We don’t have to take our clothes off.
Pov- Cosima
Inacreditável!
Delphine me faz ficar molhada tão facilmente. Ela sabe o que é capaz de causar em mim. Eu tenho que ser mais forte, ela não pode me controlar dessa forma, não pode.
Cosima, lindinha, SEGURA SUA PEPECA!
Que merd*!
Ela é simplesmente o meu fim.
Não consigo pensar em nada além de sua pela, seus cabelos, seus lábios, suas manias cheias de mistérios.
O que tenho que fazer para ser quem eu era antes de conhece-la?
Ela namora com o Paul, ela namora com o Paul, ela namora com o Paul...
Não adianta! Nada adianta!
Graças a Jah que não a vi no Leda depois do lab.
O azar dela é a sorte de Shay.
Minha não namorada pediu que eu passasse em sua casa depois que o bar fechasse. Mesmo dizendo que estava extremamente cansada, Shay insistiu e acabou indo pra minha casa. Enquanto eu a esperava, aproveitei para comer alguma coisinha saudável.
Mentira, era pizza.
Felix pintava algo totalmente abstrato pra mim, mas talvez fizesse sentido para sua alma de artista.
"Isso é um p*nis?" Perguntei enquanto degustava minha pizza.
"Ah! Meu deus, claro que não." Respondeu ironicamente, "Você nunca viu um p*nis?"
"Sou uma cientista, Fe" Já fui pegando outro pedaço, "Sei muito bem como é p*nis, mas seu tela tá estranho." Declarei.
"Hum, pensando bem..." Felix misturou algumas cores e pintou uma figura tão familiar e ao mesmo tempo tão distante de minha realidade, "Pronto, agora sim é uma piroca."
"Piroca? Credo Felix." Minha pizza quase voltou.
"Cosima, querida, não fale o que não sabe!" Meu colega de quarto voltou sua atenção para sua "piroca" colorida e abstrata.
"O que você faz acordada ainda?" Perguntou com certo falso interesse.
"Tô esperando a Shay." Não estava nem ao menos um pouco ansiosa.
"Vai assumir namoro agora que todo mundo sabe que você é do bonde?" Abriu um sorrisinho naquele rosto branco e maquiado, "Que bonde?" Questionei.
"O sapabonde" Caiu na risada enquanto eu procurar a graça e o sentido de sua piadinha.
"Volte pra sua piroca e me deixe em paz com minha pizza." Ordenei e ele continuava rindo.
Ouvimos alguém batendo à porta.
"Ihh, agora fodeu pra você em miga." Largou o pincel e foi para seu cantinho, fechou as cortinas e gritou, "Se joga miga."
Eu preciso de novas amizades.
"Hey Shay!" Rolei a porta e dei passagem para que ela entrasse.
"Hey você" Beijou minha bochecha carinhosamente, senti um certo quentinho nelas, estavam ficando vermelhas.
Não imagino que seja por causa de meus sentimentos por Shay, talvez, seja por conta dos sentimentos que não tenho por ela.
"Eai, qual é a boa?" Perguntei desajeitada.
Qual é a boa?
Qual é a merd* do meu problema?
"Cosima, relaxa!" Largou sua bolsa no sofá e pegou em meus ombros, "Não vou te pedir em casamento, só te disse algo que já estava pra dizer há um tempinho." Explicou enquanto seus olhos azuis fulminavam minha alma.
"Então por que só disse agora?" Segurei suas pequenas mãos, "Sempre te amei, eu apenas nunca senti que fosse te perder antes." Ela tá falando da Delphine?
HÁ! Eu sabia!
"Aliás, pensei que fosse mútua a ideia de darmos um passo a mais depois da formatura."
Que passo?
Ah, não!
Não fale que quer morar junt...
"Pensei que iriamos morar juntas." Shay sentiu o embaraçoso oxigênio pairando em nossa atmosfera.
"Sh-Shay, eu não sei..." Estava realmente sem palavras ou ar no pulmão.
"Cos, tá tudo bem. Você não está pronta, eu entendo." Largou minhas mãos e suspirou, "Eu vou embora se você quiser."
Por mais estranho que fosse, eu não queria que ela fosse embora.
Eu gosto de Shay, eu a adoro.
Mas é só isso.
"Pera, Shay!" Busquei seu corpo para perto do meu, "Não vá." Segurei seu frágil corpinho em meus braços.
"Me dá uma chance pra te fazer feliz, Cos." Seu cheirinho de baunilha invadiu meu ser, "Prometo que não vou te abandonar."
"Aceita logo Cosima" Felix gritou de seu quarto.
Shay sorriu lindamente, eu sorri embaraçosamente.
"Valeu Fe" Agradeceu meu inimigo de quarto.
"Vamos lá então, um passo de cada vez."
"Devagar e sempre." Ela beijou meus lábios com necessidade e eu beijei os seus procurando vontade.
Namorar com Shay poderia me trazer a paz que Delphine roubou de mim.
Felix abriu as cortinas de seu cantinho e veio nos abraçar.
"Finalmente suas sapatas". Fe e seu jeitinho sútil.
Fumamos um pelo baseado na sala, terminamos a pizza e fomos dormir depois da meia noite.
Quando meu alarme tocou, despertei de mais um sonho erótico com minha chefe/professora/maior tentação de minha vida.
Minha namorada e eu...
MINHA NAMORADA!
Coff, Coff!
Voltando...
Minha namorada e eu tomamos banho juntas.
O cair da água em seus delicados seios me instigou ao pecado da luxúria. Ensaboei seu corpo com cuidado, não deixando nenhuma parte sem espuma.
Seus beijos eram quentes, mas não tanto quanto as gotas que nos molhavam.
Pensei no quão quente seriam os beijos de Delphine, mas logo desviei meus pensamentos infiéis.
Devo controlar minha mente a partir de agora, sou uma mocinha comprometida.
Puff! Eu tô é fodida mesmo.
Shay me ajudou com a escolha de minhas roupas. Pegou uma regata preta com rendas na mesma cor, uma saia vermelha e um cachecol vinho bem fininho.
"Você está linda!" Elogiou meu look enquanto se trocava, "Você gosta de brincar de Barbie comigo, né?" Mordi meu lábio rapidamente e beijei sua boca.
Dirigimos até a faculdade em seu fusquinha azul, andamos de mãos dadas, tomamos um expresso, fomos até meu prédio ainda de mãos dadas e nos beijamos em despedida.
"Até mais tarde, baby." Seus olhos sorriram para os meus e eu gostei da sensação.
Por mais inacreditável que pareça, fui uma aluna e namorada exemplar em todos os períodos.
Prestei atenção nas aulas, até fiz umas anotações (novidade pra mim), e consegui manter meu pensamento bem longe de minha chefe.
Scott e eu almoçamos uns burritos de micro-ondas e doritos. Estávamos na copa do lab nos deliciando com muito colesterol.
"Vai, fala logo." Meu parceiro era muito rapidinho.
"Okay! No três eu falo, tá pronto?" Comecei a contagem com meus dedos.
"Estou namorando com a Shay!" Seus olhinhos inofensivos brilharam, "Jura? Que foda, Cos!" Levantou sua mão para um high-five.
"Scott, tem salsa na mão." Apontei a sujeirinha do porquinho. "Merda!" Lambeu o molho com vontade. "Scotty, não adianta sensualizar, eu estou namorando!"
Senti aquele cheiro forte e penetrantemente maravilhoso, era ela, fodeu!
"Olá Doutores." Meu amigo sentou ereto como um soldado.
"Dra. Cormier, quer um pedaço?" Levei as mãos à cabeça em resposta ao que meu parceiro acabara de falar.
"Não muito obrigada, Dr. Smith." Recusou, "Tem alface no seu dente."
Fechei meus olhos e balancei a cabeça em embaraço por ele.
"Obrigada Dra. Cormier." Scott levantou rapidamente e foi ao banheiro.
Ficamos apenas minha chefe, eu e meu desejo ardente de rouba-la para mim.
"Dra. Niehaus." Passou seu esbelto corpo pela frente e alcançou uma garrafa d'a água no frigobar.
"Boa tarde Dra." Respondi com minhas bochechas já começando a corar.
"Ouvi que está namorando, é verdade?" Exprimiu seus olhos redondos com uma grande dose repleta de raiva.
"Sim." Respondi e mordi meus lábios.
"Hum! Shay?" Ironizou o nome de minha namorada.
"Sim." Balancei minha cabeça.
Bebeu toda água para evitar falar besteira já que Scott se aproximava de nós.
"Pronto! Livre de alface." Ele não cansava de ser esquisito.
"Boa sorte com o namoro, Dra.Niehaus." Disse ao se retirar gradualmente enquanto seus olhos ficavam vermelhos e molhados.
Ela vai chorar?
Ah! Não!
Senti uma imensa vontade de correr atrás dela e impedir que uma só lágrima caísse em sua linda, fina, delicada, tentadora e encantadora face.
Acho que esse é o fim de algo quem nem ao menos começou.
Então por que eu já me sentia tão sua?
Já me sinto devota de seu amor, mas agora, sinto que o nosso romance terminou no maior estilo Nicholas Sparks com um assombroso misto de Stephen King.
A tarde passou extraordinariamente devagar. Geralmente, Delphine sai de sua sala para nos auxiliar e silenciosamente julgar nossos erros e semi explosões. Entretanto, hoje, por minha causa, Dra. Cormier não deu o ar da graça.
Mesmo assim enviei meus relatórios para o sistema e dei uma última olhada em meus projetos.
Ao final do expediente, não estava atrasada para o Leda, então decidi dar uma checada em meu outro projeto. Meu projeto de insanidade, Delphine.
Ela não estava em sua sala, mas seu cheiro continuava lá firme e forte e tentador.
"Cadê você?" Pensei em voz alta.
Corri, então, para o bar na esperança de que, talvez, ela pudesse estar lá pronta para mexer com a minha sensatez, pronta para me pedir seus drinks favoritos ou para me lançar olhares sedutores.
Quando entrei, vi que o pessoal já estava lá. Felix, Scott, Donnie, Alison e Paul.
"Delphine, cadê você?" Sussurrei em desespero.
Fui para trás do balcão e comecei meu terceiro turno de trabalho.
"Hey, Cos!" Alison gritou, "Uma rodadinha aqui, por favor!" Pisquei para minha amiga doida por uma boa vodka.
Marion tomou conta dos outros drinks enquanto levei os shots para meus amigos.
"Eai meu povo!" Sorri para as pessoas que mais amo na vida, quase todas estavam lá.
"Ei Paul! Cadê a Delphine?" Perguntei enquanto colocava os copinhos na mesa, "Ah! Ela não está muito bem. Deu aulas pela manhã, foi pro laboratório, mas voltou pra casa totalmente abatida."
Sofri calada com a notícia.
"Ah! Minha mãezinha do céu! Tadinha da minha amiga, o que ela tem?" Alison falou com voz de vó, como sempre.
"Por isso que ela não quis um pedaço do meu burrito!" E lá vai Scott novamente.
"Acho que ela não está doente não. Conheço minha namorada, ela não perde um dia de trabalho por nada. Deve estar com saudade de casa, sei lá" Paul explicou e me irritei quando disse "minha namorada". Agora sei como Delphine se sentiu ao saber de meu novo relacionamento oficial.
"Bom, melhoras pra ela." Donnie expressou o quanto estava preocupado com ela, só que não.
"Bom, é melhor aquela biscate francesa melhorar, porque amanhã tem jantarzinho lá em casa." Felix informou ao pessoal e a mim. Às vezes nem parecia que eu morava lá.
"Opa, jantarzinho, gostei. Só mantenha a Cosima longe da cozinha e perto da coqueteleira" Todos riam da piada de Donnie, todos menos eu.
"Querido, não fale assim da Cos. Ela só não tem jeito com o fogão, mas faz um drinks sensacionais." Eu odeio quando falam de mim na terceira pessoa. "Falando nisso, amiga. Faz aquela bebida dos deuses que fez para Delphine."
"Qual?" Eu sabia qual era o drink, só não queria fazer para mais ninguém além de minha tentação francesa.
"Aquele que a deixou bem bêbada." Tive que rir, Alison era impagável.
"É pra já!" Me retirei e comecei a preparar o coquetel que nomeei em segredo de "Ciência maluca".
Entreguei o copo à Alison e senti um ar de riso pairando no clima.
"Falem." Obriguei.
"Tá namorando, tá namorando, tá namorando." Meus amigos idiotas começaram a cantar em coro enquanto batiam palmas feito crianças.
Sorri e gargalhei levemente.
"Vocês têm certeza de que são mais velhos do que eu?" Brinquei, mas falei sério.
"Ah! Para de ser chata Cos! Cadê seu mozão?" Paul e suas gírias de internet.
"É amiga! Quero que você a apresente devidamente à nós." Alison soou como minha mãe. Ah pera, minha mãe é homofóbica.
"Ela tem clínica às sextas até as 10, se não me engano." Expliquei.
"O que ela faz da vida?" Donnie perguntou realmente interessado, "Ela é psicóloga e atende na faculdade." Respondi.
"Ah! Esse pessoal de humanas." Complementou e riu sarcasticamente.
O Donnie sempre foi meio estranho, mas devo admitir, ultimamente ele tá além do normal.
"Bom, pessoal. Tô voltando pro batente." Acenei tchau com a cabeça e voltei para o balcão, onde fiquei atendendo até o Leda fechar.
Rachel, minha outra chefe, me deu o pagamento do mês.
Tô Rica!
Peguei minhas coisas e uma cervejinha, como vim de carona com Shay, Felix e eu pegamos um taxi até em casa.
Ao chegarmos, bolei um baseado e fumei com meu amigo enquanto assistíamos "Family Guy". Ficamos nessa vibe até ele pegar no sono. Senti meu celular vibrar.
"Hey, abre a porta. Tô aqui!"
Rolei a porta e recebi minha namorada com um beijo cheirando à puro cannabis.
"Hum, guardou um pouquinho pra mim?" Brincou enquanto me dava uns beijinhos no pescoço.
"Sempre!" Sorri e me entreguei às suas caricias
Enquanto forçava Felix à ir deitar na cama, Shay tomava banho.
O preguiçoso e chapado do meu amigo finalmente me obedeceu depois de muita insistência e tapas em sua face branquela.
Estava deitada na cama quando Shay abriu as cortinas de meu quarto. Vestia nada mais do que sua própria pele.
"AI! Frio!" Atirou-se para debaixo das cobertas, não consegui não rir.
"Doidinha!" Beijei sua testa, "Por você." Eu preciso me acostumar com essa nova fase melosa.
"Tá aqui, Miley Cyrus!" Brinquei enquanto entreguei o que restou do baseado pra ela, "Muito obrigada Bob Marley." Retrucou ao pegar o cigarro de minha mão e propositalmente bate-la em meus dreads.
Nós tínhamos muita intimidade, o que foi construída pelo tempo. Nossa química era clara, mas meus sonhos e fantasias não eram com ela.
Talvez porque ela não era imaginação, ela era realidade.
E dormiu feito uma criança mimada em meus braços.
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Pov- Delphine
Sem chão.
Sem ar.
Sem vontade.
Se havia alguma dúvida antes, agora só me resta a dolorosa certeza.
Eu a amo, eu a perdi.
Como é possível perder algo que nunca foi meu?
Como fui capaz de me auto sabotar assim?
Eu sabia o que estava fazendo, ou pelo menos pensei que soubesse.
Cosima não ama a namorada.
Cosima não a deseja como me deseja.
Cosima jamais será minha.
Eu só preciso sumir por alguns instantes. Ou por algumas horas. Talvez por alguns dias. Mas levará uma vida para tira-la de minha cabeça. Ela já dominou meu ser sem ao menos tocar diretamente em minha pela. Eu já a amava sem ao menos experimenta-la.
Ao me dar a confirmação de seu relacionamento com Shay, Cosima não me olhou segura de si, me olhou com certo ar de dó. Não pude demonstrar fraqueza, porém não conseguiria estar no mesmo local que minha funcionária. Busquei minha bolsa em minha sala e avisei Ferdinand que não voltaria para o laboratório o restante do dia.
Ao chegar em casa, desabei.
Mostrei toda minha sensibilidade, desespero, ciúme e angustia em um pobre monólogo digno de uma tragédia grega.
Sentei-me no chão com as costas viradas à porta.
Paul não estava em casa, mas chegaria em algumas horas.
Será que eu consigo me recompor antes que ele chegue?
Algo em mim tirava-me o controle sob minhas emoções.
Para esconder a correnteza de lágrimas sem fim, entrei no banho.
Estava em posição fetal como uma criança sem sonhos.
A água quente caía em minhas costas.
Os pensamentos, todos, direcionados àquela criatura única e angelical.
O vapor ao redor brincava com minha doente mente. Arquitetavam a silhueta de minha funcionária. Pude até sentir o magnificente cheiro que vinha de seus poros.
Como cientista, bióloga e ser pensante. Entendo que a situação de nosso planeta é crítica, principalmente quando o assunto é sobre a água. Todavia, não poupei uma só gota durante meu banho de aproximadamente uma hora.
Não tive vontade de lavar o cabelo, então eles continuaram molhados e sem vida.
Não tive vontade de me trocar, então fiquei de roupão a tarde inteira.
Não tive vontade de comer, apenas de beber e fumar, de fumar e beber.
Paul chegou do trabalho às 17:00, ele não teria plantão esse final de semana, mas isso não me alegrou. Estou certa que ele iria perceber o quão destruída estava.
Meu namorado gritou pelo nosso apartamento à minha procura.
Encontrou meu corpo desolado, desleixado e inanimado em nossa cama.
"Amor, o que houve?" Senti suas grossas mãos em minhas costas, "Amor, fala comigo!" Insistiu.
"Não quero falar." Murmurei, "Deixe-me sozinha, por favor." Supliquei enquanto pude sentir que Paul estava analisando a garrafa de whisky pela metade e as inúmeras bitucas de cigarro no cinzeiro ao lado da cama.
Meu pobre namorado fez como implorei e ficou fora de meu alcance até a noite cair. Não estava atenta ao horário, porém as janelas e portas de vidro de meu quarto evidenciavam o cair da noite.
Ouvi batidas tímidas à porta.
"Amor, posso entrar?" Paul perguntou repleto de cautela e preocupação.
"Você quer sair para algum lugar? Quer companhia?" Insistiu.
"Deixe-me te ajudar, Delphine." Senti o desassossego em sua voz ecoando dentre as quatro paredes do solitário e escuro cômodo.
"Gostaria que você saísse com seus amigos e me deixasse em paz, Paul." Ele não merecia minha frieza, minha crueldade.
"Tudo bem, amor. Me liga se precisar de algo." Encostou a porta levemente e pude ouvir que já não o ouvia dentro de nossa casa.
Estava tão cansada de chorar que acabei caindo em um sono profundo. Não sonhei, não tive pesadelos. Entretanto, pela manhã, a dor em meu estômago despertou-me de maneira bruta e eficiente.
Minhas pernas correram até o banheiro, e no vaso sanitário, coloquei para fora tudo o que ingeri no dia anterior: Whisky e mortificação.
Senti meus cabelos sendo postos para o lado.
Era Paul e toda sua delicadeza ponderada.
"Isso amor, assim." Deu-me apoio moral naquele escabroso momento.
Entregou-me papéis para que eu pudesse limpar a amargura de minha boca.
Enquanto meu corpo ganhava vida debaixo de uma fria ducha, meu atencioso namorado preparava algo para repor os nutrientes de meu descarnado corpo.
Almoçamos e ficamos na sala durante o dia inteiro. Não trocamos muitas palavras, mas ele sentia que, aos poucos, eu voltava ao normal.
Isso se existir um normal pós Cosima.
A noite já havia caído sobre nós novamente.
"Del, vai querer jantar no Felix e na Cos?" Medrosamente perguntou-me.
Não sei se estava pronta para ver minha funcionária. Entretanto, eu já estava morta de saudade.
"Sei que você está mal, mas talvez iremos para uma baladinha depois. Isso pode te animar um pouco, sei o quanto ama dançar." Entendo que Paul não aguentava mais ficar em casa, e eu não aguentava mais ficar sem poder ver sua melhor amiga.
"Vamos sim!" Abriu um sorriso tão lindo, eu realmente não sou merecedora de seu amor.
Enquanto Paul tomava uma rápida ducha, fui procurar em meu closet alguma roupa que pudesse disfarçar minha miséria e evidenciasse o quão linda sou.
Escolhi um vestido longo e bem justo. O decote era generoso. O corte era revelador. E a mulher no espelho era simplesmente deslumbrante. Para ajudar mais ainda, passei um caro batom vermelho que definiram meus lábios de maneira perigosa. Eu sou uma arma de fogo nas mãos de um jovem perturbado.
Paul ficou boquiaberto com o produto final.
Era notável a alegria entre suas pernas.
Cosima e Felix não moravam longe, mas fomos de carro mesmo assim.
Ao chegarmos, senti um misto de sensações.
O cheiro de Cosima pairava agressivamente pelo ar.
O cheiro de maconha também.
O assado de Felix e Alison havia passado um pouco do ponto.
Senti na atmosfera, na gravidade aplicada naquele bagunçado loft que Shay estava entre nós.
Eu não a vi, eu não vi Cosima. Sabia que aquelas cortinas amarelas escondiam de mim uma cena deplorável. Agradeci em silêncio por não ver o que elas guardavam em segredo.
Alison e Scott arrumavam a mesa. Donnie falava com Felix sobre algum de seus trabalhos artísticos. Paul nos preparava uma bebida. A gargalhada de Shay invadiu o ambiente como ladrões na madrugada.
"Elas não vão jantar?" Alison perguntou a Felix, "Ai ai, não sei! Essas duas ficaram o dia inteiro na cama fumando maconha." Respondeu. Logo todos trocaram olhares inteiramente maliciosos.
O cheiro de erva ficou mais forte.
"Cosima traga sua namorada, sua bunda magra e esse baseado aqui agora!" A impaciente Alison berrou sem pudor.
"Estamos indo" Reconheci a voz de minha funcionária.
"Só vamos nos trocar." Reconheci a voz de uma vagabunda.
Estávamos todos à mesa quando o mais novo casal apareceu.
Shay vestia a camiseta da atlética de biologia, shorts bem curtos e pude notar a falta de sutiã em sem corpo.
Cosima estava linda, estava linda sem ao menos tentar.
Vestia um top casual e uma calça mais larga do que quatro Cosimas juntas.
Quando pousou seus olhos vermelhos em mim, notei que seus mamilos enrijeceram-se. Suas bochechas ganharam cor e sua boca tremia suavemente.
Eu sei de todas as maneiras que sou capaz de afetar os mínimos nervos de Dra. Niehaus.
Compreendo o que minha presença lhe provoca.
Entendo que a ausência de suas palavras foi causada por meu vanglorioso decote, escolhido à dedo para entorpece-la com minha essência.
Sentaram-se à mesa. Começamos a comer e a beber mais ainda.
Alison abriu a temporada de perguntas direcionadas a mais nova integrante do grupo, VadiShay.
Eu conseguia ser tão infantil quando carente.
Minha amiga conseguiu informação o bastante para montar um dossiê sobre a namorada de Cosima.
Nascida em Nova York, 23 anos, pisciana, fã de Grey's Anatomy, viciada em Paulo Coelho, fanática por Lana Del Rey, psicóloga, praticante de yoga e pilates, seu filme preferido é Laranja Mecânica, é vegana, tem medo de água viva, e quer tatuar a mandala de sua áurea nas costas.
Tudo sobre ela é totalmente fascinante, para o pessoal, não para mim.
Os olhos de Cosima discretamente me observava. Eu estava enojada pela presença da praga loura.
Terminamos de comer e eu já queria vomitar.
Paul e Felix insistiram que o novo casal nos acompanhasse na saída da noite. Iriamos para um clube chamado "Neolution". Sempre achei o pessoal um tanto quanto estranho lá, mas as músicas eram boas e o ambiente confortável.
Meu namorado conseguiu que ficássemos no lounge VIP.
Todos se divertiam e bebiam muito.
Alison dançava roboticamente. Donnie parecia que havia tomado um choque. Felix quebrava como uma das dançarinas de Beyoncé. Scott não sabia como mover os dois pés e o quadril ao mesmo tempo. Paul segurava em minha cintura enquanto meu olhos assistiam Cosima rebol*r para Shay, quem manteve as mãos em todas as partes do corpo de sua namorada.
Saí para pegar uma bebida, pois a situação não estava agradável para mim.
Fui até o bar na pista para fugir daquele pequeno ensaio de inferno.
Peguei um whisky sem gelo e virei-me para observaram estranhos dançando.
Mesmo quando estava com Paul, senti que dançava sozinha.
Entretanto, meus olhos captaram algo à distância. Minha funcionária me assistia enquanto sua namorada a beijava o pescoço. Senti um imenso impulso de derrubar toda minha sagrada bebida naquele lixo humano. Eu odeio Shay. Ela aproxima-se dos belos lábios de Cosima. Olhei para minha aluna e balancei minha cabeça em desaprovação. Ela, então, sussurrou algo ao pé do ouvido de sua parceira, que logo sumiu de vista.
Cosima dançava virada para mim, à distância, mas dançava só pra mim.
A música que tocava me era familiar, "Gold" por Kiira.
A batida envolvente fazia o corpo de Cosima mover-se de maneira extremamente ameaçadora. Rebolava para mim, mordia seu lábios, passava suas mãos por seus seios, cintura, coxas, glúteos. Olhava dentro de meus olhos mesmo que estivéssemos tão longe uma da outra.
Fiquei ensopada e agradeci por ter escolhido a calcinha certa.
Eu gemia, suspirava e não pude me controlar.
Meus dedos, discretamente, encontraram minha vagin*. Eles entraram em sintonia com os movimentos de minha funcionária e estimulavam gradualmente o monstruoso orgasmo dentro de mim. Não precisamos tirar nossas roupas para nos divertimos.
Logo as batidas de meu coração alcançaram a promiscuidade certa de meus dedos. Eles circulavam meu clit*ris como hienas circulam suas presas. Meu indicador penetrou-me enquanto meu polegar mantinha-me longe da sanidade.
Quando Cosima sussurrou "Goz* pra mim" senti meu corpo todo tremer em uma deliciosa convulsão. Senti meu líquido escorrer entre meus fadigados dedos. Segurei meus gemidos e virei-me para o bar novamente.
Eu preciso de mais whisky.
Fim do capítulo
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