Gabriel ainda não entendia muito bem o porquê de a mãe ter ficado assim como a irmã, tão brava com ele e os irmãos. Quando chegaram ao quarto, o Cabelo de Fogo foi se deitar em sua cama e ficou olhando para cima com as mãozinhas atrás da cabeça. Nicola percebeu que o irmão estava quieto e perguntou o que estava acontecendo, pois o menino era muito arteiro e ele estranhou o seu comportamento. Chegou perto dele e perguntou:

-- O que foi Gabriel?

-- Nada! Respondeu o menino ao irmão e este viu que ele estava começando a chorar. André que estava lendo também se sentou ao lado de Nicola e ouviu quando ele falou:

-- André o Gabriel está muito chateado com a bronca da mamãe. Acho que ele se sente preterido em relação aos cuidados com a gente e com as meninas.

André pegou o pequeno e o colocou sentado em seu colo. Viu que o irmão estava muito quieto e estranhou, afinal, Gabriel não era assim.

Apesar de ser sistemático e até às vezes intolerante André sabia diferenciar as coisas. Ele sabia que Gabriel achava que não gostava dele por ser do jeito que era, mas ele não sabia o quanto o mais velho dos filhos homens da coronel o amava. É claro que se alguém fizesse algo de ruim para ele ou para Nicola, sairia em defesa dos irmãos mais novos. Tinham suas diferenças porque nem todos os dedos da mão eram iguais, mas ele sabia que sempre deveriam ficar unidos. Essa era a principal regra da casa. Às vezes  tinha suas desavenças com Celina a quem respeitava muito por ser a mais velha e também com Antônia, mas sempre se resolvia a questão entre eles. Quanto a Gabriel as coisas eram mais complicadas, pois André em sua tenra idade de doze anos já se considerava o homem da casa. Afinal de contas, ele tinha a mãe como um exemplo a ser seguido e disso ele não abria mão. Prometera a si mesmo que um dia seria igual a coronel Mantovanni.

À noite quando já haviam tomado banho e colocado seus respectivos pijamas, os três desceriam para jantar, mas depois Gabriel se recusou a ir. Celina havia ido a pedido da mãe chamar os irmãos. Quando ela depois de bater à porta entrou no quarto viu que os três estavam jogando banco imobiliário e ficou observando toda a farra.

-- Nicola, Gabriel e André, a mamãe está chamando vocês para jantar.

-- Oba comida na mesa isso é muito bom! Exclamou Nicola.

André também se animou, mas Gabriel se recusou a descer para comer. Celina estranhou o irmão recusar comida, pois assim como Nicola ele também era fominha. Chamou os outros dois irmãos e perguntou o que estava acontecendo. Enquanto isso, o pequeno continuava alheio ao assunto. Preferia ignorar que estavam falando dele. André explicou o que acontecera e Celina resolveu conversar com o caçula.

-- O que está acontecendo com você meu pequeno?

Gabriel não respondeu, virou para o canto e ficou olhando a parede. André repreendeu o pequeno e ele num acesso de fúria respondeu ao irmão:

-- Porque você tá preocupado? – Vocês não gostam de mim, a mamãe Márcia não gosta de mim, principalmente você André. Ninguém gosta só a minha Dinda. Eu não vou jantar vou ficar aqui!—Sai daqui Celina, vai embora!! – Tudo por causa daquela tonta da Antônia.

Celina e os irmãos resolveram não contrariar Gabriel. Quando chegaram na mesa do jantar Andressa estranhou a falta do filho caçula e perguntou:

-- Celina onde está o Gabriel?

-- Ele não quis jantar mamãe, falou que está sem fome.

-- Mas aconteceu alguma coisa com ele André?

-- Não mamãe ele só não quer comer!

A coronel fez menção de levantar da mesa e ir até o quarto. Porém Nicola falou:

-- Eu não iria se fosse a senhora mamãe Márcia!

-- Por quê? Perguntou.

-- Ele quer ficar sozinho.

-- Mas o que aconteceu lá em cima Nicola? Perguntou Andressa já preocupada.

Nicola olhou para os irmãos e depois contou tudo o que havia acontecido e o que o irmão havia falado. Márcia se sentiu triste e agoniada com a reação do pequeno. Ela não imaginava que Gabriel apesar de arteiro fosse tão sensível.

-- Eu vou subir e conversar com ele meu amor. Disse para Andressa.

A esposa não disse nada somente olhou para Márcia. A coronel chegou na porta do quarto dos meninos e abriu. Deparou com o filho sentado no chão brincando sozinho. Sentou-se ao seu lado, porém Gabriel fez de conta que não havia ninguém lá ignorando assim a presença da mãe.

-- Filho será que eu posso conversar com você?

O menino continuou jogando e Márcia percebeu o quanto ele estava magoado.

-- Filho o que está acontecendo com você? – Não desceu para jantar, está brincando sozinho. O que você está sentindo filho? – Por favor, se abre comigo, se eu fiz algo errado, converse eu sou a sua mãe e vou te escutar.

Gabriel então respondeu:

-- Você não gosta de mim, ninguém gosta! – Só a minha Dinda, vou morar com ela! Referia-se à irmã caçula da coronel que era a sua madrinha.

Márcia estava chateada com o rumo que a conversa começou a tomar e então falou:

-- Meu filho isso não é verdade e você sabe disso. Nós sempre amamos você assim como aos seus irmãos. Eu sei que às vezes pareço dura com vocês, mas é que eu não quero que nada aconteça e sabe por quê? – Porque eu e a sua mãe Andressa um dia não estaremos mais aqui para cuidar e orientar vocês. Eu te amo muito meu filho, nunca duvide desse amor que é incondicional. Um dia eu e ela iremos viajar e vai ser uma viagem que nenhuma de nós poderá voltar. É por isso que eu brigo tanto com vocês por causa dessas picuinhas que existem. Sei que o André é genioso mais não é por isso que ele não goste de você. O bebê da casa é você Gabriel. Filho você foi tão desejado por mim e pela sua mãe tanto quanto os outros. Lembro-me do dia em que ela me disse estar grávida de você. A minha alegria triplicou de tamanho porque eu sabia que viria mais uma dádiva para a minha família e então me perguntei a Deus se eu merecia isso. Claro que deixamos em suspense pra saber se seria um menino ou uma menina. Mas o que viesse seria bem vindo e amado por nós.

Enquanto Márcia falava, Gabriel que parara de brincar prestava atenção no que a mãe dizia.

-- Mas a senhora e a mamãe Andressa já gostavam de mim?

-- Filho você foi muito bem planejado e tanto a sua mãe como eu ficamos radiantes quando você nasceu. Quando a doutora Laura me disse que era um menino, eu fiquei em estado de graça. Lembro que ela trouxe você até mim e disse olhando para a sua mãe a seguinte frase: --Parabéns mamães, vocês tem um lindo menino. E quando eu peguei você em meus braços chorei de alegria. Você nasceu gordinho, rosado com cabelo avermelhado e olhos verdes acinzentados e eu lhe disse: -- Seja bem vindo meu filho! Naquela hora você parou de chorar e deu o sorriso mais lindo que eu e a sua mãe podíamos esperar. Portanto meu caçulinha nunca mais pense que eu, a sua mãe e os seus irmãos não gostamos de você. Isso entre os Paiva Mantovanni jamais irá acontecer e tanto eu como a sua mãe não aceitaremos em hipótese alguma isso. E quanto ao castigo de hoje eu espero que tenha servido de lição para vocês e para as suas irmãs.

Gabriel que só escutou as coisas que a mãe havia falado disse:

-- Eu amo tanto você mamãe!

-- Eu também amo você meu filho. Você não imagina o quanto.

-- Mamãe eu tô com fome, quero comida! Pedia o menino que já estava montado nos ombros de Márcia. A coronel riu com a arte do filho e logo os dois desceram a escada parecendo duas crianças. Logo todos estavam jantando e a harmonia se fez presente.

Depois de jantarem, uma sobremesa foi servida e todos foram assistir televisão. Gabriel ficou sentado no colo da coronel e assim a família estava mais uma vez entrosada nas conversas que tanto alegravam Andressa.

Fim do capítulo