Sei que fui um pouco dura com a Bah, mas como disse, tinha que dar uma forçada pra ela resolver aquela situação desagradável da noite anterior. Ela saiu bufando da troca de faixa, acredito eu que pra resolver a sujeirada que a ex dela havia armado.

Falando em ex, a minha estava presente no almoço que o André nos propôs. Juro que se soubesse que ela estaria lá, e sozinha eu não teria ido. Já tinha passado raiva demais nos últimos dias.

Segundo Andressa, a moça que eu nunca lembro o nome estava com crise de labirintite, tomando medicação pesada e tudo mais. E quando questionada sobre o porquê de não ter ficado lá cuidando da companheira, a resposta foi "tenho feito isso a dias, preciso de uma folga".

Andressa parecia cansada mentalmente, sabe? Precisando relaxar, nunca a vi brincando tanto com os sobrinhos e com o Ju como naquela ocasião, caramba. Também nunca a vi bebendo tanto, eu até dei um toque no André, mas quando ele se deu conta já era meio tarde.

Ela foi da euforia as lágrimas em menos de 1 hora. Contou pra família toda tudo o que estava passando com a moça lá, e que achava que nunca havia existido amor naquela relação. Mas que com a moça cheia de crises de saúde, ela tinha pena de deixá-la.

Procurei não opinar e nem me meter muito. Por mais que tivesse vontade de ajudar, sempre corria o risco dela se reaproximar de mim e eu me desentender com a Bah. E eu conhecia bem o enredo dessa história.

Ah... a Bah... essa minha noiva que virou minha vida de ponta cabeça. Ela desistiu de me ligar no final do dia da troca de faixa. Eu fiquei até com um pesinho na consciência, mas logo passou. Afinal, ela estava lá em casa quando chegamos do almoço da casa do André.

Ela levou uma caixa de bombom pro Ju pra parabenizá-lo pela troca de faixa e uma caixa de morangos pra mim. O Ju se derreteu com os bombons e eu pela minha noiva carinhosa, não ia prolongar mais aquela briga, já estava morrendo de saudade dela. Ah... e ela levou morangos, e eu sou louca por eles.

Lá em casa, ela me contou como escorraçou a Carla da casa dela e como os filhos ficaram assustados. Já eu contei a ela sobre a crise e o show da Andressa mais cedo.

Foi importante verbalizarmos uma pra outra esses fatos. Mas também foi importante finalizar o assunto o mais rápido possível. Ambas estávamos sensíveis e a chance de dar merd* era boa.

Ah... fechei meu vestido de noiva e o nosso casamento vai ser na praia! A Bah super topou apesar de torcer o nariz por conta da logística de um evento ao ar livre, afinal quis cuidar de toda a decoração. Sem falar que ela fez questão de escolher o local onde será realizada a cerimônia. Eu fiquei responsável pelo cardápio e pelas listas, e a música a gente selecionaria juntas.

Eu estava totalmente envolvida nisso e até podia, o Ju estava indo bem na escola de novo e até estava ficando popular. A postura dele mudou com o judô e ele também estava mais forte e chamando atenção das menininhas.

Na empresa as coisas andavam corridas e um pouco apertadas. Mas o climão dos corredores passou e isso me permitia trabalhar com mais liberdade e conforto.

Já a minha noiva não estava tendo uma vida tão fácil. Os gêmeos brigavam muito. Lourenço estava perdendo o respeito com ela e Anna. E sempre reclamava por ela e Carla terem se separado. Ele chegou a pedir um apartamento pra Bah para poder trazer Carla para morar com ele no Brasil.

Nossa, isso cortou o coração da Bah. Mas ela assim o fez. Não queria o filho debaixo do mesmo teto que ela, caso ele estivesse infeliz.

Na verdade, não entregou o apê na mão do Lourenço ainda. Ela estava resolvendo uns detalhes, coisa de arquiteta e também estava "investigando" o comportamento do filho antes de colocar um apartamento na mão dele.

Faltava muito pouco para Lourenço começar a estagiar na empresa, mas as notas dele não estavam boas e eu estava com medo da administração recusar o meu pedido. Esses dias, conversei com ele a respeito:

– Ei, você tem um semestre pra melhorar suas notas ou não consigo seu estágio. – disse enquanto ele olhava pro celular.

– Poxa Cléo, tá me tirando? Achei que fosse lance certo já, essa treta do estágio e você mete esse caô agora – ele respondeu todo malandro.

– rs... apesar de achar engraçado você usando gírias ainda com o sotaque bem carregado. Não é assim que deve falar comigo. Não sou sua amiguinha de colégio. Você nunca foi assim. O que houve? – falei tentando não parecer muito brava.

– Nada, tia. Eu conheci uma galera responsa e que sabe viver a vida, eu tô só curtindo a minha. Passei tempo demais isolado no quarto. Enquanto minhas mães discutiam qual das duas tinha errado mais por eu ser assim. – ele disse num tom meio sentido.

– Essa turma responsa que tem te feito tomar multa no carro? Cabular aula? Estragar suas notas? E estourar com o seu cartão, mês após mês? – perguntei já meio sem paciência.

– Aff... minha mãe além de fofoqueira é exagerada. A gente só curte umas paradas só nossas. – ele guardou o celular e me encarou.

– Tá, eu não vou ficar dando uma de tia chata, só me diz uma coisa, essas paradas, tem a ver com álcool e drogas também? – perguntei encarando ele também.

– Já deu, Cleo! Já tenho 2 mães, não queira ser uma terceira. Sou maior de idade e sei me virar com as minhas coisas. Quero muito o estágio que me ofereceu, mas isso não lhe dá o direito de se meter na minha vida pessoal. – ele respondeu dando fim a conversa que estávamos tendo no corredor.

Fiquei muito incomodada com aquela conversa e é claro que conversei com a Bárbara a respeito. Ela chorou um bocado, mas não se surpreendeu, o filho dela estava mesmo diferente demais do rapaz que chegou ao Brasil meses atrás.

Aconselhei a Bah para que ligasse pra Carla, porque por mais ignorante que ela fosse, era uma pessoa que Lourenço amava e respeitava. Talvez fosse um caminho para que as coisas não se perdessem de vez. Ela ficou de pensar.

Eu sabia o quanto aquele estágio seria importante pra ocupar o tempo ocioso de Lourenço e mexi meus pauzinhos para antecipar em 1 mês o início dele lá na empresa. A ideia era que passasse por todos os setores da empresa e ele começaria pelo RH.

A Bah ficou bem aliviada e agradecida, e nem precisaria me agradecer, né? Ela já tinha feito tanto pelo meu filho. Nossa, era o mínimo que eu podia fazer por ela.

Sabe que depois de começar o estágio ele até deu uma boa acalmada. A Bárbara estava quase largando a sociedade com Paulo no escritório por conta do filho.

Ela até seguiu meu conselho e ligou pra Carla. Segundo minha noiva a ex estava mais lúcida e ficou muito preocupada com seu protegido. Disse que viria o mais breve possível, já que havia arrumado um emprego de atendente em uma loja de roupas lá em Portugal.

Tudo voltando para os eixos e o foco era total pro nosso casamento de novo. Agora faltavam apenas 2 meses. Tudo praticamente fechado e eu passando raiva com a Bah. Poxa, ela não me deixou ver nada da decoração, eu não sabia nem as cores. Como ia escolher o meu buquê? Que raiva, nossa.

Ela dizia que era surpresa e que era pra eu confiar no bom gosto dela. Eu não duvidava que ela tivesse um gosto bom. Mas tipo, era o meu casamento, eu estava ansiosa e curiosa demais.

Hoje, marcamos de jantar juntas naquele restaurante de frutos do mar, pra fechar a lista de música. Na verdade, era mais uma desculpa pra gente se curtir um pouquinho longe da confusão do dia-a-dia.

Marcamos as 19:30 e já são 20:45. Estou ficando preocupada já. A Bah é chata com horário, quase nunca atrasa e quando atrasa, avisa.

Dito e feito, 21:07 meu celular tocou com a chamada de um número desconhecido. Era a Bah, ofegante do outro lado da linha:

– Amor, desculpa, tô no hospital, você pode vir pra cá? – ela me disse aflita.

– Claro, diz o endereço? Diz o que aconteceu? Você tá bem? – respondi tentando não parecer preocupada demais

– Tô sim. Foi o Lourenço... ele... o carro... não sei de nada ainda... tô com tanto medo, dengo. Vem pra cá! - ela disse, tentando formular as frases.

– Estou chegando. Vai ficar tudo bem. Já estou saindo daqui. Manda o endereço por mensagem. Te amo. Beijo. – respondi desligando o telefone.

Sai desesperada rumo ao hospital. E agora?

Fim do capítulo