@mor.com por Carla Gentil
Tinha postado o capítulo 5 duas vezes. Desculpa ai!
Capítulo 6
Sam foi até a sala para pegar seu celular na bolsa, já que os dez minutos que prometeu a Arthur estavam terminando.
- O que significa um celular de mulher que não toca em duas horas? – perguntou.
- Significa que ela esqueceu o celular em casa – Gabriel respondeu rapidamente.
- Na mosca! – Sam falou pegando o celular de Arthur que estava ao lado de sua bolsa. - Prepare o bolso, mocinho! Ligação internacional – falou mostrando todos os dentes.
Mal ouviu o bufo de Arthur, voltou para a frente do pc. Não pode evitar de rir quando olhou para a tela:
Laura: Me deixou às moscas!
Laura: E se ao menos tivesse moscas...
Laura: ta demorando! >.<
Laura: assoviando o hino da república dos camarões
Laura: oxe! Duvido que eles tenham um papo mais interessante que o meu muahahaha
Laura: :/ que falta fazem as espanholas...
Laura: ainda bem que minha lasanha ta uma delícia \o/
Laura: eu sou tão multi-habilidosa pra ficar aqui sozinha :(
Laura: aksldfjqwoierjaçslkdfjasdçflkj <- xingamento em búlgaro
Sam: Que desespero, hein! Já viciou em mim?
Laura: Me deixa aqui sozinha e aparece com esta! Você é sempre tão... metida a besta! Mas tudo bem, talvez esteja certa
Sam: Lau, não vou poder ficar no msn agora, você pode me ligar?
Laura: Não
Sam: Puxa, assim na lata... Tudo bem, então...
Laura: Mas se eu tivesse um número, já estaria discando
Sam: Ai Lau... já te disse que vc é palhaça?
Laura: Me deixe pensar... hum... acho que hj ainda não. E olha que estou com o nariz vermelho.
Sam: Me poupe! Anota o número 8107-5032
Laura: Me aguarde, Garfield!
Sam estava desligando o pc e o fone tocou.
- Hum! Você é rápida no gatilho.
- Tenho muitas habilidades, sabe como é!
- Você sempre faz charme assim pra falar, ou é um privilégio meu?
- Eu não estou fazendo charme, sua VAIDOSA! – fez uma pausa. – Isto foi um jeito discreto de elogiar minha voz?
- Ah, deixa eu te contar da festa! – Sam mudou rápido de assunto.
- Conta! Você armou os painéis? Achei as fotos lindas. Elas devem ter adorado!
- Aham! Foi super legal, elas ficaram emocionadas, você precisa ver. A ideia de montar os painéis aqui primeiro foi realmente boa, Lau!
- E o restante da turma? Preparou tudo?
- Ah, depois que eu cheguei, eles fizeram tudo certinho. Você vai gostar deles, quando vier. Isto é, se você... Ah, deixa pra lá.
- Vou gostar sim! Quero competir com eles em contar causos sou muito habilidosa e...
- E em que você não é habilidosa? – cortou Sam.
- Deixa eu pensar, deve ter alguma coisa....Hum, nisto eu também sou boa. Vamos ver... Ah, sim! Sou péssima para decorar números de telefone! Não sou ninguém sem a agenda do meu celular. Mas acho que este seu número é fácil de decorar, deixa eu ver.
Laura desligou o telefone e ficou repetindo o número várias vezes. Discou em seguida, muito satisfeita com ela mesma pelo feito.
- Decorei! Agora nunca mais esqueço, sempre que for te ligar vai ser direto e...
- Lau! Você demorou uma eternidade para ligar de volta.
- Era pra você ficar ansiosa – disse sorrindo.
- Quase não me pega! Eu já ia devolver o celular pro Arthur.
Fez-se uma pausa prolongada. Laura franziu o cenho e falou mais alto do que o normal.
- O que foi? Devolver o que pra quem??
- O celular, Laura... Eu não roubaria o aparelho do meu amigo, não é? Só emprestei um pouquinho, porque esqueci o meu e... – Sam se continha para não rir.
- PALHAÇA! Você está brincando, não é?
- Ei! Achei que a gente tinha combinado que palhaça é você! E não, não estou brincando. Embora não possa negar que estou me divertindo muito – não conteve mais a gargalhada.
- Não me lembro de ter combinado isto! E agora estou MUITO irritada! Muito mesmo! – e estava, mas o riso tão feliz de Sam valia o preço.
*****
Na verdade, aquela ligação valia o dia de cão que tinha tido. Além da lasanha torrada, do doce amassado e de Sam à solta em uma festa, uma mensagem no celular logo cedo, tinha feito com que mudasse os planos do dia.
Ao invés da corrida na praia e da tranquila leitura de romances na internet, precisou ir até uma antiga editora no centro da cidade para encontrar Pierre de Sancé, um francês baixinho, um pouco além dos cinquenta anos, que nunca parecia falar coisa com coisa. E o francês parecia agitado.
- Laura, ainda bem que você veio! – o homenzinho a agarrava pelos braços, dando tapinhas em seus braços. – Nossa, menina! Você parece que cresceu, ah eu lembro...
- O que aconteceu, Pierre? – Laura o cortou, pois sabia que ele tinha muita dificuldade em ser objetivo.
- O Sr Olivier foi... – encolheu os ombros e a olhou por cima dos óculos.
- Não! Ele não faria isto! – interrompeu ela, já sabendo do que se tratava. – Não sem mim, ou sem me avisar.
- Ele estava preocupado com você, disse que você se meteu em muitas encrencas neste último trabalho e... Bem, ele queria ver com os próprios olhos...
Laura deu um soco na mesa.
- Eu trouxe as fotos, era o que tinha pra ser visto! O que ele queria a mais? Diga, Pierre! O que mais ele queria?
- Não sei, você sabe como ele é. Sempre achando que é uma espécie de Rambo da terceira idade... Você parece tanto com ele! – ele disse com os olhos sonhadores, até cruzar com o olhar gelado de Laura. – Fora a parte da terceira idade, claro... E dos músculos... E a coisa toda de...
Ah, chega... – ela falou com um gesto de enfado com a mão. Se deixasse, ele tentaria emendar o resto da tarde, cada vez se enrolando mais.
Entretanto, estava enfurecida e preocupada. Olivier de Morens em campo representava problemas, principalmente para ele mesmo. Apesar de ter sido ele quem a escolheu e treinou, com o passar dos anos seu reflexo diminuía na mesma proporção que as dores pelo corpo aumentavam.
Caso não o localizasse, teria que voltar para a África, não como fotógrafa, mas como membro da ONG que em trabalhava de forma muito discreta.
Depois de várias horas de complicadas ligações e espera, conseguiu localizá-lo, mas não convencê-lo a voltar. O máximo que poderia fazer, era tentar cuidar de sua segurança à distância, o que fez colando dois amigos na cola dele, Henri e Mitzel.
****
- Alguém poderia avisar ao ET que abduziu a Sam que nós não queremos trocar mais o nosso clone? Ele que fique com a azeda e deixa esta divertida com a gente!
- Verdade! Arthur, você que anda mais próximo dela, conta pra gente que bicho mordeu a Sam? A gente tem que garantir um estoque disto, ela está bem demais!
- Vocês estão exagerando, ela está normal – falou ele, esticando o olho para seu quarto.
Entretanto, ele mais do que ninguém sabia que ela não estava normal. Notava a nítida mudança de humor, a constância e o brilho em seu sorriso. Podia perceber, no riso que estava ouvindo, naquele momento uma alegria que nunca tinha notado. O brilho no olhar...
Ele estava ficando preocupado. Desde a primeira vez que Sam tinha conversado com Laura, pode sentir algo de diferente, alarmante. Agora estava mesmo se assustando.
- Que normal, o quê? Ela conversou com todo mundo, hoje! Brincou, ajudou, foi... Imagine isto! Foi quase carinhosa.
- E ultimamente ela tem sido simpática com todo mundo – afirmou Virna com um certo espanto.
- Não é! Faz tempo que não vejo aquela correria quando ela chega – concordou Fernanda.
- Sem contar a fila pra chorar no banheiro! – Gabriel atalhou em tom de fofoca.
- É! Ela está zen!
- Viu só! – falou Gabriel para Arthur. – É visível, portanto deve ser algo "palpável"- completou com malícia, sabendo que o amigo estava na fila há tempos.
- Vocês estão viajando - respondeu amargo.
Já não existiam conversas paralelas, todos tinham algo a contar desta nova e excitante aventura que era desbravar o comportamento de Samantha. E tentar descobrir a causa.
Arthur sabia a causa. E não gostava nada dela.
Foi até seu quarto para chamar Sam. Precisava ganhar tempo, reconquistar terreno. Apesar de nunca ter tido nenhum. Ouviu um pouco da conversa, quando se aproximou da porta sem ser notado.
- Não, Lau! Eu já te disse que minha cam tem péssima qualidade, fica tudo escuro e não dá pra ver nada... Vou pensar no seu caso... Mas o que eu vou ganhar com isto? UAU! Vou arrombar uma loja hoje ainda... - riu antes de completar. - Que nada, você só promete... Laura, eu não sou do tipo que foge da raia...
- Samantha, você ainda está no fone? O pessoal quer cortar o bolo!
Laura ouviu a voz masculina ao fundo. "Como se não fosse óbvio que ela está ao telefone", pensou irritada.
- Vou desligar, ele está com saudade da companhia mais íntima dele, com certeza.
- Você? – a voz de Laura soou um tanto quanto alarmada
- O celular. Mas como você é ciumenta!
- Droga, isto quer dizer que o celular é dele mesmo! Você tem sorte de não estar na minha frente agora, com a ira me dominando.
- Ah, eu ia sim! – a resposta que saiu antes que ela pudesse se editar, deixou a ligeiramente constrangida.
- Não gostaria, não! Eu iria agarrar o teu pescoço.
- Ah, promessas, promessas... – "Droga, preciso desligar antes que eu pule no pescoço da mulher, nem que seja via satélite."
- Eu decorei o número. Não tem espaço pra números de telefone no meu cérebro, só abri uma exceção pra você e... EI, VOCÊ ESTÁ RINDO DE NOVO!
O tom zangado de Laura, era hilário. Ela, vendo que Arthur não arredara o pé de seu lado esperando o celular, achou melhor desligar. Conseguiu falar um tiau no meio de muito riso e desligou o telefone.
- Qual foi a piada com meu celular? - perguntou sem conseguir conter a irritação.
- Ela decorou o número. Se receber alguma ligação estranha no meio da noite, não se assuste! – saiu do quarto rindo e foi se juntar aos outros na sala.
***
Ao mesmo tempo, do outro lado do Atlântico, Laura desligou o telefone lentamente. Ficou um tempo sonhando acordada na sala, antes de ir deitar com um sorriso meio abobalhado brincando em seu rosto.
Fim do capítulo
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