Capítulo 4 - O encontro
Após quase 15 horas, entre viagem e uma escala em Lisboa, finalmente cheguei no aeroporto de Nice. Nem acredito que meus pés vão pisar em chão firme de novo. A viagem, pra dizer o mínimo, foi bem exaustiva. A verdade é que eu odeio avião, turbulência então, não dá pra passar por ela sem fazer possíveis e inimagináveis rezas. Acho que até quem nunca rezou se torna adepto nesta hora. Mas graças aos céus sobrevivi a mais uma viagem. Ufa, obrigada mesmo Senhor! Prometo que não rezarei só em momentos em que eu veja a morte de perto. Amém!
- França, cheguei! – Penso alto e sorrio, enquanto saio do avião. O aeroporto de Nice é pequeno, mas muito lindo. Olho para todos os lados encantada com tudo, as pessoas falando francês, ao meu redor, me causam uma certa confusão mental, mas também ajudam a fazer cair a ficha de que minha nova vida agora é uma realidade. – Que essa realidade seja muito melhor, meu Deus! Peço mentalmente.
Quase que instantaneamente, recebo como que em forma de pegadinha, a resposta pra minha prece. Como que passar por uma super turbulência, que quase me fez infartar - sim, foi uma das piores que já passei - não fosse desgraça suficiente para contemplar essa nova vida, acabei de perceber que a minha bagagem foi extraviada. É, pelo visto Senhor, você não levou muito a sério a parte que eu disse que não vou rezar apenas quando precisar. Humpf!
Eu não sei se fico furiosa ou dou risada. Afinal, se não tivesse acontecido algo do tipo, definitivamente não seria eu. Então vou optar pelo meio termo, ou seja, tentar ficar conformada, pra não voar no pescoço de alguém. Melhor contar até dez, não, melhor até cem, pra ver se eu me acalmo, afinal, é o que me resta. Fico parada olhando o funcionário me pedir mil desculpas, explicando que minhas malas tinham ficado por engano em Portugal - óbvio que tem um grande engano, já que eu estou na França e elas foram dar uma volta em Portugal.
Minha vontade é dar uma voadora em alguém. Muito agressivo? Talvez! Mas nesse momento essa vontade está gritando dentro de mim – não me julguem. Enquanto eu travava uma batalha interna e tentava não voar no pescoço dele, ele continuava explicando, que eu só as reaveria na terça-feira. Olha que maravilha, daqui a longos dois dias, as coisas definitivamente só melhoram pra mim. Não consigo esboçar nenhuma reação, balanço a minha cabeça enquanto penso que isso só pode ser um pesadelo e que logo vou acordar e ficará tudo bem. Preciso urgentemente perceber que isso não está acontecendo e eu não terei que ficar dois dias sem minhas coisas, sem meus itens básicos de sobrevivência, é uma pegadinha só pode. E olha que eu não sabia que os franceses gostavam de piada. Começo a rir descontroladamente com o meu pensamento. Definitivamente os franceses não curtem piada, ou seja, eu estou ferrada, muito ferrada. Ainda pra piorar a situação, ele me olha como quem diz: essa é maluca!
Depois dessa conversa construtiva que tivemos, na qual eu só o encarei, xinguei a mãe dele mentalmente e fui de voadora nele, também mentalmente - se não além de sem bagagem, eu ainda seria presa para completar minha maravilhosa sorte. Preenchi uma autorização para que eles enviassem minhas malas para meu novo endereço e 150 euros, da companhia, para minhas urgências. Até que não foi tão ruim assim. Pego um táxi até a Gare (rodoviária) de Nice, onde pegarei o ônibus para Montpellier.
No ônibus tento desenrolar meu biquinho, digo, meu francês com duas senhoras. Contei para elas, entre mímicas e muita repetição, que minhas malas haviam sido extraviadas e eu não tinha nem sabonete para tomar banho. Por que eu pensei em citar logo o sabonete? Não faço ideia! Acontece que elas entenderam tão bem que se solidarizaram e me deram um sabonete, isso mesmo, eu ganhei um sabonete de duas velhinhas. – Que ótimo Gabi, agora veio pra França para ser pedinte, penso comigo. Agradeci e fui a viagem toda constrangida, mas pelo menos, com um sabonete em mãos.
Finalmente cheguei ao meu destino, com a cara, a coragem e sem bagagem. Gabriela abstraia mulher, tente não pensar nisso, pense em coisas boas, tente olhar o lado positivo das coisas. Céus, como esquecer que estou sem minhas roupas( tenho apenas uma muda), meus agasalhos, está fazendo um frio alucinante; sou carioca, carioca e frio não combinam muito - na verdade não combinam nada. - Mas como diz minha terapeuta: veja o lado bom das situações. Vou tentar então. Pelo menos foram as malas e não eu que fui extraviada. Acho que o frio está começando a fazer efeito no meu cérebro. Só pode ser isso.
Caminho por entre as pessoas a procura do meu quarto; sim , estou precisando muito de um banho quente e um descanso. Estou exausta. Depois de muito procurar, acabo encontrando o que será meu refúgio nesse tempo distante dos meus pais. Ai, já estou com saudades de casa, dos coroas, do Ricky, o chato mais maravilhoso do mundo; do meu quarto quentinho, e só. É, bem, do Caio ainda não deu tempo de sentir falta. Afinal acabei de chegar não é?!
Quando estou prestes a abrir a porta, olho para o lado e vejo uma garota parecendo estar meio - pra não dizer, muito, super - enrolada, tentando abrir a porta de seu quarto com as duas mãos ocupadas por incontáveis sacolas. Sim, sacolas. Porque suas muitas malas estão espalhadas pelo chão. Nossa, bateu uma pontinha de inveja. Queria eu estar assim, cercada com minha bagagem, estaria enrolada, porém feliz.
- Precisa de ajuda? -claro que ela precisa Gabriela, pelo amor.- Deixa que eu seguro essas coisas ou me dê a chave da porta que abro pra você. - Falei saindo de mais um dos meus devaneios.
- Ah, obrigada, estou meio enrolada como pode ver. - Ela mostra as mãos sorrindo - Aqui a chave.
- Desculpa, nem me apresentei, me chamo Gabriela. - Estendo a mão pra ela, logo depois de abrir a porta.
- Me chamo Dominique, prazer Gabriela. - Sorri enquanto tenta apertar minha mão.
- Bem, pelo visto seremos vizinhas de quarto ou seja nos veremos com frequência. - Falo sorrindo. - Agora vou deixar você descansar.
- Vizinha de quarto, ai que máximo, já gostei. - Sorri e desvia seu olhar para a porta do meu quarto - Espera, eu sei que sou um pouco exagerada, minha mãe disse que pelas coisas que eu trouxe parece que me mudei de vez pra cá, mas, você não trouxe coisas de menos não?! Cadê a sua bagagem? - Pergunta ela com uma expressão entre divertida e espantada.
- Ai que vida. Minha bagagem foi extraviada acredita? Ficarei até terça-feira sem elas. Que dó de mim. - Olho pra ela com minha melhor cara de arrasada.
- Nossa Gabi - Posso te chamar assim? - Que situação! Sinceramente não sei o que faria. Acho que provavelmente teria chorado até desidratar. - Me olha com cara de pena.
- Pode sim, claro. - Sorrio pra ela - Pois é, situação mega desagradável né?! Mas fazer o que, não ia adiantar chorar, dar uma voadora em alguém, apertar o pescoço do funcionário que me deu a notícia. Enfim, só dava pra fazer o que eu fiz mesmo: lamentar e aguardar. Ah, e é claro, torcer para que esses dois dias passem bem rápido. - Digo cabisbaixa.
- Você está certíssima. Agora melhor entrarmos pra tentar descansar né?! Acho que merecemos . - Diz ela com uma expressão de sofrida.
- Merecemos sim. - Concordo sorrindo.
- Então até mais Gabi.
- Até. - Respondo sorrindo.
Fico encantada com o meu quarto, é pequeno mas tinha tudo o que eu precisava, frigobar, fogão, armários, banheiro e cama. Finalmente, minha sorte está voltando, já tenho um sabonete, uma toalha e uma peça de roupa que trouxe na mochila, agora só preciso ir em algum shopping comprar o que falta.
Tomei um banho do jeito que dava, sai para explorar o lugar e fazer as minhas compras. Mas como sempre, estava tudo muito calmo e relativamente bom para ser verdade... por ser domingo a tarde, não tem absolutamente nada aberto nesta cidade! Andei por todos os lados e não achei nenhum lugar, já estava xingando todas as gerações dos meus antepassados por terem me passado um destino tão ruim, quando vi um Mc Donald’s com o drive thru aberto, não pensei duas vezes, fui a pé no drive thru mesmo - não me julguem. Nossa, parecia que eu estava a séculos sem comer, acho que esse foi o melhor lanche da minha vida. As coisas estão se normalizando; agora só conter a ansiedade para que o dia amanheça logo e finalmente as aulas comecem.
Acordei toda enrolada na toalha que havia estendido na cama pra fazer de lençol e, graças ao aquecedor, não passei frio a noite. Tomei banho, vesti a calcinha que eu tinha lavado no dia anterior – dignidade, né gente?! - e fui correndo achar algo aberto para comprar ao menos um shampoo para lavar meus cabelos antes de ir para a aula. Encontrei um mercado e não sei descrever a alegria que eu senti, acho que parecia criança quando ganha presente de Natal de tão feliz. Comprei tudo o que eu precisava e voltei feliz para a casa. Sim, minha casa! Que sensação de paz que chamar aquele quarto de casa, me dava.
Acho que fiquei tão feliz que não dei conta de que faltavam apenas 5 minutos para começar a aula e por mais que o campus fosse perto, ainda sim eu chegaria um pouco atrasada. Joguei todas as sacolas, fiz um coque no cabelo e sai correndo para a aula. Cheguei eufórica na sala, abri a porta e dei de cara com uma ruiva, que estava em pé e de costas para mim, ao notar a minha presença ela se virou e por segundos nossos olhares se mantiveram fixos um no outro. E que olhar que ela tinha, aqueles olhos azuis pareciam querer me dizer tanta coisa e, ao mesmo tempo, pareciam querer me fuzilar. Engoli em seco e me sentei na primeira e única cadeira vazia que encontrei na sala, o que indicava que apenas eu ainda não havia chegado. Parabéns Gabriela, já começou deixando uma ótima impressão.
- Bom, como eu estava falando antes de ser interrompida, agora que eu me apresentei gostaria que vocês se apresentassem. Podemos começar por você senhorita atrasada? – Perguntou a mulher olhando diretamente para mim.
- Eu, eu, é... claro, posso começar sim. Em que consiste essa apresentação?
- “Em que consiste essa apresentação”? Você saberia se estivesse chegado no horário. – Falou a ruiva, dessa vez apenas querendo me fuzilar. Naquele momento eu também a queria fuzilar, precisava me tratar assim?
- Desculpe, senhora? – Olhei, questionando-a e devolvendo o olhar.
- Senhora Heyd, Eloise Heyd. E a senhorita, como se chama?
- Me chamo Gabriela.
- Ah sim, a brasileira. Pois bem, senhorita Gabriela, a apresentação consiste em você falar seu nome, de onde veio e o que pretende com o curso. Para facilitar o seu entendimento, vou me apresentar novamente, faça como eu e estará no caminho certo. – Ela disse com cara de metida. – Me chamo Eloise, serei a professora de vocês da disciplina Gestão dos recursos hídricos, além disso, sou a coordenadora do curso e a minha função hoje aqui é apresenta-lo para vocês. Por fim, eu espero dedicação e pontualidade dos meus alunos. – Senti um frio estranho na barriga ao devolver o olhar dela que estava fixado em mim, deve ser da raiva que estou sentindo por ela me expor desse jeito.
- “Ah sim”, a coordenadora. – Respondi olhando para ela e levantando a minha sobrancelha. – Bom, como disse, me chamo Gabriela ou a brasileira, podem me chamar assim também que eu não ligo, pelo contrário, tenho muito orgulho de vir do Brasil. Com relação ao curso, eu pretendo compartilhar experiências com todos vocês e aprender muito – e não sofrer preconceito – falei baixinho em português, ainda bem que ninguém deve ter entendido.
- D’accord. (De acordo). Quem será o próximo a se apresentar? – A ruiva azeda falou ainda olhando para mim.
As apresentações continuaram, mas eu não prestava mais a atenção em nada, só pensava no quanto eu queria pular no pescoço daquela metida xenofóbica. Qual a intenção dela em me chamar de “a brasileira? Esse comentário foi muito preconceituoso. E precisava me tratar assim por causa de uns minutinhos de atraso? Ai ai, que ódio que estou sentindo dessa mulher! Ela deve ser uma péssima professora, a disciplina dela deve ser horrível.
- Olá?! – Uma moça loira me disse, me tirando dos meus pensamentos.
- Oi!
- Gabriela, não é?! Prazer, Juliet. Queria saber se você quer almoçar com a gente? – Ela disse apontando para um rapaz e outras duas meninas que já estavam em pé na porta e acenaram para mim.
- Almoçar? – Respondi devolvendo o aceno.
- Sim, a aula acabou, todos estão indo almoçar, você não vai?
- Nossa, a hora passou tão rápido. Quero sim, Juliet. Vamos lá!
- Vamos. – Ela sorriu ao responder.
Depois do almoço agradável que tivemos, no qual eu tentei me livrar da imagem daquela megera que não saia da minha cabeça, me encaminho até a saída e dou de cara com quem?! Com ela! A ruiva vinda das profundezas, direto para me atormentar. Parada ao lado de seu carro, guardando seus materiais. Será que tem como eu abrir um buraco e me enterrar ou vou ter que passar bem na frente dela?! Coragem Gabriela, passa e finja que não a viu.
- Olá de novo brasileira. - Ela fala me olhando séria.
- Olá professora. - Respondo com minha melhor cara de tédio.
- Só queria avisar uma coisa. Não sei como funciona no seu país, mas aqui não toleramos atrasos, então da próxima vez que pensar em se atrasar, nem se dê ao trabalho de entrar em minha aula. - Disse e sem me dar chance de responder entrou no carro e saiu. - Senhor o que eu fiz para merecer essa mulher?!
Depois desse encontro marcado com o capeta, fui para casa relaxar e me preparar para o temido próximo encontro, a aula de terça-feira, com a terrível vaca ruiva.
Fim do capítulo
Boa noite, meninas! Finalmente Gabi e Elo se encontraram! =D Esperamos que gostem e comentem o que acharam desse encontro.
Beijos,
Dai e Lális
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Lins_Tabosa
Em: 20/05/2017
Olá meninas
Conseguiram me deixar curiosa!
Gabriela saiu de sua zona de conforto familiar e de quebra conseguiu se afastar do namoro que empurra com a barriga!! Como será que ela vai reagir com o surgimento de sentimentos que ela não conhece?!! Esperando pra ver!!! Rsrsrrsr
Eloise só tem as aulas como válvula de escape. Ainda está sofrendo pela perda do amor. Me parece uma mulher forte e de temperamento explosivo mas que se fechou e sobrevive com suas lembranças.
Esperando como será quando a Gabi descobrir que a Elo entende tudo que ela fala em português! Rsrsrsrrs
Não me matem de curiosidade por favor!!!! ??‘???‘???‘? rsrsrrs
Abrs o/ ????
Resposta do autor:
Olá Lins, perfeita análise das duas rs
Vamos esperar que a Gabi reaja bem ao novo sentimento rs
A Elo é exatamente assim como vc descreveu;
Acho que só alguém muito determinada para quebrar as barreiras que ela ergueu .RS
Haha Coitada da Gabi quando ela descobrir que a Elo a entende.
Capitulo 5 postado , esperamos que goste.
Bejos
Dai e Lális
Rayddmel
Em: 18/05/2017
Eita que pegou fogo!
Coitada da Gabi, só se lasca, bixinha kkkk
Aiai essa ruiva ai, viu?! Sei não.
Muito bom meninas.
Ansiedade mandou lembrança pra vcs.
Tá liiiindaaa *-*
Beijos!
Resposta do autor:
Olá, Ray ! :)
Pegou fogo né?! Essa Elo não é moleza não rs
Sim, a Gabi só tem se dado mal ultimamente.
Tadinha da bixinha mesmo . rs
Essa ruiva está precisando que alguém dê jeito nela.
Logo logo sai o próximo capítulo rs
Obrigada por acompanhar e comentar sua linda!
Beijos!
Dai e Lális.
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Baiana
Em: 17/05/2017
Hum... Amor e ódio, duas faces da mesma moeda. Bora ver para onde essa implicância vai levar as duas
Resposta do autor:
Olá Baiana :))
Pois é , dizem que esses sentimentos andam juntos rs
Vamos ver o que acontecerá. :)
Até o próximo ?!
Beijos
Dai e Lális.
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patty-321
Em: 17/05/2017
Primeiro encontro e voou faíscas nada amistosas entre as duas. eita. Será q a Gabi parece com a falecida esposa de professora? Bjs
Resposta do autor:
Olá Patty :))
Faíscas não faltaram né ? Coitadinha da Gabi rs
Será que parece?! Acho que é pq a Elo é braba mesmo rs
Até o próximo ?!
Beijos
Dai e Lális.
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Socorro
Em: 17/05/2017
Finalmenteeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee, eita eita a Ruiva é braba kkk
Gabi, toma um banho de sal grosso lindinha, quem sabe ajuda kkkkk
proximo logo, louca pela proxima aula das duas......
Resposta do autor:
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