@mor.com por Carla Gentil
ALERTA: os alérgicos por vergonha-alheia precisam tomar seu remédio antes da leitura desse capítulo.
Capítulo 14
Opções, decisões. Não há garantias de qual é a escolha certa, qual dos caminhos de uma encruzilhada vai levar ao melhor destino, chegar primeiro, passar pela melhor estrada.
Laura fez uma escolha: evitar tocar nos pontos que poderiam estragar o momento. Se foi a decisão certa, somente o tempo e seus desdobramentos poderiam dizer.
- Você não contou a eles que viria? – Sam perguntou incrédula. – Por quê?
- Pra te comer melhor, minha loirinha – respondeu fazendo careta de “lobo mau” e a agarrando.
- Para, Laura! Sua mão está toda engordurada – tentava se soltar, mas a outra era muito mais forte. – Eu vou gritar, hein!
De repente, o inevitável aconteceu. Como estavam apenas de roupão, ele não resistiu fechado por muito tempo. E a brincadeira mudou de tom, de temperatura, de volume. De mãos que tentavam segurar, passaram a desbravar, o corpo que tentava fugir, buscava agora o contato, o encaixe.
E foi assim, roupões abertos, corpos e bocas colados, mãos que se procuravam... Que o pai de Sam as viu logo que abriu a porta, acompanhado de Cássio, seu outro filho, e Arthur.
- Mas...
O resto da frase sumiu, não pode ser articulada. No susto que levaram, o instinto de Laura a fez pular para a frente de Sam, protegendo-a. O detalhe de estar com o roupão aberto, sem nada por baixo dele, ela só se lembrou ao ver os queixos dos homens à sua frente caindo.
- Ui! – gritou, ao juntar as duas partes.
Sam, aventurou um olhar para os visitantes, por detrás de Laura.
- Oi painho! – falou com um imenso sorriso... Falso.
- Samantha! Vá se vestir e volte já aqui – ouviu o tom cavernoso do pai e nem pensou em retrucar. Virou-se e foi.
Da porta do quarto arriscou um olhar e constatou que Laura ainda não havia se mexido. Estava estática, segurando o roupão e olhando para os três com um misto de sorriso constrangido e careta apavorada.
- Psiu! Laura! – chamou-a. Laura virou-se para ela, sem alterar um músculo da face. – Vem!
Não precisou pedir duas vezes. Ela nem olhou para trás.
- Eu nem me apresentei pra ele! – falou com voz assustada, ameaçando o gesto de voltar para a sala, mas foi impedida pela porta que se fechou à sua frente por uma loira irritada.
- Não vai voltar pelada, não! Já viram muito, oxe! Vou colocar uma roupa e ver o que painho quer. E você fica aqui quietinha – falou já colocando um vestido.
- Vou lá com você, deixa eu me vestir também – Laura já estava de calcinha e colocava uma camisa.
- Hum, Lau. Eu vou na frente, depois te chamo. Você viu que meu pai não estava sozinho?
- Eu fiquei meio lesa, mas notei que eram três... Um senhor bonito que me olhava entre espantado, bravo e divertido...
- Painho, ele chama Rafael, caso eu não tenha falado.
- Não falou, mas eu pesquisei na internet – mesmo diante do olhar surpreso de Sam, continuou tagarelando nervosa. – O outro, que é o seu irmão, porque também já vi foto dele no Google, tava me olhando assim... Fiquei com medo da cara dele. Um misto de tarado com “vou matar esta diaba que tá comendo minha irmã”.
- Isto! E você mostrando TUDO pra ele!
- E o outro... – pensou um tempo e arregalou os olhos. – Arthur! Claro! Quem mais que eu não conheço que me odeia daquele jeito? Pensando bem... Não deve ser o único...
- Laura... – Sam interrompeu. – Adoraria ficar aqui ouvindo os seus pensamentos, porque aposto que vai sair algo meio pantanoso deles, mas tenho que ir pra sala...
- Vou junto! – Laura falou já caminhando para a porta.
- Vai é ficar sentadinha aqui até eu chamar – arrastou a outra até a cama e a fez sentar. Laura tentou se levantar novamente, mas foi impedida. Sam segurou o seu rosto e falou bem baixinho. – Se acalma, não foi nada demais – deu um beijo em seus lábios e ganhou um sorriso em troca.
- Continuo nervosa... – falou tentando segurar a loira que já saia de perto.
- Sem vergonha – Sam respondeu sorrindo, já saindo do quarto.
- Sou obrigado a concordar – Laura ouviu do pai de Sam antes da porta ser fechada.
- Xi! Fudeu de vez! – falou consigo, sozinha no quarto.
***
- Oxe, painho! Cadê aqueles dois? – Sam perguntou ao fechar a porta e dar de cara com seu pai sozinho perto do quarto.
- Aqueles meninos... Estavam me enchendo, mandei ir pro play, brincar – puxou a filha e deu um abraço e um beijo em sua testa, como fazia sempre que se encontravam.
Sam sorriu e puxou o pai para o sofá. Muito feliz por estarem a sós.
- E eles foram?
- Devem estar com a orelha colada na porta, não conhece o Cássio? Sempre foi assim, sempre querendo saber de tudo... E a... Nudista?
- Também deve estar olhando pela fechadura – Sam sorriu ao ouvir a maçaneta da porta de seu quarto ser mexida ao final de sua frase.
- Aliás, o que é que vocês vieram fazer aqui? Foram entrando...
- Fomos entrando porque você me disse que ia viajar, ou eu me enganei com aquele seu telefonema apressado de ontem?
- Eu viajo num dia e no dia seguinte vem um pelotão invadindo minha casa! Que flagra!
- Calma ai, mocinha! Eu vim pra ver aquela reforma na sua área de serviço, que nós combinamos, lembra? Eu ia fazer no final do ano, mas você não viajou, então ia aproveitar agora. E os outros “invasores” eram o seu irmão e o seu melhor amigo...
- Não é mais – Sam interrompeu. – Eu e o Arthur não somos mais amigos, nem sei se um dia ele foi mesmo meu amigo.
- Eu notei mesmo que tinha alguma coisa errada. Não sei se você sabe, mas o
Arthur é informante do Cássio e vice-versa, não necessariamente nessa ordem – falou fazendo gestos de vai-e-vem. – Ontem o Cássio contou pra ele que você estava indo pro aeroporto, parece que ele estava te seguindo e te perdeu. Ai ele chegou hoje lá em casa furioso...
- Com o quê? – Sam perguntou abismada. Nem sabia que eles conversavam, quanto mais que Arthur frequentava a casa de seu pai sem ela estar junto.
- Não sei, porque eu estava lendo meu jornal no escritório. Quando ouvi aquele alvoroço fui lá espiar, eles pararam de falar na hora, mas o Cássio pediu a chave do seu apartamento, disse que tinha que pesquisar alguma coisa no seu computador. Ai resolvi vir com eles...
- Ele não é nem louco de mexer nas minhas coisas! – falou exaltada. – Eu processo ele, tá pensando o quê?
- Processos... Adoro processos! – falou divagando. – Mas não entre meus filhos. E como sei que se eu não desse a chave, ele ia dar um jeito de entrar, resolvi vir com eles, porque ai eu levaria o seu notebook e deixaria guardado onde eles não mexeriam até você voltar.
- Sabe que eu te amo, né pai! – Sam falou abraçando-o.
Ele ia responder, mas caiu numa gargalhada. Quando enfim se acalmou, disse:
- Eles tiveram o castigo que mereciam com a imagem dantesca quando chegamos – ria de se torcer no sofá, diferente da filha que estava vermelha ao se lembrar.
- A sua reação me espanta! Não achou nada... Estranho? – perguntou indecisa com qual palavra definiria bem um pai ver a filha nua se agarrando com outra mulher também nua no meio de uma sala, em plena luz do dia, sem a desculpa de estar bêbada, no embalo de uma festa ou outra coisa qualquer.
- Vindo de você, filha, nada me espanta... E não precisa fazer esta cara de cachorro que caiu da mudança. É que você sempre foi arrojada, curiosa, sempre disposta a se aventurar a ser quem você é. Sempre admirei isto, embora me assuste um pouco.
- Eu me cuido, pai. Não tem que se preocupar...
- Mas esta moça... Eu sabia que de vez em quando você saia com mulher. O Cássio já veio ficar de blábláblá na minha orelha várias vezes por causa disto, falando que você estava perdida, que eu tinha que pegar a rédea... Mas eu nem acho ruim, homem é muito bruto e você não tem freio na língua, acho mais seguro ficar com mulher mesmo. Só que essa ai é grandona...
- Bonita, né! – falou com malícia.
- Eu posso afirmar, porque vi tudo – respondeu no mesmo tom.
- PAINHO – Sam deu um tapa no ombro dele. – Eu vi primeiro, pode tirar o olho!
- Tirar o olho! Já pensou na minha situação, filha? Abro a porta com aqueles dois pequinês no meu calcanhar, esperando achar um notebook e uma bancada pra trocar, quando vejo um mulherão daqueles, agarrando você, depois ela se vira peladona na minha frente, com aquelas bolas de gude azul saltando da cara... Não olhar como? - os dois riram abraçados.
- Verdade que você conheceu esta moça pela internet? – ao balançar de cabeça da filha, assentindo, prosseguiu: - Isso me preocupa. Você recebeu na sua casa, filha! Sabe quem é ela com certeza? Pode ter dado informação falsa, ser foragida da polícia, membro de uma milícia... E você não ia lá pra lá, afinal de contas?
- Vixe, painho! História longa, hein!
- Mas eu quero ouvir, tudinho!
- Mas pensa, se você tivesse com um mulherão daqueles te esperando no quarto...
- Bom argumento! Uma pena você não ter feito Direito! Mas uma coisa eu quero, espera ai – ele se levantou e foi até a porta da sala, abrindo-a de sopetão, fazendo com que Cássio e Arthur caíssem dentro do apartamento. – Às vezes eu penso que educação eu te dei, filho!
- A gente acabou de chegar... – tentou argumentar, mas diante do olhar irado da irmã, mudou de postura. – Você é quem tem que ficar com vergonha, não eu!
- Vergonha eu teria se andasse te investigando, invadindo tua privacidade. Quem você pensa que é, hein? Aliás, que direito vocês dois pensam que tem? Entrar no meu apartamento pra vasculhar minhas coisas? Tem noção do que é isso? – falou irritadíssima, porém controlando o tom de voz pra Laura não ouvir.
- Calma, filha! Eu chamei os dois aqui agora pra deixar bem claro que não admito esse tipo de coisa. A Sam é maior de idade, responsável e tem todo direito de viver a vida dela como e com quem ela achar melhor.
- Pronto! O senhor vai defender as loucuras dela de novo! Eu tô cansado disto, pai! – Cássio falava com os braços abertos, numa posição impotente, de quem nunca ganhou uma discussão, mas não se nega a ela.
Arthur apenas assistia a tudo com o rosto congestionado. Estava perdendo mais uma batalha, Sam estava sozinha na sala, tinha ido enfrentar sozinha a situação para defender a outra, com certeza. Não esperava gestos altruístas dela, Sam nunca parecia se importar com as pessoas. Agora estava lá, de espada em punho defendendo seu território... Dele! Ela agora o via como inimigo! Tudo por causa de uma mulher que...
- Ela abriu aquele roupão de propósito! – falou com raiva. Fazendo a discussão entre os irmãos cessar repentinamente.
- Endoidou de vez! – Sam falou mais alto.
- Arthur, saia... Espera a gente lá no carro, vai. Nós já vamos também, só quero resolver mais um problema... – com um olhar furioso, ele virou as costas e saiu sem nem esperar o Dr Rafael terminar. - Bateu a porta! – concluiu espantado. – E você, Cássio, vai chamar a moça lá no quarto que eu quero falar com os três juntos.
***
Assim que Sam saiu do quarto e fechou a porta, Laura correu pra espiar da fechadura.
- Mas que loira safada! Vai levar o “velho” no bico!
Mas assim que ouviu o comentário sobre ela estar espiando pela fechadura, levou um susto tão grande, que quase caiu para trás. Agarrou-se na maçaneta, que pra seu desgosto, girou, fazendo barulho.
- Maldição! Outro flagrante! A coisa tá ficando feia!
Sem alternativa, foi para a cama e se deitou. Estava cansada, porque quase não dormiu. Não se cansava de olhar pra Sam dormindo em seus braços, sentir a respiração dela junto ao seu corpo. Sentia uma emoção profunda a dominar, de uma forma avassaladora, irreprimível. Só de se lembrar já se comovia.
Ouviu um tom mais alto na conversa e pulou da cama. Embora não ouvisse o que diziam, podia deduzir que ser vista na cama... Era melhor evitar agravar a situação. Apreensiva, começou a andar pelo quarto. Já estava quase completando uma maratona, quando se arretou:
- Diacho de conversa demorada!
Sentou-se na cama e ficou encarando a mesinha de cabeceira. Lembrou de um dia que Sam disse que tinha comprado uns brinquedinhos pra elas, e guardou ali, sem mostrar o que era. Num impulso, abriu a gaveta. E em outro, fechou-a.
- Não posso fazer isso! Mas por outro lado, ela disse que comprou pra nós! “Nós” me inclui. Eu posso!
Abriu a gaveta e achou os tais “brinquedos”.
- Ui, que safadinha!
Pegou um deles e colocou na frente de seu corpo, para se olhar no espelho... No exato instante em que Cássio, ao seu estilo sem-noção, entrou no quarto sem bater antes para chamá-la para a sala.
Ficaram os dois imóveis, o olhar dele indo da peça em sua mão, para seu rosto assustado.
Ele nem disse nada. Virou as costas e saiu quase correndo do quarto, passou por seu pai e Sam sem falar nada, muito vermelho, saiu batendo a porta. Laura veio logo atrás dele, ainda com o dildo na mão, gesticulando nervosa.
- Volta aqui! Não é o que você tá pensando!
E então, ela se deu conta do que fazia, de que estava diante de Sam e seu pai, no meio da sala, com um dildo em sua mão.
- Fudeu!
Fim do capítulo
Cássio foi prejudicado psicologicamente na produção desse capítulo, saiu do apartamento da irmã e procurou seu psiquiatra. Foi medicado e passa bem.
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Photographer_SP
Em: 18/05/2017
Caraca! Que capítulo interessante....!!!
Hehe
Adorei, rindo alto aqui, ahahaha
Quero mais uns..., please!???
Obrigada por sua gentileza Autora!
Beijos
Resposta do autor:
Gentileza é comigo mesma, coisa de nascença, sabe... Portanto, já postei mais um. Divirta-se
patty-321
Em: 18/05/2017
Pqp. Muito engraçado. O Cássio foi atropelado? Kkkk. Coitado. O pai da Sam e muito gente boa. E o idiota do Arthur não se manca. Porra, não tem amor próprio. Bjs
Resposta do autor:
Esse Arthur é um menino meio perdido, coitado. Já imaginou que decepção pra ele ter conferido a potência da concorrência? Agora lascou de vez
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Monica Franca
Em: 18/05/2017
Hoje já abri os olhos procurando mais um capítulo...dei sorte e comecei o dia rindo muito, mas só agora tive tempo de comentar. Adorei...já na expectativa de mais. Adoro seu bom humor. Acho que comentei isso da outra vez que li.
Bjos...
Resposta do autor:
Acordei cedo hoje e já postei. Acho que foi indução psicológica só pra fazer você rir!
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Suzi
Em: 18/05/2017
Agora entendi teu "spoiler" kkk muito bom, eu que não queria estar na pele dele .kkkkkkk
A Laura é sem noção tadinha, mas aquela que não faz por querer toda atrapalhada
Qd tiver desanimada vou lembrar desse episódio pra ri muito
Bj
Resposta do autor:
Cuidado que o santo protetor dos personagens atrapalhados pode te fazer dar um furo na frente dos sogrões! #KiPirigo!
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NeyK
Em: 18/05/2017
Kkkkkkkkkkkkkk assim o Cássio deixa de ser entrão. melhor fim de capítulo...posta a continuação por favor kkkkk
Resposta do autor:
o menino já é alterado, sendo seguido daquela forma então! Deve estar escondidinho embaixo da cama.
Mais tarde mais um capítulo, talvez até dois pq está chovendo e estou de bom humor :-)
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