Fui cumprimentada por alguns amigos assim que entrei, a balada estava escura, mas logo acenderam um refletor para a cabine do DJ.

 

-- Hoje o som é por minha conta! -- ouvi a voz da Gabi.

 

-- Essa louca já voltou? -- perguntei a Bruna.

 

-- Ela ajudou conseguir esse local -- Bruna disse -- Não podia te contar a volta dela.

 

-- Agora, vamos começar os trabalhos... Parabéns pra você...

 

A doida da minha amiga começou a cantar e as luzes de toda a casa foram acesas, muitas pessoas que conhecia e outras não estavam no local. Uma mulher que não conhecia trouxe o bolo e o pessoal todo acompanharam com o parabéns fazendo uma roda ao meu redor.

 

Foi emocionante, minha amiga desceu da cabina e chegou próxima a mim com aquela cara de sapeca.

 

-- Sei que sentiu minha falta! -- riu.

 

-- Muita! -- a abracei.

 

Neide também me abraçou.

 

-- Vocês duas são traíras viu?!

 

-- Só um pouquinho -- Neide entrou na brincadeira -- Agora vamos para o outro lado, temos mesas e música ambiente, nada de muito barulho por hora, o que combinamos? -- olhou para Gabi.

 

-- Ok!

 

-- Já tá assim amiga? -- ri.

 

Apesar de ser uma casa de show o clima era diferente, a música ambiente dava para conversar tranquilamente como se fosse em um bar. Perguntei quem era as pessoas que não conhecia e Bruna me disse que iria me apresentar depois, pois faziam parte da nova peça.

 

Sentei próximo dos meus amigos e ao lado da Bruna, aliás, ela estava um pouco estranha.

 

-- Aconteceu alguma coisa? -- perguntei para tirar a dúvida.

 

-- Não, mas porque as coisas mudaram e meio que não sei como me comportar.

 

-- Fica tranquila, faz o que você quiser, eu continuou a mesma pessoa, só que agora podemos ter mais liberdade -- pisquei para ela, tentando deixá-la mais despojada em relação a nós, o que a fez sorrir.

 

-- Então poderei fazer o que tenho vontade? -- ela também me olhava.

 

-- Pode, o que você quer fazer? -- perguntei imaginando o que seria.

 

Ela nem respondei, aproximou-se do meu rosto me olhando nos olhos, eu não desviei, ela roçou seus lábios delicadamente aos meus, um movimento bem singelo, apenas de lábios.

 

Ela tinha dado o primeiro passo e queria que eu desse o próximo.

 

O que eu fiz? Fiz o que ela queria, coloquei uma mexa de seu cabelo por trás da orelha e aproveitei para colocar minha mão em sua nuca. Agora o clima era diferente, mas não menos doce. Pois agora havia conseguido, enfim,  sentir sua língua, um gosto delicioso de maçã verde da bebida que ela tomava. O beijo estava tão bom, tão prazeroso que consequentemente comecei a ficar excitada, poderia chamá-la para sair dali, poderia chamá-la para ir ao banheiro, tinha muitas alternativas, mas nenhuma combinava com o que eu queria com ela, iriamos ter muito tempo juntas.

 

Quando largamos nossos lábios vi que ela sorria, nem olhei para ver quem nos olhava, fiz um carinho em seu rosto, talvez ela estivesse pensando o mesmo que eu “quero explorar aquela boca mais vezes, sentir cada toque, cada cantinho”.

 

Bruna tinha um semblante bem tranquilo, ela era bem segura, adorava isso nela.

 

Durante o beijo não percebi que emendaram as mesas, agora estava em forma de fila com umas 15 pessoas.

 

-- Lívia vem cortar o bolo e fazer um discurso! -- começaram a me incentivar, lá fui eu.

 

-- Obrigado por todos terem vindo, hoje o dia foi intenso, logo teremos outro encontro, irei me casar com Bruna e já convido vocês para um jantar, aonde ainda não marquei a data, mas depois avisarei. Voltando a essa festa, fico feliz por você ter voltado Gabi, sabe que não vivo sem você -- ri -- Você também Neidinha. E quero agradecer a Bru por ter organizado, obrigado pela presença de vocês.

 

Cortei o primeiro pedaço e dei a Bruna.

 

-- Isso é marketing! -- Gabi gritou.

 

-- Tá com ciúmes né? -- o pessoal riu.

 

-- Agora a aniversariante, vai beber um pouco de cada copo -- meu amigo Júlio falou.

 

-- O quê? -- gritei -- Júlio, hoje não, tá?!

 

-- Tá querendo fazer outras coisas hoje né bandida! -- ele já tinha chegado um pouco alterado.

-- Que nada, só não quero ficar bêbada, mas tomo uma com você amigo --  ele riu, sentei entre ele e Gabi, essa deveria estar eufórica para saber de tudo.

 

Bruna sentou-se ao lado de Neidinha, as duas eram boas amigas.

 

-- Conta tudo amiga -- o garçom trouxe um Chopp e dei um longo gole.

 

-- A condição que meu pai deixou para receber a herança era me casar, ficarei com alguns milhões da empresa, então conversei com Bruna e ela aceitou.

 

-- Isso já entendi, mas ela aceitou simples assim?

 

-- Sim -- sorri -- Gosto muito dela, posso me apaixonar, nos entendemos bem, já até nos beijamos, podemos descobrir o amor juntas, quem sabe...

 

-- Realmente, Bruna é uma pessoa sensacional, além de muito sexy -- riu do próprio comentário dela.

 

-- Fala mais alto que sua esposa escuta.

 

-- Ela também acha -- riu.

 

-- Suas sem vergonhas.

 

-- Não me diga que nunca tirou uma casquinha -- Júlio quis saber.

 

-- Nunca, hoje foi nosso primeiro beijo -- falei.

 

-- Hum.. Rolou o que mais? -- ele quis saber.

 

-- Nada! Quero que seja algo natural, até porque somos muito amigas.

 

-- Não sei como vocês não se pegaram antes -- Gabi disse olhando minha aliança.

 

-- Você sabe, não sou o tipo que “pega”.

 

-- Sei, você é do tipo que casa antes -- riu.

 

Gabi me provocou ainda mais, depois mudei de lugar para dar atenção aos meus outros amigos.

 

 

-- Quero participar da decoração do casamento -- era Marcelo que falava agora.

 

-- Marcelo não vai ter decoração, será apenas um jantar depois do civil, é algo urgente esse casamento, não temos tempo para isso no momento.

 

-- Entendo, mas depois quando forem fazer uma festança eu irei decorar.

 

-- Fechado!

 

-- Vamos dança, a DJ chegou!

 

A música deu uma animada, Bruna dava atenção aos colegas da peça e eu me aproximei para conhecê-los.

 

-- Boa noite! -- falei.

 

-- Boa noite e parabéns! Muitas felicidades! -- uma morena me cumprimentou.

 

-- Obrigada!

 

-- Essa é a Roberta -- Bru nos apresentou.

 

-- Prazer, Lívia!

 

-- Todo meu! -- ela falou.

 

-- Esses são Thiago e João Victor -- Bru mais uma vez apresentou.

 

Fiquei conversando e conhecendo eles, pareciam legais.

 

Depois Júlio me puxou para dançar com ele, não consegui me salvar.

 

Júlio namorava com Marcelo há um bom tempo, moravam juntos.

 

O pessoal se animou e logo a pista estava cheia.

 

-- Não me olha assim, eu sei o que você está pensando seu bêbado! -- falei para ele -- Não estou apaixonada, ainda! -- ele olhava de mim para ela, que nos observava da mesa.

 

-- Fico preocupado, sei que ela está quieta, desde que terminou o namoro com o Murilo não ficou com mais ninguém, isso já faz mais de um ano.

 

Murilo era seu cunhado, irmão de Marcelo.

 

-- Nesse tempo ela beijou vários, só não transou, eu sei tá? Ela me conta essas coisas.

 

-- Ok, espero que der certo, só acho que ela já passou por muitas coisas, mas torço demais para dar certo, ambas separadas são incríveis, tomara que sejam também juntas.

 

-- Obrigado, se não der a amizade continua, de qualquer forma, estou casando pela herança, se acontecer algo mais será bom para nós duas.

 

-- Safada! Sei que você quer!

 

-- Quem não quer?! Gabi mesmo há pouco estava babando por ela.

 

-- Já tá com ciúmes?! -- ele disse rindo.

 

-- Vamos dançar seu bobo!

 

Júlio era muito engraçado, ele e Marcelo eram uma dupla e tanto.

 

-- Posso dançar com a aniversariante? -- era Neidinha.

 

-- Claro! -- Júlio se afastou.

 

-- Então, feliz?

 

-- Estou, mas também estou confusa, ansiosa, pensando muitas coisas ao mesmo tempo, foi um dia radical.

 

-- Casamento é responsabilidade, quando casei com sua amiga eu estava louca e não me separei dela ainda porque continuou louca, mas de amor.

 

-- Você casou pelo melhor motivo e ela é louca mesmo! Sempre te disso isso.

 

-- Verdade, ela aprontou cada uma nessa viagem, mas falando do seu casamento,  quero e torço muito que der certo, sabe que adoro a Bruna.

 

-- Sei sim, apesar de saber que foi por outro motivo nada me impede de fazê-la feliz e pode ter certeza que irei tentar.

 

-- Fico feliz em saber.

 

-- Ei, pode parar! -- era Gabi -- Para de se esfregar na minha mulher.

 

-- Que possessiva, tem que compartilhar!

 

-- Tenho que tomar conta, mas vim perguntar a vocês o que acham de um churras amanhã no clube, vamos?

 

-- Podemos -- falei.

 

-- Vamos sim amor -- Neide completou.

 

-- Então vou comunicar a Marcelo para organizar e você vem comigo! -- puxou Neide, minha amiga não tem jeito, o ciúmes dela era até engraçado.

 

Olhei ao redor e vi Bruna, ela me olhou e se aproximou.

 

-- Podemos dançar?

 

-- Devemos na verdade, mas tenho uma condição -- falei em seu ouvido.

 

-- Qual? -- ela se afastou para olhar em meus olhos.

 

-- Dançamos bem grudadinhas!

 

-- Essa música eletrônica?

 

-- Sim!

 

Ela sorriu e balançou a cabeça negativamente, mas aceitou a dança. Dançamos bem coladinha, segurava em sua cintura, depois passei minhas mãos enlaçando a mesma ficando quase sobre seu bumbum, mal nos mexíamos.

 

-- Seu perfume é delicioso! -- elogiei.

 

-- Você já conhecia, mas obrigado! -- vi ela sorrindo de mim, “tipo: você não tinha coisa melhor para dizer”?

 

Voltei a olhar para ela, queria fazê-la esquecer a frase passada, aos poucos fui colando nossos lábios em um beijo calmo, sentindo nossas línguas, nos conhecendo ainda.

 

-- Vamos sentar um pouco? -- chamei, as coisas tinham esquentado.

 

-- Vamos, sim! -- fomos para a mesa de mãos dadas.

 

-- Mas essas noivas estão muito fofas -- Júlio gritou -- Vamos tirar uma self pessoal, quero postar nas redes.

 

Tiramos uma não, foram várias fotos.

 

Já passava das duas da manhã, mesmo o pessoal muito animado pela bebida resolvemos ir embora, alguns de taxis, outros de Uber, eu fui com Bruna que não tinha bebido e as meninas.

 

Tinha bebido pouco, assim que chegamos eu fui para meu quarto tomar banho, Bruna foi ao dela, Neide saiu puxando minha amiga para o dela.

 

 

Tomei banho e fui na cozinha tomar um café, não estava com sono, só um pouco cansada.

 

Fiz o café na cafeteira e fui sentar no sofá.

 

 

-- Fui lá no quarto e você não estava -- Bruna sentou ao meu lado, estava de pijama com shortinho e blusinha de seda branca.

 

-- Estou sem sono -- falei.

 

-- Pensei que estava cansada desse dia agitado.

 

-- Estou, mas sem sono algum.

 

-- Como será esse churrasco amanhã? -- ela segurou minha mão esquerda e massageou com suas mãos.

 

-- Júlio e Marcelo querem que seja no Clube, mas ainda está em reforma, se não for lá, iremos fazer aqui no prédio.

 

-- O pai dele libera.

 

-- Acredito que sim.

 

Ela conhecia bem o pai dele, era seu ex-sogro.

 

-- Gostou do aniversário? -- mudou de assunto.

 

-- Amei! De verdade!

 

-- Isso aqui é para você! -- ela colocou uma pulseirinha no meu pulso, tinha uma lua e um sol como pingentes.

 

-- É linda, obrigado! -- coloquei a xícara no tapete e abracei-a -- Dorme comigo lá no quarto? -- a olhei.

 

-- Só dormir?

 

-- Só dormir! -- sorri.

 

-- Então vamos, que estou com sono.

 

Ela puxou minha mão que já segurava e fomos para meu quarto deitarmos.

 

-- Pode ficar mais a vontade a partir de agora, se quiser dormir sem roupas não me incomodo -- ri, ela continuou séria.

 

-- Muito engraçadinha para o horário né?

 

-- Vem, deitar!

 

Deitamos na cama, ela ficou um pouco afastada e ficou de costa.

 

-- Posso te dar um beijo de boa noite?

 

Ela se virou me olhando.

 

-- Pode!

 

Bruna se aproximou e nos beijamos, lento, de forma preguiçosa, mas deu para sentir o hálito da pasta em sua língua, ela segurou minha nuca aproveitando ainda mais o contato e aprofundando o beijo. Quando nos soltamos ela virou rapidamente, talvez estivesse com desejo e quis disfarçar.

 

-- Boa noite, Lívia!

 

-- Boa noite, Bru! Posso te abraçar? -- não queria dormir longe.

 

-- Pode, mas não aproveita tá?! -- ela disse.

 

 

“Só quando você quiser” -- pensei.

 

Mas não respondi, apenas a abracei fazendo conchinha, meu braço esquerdo abraçando pela cintura, dei mais um beijo em seu pescoço para provocar e acabei adormecendo.

 

Fim do capítulo