Delphine Cormier é uma mulher fora do ordinário. Nunca meus olhos viram algo que pudesse ser comparado à beleza e mistério dessa mulher.

Uma francesa louca por um bom vinho, whisky sem gelo, cigarros fortes e ciência.

Aqueles cabelos louros e lisos combinam perfeitamente com seu rosto fino e longo, onde encontramos lábios bem definidos, algumas sardas tímidas e uma pinta estrategicamente posicionada perto de sua boca tentadora.

Tudo sobre ela me deixa maluca. Pelo menos tudo o que pouco sei.

Seus olhos redondos me hipnotizam e trazem pensamentos não muito prudentes.

Quando Paul ainda morava no Canada, me falava sobre sua nova namorada. Nunca imaginei o quão linda ela poderia ser, obviamente ela havia te der algo para domesticar um predador como meu amigo.

Faz seis meses que o casal voltou para os estados unidos. Eles moram juntos desde que se envolveram. E ainda me lembro da maçante velocidade das batidas de meu coração quando meus olhos avistaram uma mulher alta, de porte físico sensual e sorriso tentador. Mal eu sabia que ela era namorada de um grande amigo.

Nunca contei a ninguém o que Delphine Cormier causa em meus ossos e mente. Nem a mais complexa sinapse me faz raciocinar quando seu cheiro invade minhas narinas. Eu a venero em silêncio e tento esconder o quanto ela me perturba. Talvez seja por isso que mal nos falamos com palavras, apenas trocamos olhares, os meus cheios de desejo contido, os dela ainda não decifrei.

São 8:10 da manhã. A primavera mal começou e já trouxe consigo o ensaio do calor e dos dias semi ensolarados.

Encontrei com Shay no café, seu sorriso me dá bom dia.

"Você está atrasada." Disse ao se aproximar, "Para minha sorte".

"Hey! Pois é, sempre atrasada", "Para sua sorte." Provoquei ao morder meu lábio.  

Minha não namorada me convida para fumar um baseado antes do segundo período.

"Não vai dar, Shay. Hoje começo no laboratório, eu até queria dar uma passada lá para pegar meu crachá." Seus olhos azuis me olham em desapontamento.

"Vou te ver mais tarde então?"

"Claro! Vou para o Leda depois do expediente."

Ela me dá um beijo quente no rosto, paga por meu expresso e sai antes que eu mude de ideia.

Até tento esconder o sorriso, mas com ela é quase impossível.

O laboratório fica no prédio de pesquisas, um pouco longe do meu prédio. Terei de sair mais cedo no último período para chegar na hora. Por mais que eu tenha certa amizade com minha nova chefe, ela não deixa de ser minha chefe.

Falando nisso, lá estava ela, radiante, vestindo um terninho, cujo definia seus glúteos de maneira maravilhosa. Falava com o segurança.

"Delphine, hey!" Seus olhos me encontraram, mas sua expressão não foi a mais amigável.

"Dra. Niehaus, a partir de agora, enquanto estivermos neste prédio, você terá de me chamar de Dra. Cormier."

Credo, que babaca.

"Claro! Desculpe-me, Dra.Cormier." O "Dra.Cormier" saiu um pouco irônico, mas juro que não tive a intenção.

"O que está fazendo aqui? São 8:25 da manhã, você deveria estar em aula." Além de tudo agora ela queria me monitorar.

"Sim, eu acabei me atrasando. Vim buscar minha identificação." Dra. Cormier me olhou dos pés à cabeça com olhar de desaprovação.

"Espero que não se atrase para vir trabalhar, temos muito a fazer. Não tolero atrasos. Entendeu?"

Por que tão escrota?

"Si-Sim," Gaguejei, "Super entendo, claro, jamais acontecerá isso."

"Não prometa o que não pode cumprir." Revirei os olhos enquanto ela passava seu cartão na porta.

"Venha comigo." Ela ordenou.

Dra.Cormier liderou o caminho através do laboratório, meus olhos não acreditavam no que viam, eu estava maravilhada.

"Apresse-se Dra. Niehaus. Sei que está impressionada, porém tenho muito o que resolver ainda nessa manhã."

"Sim, desculpe-me". Cretina.

"Não peça desculpas, apenas aperte o passo." Desviei meus olhos e calei a boca.

 

Chegamos em sua sala. Enquanto ela procurava minha identificação entre os papeis cuidadosamente bagunças sobre sua mesa, prestei atenção em como seu corpo ligeiramente se curvava sobre a mesa.  

"Aqui está!" Exclamou segurando meu cartão, "Seja bem vinda Dra. Cosima Niehaus" Ouvir minha mais nova chefe falar meu nome me deu coisas em lugares não apropriados. Tive que engolir a saliva.

"Algo de errado?" Perguntou.

"Não, só estou muito ansiosa, Dra. Cormier." Eu realmente não sei mentir.

"Bom, devo voltar ao o que estava fazendo. Tem alguma dúvida?" Questionou sem muito ânimo.  

"É, até que tenho algumas..." Minha chefe me interrompeu, "Sane-as com Scott depois então, e que seja antes do expediente começar."

Dra.Cormier virou as costas e sentou-se em seu trono de ouro, fiquei paralisada por alguns segundos até que entendi que me mandou ir embora. Segui então meu caminho até meu prédio, enquanto esperava o elevador, mandei uma mensagem a Scott.

"Cara, a namorada do Paul é uma escrota fora do bar!"

Ele logo me respondeu.

"HAHA! Ela não é tão ruim, só é exigente. O que houve?"

"Preciso que saíamos mais cedo do último período, você tem que me apresentar o lab e me falar como as coisas funcionam."

"Beleza, a aula já já acaba. Onde você está?"

"Estou esperando por você aqui fora, não vou entrar, estou muito atrasada."

"Ai ai, tanto faz! Já nos falamos então"

Esperei por 40 minutos até o período acabar, logo encontrei com Scott e fomos para a aula.

A manhã passou devagar demais, eu estava muito mais do que nervosa para meu primeiro dia. Meu parceiro e eu saímos 15 minutos antes do último período acabar e corremos para o laboratório, sem almoçar.

Sem. Almoçar.

Faltava 30 minutos para o expediente começar. Scott me mostrou como a porta funcionava, me ensinou os procedimentos de segurança, onde e como os equipamentos estavam e funcionavam.

"Ah! Os relatórios de cada pesquisa ou experimento precisam estar expressamente detalhados, atualizados no sistema e datados." Explicou.

"Caralh*! Jura?" Fiquei com medo da pressão.

"E você provavelmente terá que segurar sua língua, Cos." Scott me avisou.

"Pode deixar, babaca." Brinquei.

"Cosima, eu estou falando sério. Franceses são chatos em relação ao ambiente de trabalho." Explicou franzindo as sobrancelhas.

"Você quis dizer que a namorada do Paul é chata." Meu parceiro paralisou em minha frente.

"Vou precisar de muita maconha e Bob Marley para aguentar toda essa merd*." A boca de Scott abriu largamente e seus olhos me olhavam em desespero, então me liguei...

Puta que pariu!

"Vou fingir que não ouvi isso, Dra. Niehaus." Perfeito, minha ex nova chefe estava bem atrás de mim.

"Dra. Cormier..." Gaguejei.

"É Cosima, agora você se ferrou." Paul que estava logo atrás de minha chefe, me provocou.

"Eu só estava brincando." Meu sorriso torto e amarelo não me ajudou.

"Vou fingir que acredito, e a senhorita terá de fazer exames toxicológicos todo mês. Estamos entendidas?" Sua voz engrossou arrombando meus tímpanos.

"Com toda a certeza, Dra. Cormier." Segurei o ar.

"Muito bem, preparem-se, o expediente começa em 2 minutos."

Minha chefe e o babaca do meu amigo Paul voltaram para a sala principal. Scott riu levemente de minha deplorável situação e me ajudou com o jaleco.

"Ótima maneira de começar seu primeiro dia, Cos." Rindo e me irritando, Scott me mostrou onde os tubos de ensaio estavam para que poderíamos começar a classificação dos elementos de meu primeiro experimento.

Trabalhamos com cautela para não haver combustão química, já que eu ainda não sabia onde as ferramentas estavam. Sou um desastre em pessoa, nada organizada e totalmente perdida em meus pensamentos às vezes. Levaria pelo menos uma semana para começar a me adaptar.

A tarde foi passando e mal percebi o dia escurecendo. Estávamos muito engajados no trabalho, manuseando químicos que poderiam explodir o prédio inteiro, mas mesmo assim, pude espiar em breves momentos toda a autoridade e desenvoltura de Dra. Cormier. Posso até estar enganada, pode até ser coisa da minha cabeça, mas pude sentir olhares vindo daqueles gigantes olhos castanhos em mim.

Ser atraída por um colega de trabalho é normal, arriscado, antiético, mas normal. Imagine então ser atraída por sua chefe, que também namora um dos seus melhores amigos.

Fodeu, né?

É, eu sei!

Focada no trabalho, ouvi passos se aproximando. Um leve arrepio na nuca quando sua voz ríspida e dominadora penetrou meus tímpanos.

"Bom trabalho, Dra. Niehaus."

"Oh! Valeu", "Quer dizer, obrigada, Dra.Cormier." Me corrigi rapidamente e fingi que sua presença não fazia cada um de meus músculos tencionarem.

"O expediente acabou." Olhou para o relógio, "Já enviou os relatórios para o sistema?"

Merda!

"Ainda não, Dra. Vou fazer isso depois que eu sair do Leda." Resposta errada.

Os olhos de minha chefe me fuzilaram em meio à uma guerra de possíveis maneiras para me humilhar bem ali.

"Entendo que você tenha outro emprego, porém gostaria que os relatórios fossem enviados para o sistema antes do expediente." Tão insuportavelmente sexy, "Quando digo que gostaria, estou suavizando, é uma ordem, Dra. Niehaus." Eu odeio me sentir atraída por essa mulher.

"Com certeza, Dra. Cormier. Farei isto imediatamente." Disse já correndo para o computador.

"Muito bem, organize-se melhor da próxima vez." Sorriu levemente em deboche, "Te vejo mais tarde."

A piranha vai me deixar aqui e ir beber no Leda.

Filha da mãe!

"Cos, falta muito ainda?" Scott apareceu logo em seguida, "Quer uma ajudinha?"

"Cara, se você me ajudar a enviar esses relatórios pro sistema em 30 minutos, fico de devendo uma." Meu parceiro me lançou um olhar malicioso, mas logo cortei a onda dele, "Scott, eu pego mais mulher do que você. Entenda isso de uma vez por todas." Enquanto eu ria, o pobre do meu parceiro baixou sua iludida cabecinha e sentou-se ao meu lado.

Já era mais de 7 horas, me atrasei uma hora e vinte minutos.

Fodeu.

Guardei o jaleco e saí correndo em direção ao Leda. Scott estava logo atrás, na velocidade dele, rindo de minha maneira estranha de correr.

"Run, Forest! Run!" Senti uma vontade gigantesca de meter uma porr*da entre seus olhos e quebrar seus óculos.

O bar já estava lotado. Marion estava atolada de pedidos. Sarah me olhou com ódio. E eu avistei minha querida chefinha sentada em uma mesa com meus amigos. Todos estavam lá como de costume. Alison, Donnie, Felix, Paul, agora Scott e Dra.Vaca Cormier.

"Eu vou te matar, Cos." Disse Marion já ofegante do trabalho dobrado.

"Foi mal, cara." Desci meu vestido um pouco para que meu decote fosse mais convidativo, "Eu explico depois."

"Tanto faz, só me ajuda."

Servi, cobrei, conversei, servi, coloquei mais gelo na balde, limpei o balcão, servi, cobrei, flertei e em uma hora o movimento já estava mais ameno.

Ufa!

Limpei minha testa com minha mão, estava um puta de um calor, e eu suava mais do que língua de cachorro.

"Nossa, toda molhada." Reconheci a voz.

"Eai Shay, o que vai pedir?" Ri e a encarei prazerosamente, "Você na minha casa depois que estiver livre, topa?" Um convite desses, como recusar?

"Depende, o que vai rolar? Tô bastante estressada" Shay sorriu pra mim e apoiou seu corpo sobre o balcão. Seus seios me deram "oi" e insistiram no convite, "Deixe-me te relaxar então." Mordi meus lábios em resposta e não pude confirmar o convite, pois fui interrompida.

"Cosima, chegou atrasada aqui também." Minha chefe estava começando a me irritar...me irritar de tão chata e linda que é.

"Dra. Cormier, os relatórios já foram atualizados no sistema..." Ela me interrompeu novamente, "Não fale de trabalho comigo fora do horário." Enrijeci minha mandíbula, "E pode me chamar de Delphine agora." Até aqui essa vaca quer mandar em mim?

"Claro, Delphine. O que vai ser? Vinho ou whisky?" Perguntei já sabendo a resposta, ela era previsível demais.

"Hm! Não sei, o que você acha?" Olhou para Shay, que procurou alguma resposta rapidamente. Talvez a francesa não fosse tão previsível assim.

"Ah! Eu não sei. Cos geralmente me surpreende." Minha não namorada me olhou com desejo.

"Hm! Interessante." Ó céus, "Então Cosima, surpreenda-me."

Vaca!

Pode ser veneno?

Movi meus pés ligeiramente e arquitetei um drink em minha cabeça. Dephine Cormier gosta de bebidas fortes e quentes. Dentre as milhares de opções, sabia o que lhe agradaria. Pequei a coqueteleira e preparei um drink composto de whisky, limão e energético sem açúcar.

"Aqui está!" Entreguei a bebida, "O que é isso?" Minha vez de brincar, "Experimente, é uma surpresa." Levantei minha sobrancelha em provocação.

Delphine levou o copo até sua boca.

E que boca.

Puta merd*!

Essa mulher me dá calafrios.

"Nossa! Muito gostoso, Cosima." Agradeceu ao engolir, "Você tem talento." Shay me olhou torto, como se tivesse com ciúme, "Oh! Cosima tem vários outros talentos." O que essa doida estava fazendo?

"Ah é? Bom saber!" O que isso queria dizer?

O estranho silêncio entre nós era tão alto que nem a música da Jukebox conseguia calar.  

"Mais alguma coisa, Delphine?" Seus olhos me analisaram por um breve segundo.

Será que ela estava me desejando?

Se assim fosse, aí a porr* ia foder de vez.

"Quanto lhe devo?" Perguntou, "Por conta da casa." Sorri em desespero, estava gostando dos possíveis flertes, mas a situação estava muito estranha.

"Sério?" Shay e Delphine exclamaram, com diferentes entonações claramente.

"Sim! Tá tudo certinho." Virou-se e fiquei babando de boca fechada enquanto fazia o caminho de volta para meus amigos.

"E eu aqui pensando que só eu recebia bebida na faixa." Ironizou com muita raiva contida, "Tá com ciúme, Shay?" Provoquei.

"Você vai ver mais tarde, Dra. Niehaus." Adorei ouvir isso.

Marion chegou perto de nós e me ofereceu um breve intervalo. Como estava cansada, logo aceitei. Peguei uma cerveja gelada e fui sentar com meus amigos. Shay não me seguiu porque entendia que meus amigos não sabiam sobre nós. Bom nem todos.

 

"Olha ela aí!" Exclamou Donnie, "Eai pessoal, tranquilo?" Cumprimentei meus amigos com a cabeça.

"Chegou atrasada hoje. Delphine pegou pesado com você?" Alison perguntou, "Você não faz ideia, Ali!" Scott causou risos e curiosidade em todos.

"Da próxima vez você presta atenção em quem pode estar por perto antes de fazer comentários." Paul debochou, "Como assim? O que rolou?", "Depois te conto, Ali. Apenas Cosima sendo Cosima." Donnie respondeu.

Pelo jeito a fofoca voa.

Eu só conseguia olhar para minha chefe, que por sinal estava dividindo seu tempo entre rir da minha cara e beber o drink que preparei há pouco.

"Eu sou um desastre natural e vocês são ridículos!" Exclamei, "Onde está Shay?" Felix perguntou, então o olhei desesperadamente, "Pois é, onde está sua amiga Shay, Cosima?" O que Delphine quis com essa pergunta, eu não faço a mínima ideia.

"Hey Shay! Vem cá!" Scott gritou para todos ouvirem. Em menos de 20 segundos, ela já estava ao meu lado. Pude perceber que estava levemente bêbada.

"Amigos da Cosima, Olá!" Okay, apague o levemente, ela estava bêbada.

O pessoal a respondeu em harmonia. Shay e Delphine olharam-se estranho.

"Estava aqui pensando. Vamos tocar lá no palco, Cos?" Minha não namorada sugeriu, antes que eu pudesse responder alguma coisa, meus "amigos" gritaram em incentivo.

Eu queria sumir.

"Pessoal, eu tenho que trabalhar..." Felix me interrompeu e saiu correndo para perguntar a Sara e Rachel se eu poderia tocar com Shay. Elas riram e concordaram. Rachel lançou-me um olhar do tipo "Se você fizer merd*, tá demitida".

Sem pressão.

Shay pegou minha mão e me levou ao palco.

Havia um violão, um piano, dois microfones e percussão. Às vezes temos noite de talentos no Leda.

Quem diria que hoje seria minha noite, certo?

Eu já sabia a música, minha amante nem precisava ter sussurrado em meu ouvido.

Marion pausou a Jukebox. Todo mundo estava olhando. Assumi o violão e segunda voz. Que merd*!

Olhei para Shay e nós, em perfeito entrosamento, começamos nossa performance de "More of you" de Mozella.

Enquanto meus dedos tocavam cuidadosamente para não errar as notas, minha voz entrava em sintonia com a de minha parceira.

Estávamos muito bem, em harmonia esplêndida.

Todavia, meu olhos não largavam os de Delphine.

Pura adrenalina!

Socorro!

Fim do capítulo