Só fiquei surpresa.
- Eu imagino, sinto muito.
- Não precisa ficar se desculpando – voltou a encará-la – então você está apaixonada por mim? – sorriu.
Se tivesse como fazer um buraco no chão ela teria se enfiado nele. – Estou.
Masha havia passado boa parte do dia refletindo sobre sua vida, em como as coisas tomaram rumos completamente diferentes, ainda guardava com carinho o amor que sentia por Yuri em seu coração, ele sempre seria o seu primeiro amor, e o resultado desse lindo amor seria sua filha, então de alguma forma sempre estaria fazendo parte da sua vida, o que sentiu quando Daniela a beijou a fez percebeu que ainda podia dar uma chance para o amor, por mais louco que isso fosse parecer, pois nunca teria se imaginado se envolvendo com outra mulher, mas a forma como Daniela a tratava e cuidava dela, fez com que percebesse que era alguém muito especial que apareceu em sua vida, e seria uma burrice deixa-la simplesmente ir, talvez a vida estivesse lhe dando outra chance de ser feliz.
- Talvez se você tiver um pouco de paciência comigo – sorriu – a gente pode tentar se entender, o que acha?
- Terei toda paciência do mundo – sorriu.
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O restante dos meses passou voando, Masha e Dani haviam de fato se entendido e a harmonia entre elas só crescia, Masha adorava os cuidados da doutora com ela, e cada dia que passava se sentia ainda mais envolvida e apaixonada por ela, quando sentiu as primeiras contrações e foi levada as pressas ao hospital parecia que Daniela estava ainda mais nervosa que ela, o parto foi normal e correu sem maiores complicações, Daniela ficou segurando sua mão o tempo todo, lhe incentivando. Quando ouviu o choro da sua filha pensou que não poderia existir um som mais incrível que esse, e ao segurá-la, sentir o calor do seu corpo contra o seu, sentiu um amor sem tamanho a invadir seu peito, sua pequena Yeva era linda. Como se não pudesse ficar melhor, Daniela a pediu em casamento e tiveram uma cerimônia linda, nada oficial, pois não era permitido, mas isso não importava, pois todas as pessoas com quem se importava estavam presentes. Pensou por alguns instantes em sua mãe, gostaria que ela também estivesse lá, mas desde que acabou ficando no México não teve mais contato com sua família, mas iria procura-la, queria que ela soubesse que teve uma netinha linda. Como presente de lua de mel, todos os funcionários do hospital se juntaram e pagaram uma viagem de 15 dias para Playa Escondida, famosa por sua beleza e encantos.
Os dias naquele paraíso estavam sendo perfeitos, tinha alguém ao seu lado que amava, sua filha era simplesmente tudo para ela, não podia reclamar, havia finalmente encontrado a paz, estava caminhando pela praia, Daniela ainda estava dormindo, acordou bem cedo, queria passear com Yeva, e esse era o melhor horário, pois o sol ainda estava bem fraco.
- Masha – ouviu alguém gritando seu nome, e ao virar-se quase não acredita no que vê. Seu pai se aproximando. – Pai?
- O que está fazendo aqui?
Dimitri olhou para o bebê que a filha carregava, foi como se tivesse voltado ao tempo, 25 anos atrás quando viu e carregou Masha pela primeira vez, seu coração se encheu de amor, tentou se recompor um pouco. – Eu fiquei sabendo o que aconteceu. Que tipo de vida é essa que está levando? Vamos para casa.
- Eu não vou voltar pai, estou feliz aqui.
- Feliz? Chama isso aqui de felicidade? Onde foi que eu errei com você meu Deus. – levou as mãos até a cabeça, estava tão alterado que tinha dificuldades para respirar.
- Já disse que não vou.
- Se você não vem pelo menos a minha neta vem comigo, ela não merece levar essa vida indecente que está levando.
Sabia que o pai nunca aceitaria sua mulher e muito menos seu novo estilo de vida.
- Não há nada que o senhor possa fazer, está perdendo seu tempo aqui, nem eu e nem minha filha iremos sair desse lugar.
- Você sabe muito bem que essa palavra não existe para mim, eu posso e vou fazer o que bem entender, e ela vêm agora comigo. – se aproximou para pegá-la, mas Masha desviou e saiu correndo pela praia. Dimitri tentou alcança-la, mas ela estava com uma boa vantagem.
Masha olhou ao redor, pense, vamos... A única coisa que avistou foi um barco ancorado, o dono parecia estar distraído conversando com outro homem. Aproximou-se devagar, entrou no barco sorrateiramente, acomodou Yeva ao seu lado, livrou-se do peso que estava prendendo o barco e começou a remar, era um barco simples de pesca, quando o dono se deu conta percebeu que infelizmente não iria conseguir alcança-la. Seu único pensamento era ir o mais longe possível, depois daria um jeito de falar com Daniela, mal percebeu as horas passarem e muito menos o tempo mudar, quando olhou ao redor, a única coisa que via era o mar, começou a bater um leve desespero, precisava definir um caminho, uma direção a seguir, seus braços estavam doloridos, Yeva não parava de chorar, começou a ficar preocupada com ela. A chuva começou em um primeiro instante bem fraca, algumas horas depois já estava bem forte, as ondas passaram a comandar o destino do barco, a essa altura a única coisa que fazia era abraçar sua filha e tentar protege-la ao máximo, uma onda mais forte veio, virando e destruindo o barco, assim que atingiram o mar, Masha a segurou ainda mais forte, voltou rapidamente a superfície, conseguindo apoiar a filha em um pedaço de madeira que havia sobrado do barco, era pequeno mas o suficiente para suportar sua filha, ficou assim a deriva por um tempo que não soube estimar, as vezes despertava com seu choro, sabia que as duas não iriam durar muito tempo se continuassem ali. Reuniu a pouca força que tinha, e pareceu avistar um barco, pensou estar delirando, mas após alguns minutos ainda podia vê-lo um pouco mais afastado, foi nadando empurrando o pequeno pedaço de madeira com seu bem mais precioso em cima dele.
Daniela despertou, olhou ao redor e não viu Masha nem a filha, estava com um pressentimento ruim, se trocou rapidamente e foi atrás da mulher, não demorou muito para encontra-la, iria se aproximar quando percebeu que ela conversava com alguém, pela forma como gesticulava pareciam estar discutindo, resolveu intervir, mas então Masha começou a correr, foi atrás dela o mais rápido que conseguiu, mas de nada adiantou, quando chegou sua amada já estava saindo dentro de um barco, sozinha com sua filha. Logo o homem com quem ela parecia estar discutindo chegou, estava todo vermelho, e parecia ter dificuldades para respirar – Masha – ouviu ele gritar.
- Quem é você?
- Sou o pai dela – respondeu ríspido.
******
Fernando estava devastado, aquele lugar que era para ser o seu paraíso havia se tornado o seu inferno, tinha ido passar as férias com a esposa grávida de nove meses, e o filho mais novo de cinco anos, Isabela insistiu tanto para que viajassem, mesmo ele sendo contra por causa da sua condição, mas ela acabou o convencendo como sempre fazia. O dia havia começado ensolarado, e assim que despertou Isabela sabia que estava na hora, começou a sentir as primeiras contrações, rapidamente Fernando a levou para o hospital, o parto que era para ser simples acabou tendo complicações, e sua esposa não resistiu. A imagem dela segurando sua filha ficou gravada em sua mente, ainda estava tentando processar tudo isso quando viu os médicos correndo com sua filha, por algum motivo ela não estava recebendo oxigênio o suficiente, ficou ali parado vendo os médicos tentando reanima-la, mas foi em vão, naquele fatídico momento havia perdido as duas mulheres da sua vida. Queria sumir, se jogar no mar e deixar que ele o levasse sem rumo, alugou um barco e saiu sem avisar ninguém, queria ficar sozinho, sabia que iria precisar ser forte pelo seu filho, tinha consciência disso, mas no momento tudo o que queria era a solidão do mar.
Masha fazia um esforço sobre humano, seus braços e pernas já não respondiam ao seu comando, mesmo assim estava focada, precisava que sua filha chegasse até aquele barco, como um último esforço empurrou o pedaço de madeira em direção ao barco, a essa altura estava bem próximo, viu enquanto ele seguia em direção ao barco, se afastando, lutava para se manter na superfície, mas suas pernas estavam pesadas demais, afundou novamente, mas dessa vez não teve forças para subir, sentiu a água invadindo seus pulmões, já não conseguia respirar, fechou os olhos, e como um flash viu sua vida passar diante de si, viu seus pais, Yuri, os amigos que fez no hospital, Daniela, e sua pequena Yeva, sua vida, um sorriso se formou em seus lábios, de alguma forma sentia que ela iria conseguir.
Fernando estava encarando fixamente o mar, debruçado na grade de segurança do barco, vários pensamentos passavam em sua cabeça no momento, estava tentando ter forças para suportar a dor que estava sentindo, como se seu coração tivesse sido arrancado do peito, foi quando ouviu um choro, pensou estar delirando, mas voltou a ouvir o choro outra vez, foi quando viu um bebê flutuando na água em um pedaço pequeno de madeira, instintivamente se jogou no mar e resgatou a criança, fez uma primeira analise, viu que ela estava desidratada e muito fraca, estava no limite, mas não iria perdê-la, não pode salvar sua filha, mas poderia salvar essa criança, procurou no barco um kit de primeiros socorros, conseguiu estabilizá-la, seria o suficiente para que chegassem até o hospital, mudou o curso rapidamente de volta a praia, ainda olhou ao redor mais uma vez, não conseguia entender como aquela criança foi parar lá.
Assim que chegou ao hospital, já estavam esperando por ele já que havia ligado antes avisando, entregou a criança para um dos enfermeiros que perguntou: - É sua filha? – aquela pergunta o pegou de surpresa, como se a ter encontrado fosse um sinal de que tudo não estava perdido, afinal estava prestes a se jogar e desistir de tudo quando ouviu o seu choro, aquela criança havia salvado a sua vida – Senhor?
- Sim, é minha filha.
Fim do capítulo
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