Capítulo 3 - La vie doit suivre
Mais um dia típico de início de primavera em Montpellier, acordo com o barulho dos passarinhos, finalmente o inverno passou e a cidade voltou a ganhar cor e vida. Bem diferente de mim, que antes mesmo de abrir os meus olhos, me lembro dela e sinto um vazio enorme. Parece que essa dor nunca vai passar, eu me lembro de cada detalhe dela, de suas manias, de seu jeito de morder o lábio quando estava nervosa, da sua presença me transmitindo toda a paz do mundo. Nada mais parece fazer sentido para mim, me sinto incompleta e deslocada em quase todos os lugares, exceto quando estou lecionando. A sala de aula se transformou no único lugar em que ainda me sinto viva, dando aula eu consigo me distrair e esquecer um pouco esse vazio que a ausência da Claire me causa.
Por que a nossa felicidade teve que ser interrompida? Por que ela foi tirada de mim sem que eu ao menos pudesse me despedir? Não entendo porque as coisas tiveram que acontecer desse jeito. Eu busco respostas que eu sei que jamais terei, mas é impossível não questionar. Então eu me desespero e choro, clamando por uma lembrança que me traga novamente a sensação do toque, do cheiro, mas isso tem se tornado cada vez mais difícil. Aos poucos tenho me esquecido da sensação de tê-la em meus braços, ao me dar conta disso, abraço o meu corpo, olho para o espaço vazio do lado dela na cama e, novamente, volto a chorar.
Respiro fundo, decido me levantar, tomo meu banho e faço a minha higiene pessoal. Sigo até a cozinha para preparar meu café e me arrumar para mais um dia de trabalho. Chego por volta das 8h45 min no Campus Ouest da Universidade, hoje é sexta-feira e eu tenho aula a manhã toda.
- Bonjour, ma belle. (Bom dia, minha bela)
- Bonjour, Nicolas! Ça vas? (Bom dia Nicolas! Tudo bem?)
- Oui, très bien et toi? (Sim, muito bem e tu?)
- Estou bem também. Respondo sorrindo forçadamente.
- Super, ma belle. Mas sua carinha está me dizendo outra coisa, no almoço conversamos a respeito.
Nicolas é o coordenador do nosso núcleo de pesquisas em estruturas. Ele foi um dos fundadores do curso de “Gestão da água, dos meios cultiváveis e do meio ambiente”, do qual sou coordenadora. Acredito que o Nicolas é umas das poucas pessoas que amam lecionar, tanto quanto eu. Lembro da pergunta que ele me fez, na entrevista do processo seletivo para docente, “o que é mais importante: você amar o que faz ou ser especialista no que faz?” Eu que estava uma pilha de nervos até aquele momento, me senti feliz com a indagação, sorri e respondi, “amar o que se faz serve de motivação para se especializar e a buscar sempre mais, portanto, assim como para tudo na vida, considero que o mais importante é o amor”. Sorrio com essa lembrança, ele realmente me ganhou com aquela pergunta, desde aquele dia nossa relação como colegas de trabalho e amigos só se solidificou.
- D`accord. (De acordo) – Respondo, agora sem disfarçar a minha tristeza e sigo para a sala de aula.
A aula passou rápido, quando olhei para o relógio já passava do meio dia. E só aí eu pude entender porque os alunos pareciam um pouco assustados, com certeza estavam loucos para que a aula acabasse e eles pudessem ser liberados para o fim de semana. No Campus Ouest era tradição, às sextas-feiras os alunos eram dispensados ao meio dia, uma forma de premiar a dedicação à rotina semanal, que era bastante puxada.
Saindo da aula me dirigi ao restaurante universitário, entrei na fila dos vegetarianos, não que eu fosse, mas naquele dia a carne era de lapin (coelho) e eu, que antes era apaixonada pelo sabor da carne, parei de comer depois de uma discussão com a Claire. Estávamos em um restaurante e eu pedi como prato principal coelho assado, ela que antes estava distraída, me olhou com os olhos arregalados e disse “não acredito!”. Fiquei sem entender, mas deixei passar e ela não disse mais nada até os nossos pratos chegarem. Quando ela olhou para o meu prato, soltou o ar, olhou nos meus olhos e disse “Eloise, eu gosto muito muito de você, mas não conseguirei me relacionar com alguém que é capaz de comer a carne de um animalzinho desses”. Eu que antes estava assustada com a reação dela, comecei a gargalhar e disse sem pestanejar que a partir daquele momento não comeria mais. Ainda lembro da cara de contentamento dela.
- Ma belle, você está bem? Nicolas perguntou me tirando dos meus pensamentos.
- Nicolas! Estou sim, estava apenas pensando em algumas coisas.
- Percebi, mas agora vamos andar, estamos interditando a fila e pessoas com fome podem ser agressivas.
- Tem razão. – Concordei rindo.
Nos dirigimos até a mesa e Nicolas foi buscar uma garrafa de vinho para nós.
- Bom, agora sim podemos conversar. Me conta, no que você estava pensando agora a pouco?
- Estava lembrando do dia em que a Claire me revelou que não comia carne de coelho, por causa dos maus tratos que eles sofriam nas granjas, que não poderia se relacionar comigo caso eu continuasse a comer e como ela mesmo gostava de dizer se eu continuasse “cumplice desse ato terrorista.
- Lembro de vocês me contando essa história! Aquela mocinha era mesmo fantástica. Você ainda sente muito a falta dela, não é?!
- Você não imagina o quanto meu amigo. Os dias passam e ao invés de amenizar a dor parece que só aumenta, assim como, a saudade.
- Ma belle, eu sei que não vai concordar com o que vou dizer, mas você precisa tentar abrir o seu coração para outra pessoa. Não digo esquecê-la, porque um grande amor a gente nunca esquece, mas se permitir ser feliz novamente. Lecionar é maravilhoso, mas todos precisamos de um amor romântico.
- Não diga isso Nicolas, você sabe muito bem que a última coisa que eu desejo agora é por alguém no lugar dela. - Nicolas só pode estar ficando louco pra sugerir algo assim.
- Também não precisa se chatear Eloise, eu só quero o seu bem. Não disse para você colocar alguém no lugar dela, pois sei que esse lugar está guardado e trancado a sete chaves em seu coração. Mas nada te impede de, ao menos, deixar alguém se aproximar, transpor esse esse muro de Berlin que você construiu ao seu redor.
- Eu sei que você só quer meu bem e agradeço de todo coração. Mas eu não me sinto preparada para isso, por hora vamos deixar assim, ok?! Não quero brigar com você, me desculpe se me exaltei. Digo isso e dou um abraço lateral nele, que estava sentado ao meu lado.
- Tudo bem, por hoje eu deixo esse assunto pra lá, por hoje. Você é uma mulher linda, jovem, ainda tem muito o que viver e ser feliz. - Respondeu me abraçando também.
- Tá certo, seu velho teimoso! Vou aproveitar a folga que você aceitou dar para o meu juízo e mudar de assunto... Preparado para chegada dos novos calouros?
- Preparado e animado! É sempre revigorante receber os jovens calouros que chegam cheios de energia e dispostos a aprender. E você, senhorita coordenadora?
- Eu só espero que tudo ocorra tranquilamente.
- “Que tudo ocorra tranquilamente” quer dizer o que, exatamente? Que não tenha vários calouros suspirando apaixonadamente por você?! Isso será impossível de acontecer. – Nicolas disse rindo de mim.
- Esse velho está tão engraçado hoje. - Reviro os meus olhos - Pois fique o senhor sabendo que é isso sim, não quero aluno confundindo cordialidade com qualquer outro tipo de sentimento. Não quero magoar ninguém. - Ele sorri e concorda com a cabeça.
- Sou velho, mas não sou cego e quanto aos calouros se apaixonarem por você, só digo uma coisa: é inevitável, ma belle, é inevitável. - Suspiro rendida e acabo sorrindo com ele.
Depois do almoço com o meu amigo fiel, decido ir buscar o meu outro fiel companheiro, mon chien (meu cachorro). Já se passaram quase um ano em que deixei o Black na casa da Juliete, minha amiga desde o colegial. No início era apenas até eu reaprender a cuidar de mim, para depois cuidar dele. O tempo foi passando e, apesar de vê-lo frequentemente, eu ainda não me sentia preparada para trazê-lo para a minha, ou melhor, para a nossa casa. Mas agora a Juliete foi transferida para outra cidade e eu me vi obrigada a encarar mais essa realidade. Era buscá-lo ou permitir que ela o levasse para outra cidade e aceitar não vê-lo mais com tanta frequência. Eu não podia abrir mão da companhia dele, muito menos, delegar mais essa obrigação a minha amiga. E além do mais, já estou morrendo de saudades das bagunças do meu Black.
- Bonjour Juliete! - Digo quando a minha amiga abre a porta.
- Mon dieu, je rêve! (Meu Deus, estou sonhando). Ou estaria tendo alucinações?
- Há há há engraçadinha.
- Desculpe Ise, mas te ver aqui numa sexta-feira a tarde é algo quase que inédito.
- Eu sei Liete, faz tempo mesmo que eu não apareço. Me desculpe!
- Sem desculpas, querida. O importante é que você está aqui agora e eu acabei de fazer chá de camomila que você adora. Vem, entra.
- Que delícia! Eu tenho a melhor amiga do mundo.
- Tem mesmo. – Ela diz, rindo.
- Convencida! – Caio na gargalhada também.
Depois da tarde descontraída com a minha amiga, finalmente chegamos em casa. Abro a porta e o Black já sai correndo, como se estivesse reconhecendo cada canto da casa.
- Agora somos apenas nós dois Black, pra cuidarmos um do outro, desculpa por esse tempo longe amigão, mas realmente eu precisei ficar um pouco sozinha. Ele me olha, abana o rabo e late, parecendo concordar.
Vou até o banheiro, tomo o meu banho e decido preparar algo para o jantar. Ouço o Black se aproximar com cara de piedade. Estava com tanta saudade de ter aquela criaturinha fazendo drama para conseguir comida. Vou até o armário e pego a sua ração. Após estarmos os dois alimentados, vamos para a cama, ele como sempre, se deita nos meus pés, também já estava com saudade desse meu cobertor peludo. Nessa hora, lembro da Claire... ela sempre ficava enciumada por ele preferir dormir aos meus pés, já que ele passava o dia todo correndo atrás dela. Sinto um aperto em meu peito e mais uma vez adormeço pensando e sentindo a falta dela.
Fim do capítulo
Meninas, mais um capítulo para vocês. Esperamos que vocês gostem e comentem o que acharam. Comentar é importante ;-). Estamos muito felizes com a receptividade, obrigada. =D
Beijão,
Dai e Lális
Ps. Capítulo dedicado a nossa amiga Naty, que deu um up na capa pra gente. Valeu, veadinha! :-*
Comentar este capítulo:
Baiana
Em: 17/05/2017
Parece que o coração da professora vai voltar a bater por outro alguém logo logo,só espero que ela não se negue por achar uma traição com a falecida
Resposta do autor:
Será que alguém vai conseguir entrar de novo naquele coração ?!
Vamos torcer que sim rs
Verdade, esperamos que ela se deixe viver sem culpas.
Beijos
Dai e Lális.
Tammy
Em: 11/05/2017
Nossa, muito triste o que aconteceu com a Eloise... Dá para sentir de longe o drama dela.
Ansiosa pelo encontro... Espero que todos esses problemas não atrapalhem muito hahaha, pq ela parece estar bem fechada para novos relacionamentos.
Beijão, até o próximo!
Resposta do autor:
Simm muito triste mesmo!! :( Ela sofreu e ainda sofre demais.
Pois é, ela fechou o coração depois da morte de seu amor.
Vamos esperar que alguém consiga derrubar as defesas dela. Haha
Até o proximo sua linda !
Beijos
Dai e Lális
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Rayddmel
Em: 11/05/2017
Aiai! Só melhorando :')
Eloise é uma linda *-*
Que triste o que aconteceu com ela :'(
Parabéns meninas, tá ficando muito foda. Daquelas que a gnt lê sem perceber ;)
Beijo
Resposta do autor:
Obrigadaaaa Ray , que bom que esta curtindo !
Ela é linda sim :))
Sim, ela sofreu muito com a perda da esposa que tanto amava :*(
Tomara que continue curtindo sua lindaaa!
Obrigada pelo comentário.
Beijos
Dai e Lális
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