Capítulo 16
16.
Claire POV
Quando me deparei com Ashley na sala de estar, uma pontada de surpresa percorreu-me. Sabia quem ela era. Tinha visto fotos, ouvido fragmentos da história. Mas vê-la ali, em carne e osso, era diferente. Era impossível negar, Ashley era ainda mais bonita pessoalmente do que nas imagens que já tinha visto. Contudo não ia permitir que o ciúme me estragasse o humor.
Cruzei os braços, mantendo a expressão neutra, mas os meus olhos rapidamente desviaram-se para Beatriz. Precisava ver a reação dela. Precisava perceber se aquela visita inesperada tinha sido uma surpresa para ambas ou apenas para mim. E quando vi a forma como o corpo de Bih ficou tenso, como os seus olhos rapidamente se encheram de desconforto e impaciência, um alívio inesperado percorreu-me. Ela não estava feliz com aquela presença.
Ótimo.
Isso tranquilizou-me um pouco. No entanto nem por isso baixaria a guarda. Ashley estava ali por um motivo. E eu faria questão de descobrir exatamente qual era.
Já em minha casa, a campainha tocava incessantemente, anunciando a chegada dos convidados. Cada vez que abria a porta, era recebida por abraços, beijos e risos de conhecidos. Ficava por momentos à conversa com algumas meninas, tentando manter-me no espírito da festa.
Mas então, na quinta vez que a campainha soou, tudo mudou. O meu sorriso esmoreceu no instante em que abri a porta e me deparei com um olhar que não esperava, ou melhor, que não queria ver.
Michelle.
O seu sorriso torto era uma mistura de diversão e desafio. Cerrei os dentes.
— Posso saber o que fazes aqui? — Perguntei, cruzando os braços, posicionando-me firmemente à sua frente, bloqueando a entrada.
Michelle inclinou a cabeça ligeiramente, estudando-me como um predador avalia a sua presa.
— Já deverias saber que nós nunca perdemos uma festa… Ainda mais se a festa for tua.
A sua voz saiu carregada de ironia, e o brilho cínico nos seus olhos fez o meu estômago revirar. Respirei fundo, tentando manter a calma.
— Vai embora.
Disse, num tom controlado, contudo firme. Ela estreitou os olhos. Por um breve segundo, pareceu ponderar. E então… riu. Não foi uma risada qualquer. Uma gargalhada alta, zombeteira, como se achasse graça à minha tentativa de a afastar.
— Alex… — Gritou para o lado, o tom de provocação claro. — Acho que a Claire não nos quer receber!
O meu corpo ficou tenso. Segui o seu olhar e vi Alex aproximar-se. O ruivo caminhava com a mesma arrogância de sempre, como se o mundo fosse um tabuleiro onde ele movia as peças.
— Como assim não nos quer receber? — Perguntou, fingindo confusão. — Nós recebemos um convite.
A sua voz carregava uma falsa indignação que só me irritava mais. Cerrei os punhos.
— Tenho a certeza de que esse convite não foi feito por mim.
A minha voz soou cortante, cheia de nervosismo e impaciência. Michelle e Alex trocaram um olhar. E então, como se aquilo fosse um jogo entre eles, Alex sorriu.
— Acho que arranjaste um bom desafio, mano…
O meu coração apertou-se.
O que é que ela queria dizer com aquilo?
Alex inclinou-se ligeiramente para mim, o seu olhar frio e condescendente.
— Eu gosto quando elas são difíceis.
O meu estômago revirou-se de imediato. A náusea misturou-se com a raiva.
— Não sou um jogo para ti, Alex.
Os meus olhos ardiam de frustração e desprezo. Ele soltou um riso curto.
— Babe… já sabes que ser teimosa não te vai levar a lado nenhum.
A forma como a palavra babe saiu da sua boca fez-me sentir suja. Afastei-me um passo, respirando fundo para não perder o controlo.
— Eu tenho o direito de tomar decisões por mim própria.
A minha voz soou mais alta, mais cortante, mais desesperada. Alex levantou uma sobrancelha, como se estivesse a adorar a minha resistência. Michelle, ao seu lado, apenas sorriu de canto. E então Alex deu o golpe final:
— Infelizmente, parece que ninguém se importa com a tua opinião…
O meu corpo ficou gelado.
— O que é que disseste? — Perguntei num fio de voz.
Os seus olhos brilharam com algo que me deixou arrepiada.
— Será que a minha irmã vai ter de te relembrar do que está em jogo?
Michelle puxou o celular do bolso e começou a bater com ele na palma da mão, como se estivesse a preparar-se para mostrar-me alguma coisa. O gesto foi suficiente para me enojar. O ar ficou mais pesado. As minhas mãos começaram a suar. O meu coração batia tão forte que parecia ecoar nos meus ouvidos.
Eu sabia exatamente o que aquilo significava.
"— Convidou-os para jantar? — Perguntei ao meu pai, a minha voz carregada de tensão contida.
— Sim. Algum problema? — Respondeu sem desviar os olhos do ecrã do laptop, completamente indiferente.
A irritação subiu-me à garganta.
— Eu não os quero receber.
Só então ele ergueu o olhar, franzindo ligeiramente a testa.
— Posso saber a razão para não receberes a família do teu namorado?
O meu estômago embrulhou-se.
— Ele não é meu namorado. — Disse firmemente, cruzando os braços. — Precisa de uma razão melhor do que essa?
A expressão do meu pai endureceu.
— Claire, vais recebê-los com o teu melhor sorriso e sem reclamar.
As suas palavras soaram como uma ordem militar. Cerrei os dentes.
— Eu não vou ser obrigada a conviver com pessoas de quem não gosto.
O olhar dele tornou-se gélido.
— A partir do momento em que és sustentada por mim e vives nesta casa, vais fazer o que eu mandar.
A ameaça estava clara na sua voz. A minha respiração ficou presa na garganta.
— Eu faço dezoito anos este fim de s—
— Achas que, com dezoito anos, podes fazer o que bem te apetece? — Interrompeu-me, a voz carregada de desdém.
Levantou-se da cadeira lentamente e começou a caminhar na minha direção.
— Achas que a vida lá fora é fácil? — A sua voz tornou-se mais baixa, mas muito mais perigosa. — Queres sair desta casa? Força, eu não irei impedir.
O meu corpo ficou rígido.
— Quem irá pagar a faculdade? Onde vais morar? Achas que um trabalho part-time vai cobrir todas as tuas despesas? Tens noção de quanto gasto na tua educação?
Tentei engolir em seco, mas a minha garganta parecia ter secado.
— Eu irei arranjar forma—
— Deixa de ser insolente!
A sua voz ecoou pelo escritório, fazendo-me estremecer.
— O namoro com aquele rapaz é o melhor para ti e para a nossa família.
Eu ri, sem qualquer humor.
— Ah, claro… O melhor para a família. Sempre foi sobre isso, não foi?
Os seus olhos estreitaram-se, mas continuei, incapaz de me calar:
— Sempre tive tudo? Muitas crianças dariam tudo para ter a minha vida? Que discurso maravilhoso, pai. Mas diga-me…
Dei um passo à frente, sustentando o seu olhar.
— Onde é que vocês estavam quando eu ficava doente? Onde estavam nos meus aniversários? Quando precisava de apoio? Quando só queria que me ouvissem?!
A raiva tomou conta da minha voz, tornando-a trémula.
— Achavam que um presente resolvia tudo? Que um vestido caro comprava o amor que me negaram a vida toda?
O rosto do meu pai tornou-se uma máscara de pura fúria.
— Claire, já chega.
— Não! Não chega! Vocês são egoístas! Só pensam em vocês mesmos! O melhor para mim? Não me façam rir. Desde quando eu faço parte dessa família?!
A última frase saiu num grito que ecoou pelo escritório. E, num instante, o silêncio instalou-se. O tempo pareceu desacelerar. Vi a sua mão erguer-se. Mas nem tive tempo de reagir. A bofetada acertou-me em cheio no rosto, fazendo-me cambalear um passo para trás. O ardor espalhou-se rapidamente pela minha pele. Os meus olhos ardiam, mas recusei-me a deixar cair uma lágrima. Levei a mão ao rosto e respirei fundo, tentando controlar o tremor nas minhas mãos.
— Chega, Claire. — A voz dele saiu firme, impassível. — Agora comporta-te como a mulher que és e recebe a família Bacelar.
Cerrei os dentes. A raiva fervilhava dentro de mim, misturada com humilhação. Porém, como sempre, engoli tudo. Acenei com a cabeça em silêncio e saí do escritório sem olhar para trás. No momento em que fechei a porta atrás de mim, apressei-me para a casa de banho. Agarrei-me à pia e encarei-me no espelho. O vermelho na minha pele contrastava com a palidez do meu rosto. Os olhos marejados de lágrimas que eu não ia deixar cair.
Mas, por dentro…
Por dentro, eu já estava a desmoronar.
A campainha soou minutos depois.
Lavei o rosto, respirei fundo e fui até à porta.
O peso da farsa já se instalara sobre os meus ombros.
E então, abri a porta.
Recebi Alex, Michelle e os seus pais com um sorriso falso.
O jantar começou carregado de formalidades, conversas vazias e hipocrisia. Eu já estava farta. Mas então, Michelle decidiu que estava na hora de tornar tudo pior.
— Vocês sabiam que estes dois terminaram?
O silêncio pairou sobre a mesa. Todos os olhares caíram sobre mim. O meu estômago revirou-se.
— Isso é verdade, Claire? — A voz fria da minha mãe fez-me engolir em seco.
Abri a boca para responder, contudo Michelle foi mais rápida.
— O meu irmão ficou muito magoado. Não foi, Alex?
A sua voz transbordava falsidade, mas os seus olhos estavam cheios de algo muito pior.
— Foi difícil aceitar… — Murmurou Alex, fingindo tristeza.
As minhas mãos apertaram os talheres com força. O barulho da faca a bater no prato foi alto demais, mas nem me importei. Ia abrir a boca para protestar, mas a voz autoritária do meu pai cortou-me:
— Comporta-te.
A ameaça no seu olhar fez-me baixar a cabeça. A custo, sentei-me novamente. O meu coração batia descontroladamente no peito.
— Tenho a certeza de que essa decisão foi tomada de cabeça quente. — A voz do meu pai soava calculada, controlada. — Acredito que ela está arrependida. Não é, filha?
Engoli em seco. O pai de Alex entrou na conversa.
— É uma pena que tenham tido um desentendimento. Seria uma honra ter a Claire na nossa família.
— Tenho a certeza de que este jantar irá ajudá-los a fazer as pazes.
E então, Michelle deu a cartada final:
— Não sei… O meu irmão sofreu muito com a atitude da Claire. Não quero vê-lo de rastos sempre que haja uma discussão.
A minha respiração ficou presa na garganta. Eles estavam a decidir a minha vida como se eu nem estivesse ali.
— Claire é impulsiva… Mas mais tarde sempre se arrepende. Não é, filha?
A minha mãe agora. Eu sentia-me a afundar. O meu pai lançou-me um olhar afiado.
— Nós conversámos antes, posso garantir que a minha filha se encontra muito arrependida.
A pressão sobre os meus ombros tornou-se esmagadora. E então, a minha própria voz saiu num sussurro vazio:
— Eu… eu não vou voltar com ele…
O silêncio instalou-se. O meu pai sorriu, porém, os seus olhos diziam outra coisa.
— Claire, lembra-te da nossa conversa.
Era um aviso.
— Por que não vão até à sala e esclarecem tudo?
Foi uma ordem. Alex levantou-se. Michelle seguiu atrás.
E eu?
Eu obedeci. Como sempre.
Porque sabia exatamente o que estava em jogo.
— Como vai ser? Não acredito que nos vais deixar à porta.
A voz de Alex carregava falsa indignação, mas o brilho malicioso nos seus olhos dizia tudo.
— Nós não estamos sozinhos, o grupo veio connosco. Todos sentem a tua falta.
Todos. A palavra soou como um peso sobre os meus ombros. Suspirei, sentindo-me derrotada. Eu já sabia o que ia acontecer. A minha resistência não mudava nada. Afastei-me da entrada, permitindo a passagem do grupo. Michelle sorriu vitoriosa ao entrar, como se aquela casa já lhe pertencesse. Alex ficou para trás. E antes que pudesse afastar-me, senti os seus braços envolverem a minha cintura. O toque fez-me estremecer.
— Tomaste a decisão acertada.
A sua voz sussurrou contra o meu ouvido, e um arrepio de puro desconforto percorreu-me a espinha.
— Acho que nos vamos divertir muito.
Engoli em seco, sentindo o coração acelerar. Queria afastar-me. Queria dizer-lhe para tirar as mãos de mim. Contudo sabia que não valia a pena. Respirei fundo, soltando-me discretamente do seu aperto, e entrei na sala. De cabeça baixa. Sem olhar para ninguém. Sem procurar por ninguém. Mas eu sabia que a Bih estava ali. Sabia que, algures naquela festa, ela estava a observar-me. E a última coisa que queria era ver a sua expressão ao assistir a esta cena. Sabia que a desilusão nos seus olhos azuis seria muito mais do que um golpe. Seria uma facada. Porque ela não merecia ver isto. Porque eu nunca quis que ela fizesse parte deste lado da minha vida.
Mas agora… não havia como esconder.
A minha respiração ficou presa na garganta quando Michelle se aproximou, segurando um copo. O seu sorriso era doce. Demasiado doce.
— Hoje, como é o teu dia, decidi preparar-te uma bebida especial.
A sua voz transbordava entusiasmo, mas a minha pele arrepiou-se em alerta.
Senti o olhar de Alex cravar-se em mim.
— Eu não quero nada. Estou bem assim. — Murmurei, tentando escapar à armadilha.
Ela não desistiu.
— Não faças essa desfeita à minha irmã. — Disse Alex, a sua voz carregada de ameaça disfarçada.
Levantei os olhos para Michelle. Ela esticou o copo para mim, mantendo aquele sorriso encantador. Os seus olhos brilhavam… mas não era amizade o que via neles.
Vacilei.
Porém o silêncio que se instalou ao meu redor fazia parecer que a única resposta possível era aceitar. Com um suspiro, peguei na bebida. Olhei para o líquido com desconfiança. Depois voltei a encara-la, esta observava com expectativa. Como se estivesse a saborear a minha derrota antes mesmo de acontecer.
— Agora vamos fazer um brinde.
A sua voz ressoou na sala, chamando a atenção do grupo. Um a um, todos pegaram nos seus copos. Michelle ergueu o dela, o seu sorriso ampliando-se.
— Ao casal mais fofo.
O meu estômago deu uma volta. A sala encheu-se de vozes concordantes, todos levantando os copos em sintonia. Um coro de ironia, de provocação.
E eu…
Eu baixei a cabeça.
Não brindei. Apenas levei o copo aos lábios e engoli o líquido de uma só vez, fechando os olhos. O gosto queimou-me a garganta. Mas não queimava o suficiente para apagar a vergonha, a humilhação, o desespero sufocado dentro de mim. Respirei fundo antes de levantar a cabeça. E então, os meus olhos encontraram aquilo que eu mais queria evitar.
O azul intenso que me desarmava.
O olhar que eu sabia que estaria ali.
E quando vi o que os olhos de Beatriz transmitiam…
Senti o golpe atravessar-me o peito.
Não era só magoa.
Era algo pior.
Era desilusão.
Era como se, naquele momento, ela finalmente estivesse a perceber algo que eu sempre tentei esconder. E essa perceção… Essa perceção doeu mais do que qualquer coisa que Michelle ou Alex pudessem fazer comigo.
Beatriz POV
Eu estava confusa. Os meus olhos fixavam a cena à minha frente sem conseguir compreender completamente o que estava a acontecer. Claire estava ali, no meio do grupo, os copos circulando, os risos altos contrastando com a sua postura tensa. Contudo nada, nada me preparou para o momento em que vi o ruivo aproximar-se dela. Foi como se o chão se abrisse sob os meus pés. O ar tornou-se pesado, e tudo à minha volta se tornou irrelevante. Os amigos dela continuavam a beber, a rir, a envolver Claire naquela atmosfera sufocante. E ela acompanhava-os. Os meus olhos percorriam cada gesto seu, e, apesar da confusão que se espalhava pela minha mente, eu conseguia ver claramente:
Claire estava desconfortável. Muito desconfortável. Mas isso não impediu a dor de se instalar no meu peito. Nem impediu o ciúme de se infiltrar no meu sangue, tornando os meus pensamentos incoerentes, erráticos.
— Acho que devias ir até lá.
A voz de Ashley surgiu do meu lado, baixa, mas carregada de algo diferente. Virei-me para ela, ainda meio atordoada.
— Eu… eu não sei o que fazer… — Confessei, sentindo o caos dentro de mim crescer a cada segundo.
Ela suspirou, inclinando-se ligeiramente na minha direção.
— Vais deixar que droguem a tua namorada sem ela saber?
O choque congelou-me. O meu coração falhou uma batida.
— O quê?!
Ashley olhou diretamente nos meus olhos, sem hesitação.
— Eu vi a ruiva preparar a bebida. Tenho a certeza de que colocou algo no copo da Claire.
O meu corpo ficou rígido. O sangue começou a ferver nas minhas veias. Cerrei os punhos. Não pensei em mais nada. Não me importei com as consequências. Apenas deixei a raiva guiar-me. Num passo decidido, avancei para o grupo. Os risos, os copos erguendo-se, a falsa celebração. Eu só via Claire. Aproximei-me e toquei no seu ombro, tentando ao máximo conter a fúria que borbulhava dentro de mim. Ela virou-se devagar, os seus olhos ligeiramente desfocados, quando me viu, sorriu.
— Bih… — Sussurrou, lançando os braços ao redor do meu pescoço, encostando-se ao meu corpo.
O meu peito apertou.
— Vamos sair daqui. — Murmurei ao seu ouvido, segurando-a pela cintura para a manter firme.
Foi então que Michelle apareceu diante de mim, com aquele sorriso falso que me causava náusea. Bloqueando a minha passagem.
— Posso saber onde vais com a minha amiga?
A sua voz era cortês, no entanto o desafio estava claro.
Ignorei-a.
Virei-lhe as costas e comecei a caminhar lentamente com Claire agarrada a mim. Esta não desistiu.
— Os teus pais não te ensinaram boas maneiras?
O tom dela era provocador. Parei por um segundo, respirando fundo.
— Deixa-me passar. — Pedi, tentando conter a fúria.
Michelle inclinou a cabeça, divertindo-se com a situação.
— Por alguns segundos achei que eras muda…
A paciência esgotou-se.
— Vais-me deixar passar ou não? — Perguntei, já sentindo o peso de Claire nos meus braços dificultar a minha respiração.
— Não enquanto não me disseres para onde a vais levar.
A sua voz transbordava ironia. E então, para piorar a situação, Alex surgiu ao meu lado. O seu olhar avaliou-me de cima a baixo antes de se fixar em Claire.
— Eu não sabia que a Claire agora tinha um cão de guarda. – Murmurei.
A raiva quase me cegou. No entanto então Michelle deu o golpe final.
— Cão de guarda, não. Mas cunhada, sim.
O meu estômago revirou-se. Os meus olhos encontraram os dela, tentando encontrar alguma mentira naquela frase. Contudo Michelle sorria, satisfeita.
— Estou surpresa… — Continuou fingindo inocência. — Ela não te contou que esta comprometida com o meu irmão?
O meu coração falhou uma batida.
— Eu achei que eras a melhor amiga dela… Pelos vistos, estava enganada.
A minha respiração tornou-se instável. Tentei decifrar se aquilo que ela dizia era verdade ou não. Contudo, naquele momento, a única coisa que eu sabia era que Claire não estava em condições de me dar uma resposta. A raiva queimava-me por dentro. Mas o desprezo tomou conta da minha voz quando falei:
— Se assim é, tenho uma dúvida… Drogar a tua "cunhada" é um passatempo divertido?
Michelle arregalou os olhos por um breve segundo. E então… riu. Uma gargalhada alta, satisfeita, como se aquilo fosse uma piada.
— Por vezes, sim…
A sua resposta foi casual. Como se estivesse a falar sobre o tempo. O nojo tomou conta de mim.
— Tu és doente.
Tentei mais uma vez afastar-me, mas desta vez Alex colocou-se no meu caminho. O seu olhar encontrou o meu, carregado de arrogância.
— Posso saber para onde vais com a minha namorada?
A palavra namorada fez algo partir dentro de mim. A minha paciência quebrou-se por completo.
— Para longe de ti.
A minha voz saiu afiada, gélida. E então, uma presença surgiu ao meu lado.
Phil.
Olhou para mim, depois para Claire, os olhos carregados de dúvida.
— Posso ajudar?
A sua voz era reticente, contudo acautelado.
— Leva-a para um dos quartos no andar de cima. — Pedi em inglês, ignorando completamente os olhares ao meu redor.
Sem hesitar, passei Claire para os seus braços. Observei enquanto ele se afastava com ela ao colo, o alívio preenchendo-me o peito por um breve instante. Todavia a voz de Alex trouxe-me de volta à realidade.
— Quem é esta, Michelle?
O seu tom já não era apenas irritado, era frio.
— Amiga da Claire… — Respondeu ela, num falso tom de inocência.
— Qual é o teu nome? — Perguntou ele, com um sorriso ameaçador.
Eu não hesitei.
Não recuei.
Apenas encarei-o nos olhos e respondi friamente:
— Não te interessa. Agora deixa-me passar.
Ele soltou uma gargalhada curta, mas vazia.
— Baixa o tom de voz comigo. Não sabes com quem estás a falar.
Senti a minha raiva atingir o limite.
— Alexandre Bacelar e Michelle Bacelar.
O nome deles saiu da minha boca carregada de ironia. Ambos franziram a testa.
— Muito prazer… — Continuei, o sarcasmo escorrendo da minha voz. — O nome do vosso pai pode intimidar muita gente. — A minha expressão endureceu. — Mas, para mim, é indiferente.
A tensão no ar tornou-se quase sufocante. Alex cruzou os braços, os olhos carregados de ameaça.
— Tu deves ser louca.
Dei um passo à frente.
— Prejudica a Claire… e eu garanto-te que essa "louca" vai dar-te muito trabalho.
A ameaça era clara. Os dois trocaram um olhar, um instante de comunicação silenciosa entre eles. Vi a confusão passar pelos seus rostos antes de algo mais sombrio se instalar neles. Uma mudança quase impercetível, mas que fez o ar parecer mais pesado. Alex deu um passo à frente, os seus olhos castanhos agora frios, avaliando-me como se tentasse decidir o quão longe poderia ir.
— Tu não fazes ideia do que sou capaz de fazer. E ainda mais se esse alguém for uma menina mimada e petulante como tu.
O veneno na sua voz deveria ter-me assustado. Mas em vez disso, soltei uma gargalhada seca. A raiva fervilhava dentro de mim, mas agora estava controlada, afiada como uma lâmina.
— Prejudica a Claire… — A minha voz saiu baixa, mas cortante. Dei um passo à frente, reduzindo o espaço entre nós. — E eu garanto-te que essa "menina petulante" vai dar-te muito trabalho.
A forma como os seus olhos brilharam, avaliando a minha determinação, fez-me perceber que ele não estava habituado a ser desafiado. Alex cruzou os braços, um sorriso enviesado surgindo nos seus lábios.
— E o que vais fazer? Vais gritar? Chamar a segurança?
Michelle riu ao lado dele, como se achasse graça ao espetáculo.
— Agora vocês vão sair desta casa a bem… — Mantive a voz firme, o meu olhar cravado no de Alex. Apontei para a porta. — Ou vou ter de vos obrigar?
O silêncio entre nós ficou espesso, carregado de algo perigoso. Alex ergueu uma sobrancelha, e então… riu. Uma gargalhada baixa, lenta, cheia de escárnio.
— Estás a falar a sério?
Deu um passo atrás, como se estivesse prestes a recuar, contudo depois voltou a olhar-me com um brilho desafiador.
— Eu não sei se o pai da Claire irá achar muita piada quando souber que uma garota qualquer me expulsou da casa dele...
As palavras saíram carregadas de veneno. Eu já esperava aquele golpe. Aquela carta ridícula que ele achava que me faria vacilar. Mantive o meu olhar fixo no dele, sem piscar. E então, sorri. Um sorriso vazio, afiado.
— E eu estou pouco me lixando para o que o pai dela vai pensar.
A expressão dele endureceu. Os olhos castanhos escureceram ligeiramente.
— A decisão é vossa.
Cruzei os braços, mantendo-me firme.
— Mas se ficarem mais um segundo, eu juro que vão desejar não ter vindo.
Michelle estreitou os olhos, e pela primeira vez naquela noite, vi uma hesitação no seu rosto. Alex continuou a encarar-me, porém a sua confiança já não parecia tão inabalável.
Ele sabia que eu não ia recuar.
Fim do capítulo
Boa tarde gente :)
Esses irmãos... Bia virou fera
Será que ela vai conseguir pô-los no devido lugar?
Espero que tenham gostado e obrigada pelos comentários
Tenham uma boa semana
Beijos **
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Val Maria
Em: 27/05/2017
A Bih é demais,colocou moral nesses idiotas dos Barcelar.
Agora tendi qual era da Carie.
parabens pela escrita perfeita.
beijos .
Proximo capitulo por favor.
Val Castro.
Resposta do autor:
Peço desculpa pelo atrasado do capitulo. :(
Espero que continue acompanhar
Obrigada
lay colombo
Em: 23/05/2017
Eita q vai dar merda
Resposta do autor:
Peço desculpa pelo atrasado do capitulo. :(
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FahSwanMills
Em: 22/05/2017
Entendi algo sobre o capítulo anterior, Claire fingiu que não sabia quem era a Ashley. Mais pelo menos agora ela ficou cara a cara com a rapariga kkkkk
Bih colocou os irmãos "nojentos" no lugar dele.
Me admiro a Claire ainda obedecer esse ser monstro que é o cara que se diz pai dela pq ele está longe de ser considerado pai, ser humano então, está longe! Eu limparia chão a vida toda se fosse pra ter minha independência e sair da casa desse intragável.
Chamaria a Polícia pra um merda desse mais ele nunca mais encostaria em mim e nem me ameacaria. Claire tem que tomar uma posição quanto a isso, a família dela morreu quando sua avó se foi agora está na hora de se ver livres dessa gente que so destrói destrói vida dela ou vai ficar submissa a dois irmão psicopatas e drogada a vida toda.
Resposta do autor:
Peço desculpa pelo atrasado do capitulo.
Espero que continue acompanhar
Obrigada
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